quinta-feira, 15 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24401: Louvores e condecorações (14): Ordem da Liberdade, Grande Oficial, para o antigo cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier, cmdt da CCAÇ 12 (e também da CCAÇ 14, e antes da CART 3359)

Insígnia da Ordem da Liberdade.
Imagem: Cortesia de
Wikimedia Commons 



1. Por Alvará n.º 12/2023, de 24 de abril de 2023, da Presidência da República, Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas, publicado no  Diário da República  n.º 80/2023, II Série, de 2023-04-24, pág. 23, foi agraciado com a Ordem da Liberdade, Grande-Oficial, o major (na reforma) Humberto Trigo de Bordalo Xavier. 

A Ordem da Liberdade, criada em 1976,  destina-se a "distinguir serviços relevantes prestados em defesa dos valores da Civilização, em prol da dignificação da Pessoa Humana e à causa da Liberdade".

 O antigo cap QEO Humberto Trigo Bordalo Xavier começou por ser o comandante da CArt 3359 
Jumbembém, 1971/73), do BART 3844, "Bravos e Sempre Leais" (Farim, 1971/73. Foi depois substituído pelo cap mil inf Francisco Luís Olay da Silva Dias. (QEO é a sigla de Quadro Especial de Oficiais, criado em 1969.)

Foi igualmente, neste período, o 3.º comandante, por ordem cronológica, da CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1971/74):

  • Cap Inf Carlos Alberto Machado de Brito
  • Cap Inf Celestino Ferreira da Costa
  • Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier
  • Cap Mil Inf José António de Campos Simão
  • Cap Mil Inf Celestino Marques de Jesus

Mas também comandou a CCAÇ 14:
  • Cap Inf José Luís de Sousa Ferreira
  • Cap Inf José Augusto da Costa Abreu Dias
  • Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier
  • Cap Inf José Clementino Pais
  • Cap Inf Mário José Fernandes Jorge Rodrigues
  • Cap Inf Vítor da Silva e Sousa
  • Alf Mil Inf Silvino Octávio Rosa Santos
  • Cap Art Vítor Manuel Barata
Fonte: CECA, 7.° Volume, Fichas das Unidades, Tomo II, Guiné, 1ª edição, Lisboa, 2002.


2. Sabemos pouco da ação do cap QEO no TO da Guiné.  Natural de Lamego, e tendo frequentado o Curso de Operações Especiais, como oficial miliciano, passou ao quadro de complemento. Continua  a viver em Lamego, mas está infelizmente muito surdo, o que dificulta ao máximo a interação com ele. Alguns dos nossos tabanqueiros, como os antigos "rangers" Eduardo Magalhães Ribeiro e Joaquim Mexia Alves, são alguns amigos ele.

Sabemos que os graduados e especialistas metropolitanos da CCAÇ 12, da chamada 2.ª geração (Bambadinca, 1971/72) tinham (e continuam a ter) uma estima muito especial por este oficial...  É recorrente referirem o seu nome nos convívios anuais (como aconteceu recentemente em Coimbra, no passado dia 27 de maio). Infelizmente há poucas referências (uma meia dúzia) ao seu nome, aqui no blogue. Aguardamos o envio de algumas fotos dele, por parte do Eduardo Magalhães Ribeiro e do Joaquim Mexia Alves.

Recordo aqui o elogio do cap QEO Bordalo Xavier feito pelo saudoso do Victor Alves (1949-2916), que foi fur mil SAM na CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/73) (**)  

(...) Amigo Luís, conforme informámos (...), lá realizámos o nosso habitual encontro (...) o 34.º. Tem causado algum espanto, o facto de se ter começado a realizar, tão cedo, os nossos encontros...

Foram vários os factores que contribuiram para isso. Porém, o grande causador disso terá sido a vinda, para a CCAÇ 12, do Cap Humberto Trigo Bordalo Xavier, oriundo das Operações Especiais, e amigo pessoal de Spínola.

Ele soube muito bem provocar uma aglutinação e consequentemente uma união entre todos, ao ponto de estabelecer uma messe e bar para todos os militares da companhia oriundos da metrópole, sem distinção de posto...

Foi, na minha óptica, eata a principal razão da nossa união. Eu, por exemplo, como vagomestre e sempre que havia uma operação, por exemplo com saída às 4 da manhã, lá estava a dar pequeno almoço, pão quente e café à rapaziada que seguia. Assim como, mal regressassem, por exemplo, às 3 da tarde, tinham sempre a refeição com meio frango ou meio bife com acompanhamento à sua espera...

Foi isso que o Capitão pediu e foi isso que se fez. É evidente, dentro dos limites da guerra. Com fomos todos em rendição individual, nem sempre nos encontros conseguimos reunir todos, alguns já faleceram, outros emigraram e outros não vão porque... não.

Este ano conseguimos trazer mais duas presenças novas o que foi maravilhoso, foram eles o cabo radiotelegrafista Andrade, de Caldas da Rainha, e o cabo cripto Simões, de Lisboa. Isto quer dizer que não nos víamos há 37 anos, portanto foi muito bom.(...)

 

3. Também dele fala, com entusiasmo, o Joaquim Mexia Alves, ex-alf mil op esp, que esteve na Guiné, entre dezembro de 1971 e dezembro de 1973, tendo pertencido à CART 3492 (Xitole), ao Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e à CCAÇ 15 (Mansoa). Nunca esteve sediado em Bambadinca, mas sim no Rio Udunduma e no Mato Cão, destacamentos do Sector L1 (Bambadinca); ia de vez em quando à sede do Batalhão, o BART 3873, 1972/74, a que estava adida a CCAÇ 12:


(...) A sala de que fala o Vitor Alves, frequentei-a muitas vezes, aliás, para mim era a sala que eu frequentava nas minhas visitas a Bambadinca.

O Cap Bordalo Xavier, meu particularissimo amigo, é e foi na Guiné um homem de extraordinárias relações humanas, para além de um fantástico operacional, que conseguiu uma união notável com todo o pessoal, não só da CCAÇ 12 mas de outras unidades, como o meu 52.

Reside em Lamego, é major, obviamente na reserva, e é a alma da Associação de Operações Especiais. Infelizmente há muito que não contacto com ele, mas quero fazê-lo brevemente.

Retenho na memória, há uns anos em Monte Real, eu estava ao fim da tarde a jogar ténis no campo à frente do Hotel das Termas e vejo para um carro e dele sair uma pessoa que me pareceu o Cap Bordalo.

Achei que não podia ser, mas roído pela curiosidade pedi desculpa ao meu parceiro e fui perguntar ao porteiro do Hotel quem era a pessoa que tinha chegado. A resposta deu como certa a minha suposição. Não o via desde a Guiné.

Imediatamente pedi ao porteiro que ligasse para o quarto e pedisse ao capitão para vir à rcepção por um motivo qualquer. Quando nos vimos, literalmente num abraço como que lhe peguei ao colo, (o Cap Bordalo Xavier é bem mais baixo do que eu, o que não é de espantar), e ficámos ali não sei quanto tempo abraçados.

O hall do Hotel estava cheio de gente que ficou muito espantada de me ver assim abraçado a um homem de barbas. Foi dos encontros mais emocionantes da minha vida!!! (...) (***)

(Seleção / revisão e fixação de texto / negritos e itálicos: LG)
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5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Fica para outra altura um comentário à condecoração e ao nosso major Bordalo Xavier que já não tive oportunidade de conhecer na Guiné como capitão...

Deixem-me só assinalar esta "curiosidade": em cinco anos a CCaç 12 teve cinco cmdts, 2 do QP, 1 do QEO e 2 milicianos... A CCac 14 teve oito, 6 do QP, 1 do QEO e um alferes miliciano...

Como se podia ganhar a guerra com tão alta taxa de rotação de comandantes operacionais...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A avaliar pelo exemplo do BCmds da Guiné, formado apenas por "guinéus", estàs duas CCaç e as restantes companhias do CTIG, em 1974, viriam a ter capitães graduados como João Bacar Jaló ou o Jamanca (cmdt da CCAÇ 21)...

A demografia da potência colonizadora não aguentava mais... É como os russos que tem que ir buscar mercenários nas prisões e na Chechenia (que eu nem sei onde fica)... O PAIGC enfrentava há muito o mesmo problema... Estávamos todos cansados da guerra... Nós e eles... Só o Marcelo Caetano e o Américou Tomás é que não... Os senhores da guerra nunca dão o coirão...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Claro que os senhores da guerra também eram os "coirões" da "nomenclatura" do PAIGC que viviam no bem-bom de Conacri...

Sejamos francos, brutos e pluralistas...

joaquim disse...

O Capitão Bordalo, assim o é sempre para mim com o devido respeito, foi e é um dos maiores amigos da minha vida que conheci e com quem "trabalhei" na Guiné.
É uma amizade que mesmo sem nos vermos sei que mora dentro de nós até ao fim dos nossos dias.
Tenho por ele uma divida gratidão pois foi ele, a par com outros, que me apoiou inúmeras vezes e me ajudou a suportar as incríveis condições em que vivíamos no Mato Cão e sobretudo a incompetência de parte do comando de Bambadinca que tinha muito pouca noção do que era o mato e a guerra no mesmo.
Foi sob o seu comando que a CCAÇ12 fez a célebre Operação onde foi morto o Comandante do Bigrupo do PAIGC Mário Mendes.
Era e com certeza é um homem destemido, com uma profunda e empática relação com os homens sob o seu comando e aqueles que com a CCAÇ12 operavam.
Discreto e humilde sem vãs glórias, mas um irredutível crítico das Operações sem sentido e competência.
Já procurei fotografias mas ainda não as encontrei, se é que as tenho!
Podia ficar horas a escrever sobre o Capitão Bordalo e mesmo neste momento em que escrevo me emociono ao pensar nele.
Tenho que ganhar coragem e deixar de protelar uma ida a Lamego para estar com ele e o abraçar.
Se ele ler este arrazoado de palavras aqui lhe deixo o meu abraço de profunda amizade e gratidão.
Joaquim Mexia Alves

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Também eu sou amigo do Cap. Bordalo (Xavier). Já fui a Lamego e tive dificuldade de comunicar com ele por estar completamente surdo. Encontrei-o no Clube de Lamego na sua paixão (jogar bridge). Fui agradecer-lhe a ajuda que me deu no dia 10 de Agosto de 1972, quando morreram 3 soldados da 3494. Os detalhes deste acontecimento estão no meu livro "A Minha Guerra a Petróleo" (Ed. Chiado Books FEV 2019). Não tendo vantagem em ficar à beira do rio e debaixo de chuva torrencial acabámos por "ser autorizados" a dirigirmo-nos a Bambadinca num percurso extremamente difícil pela bolanha. A certa altura começámos a ver uma luz para nos orientarmos. Era o Bordalo que, com um pequeno grupo da CCaç, trazia um petromax à cabeça para evitarmos as áreas mais alagadas.
Realizámos (3494) uma acção ("Garlopa II) com a 12, para Sul da zona da Ponta Varela. Fomos pela 2.ª vez a uma área que o In ocupava, usando a população como escudo humano. A 12 desceu pelo nosso lado direito em direcção ao Sul e, terminada a acção, retirámos pelas mesmas posições. Já no final houve um ligeiro contra-ataque sem consequências.
Sei que participou no 25 de Abril, mas não sei em que moldes. Depois de Abril encontrámo-nos em Coimbra quando os oficiais da guarnição do Norte vieram pôr-se às ordens do brigadeiro Charais e alguns anos no breve contacto no Estado Maior do Exército.

Um Ab.
António J. P. Costa