1. Mensagem do Raul Albino, ex-Alf Mil, da CCAÇ 2402
Caro Luís e editores,
Aqui vai o texto nº 7 das Memórias de Campanha da CCAÇ 2402 (1). Por acaso, não pensava enviar este episódio, mas como o Luís me pediu no último mail que me enviou, que relatasse alguma coisa sobre o destacamento na Ilha de Jete, faço-lhe hoje a vontade.
Um abraço a toda a equipa,
Raul Albino
Destacamento na Ilha de Jete
1º Pelotão no destacamento da Ilha de Jete
No dia 24 de Setembro de 1968, seguiu o primeiro Grupo de Combate reforçado com alguns elementos dos outros grupos, a ocupar a Ilha de Jete, comandado pelo Alferes Brito, com a missão de montar instalações para as tropas e captar a população da área através de assistência directa às gentes nativas e contactos com os seus chefes.
Esta decisão estratégica de destacar este grupo para Jete reduziu substancialmente a capacidade operacional da restante companhia sediada em Có, sobrecarregando os restantes grupos com as actividades militares atribuídas à Companhia. Este enfraquecimento da defesa de Có poderia ter causado sérios reveses às nossas tropas, como o demonstra o segundo ataque ao quartel de Có, um dos mais violentos de toda a nossa campanha na Guiné, que só por sorte não teve consequências mais dramáticas (Ver 2º Ataque a Có em 12/10/68). Estes militares de ocupação da Ilha de Jete, voltariam a Có no dia 1 de Dezembro de 1968, com a sua missão cumprida.
À esquerda, o Nelinho com os galões de alferes e o furriel Bragança
Fotos e legendas: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.
O nosso soldado Manuel Vicente Fernandes, mais conhecido por Nelinho, cedeu-nos algumas fotografias do tempo em que por lá permaneceu. Numa delas o Nelinho apresenta-se com os galões de alferes, pedidos ao Alf Brito para tirar a fotografia, fazendo a família pensar que ele tinha sido promovido. Brincadeiras inofensivas ... Escreveu o Nelinho juntamente com as fotografias que enviou à família:
“Ofereço à Minha Querida Mãe para ver nos estados em que a gente se encontra a dormir, pois como está a ver, é nessa barraca que aí vê onde nós dormimos quatro e a nossa miséria é essa que se vê. Adeus.”
Depoimentos de quem lá esteve
Os depoimentos que se seguem, mantiveram o texto original, só corrigidos alguns erros gráficos essenciais. Preferi assim, para manter a maneira de se expressar dos autores, mesmo à custa de alguma forma de expressão menos perfeita.
Texto da autoria de José Manuel Ferreira:
O dia mais inesquecível, não sei a data, foi na véspera de ir para a Ilha de Jete em que o Capitão Vargas Cardoso me informou que no dia seguinte ia para a tal ilha. Eu não tinha roupa, pois tinha dado a lavar à minha lavadeira de nome Amália. Então não estive com meias medidas, saí pela porta de armas sozinho, sem imaginar o perigo que corria desarmado, pedi ao militar para me deixar sair e saí sem dar conhecimento ao nosso capitão. Fui à procura da casa da Amália no meio das tabancas e da população nativa para trazer a roupa. Só depois de entrar no quartel é que reflecti no tremendo disparate que tinha acabado de fazer. O então capitão nunca chegou a saber. Acabei felizmente por não ser capturado pelos turras, mas não escapava de uma porrada.
José Manuel Ferreira
Texto da autoria de António Fangueiro da Silva, mais conhecido por Silva Condutor:
O primeiro pelotão foi destacado para a Ilha de Jete com mais alguns elementos de outros pelotões, ao todo eram trinta e seis homens. Esta ilha tinha poucos habitantes e era a base da raça Papel que eram pescadores e da raça Fula. Aí não havia guerra, mas construímos uma base com abrigos, utilizando como materiais as palmeiras, terra e muita força dos nossos delgados braços, um traçador de serrar e um machado que era manobrado por todos. No pelotão tínhamos o lenhador, o soldado Paiva, que tinha uma força fora do comum. Os abrigos foram feitos para todas as secções e comando, mas enquanto estes não se encontravam prontos, dormíamos em tendas de oito pessoas e colchões pneumáticos. O Alferes Brito, que era o comandante do destacamento, recebeu ordem para ir à outra ilha para trazer a população que quisesse vir para a nossa. Íamos ao porto que era uma parte da ilha que tínhamos armadilhado com granadas para o inimigo não entrar, no entanto, tivemos de retirar as armadilhas para podermos ir à outra ilha a pé aproveitando a maré baixa. Como entretanto eu disse que a maré demorava seis horas a vazar e seis horas a encher, ficando nós durante esse período à mercê do inimigo, ele pensou então melhor e não fomos, tendo assim de armadilhar o porto outra vez. O nosso sistema de comunicação era por meio de rádio, sendo a energia fornecida por um gerador Manual que era da guerra de 1914, tendo de dar à manivela para gerar corrente. Quando a malta precisava do rádio, normalmente os acumuladores estavam em baixo e dávamos à manivela e nada, ninguém respondia do comando da ilha que pertencia a Teixeira Pinto. Numa das vezes que não tínhamos rádio, o barco que nos trazia os mantimentos também avariou e não veio durante oito dias, não tendo nós de comer e beber. Esta falta de contacto levou o Alferes Brito a ter receio de importunar o comando. Este acontecimento levou a que eu tivesse uma chatice com o Alferes, dizendo-lhe que tinha de fazer rádios, assim não dava, pois estávamos a passar mal, ao ponto dos nossos lábios com sede se assemelharem aos dos pretos, todos inchados e gretados. Ele entendeu e disse ao Vito para fazer os rádios, mas eles não respondiam. Em Có ouviram o rádio, tendo o Capitão Vargas mandado o padeiro fazer trinta e seis pães e, como estava lá uma avioneta, o capitão pediu para eles nos mandarem dessa forma. Quando a avioneta pairou no ar, lançou os sacos que pareciam sacos de correio, mas o nosso desejo era que fosse pão. Quando os sacos se aproximaram vimos que eram maiores que os sacos de correio e exclamámos que era pão e fomos todos a correr, de forma a cada um ser o primeiro, não aguentando mais a fome. Viemos então embora para Teixeira Pinto e tivemos de receber cuidados médicos. Nesta ilha havia um negro que era cabo e mandava na população, ele tinha dezasseis mulheres, tendo eu curiosidade de saber como era a vida dele, disse-me que ficava uma semana com cada uma. Depois disse-me que ia falar com o Alferes, pois os soldados andavam com as suas mulheres, respondi-lhe que de nada adiantava, corria o risco de algum soldado lhe bater, decidiu então nada dizer.
Silva Condutor
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Nota dos editores:
(1) Vd. post anteriores:
15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira
6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1343: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (2): O primeiro ataque ao quartel de Có, os primeiros revezes do IN
12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1516: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (3): Combatentes, trolhas e formigas bagabaga
13 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1658: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (4): Uma emboscada em Catora e um Lobo Mau pouco predador
28 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1790: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (5): Protecção a uma coluna logística Bula/Có
31 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2016 : História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (6) : O grande ataque a Có, em 12 de Outubro de 1968
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
Guiné 63/74 - P2052: Cusa di nos terra (5): Susana, Chão Felupe - Parte I (Luiz Fonseca, ex-Fur Mil TRMS)
Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Varela > Iale > 2004 > Festa da saída da Cerimónia de Circuncisão (fanado, em crioulo) da etnia Felupe em Iale.
Conforme o prometido, aqui está o novo trabalho do nosso camarada Luiz Fonseca, ex-Fur Mil de Transmissões (CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela), sobre os Felupes e seus costumes.
Meu caro Luis Graça:
Depois do que li na mensagem recebida, devo dizer que me foi atribuída uma missão de enorme responsabilidade.
As notas tomadas ao longo de um período de tempo, cerca de dois anos, não poderão comparar-se com o conhecimento de alguém que sentiu e viveu o pulsar daquelas gentes. Refiro-me com todo o respeito e admiração ao Dr. Artur Augusto da Silva [, pai do nosso amigo Pepito].
Já agora vou tentar obter o livro Usos e costumes jurídicos dos Felupes da Guiné, da sua autoria. Certamente que, com a sua leitura, os meus parcos conhecimentos ficarão deveras enriquecidos, podendo igualmente desfazer algumas das minhas (ainda muitas) dúvidas.
Mas uma vez que fui eu quem abriu o jogo e não renegando as dificuldades, tentarei que algo de proveitoso possa merecer a vossa atenção.
E agora, se autorizado, vamos ao que aqui me trouxe: CHÃO FELUPE.
Não sei se o Pepito sabe, também, da existência de um marco que refere o local da primeira (?) casa felupe. Situa-se no caminho entre Suzana e o chamado porto novo (Rio Defename) onde embarcavam e desembarcavam as NT, depois de abandonado o porto velho por apresentar grandes dificuldades, no canal, com as marés.
Deixem-me dar nota que, quando soube do destino da minha unidade, ainda nas Transmissões (QG) onde passei alguns dias, me foi dito que a zona era relativamente calma mas com uma população meio esquisita. Mais ponto menos ponto o que o Carlos Fortunato transmite nas suas postagens.
O tempo viria a desmentir algumas, confirmar outras e acrescentar mais umas quantas.
É evidente que para um pira com penugem rala num mundo que não era o seu, com aquelas informações os receios aumentaram. De um IN atrás de cada árvore, passei a ter um IN mais um Felupe, não sabendo qual o que representaria maior perigo.
Tal deixaria de ocorrer passado algum tempo após a chegada a Suzana.
A minha primeira impressão foi a de ter chegado a um local que não fazia a mínima ideia de ainda existir, Bissau embora uma cidade pequena, tinha os seus subúrbios onde se deparavam algumas cenas pouco ortodoxas, na visão de um europeu. Todavia o que se me oferecia ver ultrapassava tudo o que seria expectável. Indumentária (?), dialecto (?,) homens com arco e flecha (?) os camaradas da 2538 (do capitão Rey Vilar, na altura já do Alf Mil Borlido) tinham inteira razão em terem adoptado "Os Alterados" como nome de guerra.
Uma das nossas grandes dificuldades era a língua, pois era sempre necessário um interprete, com os inconvenientes de uma tradução para creoulo e depois para português.
O dialecto Felupe, que acabou por dar ao povo que o fala o seu nome, é um dos dialectos djola falado na Guiné, sendo o outro o bayote, o djola é uma das vinte e quatro línguas diferentes faladas entre o rio Gâmbia e o baixo Casamance, integradas segundo creio no grupo guineo-senegalês.
Mas algo saltava à vista, mais notório depois do período de sobreposição que terminou a 31 de Maio de 1971.
Para os Felupes havia duas guerras.
Uma com os senegaleses que insistiam em roubar vinho de cobiçar as badjudas.
A outra com qualquer intromissão no seu conceito de território fosse de quem fosse.
As NT serviam de polícia de uma fronteira que para eles nunca existiu, nunca se importando com a assinatura do Tratado de Berlim (1886), que politicamente os dividiu. Os trilhos existiam, as trocas comerciais faziam-se, existiam famílias que, dentro do espirito felupe, trabalhavam terras do lado de lá quando era necessário e as suas próprias butondas (bolanhas) na Guiné.
Aliás o arroz era a base da sua alimentação em face das condições propiciadas pelos terrenos alagadiços.
A nossa zona de acção (Suzana) estendia-se desde Colage até Varela, delimitada a Norte pela fronteira com o Senegal e a Sul pelo rio Cacheu, prolongando-se ambas, como é óbvio, até ao Atlântico.
Nesta área encontravam-se cerca de 20 povoações ou pequenos núcleos, alguns com menos de meia dúzia de moranças. Suzana, (nome de mulher) a mais populosa e sede da CCAV, Arame, Bugim, Ejatem, Cassolol, Cassolol Catétia, Cassolol Indiame, Caroai, Basseor, Sucujaque, Catões (Butame, Joninque, Cassica e Calenquim), Igim, Jufunco, Ossor, Bolor, Lala, Elia e Varela.
Pena que na excelente colecção de mapas, não exista o relativo à foz do Cacheu, abrangendo a Ponta de Jufunco e a Ponta de Bolor, e que englobaria alguns dos núcleos populacionais atrás referidos.
Organicamente a CCAV 3366, cedeu um GC para Antotinha (Ingoré) e outro para S. Domingos, quando esta povoação passou a ser considerada um alvo preferencial, face à sua localização na área de penetração para o chão manjaco (corredor de Campada), restando dois GC, um para Varela e outro para Suzana, que recebeu um reforço precioso em termos militares, o Pelotão 60 (Pel Caç Nat 60), constituído por elementos de etnia Felupe e que serviu para consolidar uma excelente relação com a população.
Roncos nos primeiros meses, apenas uma flagelação, 14 de Agosto, um óptimo sinal.
Aliás na mesma altura de rotação das NT, também o PAIGC fez rodar os seus homens na zona de M'Pack, Oussouye e Ziguinchor.
E por ora não me alongo mais. Da próxima, espero dizer algo sobre as suas crenças e a sua forma de trabalho.
Texto e fotos:
Luiz Fonseca
(ex-Fur Mil Tms
Conforme o prometido, aqui está o novo trabalho do nosso camarada Luiz Fonseca, ex-Fur Mil de Transmissões (CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela), sobre os Felupes e seus costumes.
Meu caro Luis Graça:
Depois do que li na mensagem recebida, devo dizer que me foi atribuída uma missão de enorme responsabilidade.
As notas tomadas ao longo de um período de tempo, cerca de dois anos, não poderão comparar-se com o conhecimento de alguém que sentiu e viveu o pulsar daquelas gentes. Refiro-me com todo o respeito e admiração ao Dr. Artur Augusto da Silva [, pai do nosso amigo Pepito].
Já agora vou tentar obter o livro Usos e costumes jurídicos dos Felupes da Guiné, da sua autoria. Certamente que, com a sua leitura, os meus parcos conhecimentos ficarão deveras enriquecidos, podendo igualmente desfazer algumas das minhas (ainda muitas) dúvidas.
Mas uma vez que fui eu quem abriu o jogo e não renegando as dificuldades, tentarei que algo de proveitoso possa merecer a vossa atenção.
E agora, se autorizado, vamos ao que aqui me trouxe: CHÃO FELUPE.
Guiné> Chão Felupe> Padrão
Não sei se o Pepito sabe, também, da existência de um marco que refere o local da primeira (?) casa felupe. Situa-se no caminho entre Suzana e o chamado porto novo (Rio Defename) onde embarcavam e desembarcavam as NT, depois de abandonado o porto velho por apresentar grandes dificuldades, no canal, com as marés.
Deixem-me dar nota que, quando soube do destino da minha unidade, ainda nas Transmissões (QG) onde passei alguns dias, me foi dito que a zona era relativamente calma mas com uma população meio esquisita. Mais ponto menos ponto o que o Carlos Fortunato transmite nas suas postagens.
O tempo viria a desmentir algumas, confirmar outras e acrescentar mais umas quantas.
É evidente que para um pira com penugem rala num mundo que não era o seu, com aquelas informações os receios aumentaram. De um IN atrás de cada árvore, passei a ter um IN mais um Felupe, não sabendo qual o que representaria maior perigo.
Tal deixaria de ocorrer passado algum tempo após a chegada a Suzana.
A minha primeira impressão foi a de ter chegado a um local que não fazia a mínima ideia de ainda existir, Bissau embora uma cidade pequena, tinha os seus subúrbios onde se deparavam algumas cenas pouco ortodoxas, na visão de um europeu. Todavia o que se me oferecia ver ultrapassava tudo o que seria expectável. Indumentária (?), dialecto (?,) homens com arco e flecha (?) os camaradas da 2538 (do capitão Rey Vilar, na altura já do Alf Mil Borlido) tinham inteira razão em terem adoptado "Os Alterados" como nome de guerra.
Uma das nossas grandes dificuldades era a língua, pois era sempre necessário um interprete, com os inconvenientes de uma tradução para creoulo e depois para português.
O dialecto Felupe, que acabou por dar ao povo que o fala o seu nome, é um dos dialectos djola falado na Guiné, sendo o outro o bayote, o djola é uma das vinte e quatro línguas diferentes faladas entre o rio Gâmbia e o baixo Casamance, integradas segundo creio no grupo guineo-senegalês.
Mas algo saltava à vista, mais notório depois do período de sobreposição que terminou a 31 de Maio de 1971.
Guiné> Chão Felupe> Vencedor de uma luta
Uma com os senegaleses que insistiam em roubar vinho de cobiçar as badjudas.
A outra com qualquer intromissão no seu conceito de território fosse de quem fosse.
As NT serviam de polícia de uma fronteira que para eles nunca existiu, nunca se importando com a assinatura do Tratado de Berlim (1886), que politicamente os dividiu. Os trilhos existiam, as trocas comerciais faziam-se, existiam famílias que, dentro do espirito felupe, trabalhavam terras do lado de lá quando era necessário e as suas próprias butondas (bolanhas) na Guiné.
Aliás o arroz era a base da sua alimentação em face das condições propiciadas pelos terrenos alagadiços.
A nossa zona de acção (Suzana) estendia-se desde Colage até Varela, delimitada a Norte pela fronteira com o Senegal e a Sul pelo rio Cacheu, prolongando-se ambas, como é óbvio, até ao Atlântico.
Nesta área encontravam-se cerca de 20 povoações ou pequenos núcleos, alguns com menos de meia dúzia de moranças. Suzana, (nome de mulher) a mais populosa e sede da CCAV, Arame, Bugim, Ejatem, Cassolol, Cassolol Catétia, Cassolol Indiame, Caroai, Basseor, Sucujaque, Catões (Butame, Joninque, Cassica e Calenquim), Igim, Jufunco, Ossor, Bolor, Lala, Elia e Varela.
Pena que na excelente colecção de mapas, não exista o relativo à foz do Cacheu, abrangendo a Ponta de Jufunco e a Ponta de Bolor, e que englobaria alguns dos núcleos populacionais atrás referidos.
Organicamente a CCAV 3366, cedeu um GC para Antotinha (Ingoré) e outro para S. Domingos, quando esta povoação passou a ser considerada um alvo preferencial, face à sua localização na área de penetração para o chão manjaco (corredor de Campada), restando dois GC, um para Varela e outro para Suzana, que recebeu um reforço precioso em termos militares, o Pelotão 60 (Pel Caç Nat 60), constituído por elementos de etnia Felupe e que serviu para consolidar uma excelente relação com a população.
Roncos nos primeiros meses, apenas uma flagelação, 14 de Agosto, um óptimo sinal.
Aliás na mesma altura de rotação das NT, também o PAIGC fez rodar os seus homens na zona de M'Pack, Oussouye e Ziguinchor.
E por ora não me alongo mais. Da próxima, espero dizer algo sobre as suas crenças e a sua forma de trabalho.
Texto e fotos:
Luiz Fonseca
(ex-Fur Mil Tms
CCAV 3366)
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Notas dos editores
(1) Vd. post de 10 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1939: Susana, região de Cacheu: fantasmas do passado (Pepito)
(2) Vd. post de 24 Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCL: Preocupação com a situação humanitária em Susana e Varela (região do Cacheu) (Luís Graça)
(3) Vd. post de 11 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIII: Comandos africanos: do Pilão a Conacri (Luís Graça)
(4) Vd. a excelente página do Carlos Fortunato, que lidou com balantas e felupes > Guiné - Os Leões Negros > CCAÇ 13 > Bolama > Felupes
(...) "Adversários temíveis, os felupes possuem elevada estatura e grande robustez física. São referidos como praticantes do canibalismo no passado, são coleccionadores de cabeças dos seus inimigos que guardam ou entregam ao feiticeiro, e usam com extraordinária perícia arcos com setas envenenadas."Embora se assegure que o canibalismo pertence ao passado, não era essa a opinião das restantes etnias, as quais referem igualmente que estes fazem os seus funerais à meia noite, pendurando caveiras nas copas das arvores, e dançando debaixo delas. O felupe é conhecido como pouco hospitaleiro para com as restantes etnias, pelo que existe da parte destas um misto de animosidade e desconhecimento."Os felupes são igualmente grandes lutadores, fazendo da luta a sua paixão. Este desporto tão vulgarizado nesta etnia, prende-o, empolga-o, constituindo o mais desejado espectáculo" (...)
(5) vd. post de 11 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1942: Susana, chão Felupe (Luiz Fonseca, CCAV 3366, 71/73)
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Notas dos editores
(1) Vd. post de 10 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1939: Susana, região de Cacheu: fantasmas do passado (Pepito)
(2) Vd. post de 24 Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCL: Preocupação com a situação humanitária em Susana e Varela (região do Cacheu) (Luís Graça)
(3) Vd. post de 11 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIII: Comandos africanos: do Pilão a Conacri (Luís Graça)
(4) Vd. a excelente página do Carlos Fortunato, que lidou com balantas e felupes > Guiné - Os Leões Negros > CCAÇ 13 > Bolama > Felupes
(...) "Adversários temíveis, os felupes possuem elevada estatura e grande robustez física. São referidos como praticantes do canibalismo no passado, são coleccionadores de cabeças dos seus inimigos que guardam ou entregam ao feiticeiro, e usam com extraordinária perícia arcos com setas envenenadas."Embora se assegure que o canibalismo pertence ao passado, não era essa a opinião das restantes etnias, as quais referem igualmente que estes fazem os seus funerais à meia noite, pendurando caveiras nas copas das arvores, e dançando debaixo delas. O felupe é conhecido como pouco hospitaleiro para com as restantes etnias, pelo que existe da parte destas um misto de animosidade e desconhecimento."Os felupes são igualmente grandes lutadores, fazendo da luta a sua paixão. Este desporto tão vulgarizado nesta etnia, prende-o, empolga-o, constituindo o mais desejado espectáculo" (...)
(5) vd. post de 11 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1942: Susana, chão Felupe (Luiz Fonseca, CCAV 3366, 71/73)
Guiné 63/74 - P2051: Os pára-quedistas no mítico Cantanhez: Operação Tigre Poderoso (II parte) (Victor Tavares, CCP 121 / BCP 12)
Segunda e última parte do texto enviado em 2 de Julho de 2007 pelo nosso camarada Victor Tavares (ex-1º Cabo Pára-quedista, CCP 121/BCP 12, Brá, 1972/74). Fixação do texto e subtítulos, da responsabilidade do editor L.G.
Cantanhez > Operação Grande Empresa (Comando Chefe) / Operação Tigre Poderoso (BCP 12) > De 12 Dezembro de 1972 a 19 de Janeiro de 1973. Continuação (1)
14 de Dezemro de 1972
Patrulhamento feito pelo 2º Pelotão sem qualquer tipo de incidente. No entanto, detectámos trilhos recentes de passagem de canhão sem recuo com rodas. Seguindo o rasto, este veio a desaparecer junto ao local onde atravessaram o rio.
Também passámos por um Tabancal escondido debaixo de um arvoredo imenso, o que tornava aquela zona escura. Ali não entrava o mais pequeno raio de sol, era arrepiante aquele local. Passámos revista a todas as Tabancas e a alguns abrigos, encontrando alguns invólucros de granadas de canhão sem recuo. Também aqui encontrámos dois idosos e uma mulher mais nova e que foram interrogados pelos nossos intérpretes. Como era habitual, nada diziam.
16 de Dezembro de 1972: abatado um guerrilheiro
O 1º Bigrupo de combate da CCP 121 do qual eu fazia parte , foi emboscado por um grupo de guerrilheiros do PAIGC que se estimava em cerca de 15 elementos e que estavam fortemente armados e muito bem posicionados. Felizmente tivemos sorte de não termos sido atingidos pelos primeiros tiros e rebentamentos. Reagimos de forma eficaz ao fogo inimigo que perante a nossa reacção se pôs em debandada deixando no terreno um dos seus elementos já sem vida e várias armas ligeiras, 1 kalachnikov, 1 PPSH e 1 Simonov e granadas de RPG 2 e RPG 7, estas já com as cargas propulsoras enroscadas, preparadas para serem disparadas naquele ataque, o que não veio a acontecer derivada a eficácia do nosso fogo.
18 de Dezembr de 1972. abatido um apontador de Degtyarev pesada
Patrulhamento de Cadique até às Caxambas Balantas e regresso. Nesta última localidade aonde havia bastantes Tabancas [moranças], depois de se passar revista às palhotas e quando já nos encontrávamos todos fora da zona do aldeamento, tivemos contacto de fogo com um grupo do PAIGC que se encontrava emboscado criando uma zona de morte para quem seguisse a picada. Só que nós, ao abandonarmos o local revistado, fizemo-lo a corta mato o que lhes dificultou de certa forma a manobra de acção.
Este grupo estimava-se entre 8 a 10 guerrilheiros, dos quais abatemos o apontador de 1 Degtyarev Pesada com prato superior. As nossas forças não tiveram qualquer problema embora o contacto durasse vários minutos e o inimigo possuisse um bom apoio bélico (as armas capturadas Degtyarev pesada, 1 PPSH ou costureirinha, e uma de repetição, além de várias granadas de RPG2).
19 de Dezembro de 1972: apanga, em emboscada, uma enfermeria armada com uma Kalash
Mais um patrulhamento - era o prato do dia -, desta vez na direcção de Cadique Yalla, manhã cedo. Estávamos a andar seguindo por uma picada já há muito tempo que não era utilizada, chegámos então a outra que seguia na perpendicular àquela que seguíamos.
Esta era a velha estrada que dava para Jamberem e que viria mais tarde a ser aberta e alcatroada entre Cadqieu e o lugar atrás referido. Passada esta, seguimos a corta mato em direcção a uma bolanha. Nesse percurso passámos por um aldeamento já há muito desabitado: as Tabancas, cerca de meia dúzia, estavam todas em ruínas; nas imediações destas existiam vários Mangueiros e Cajueiros assim como bastantes Bananeiras.
Aqui estacionámos por alguns minutos, num canto do velho aldeamento, talvez local de alguma horta, com meia dúzia de pés de piri-piri que pareciam plantas ornamentais, carregados com o seu fruto de várias cores e com uma imponência de cerca de um metro a metro e meio de altura, Fizemos uma monda rápida aà malaguetas que não eram muito grandes mas que deu para encher os dois bolsos laterais das calças, que não eram nada pequenos .
Entretanto seguimos o rumo previsto para passado algum tempo chegarmos a uma picada que tomámos e nos levou até junto da orla da mata. Era bastante utilizada, atravessava uma Bolanha de grande dimensão, com 500 a 600 metros de largura.
Não arriscámos a travessia da mesma por se tornar perigoso, continuámos a marcha, agora a corta mato, a uma distância de alguns metros da picada. A mata nesta zona era semiaberta, de fácil progressão. Andados mais ou menos 1000 metros, a Bolanha era mais estreita naquele lugar e continuava a alargar logo de seguida, Foi então aqui que atravessámos para o outro lado da Bolanha.
Aí, já era Cadique Yalla. Até aqui tudo tinha corrido dentro da normalidade, a mata deste lado não tinha nada a ver com a de onde tínhamos acabado de sair, era mais fechada e com árvores de grande porte.
Fomos também chamados a atenção para nos deslocarmos com redobrados cuidados, havia informações de movimentos de guerrilheiros e a possibilidade de existirem um grupo de mulheres armadas, isso veio a confirmar-se num pequeno contacto que tivemos passado pouco tempo depois de entrarmos na mata densa que antecedia um pequeno Tabancal quase na orla da mata e que não se referenciava a mais de 20 a 30 metros.
Foi aqui que, deslocando-nos a corta mato nos apercebemos das Tabancas. Avançando para as mesmas com rapidez, tomámos de assalto esta pequena povoação sem qualquer reacção armada por parte dos presentes.
Feita revista às habitações, encontrámos varias peças de fardamento e munições de armas ligeiras. Interrogadas as pessoas ali presentes, nada adiantaram para justificarem a presença das munições.
Partindo deste local, seguimos novamente a corta mato, agora abandonando a orla da mata e progredindo mais no seu interior durante mais de uma hora, acabámos por chegar a uma picada bastante batida, onde montámos uma emboscada.
Passado algumas duas dezenas de minutos eis que se começa a ouvir vozes várias que se iam aproximando e que entram na zona de morte: eram 4 mulheres já de idade avançada umas com balaios à cabeça, outras com eles debaixo do braço e dois garotos. Atrás destas seguia uma mulher de cerca de 30 anos com um pano sobre o ombro direito que cobria uma arma. É então dada ordem através de sinais para tentar capturar a mulher armada de surpresa, evitando fazer fogo. Foi o que veio a acontecer.
Quando as primeiras mulheres se encontravam já perto do final da zona emboscada e verificando que estas não eram seguidas por Guerrilheiros, avançaram rapidamente 4 ou 5 Pára-quedistas em direcção À picada, não havendo hipóteses de reacção da mulher armada, que não esboçou qualquer movimento, sendo desarmada sem problema. Transportava uma Kalashnikov e 3 carregadores.
Tomado de assalto mais um populoso aldeamento
Posto isto, levantamos a emboscada, seguindo pela picada em direcção ao aldeamento que ficava a cerca de 500 metros. Ao aproximarmo-nos do mesmo, saímos da picada e formámos em linha para avançar sobre o objectivo com poder de fogo caso houvesse qualquer reacção armada por parte dos habitantes do mesmo, o que não veio a acontecer felizmente.
Tomámos de assalto este local colhendo de surpresa a grande quantidade de habitantes. Este aldeamento era enorme teria mais de 30 Tabancas , que foram passadas em revista , tal como dois abrigos à prova de artilharia aonde se encontrou vario fardamento e equipamento.
Foi aqui em Cadique Iala que comprámos várias galinhas nheques, para fazermos os nossos petiscos, o que até aí não era possível. Até construímos um galinheiro de onde nos abastecíamos para fazer as tainadas.
Entretanto iniciámos o regresso a Cadique City fazendo deslocar connosco alguns habitantes e a mulher capturada, utilizando a picada que atravessava a Bolanha e um pequeno rio servindo de ponte um tronco de arvore. Fizemos o resto do percurso sem problemas.
22 de Dezembro de 1972: captura do comandante do bigrupo de Malan Camará
Dia 22 de dezembro, o primeiro bi-grupo da CCP 121 parte para mais um patrulhamento desta vez com destino as Caxambas Balantas, depois de andadas algumas horas atravessando matas, bolanhas e rios alguns de difícil passagem derivado ao imenso lamaçal e arvoredo rasteiro ou Tarrafo aonde nos enterrávamos até à cintura e por vezes mais a cima, tendo que ser ajudados pelos camaradas que mais rapidamente chegavam a margem segura.
Fomos entretanto aproximando-nos da zona onde se pretendia descobrir uma base IN que, segundo informações do pessoal capturado, era bastante utilizada e frequentada pelos Guerrilheiros.
Progredindo a corta mato, lá fomos andando com grande dificuldade rompendo floresta muito serrada. A determinada altura e já numa zona da mata mais aberta, detectámos varias valas – abrigo, local onde os Guerrilheiros estacionavam em segurança e onde se instalavam para emboscar as nossas tropas. A cerca de 50 metros dali passava um trilho paralelo as valas.
Estacionamos durante cerca de 15 minutos sem que o IN se revelasse, retomando a marcha com atenção redobrada. A mata tinha árvores imponentes, o sol não entrava por lado algum, parecia noite em alguns locais.
Entretanto retomámos a marcha até que os homens da frente apercebendo-se de movimento de pessoas que passavam no trilho atrás referido que ficava do nosso lado direito, pararam, o que aconteceu com os restantes quase por simpatia, passando sinal do que se estava a passar.
Referenciámos três pessoas desarmadas que seguiram o seu destino. Aqui montámos uma emboscada. Passados cerca de 10 minutos aparece uma mulher com uma criança as costas também no mesmo sentido. Poucos minutos passaram e aparecem pela mesma picada mas no sentido inverso 4 Guerrilheiros armados. Quando estes se aproximavam dos nossos homens da frente , estes abriram fogo abatendo de imediato 2 guerrilheiros ferindo os outros dois, tendo um deles conseguido fugir. Capturámos o outro, sendo ele o comandante de bigrupo de Simbeli, Malan Camará.
Neste contacto foram apreendidas 2 Kalashnikov, 4 granadas de RPG 2 e 1 RPG 2.
Entre o Natal de 1972 e o fim de ano
Entre o Natal de 1972 e o fim de ano, o destacamento de Cadique foi atacado por várias vezes, sempre à canhoada, todas caindo dentro da nossa zona ou seja no perímetro do destacamento. Isto no dia 26.
No inicio da noite do dia 27, novo ataque à canhoada, nesta mesma noite cerca das 23 horas, novo ataque desta vez de armas ligeiras vindo os guerrilheiros até bem perto de nós, ao arame farpado, como se costuma dizer (porque não o tínhamos.
Posso considerar que a táctica utilizada foi perfeita porque quando foi feito o ataque à canhoada, o mesmo foi para permitir a aproximação dos guerrilheiros até cerca de 30 metros das nossas posições. Foi um ataque bem organizado pelo inimigo mas que não lhes trouxe qualquer proveito, porque a maioria dos Pára-quedistas já se encontravam nas valas onde durante a noite se descansava. Estas tinham sido abertas nos dias anteriores, não tivemos qualquer ferido durante este ataque, porque tínhamos todo o nosso armamento e equipamento preparado e à mão para estas eventualidades. D.desta forma reagimos pronta e eficazmente a este ataque.
No dia seguinte fomos passar busca às posições inimigas e encontrámos um morto com uma arma Kalashnikov e uma mochila com material de primeiros socorros e alguns papéis .
Entretanto tinha passado o Natal de 1972. Ao almoço e ao jantar, como não tínhamos condições para cozer pão, tivemos que fazer as primeiras refeições quentes com bolachas de água e sal a substituir o pão.
Entretanto foi destacado para nos fazer companhia um Bigrupo da Companhia de Caçadores Pára-quedistas 123 (CCP 123) e uma Companhia do exército que viria a ficar no destacamento e os Pára-quedistas a fazer patrulhamentos e operações na zona de Cadique, Cafal Balanta, Cafine e na zona de Cacine-Jamberem e em toda a mata do Cantanhez.
9 de Janeiro de 1973: abatidos mais dois guerrilheiros e capturada mais uam enfermeira
Tivemos dois violentos contactos com as forças do PAIGC nas zonas alagadiças de Cacine, durante a acção Escorpião Claro, onde abatemos dois Guerrilheiros e ferimos vários, como viemos a confirmar no reconhecimento posteriormente feito , onde eram visíveis abundantes rastos de sangue. Capturámos vários equipamentos de guerra, e também uma enfermeira. De salientar que o PAIGC tinha um grupo armado formado por mulheres do qual esta enfermeira fazia parte activa, como se veio a confirmar.
Nesta acção, a CCP 121 além de vário equipamento atrás referido capturou 1 LGFog RPG 2, 5 espingardas Mosin Negant, 5 granadas de canhão sem recuo,11 granadas de RPG 2, 2 granadas de mão ofensivas e 460 munições para armas diversas.
Durante o restante tempo que aqui permanecemos com saídas diárias, apenas tivemos pequenos e esporádicos contactos como IN sem relevância.
Foi a partir desta altura que as acções operacionais das nossas tropas tivera, um significativo abrandamento, porque as forças do PAIGC tinham sido enfraquecidas pelas constantes acções das nossas forças.
________
Nota de L.G.:
(1) Vd. posta de 9 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2038: Os pára-quedistas no mítico Cantanhez: Operação Tigre Poderoso (I parte) (Victor Tavares, CCP 121 / BCP 12)
Cantanhez > Operação Grande Empresa (Comando Chefe) / Operação Tigre Poderoso (BCP 12) > De 12 Dezembro de 1972 a 19 de Janeiro de 1973. Continuação (1)
14 de Dezemro de 1972
Patrulhamento feito pelo 2º Pelotão sem qualquer tipo de incidente. No entanto, detectámos trilhos recentes de passagem de canhão sem recuo com rodas. Seguindo o rasto, este veio a desaparecer junto ao local onde atravessaram o rio.
Também passámos por um Tabancal escondido debaixo de um arvoredo imenso, o que tornava aquela zona escura. Ali não entrava o mais pequeno raio de sol, era arrepiante aquele local. Passámos revista a todas as Tabancas e a alguns abrigos, encontrando alguns invólucros de granadas de canhão sem recuo. Também aqui encontrámos dois idosos e uma mulher mais nova e que foram interrogados pelos nossos intérpretes. Como era habitual, nada diziam.
16 de Dezembro de 1972: abatado um guerrilheiro
O 1º Bigrupo de combate da CCP 121 do qual eu fazia parte , foi emboscado por um grupo de guerrilheiros do PAIGC que se estimava em cerca de 15 elementos e que estavam fortemente armados e muito bem posicionados. Felizmente tivemos sorte de não termos sido atingidos pelos primeiros tiros e rebentamentos. Reagimos de forma eficaz ao fogo inimigo que perante a nossa reacção se pôs em debandada deixando no terreno um dos seus elementos já sem vida e várias armas ligeiras, 1 kalachnikov, 1 PPSH e 1 Simonov e granadas de RPG 2 e RPG 7, estas já com as cargas propulsoras enroscadas, preparadas para serem disparadas naquele ataque, o que não veio a acontecer derivada a eficácia do nosso fogo.
18 de Dezembr de 1972. abatido um apontador de Degtyarev pesada
Patrulhamento de Cadique até às Caxambas Balantas e regresso. Nesta última localidade aonde havia bastantes Tabancas [moranças], depois de se passar revista às palhotas e quando já nos encontrávamos todos fora da zona do aldeamento, tivemos contacto de fogo com um grupo do PAIGC que se encontrava emboscado criando uma zona de morte para quem seguisse a picada. Só que nós, ao abandonarmos o local revistado, fizemo-lo a corta mato o que lhes dificultou de certa forma a manobra de acção.
Este grupo estimava-se entre 8 a 10 guerrilheiros, dos quais abatemos o apontador de 1 Degtyarev Pesada com prato superior. As nossas forças não tiveram qualquer problema embora o contacto durasse vários minutos e o inimigo possuisse um bom apoio bélico (as armas capturadas Degtyarev pesada, 1 PPSH ou costureirinha, e uma de repetição, além de várias granadas de RPG2).
19 de Dezembro de 1972: apanga, em emboscada, uma enfermeria armada com uma Kalash
Mais um patrulhamento - era o prato do dia -, desta vez na direcção de Cadique Yalla, manhã cedo. Estávamos a andar seguindo por uma picada já há muito tempo que não era utilizada, chegámos então a outra que seguia na perpendicular àquela que seguíamos.
Esta era a velha estrada que dava para Jamberem e que viria mais tarde a ser aberta e alcatroada entre Cadqieu e o lugar atrás referido. Passada esta, seguimos a corta mato em direcção a uma bolanha. Nesse percurso passámos por um aldeamento já há muito desabitado: as Tabancas, cerca de meia dúzia, estavam todas em ruínas; nas imediações destas existiam vários Mangueiros e Cajueiros assim como bastantes Bananeiras.
Aqui estacionámos por alguns minutos, num canto do velho aldeamento, talvez local de alguma horta, com meia dúzia de pés de piri-piri que pareciam plantas ornamentais, carregados com o seu fruto de várias cores e com uma imponência de cerca de um metro a metro e meio de altura, Fizemos uma monda rápida aà malaguetas que não eram muito grandes mas que deu para encher os dois bolsos laterais das calças, que não eram nada pequenos .
Entretanto seguimos o rumo previsto para passado algum tempo chegarmos a uma picada que tomámos e nos levou até junto da orla da mata. Era bastante utilizada, atravessava uma Bolanha de grande dimensão, com 500 a 600 metros de largura.
Não arriscámos a travessia da mesma por se tornar perigoso, continuámos a marcha, agora a corta mato, a uma distância de alguns metros da picada. A mata nesta zona era semiaberta, de fácil progressão. Andados mais ou menos 1000 metros, a Bolanha era mais estreita naquele lugar e continuava a alargar logo de seguida, Foi então aqui que atravessámos para o outro lado da Bolanha.
Aí, já era Cadique Yalla. Até aqui tudo tinha corrido dentro da normalidade, a mata deste lado não tinha nada a ver com a de onde tínhamos acabado de sair, era mais fechada e com árvores de grande porte.
Fomos também chamados a atenção para nos deslocarmos com redobrados cuidados, havia informações de movimentos de guerrilheiros e a possibilidade de existirem um grupo de mulheres armadas, isso veio a confirmar-se num pequeno contacto que tivemos passado pouco tempo depois de entrarmos na mata densa que antecedia um pequeno Tabancal quase na orla da mata e que não se referenciava a mais de 20 a 30 metros.
Foi aqui que, deslocando-nos a corta mato nos apercebemos das Tabancas. Avançando para as mesmas com rapidez, tomámos de assalto esta pequena povoação sem qualquer reacção armada por parte dos presentes.
Feita revista às habitações, encontrámos varias peças de fardamento e munições de armas ligeiras. Interrogadas as pessoas ali presentes, nada adiantaram para justificarem a presença das munições.
Partindo deste local, seguimos novamente a corta mato, agora abandonando a orla da mata e progredindo mais no seu interior durante mais de uma hora, acabámos por chegar a uma picada bastante batida, onde montámos uma emboscada.
Passado algumas duas dezenas de minutos eis que se começa a ouvir vozes várias que se iam aproximando e que entram na zona de morte: eram 4 mulheres já de idade avançada umas com balaios à cabeça, outras com eles debaixo do braço e dois garotos. Atrás destas seguia uma mulher de cerca de 30 anos com um pano sobre o ombro direito que cobria uma arma. É então dada ordem através de sinais para tentar capturar a mulher armada de surpresa, evitando fazer fogo. Foi o que veio a acontecer.
Quando as primeiras mulheres se encontravam já perto do final da zona emboscada e verificando que estas não eram seguidas por Guerrilheiros, avançaram rapidamente 4 ou 5 Pára-quedistas em direcção À picada, não havendo hipóteses de reacção da mulher armada, que não esboçou qualquer movimento, sendo desarmada sem problema. Transportava uma Kalashnikov e 3 carregadores.
Tomado de assalto mais um populoso aldeamento
Posto isto, levantamos a emboscada, seguindo pela picada em direcção ao aldeamento que ficava a cerca de 500 metros. Ao aproximarmo-nos do mesmo, saímos da picada e formámos em linha para avançar sobre o objectivo com poder de fogo caso houvesse qualquer reacção armada por parte dos habitantes do mesmo, o que não veio a acontecer felizmente.
Tomámos de assalto este local colhendo de surpresa a grande quantidade de habitantes. Este aldeamento era enorme teria mais de 30 Tabancas , que foram passadas em revista , tal como dois abrigos à prova de artilharia aonde se encontrou vario fardamento e equipamento.
Foi aqui em Cadique Iala que comprámos várias galinhas nheques, para fazermos os nossos petiscos, o que até aí não era possível. Até construímos um galinheiro de onde nos abastecíamos para fazer as tainadas.
Entretanto iniciámos o regresso a Cadique City fazendo deslocar connosco alguns habitantes e a mulher capturada, utilizando a picada que atravessava a Bolanha e um pequeno rio servindo de ponte um tronco de arvore. Fizemos o resto do percurso sem problemas.
22 de Dezembro de 1972: captura do comandante do bigrupo de Malan Camará
Dia 22 de dezembro, o primeiro bi-grupo da CCP 121 parte para mais um patrulhamento desta vez com destino as Caxambas Balantas, depois de andadas algumas horas atravessando matas, bolanhas e rios alguns de difícil passagem derivado ao imenso lamaçal e arvoredo rasteiro ou Tarrafo aonde nos enterrávamos até à cintura e por vezes mais a cima, tendo que ser ajudados pelos camaradas que mais rapidamente chegavam a margem segura.
Fomos entretanto aproximando-nos da zona onde se pretendia descobrir uma base IN que, segundo informações do pessoal capturado, era bastante utilizada e frequentada pelos Guerrilheiros.
Progredindo a corta mato, lá fomos andando com grande dificuldade rompendo floresta muito serrada. A determinada altura e já numa zona da mata mais aberta, detectámos varias valas – abrigo, local onde os Guerrilheiros estacionavam em segurança e onde se instalavam para emboscar as nossas tropas. A cerca de 50 metros dali passava um trilho paralelo as valas.
Estacionamos durante cerca de 15 minutos sem que o IN se revelasse, retomando a marcha com atenção redobrada. A mata tinha árvores imponentes, o sol não entrava por lado algum, parecia noite em alguns locais.
Entretanto retomámos a marcha até que os homens da frente apercebendo-se de movimento de pessoas que passavam no trilho atrás referido que ficava do nosso lado direito, pararam, o que aconteceu com os restantes quase por simpatia, passando sinal do que se estava a passar.
Referenciámos três pessoas desarmadas que seguiram o seu destino. Aqui montámos uma emboscada. Passados cerca de 10 minutos aparece uma mulher com uma criança as costas também no mesmo sentido. Poucos minutos passaram e aparecem pela mesma picada mas no sentido inverso 4 Guerrilheiros armados. Quando estes se aproximavam dos nossos homens da frente , estes abriram fogo abatendo de imediato 2 guerrilheiros ferindo os outros dois, tendo um deles conseguido fugir. Capturámos o outro, sendo ele o comandante de bigrupo de Simbeli, Malan Camará.
Neste contacto foram apreendidas 2 Kalashnikov, 4 granadas de RPG 2 e 1 RPG 2.
Entre o Natal de 1972 e o fim de ano
Entre o Natal de 1972 e o fim de ano, o destacamento de Cadique foi atacado por várias vezes, sempre à canhoada, todas caindo dentro da nossa zona ou seja no perímetro do destacamento. Isto no dia 26.
No inicio da noite do dia 27, novo ataque à canhoada, nesta mesma noite cerca das 23 horas, novo ataque desta vez de armas ligeiras vindo os guerrilheiros até bem perto de nós, ao arame farpado, como se costuma dizer (porque não o tínhamos.
Posso considerar que a táctica utilizada foi perfeita porque quando foi feito o ataque à canhoada, o mesmo foi para permitir a aproximação dos guerrilheiros até cerca de 30 metros das nossas posições. Foi um ataque bem organizado pelo inimigo mas que não lhes trouxe qualquer proveito, porque a maioria dos Pára-quedistas já se encontravam nas valas onde durante a noite se descansava. Estas tinham sido abertas nos dias anteriores, não tivemos qualquer ferido durante este ataque, porque tínhamos todo o nosso armamento e equipamento preparado e à mão para estas eventualidades. D.desta forma reagimos pronta e eficazmente a este ataque.
No dia seguinte fomos passar busca às posições inimigas e encontrámos um morto com uma arma Kalashnikov e uma mochila com material de primeiros socorros e alguns papéis .
Entretanto tinha passado o Natal de 1972. Ao almoço e ao jantar, como não tínhamos condições para cozer pão, tivemos que fazer as primeiras refeições quentes com bolachas de água e sal a substituir o pão.
Entretanto foi destacado para nos fazer companhia um Bigrupo da Companhia de Caçadores Pára-quedistas 123 (CCP 123) e uma Companhia do exército que viria a ficar no destacamento e os Pára-quedistas a fazer patrulhamentos e operações na zona de Cadique, Cafal Balanta, Cafine e na zona de Cacine-Jamberem e em toda a mata do Cantanhez.
9 de Janeiro de 1973: abatidos mais dois guerrilheiros e capturada mais uam enfermeira
Tivemos dois violentos contactos com as forças do PAIGC nas zonas alagadiças de Cacine, durante a acção Escorpião Claro, onde abatemos dois Guerrilheiros e ferimos vários, como viemos a confirmar no reconhecimento posteriormente feito , onde eram visíveis abundantes rastos de sangue. Capturámos vários equipamentos de guerra, e também uma enfermeira. De salientar que o PAIGC tinha um grupo armado formado por mulheres do qual esta enfermeira fazia parte activa, como se veio a confirmar.
Nesta acção, a CCP 121 além de vário equipamento atrás referido capturou 1 LGFog RPG 2, 5 espingardas Mosin Negant, 5 granadas de canhão sem recuo,11 granadas de RPG 2, 2 granadas de mão ofensivas e 460 munições para armas diversas.
Durante o restante tempo que aqui permanecemos com saídas diárias, apenas tivemos pequenos e esporádicos contactos como IN sem relevância.
Foi a partir desta altura que as acções operacionais das nossas tropas tivera, um significativo abrandamento, porque as forças do PAIGC tinham sido enfraquecidas pelas constantes acções das nossas forças.
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Nota de L.G.:
(1) Vd. posta de 9 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2038: Os pára-quedistas no mítico Cantanhez: Operação Tigre Poderoso (I parte) (Victor Tavares, CCP 121 / BCP 12)
Guiné 63/74 - P2050: Cruzeiro das nossas vidas (9): Do Funchal para Bissau no Ana Mafalda (Carlos Vinhal)
Carlos Vinhal, ex-Fur Mil MA, (CART 2732) Mansabá , 1970/72
Viagem em Primeira Classe no navio Ana Mafalda (1)
Antes do embarque, quando se começava a estruturar uma Companhia, havia um sem número de tarefas burocráticas a cumprir que competiam principalmente aos sargentos do Quadro.
No GAG2 (S.Martinho-Funchal-Madeira) formavam-se, simultaneamente duas companhias, a CART 2731 para Angola e a CART 2732, a minha, para a Guiné.
Os respectivos sargentos não tinham mãos a medir tanta era a burocracia e nós, os cabos milicianos, futuros camaradas de classe, bem nos apercebíamos disso. Contudo, como tínhamos que ministrar o treino operacional aos militares que nos haviam de acompanhar, achávamos que já tínhamos trabalho que chegasse.
Viagem em Primeira Classe no navio Ana Mafalda (1)
Antes do embarque, quando se começava a estruturar uma Companhia, havia um sem número de tarefas burocráticas a cumprir que competiam principalmente aos sargentos do Quadro.
No GAG2 (S.Martinho-Funchal-Madeira) formavam-se, simultaneamente duas companhias, a CART 2731 para Angola e a CART 2732, a minha, para a Guiné.
Os respectivos sargentos não tinham mãos a medir tanta era a burocracia e nós, os cabos milicianos, futuros camaradas de classe, bem nos apercebíamos disso. Contudo, como tínhamos que ministrar o treino operacional aos militares que nos haviam de acompanhar, achávamos que já tínhamos trabalho que chegasse.
Funchal, 1985> O Cais era assim no dia 13 de Abril de 1970.
Verdade se diga que nos fins de semana, além dos serviços ao quartel e passear pelo Funchal atrás das miúdas, não tínhamos mais nada para fazer e os desgraçados dos sargentos nem sábados nem domingos gozavam.
Num qualquer sábado de Março de 1970, estava eu e o meu camarada Carneiro em amena cavaqueira na caserna, quando o sargento Rita da CART 2732 veio ter connosco a pedir-nos ajuda.
A nossa Companhia não tinha Primeiro Sargento indigitado e os dois Segundos tinham que superar essa falha para dar conta a tanto trabalho. Anuímos logo de boa vontade até porque estávamos aborrecidos por não termos nada que fazer. Assim trabalhámos toda a tarde desse Sábado e o Domingo seguinte até muito tarde.
Claro que, a partir desse dia, nos tornámos colaboradores oficiais dos sargentos Rita e Santos, praticamente até à data de embarque, ajudando no preenchimento da imensa papelada e ocupando assim as nossas horas de ócio. Tudo feito sem esperar alguma recompensa, como é bom de ver.
Verdade se diga que nos fins de semana, além dos serviços ao quartel e passear pelo Funchal atrás das miúdas, não tínhamos mais nada para fazer e os desgraçados dos sargentos nem sábados nem domingos gozavam.
Num qualquer sábado de Março de 1970, estava eu e o meu camarada Carneiro em amena cavaqueira na caserna, quando o sargento Rita da CART 2732 veio ter connosco a pedir-nos ajuda.
A nossa Companhia não tinha Primeiro Sargento indigitado e os dois Segundos tinham que superar essa falha para dar conta a tanto trabalho. Anuímos logo de boa vontade até porque estávamos aborrecidos por não termos nada que fazer. Assim trabalhámos toda a tarde desse Sábado e o Domingo seguinte até muito tarde.
Claro que, a partir desse dia, nos tornámos colaboradores oficiais dos sargentos Rita e Santos, praticamente até à data de embarque, ajudando no preenchimento da imensa papelada e ocupando assim as nossas horas de ócio. Tudo feito sem esperar alguma recompensa, como é bom de ver.
Entretanto o tempo foi passando, e no dia de saída para a Guiné, 13 de Abril de 1970, já a bordo do navio “Ana Mafalda”, o sargento Rita veio ter comigo e com o Carneiro para nos dizer que não precisávamos de procurar alojamento a bordo, pois iríamos no camarote deles que tinha quatro beliches.
Ficámos contentes, pois ficaríamos mais bem instalados que os restantes camaradas furriéis.
Os camarotes dos oficiais e, dos sargentos do quadro, eram no casario superior do navio enquanto que os furriéis iam nos camarotes do casco, junto à linha de água.
Já agora, diga-se que os soldados e cabos iam nos porões, instalados de qualquer maneira. Para piorar a situação, o navio já trazia dos Açores uma Companhia açoriana com o mesmo destino que o nosso, a Guiné.
Nós os quatro, mais os nossos alferes e os oficiais da guarnição do Ana Mafalda fazíamos as refeições na sala de jantar principal do navio.
Havia um senão, que era a etiqueta que impedia de se comer em quantidade, mas tudo bem, como diz o ditado: - Não há bela sem senão.
Todas as tardes tinhamos direito a chá e bolachas, servido com todos os requintes.
A viagem correu muito bem, sempre com mar chão, com direito a ver peixes voadores em exibição, sem pagar mais por isso.
Finalmente, no dia 17, ao levantar, quando espreitámos pelas janelas do camarote, tivemos a primeira impressão da paisagem da Guiné. Estávamos fundeados ao largo de Bissau, tendo o desembarque acontecido pelas 16 horas.
Ficámos contentes, pois ficaríamos mais bem instalados que os restantes camaradas furriéis.
Os camarotes dos oficiais e, dos sargentos do quadro, eram no casario superior do navio enquanto que os furriéis iam nos camarotes do casco, junto à linha de água.
Já agora, diga-se que os soldados e cabos iam nos porões, instalados de qualquer maneira. Para piorar a situação, o navio já trazia dos Açores uma Companhia açoriana com o mesmo destino que o nosso, a Guiné.
Nós os quatro, mais os nossos alferes e os oficiais da guarnição do Ana Mafalda fazíamos as refeições na sala de jantar principal do navio.
Havia um senão, que era a etiqueta que impedia de se comer em quantidade, mas tudo bem, como diz o ditado: - Não há bela sem senão.
Todas as tardes tinhamos direito a chá e bolachas, servido com todos os requintes.
A viagem correu muito bem, sempre com mar chão, com direito a ver peixes voadores em exibição, sem pagar mais por isso.
Finalmente, no dia 17, ao levantar, quando espreitámos pelas janelas do camarote, tivemos a primeira impressão da paisagem da Guiné. Estávamos fundeados ao largo de Bissau, tendo o desembarque acontecido pelas 16 horas.
Os Adidos esperava-nos para nos lembrar que tinha chegado ao fim o (primeiro) cruzeiro da nossa vida.
Carlos Vinhal
__________________________________________
Nota de C.V.:
(1) Vd. Post de 17 de Abril de 2007> Guiné 63/74 - P1671: Efemérides (2): Há 37 anos a CART 2732 desembarcava em Bissau (Carlos Vinhal)
Carlos Vinhal
__________________________________________
Nota de C.V.:
(1) Vd. Post de 17 de Abril de 2007> Guiné 63/74 - P1671: Efemérides (2): Há 37 anos a CART 2732 desembarcava em Bissau (Carlos Vinhal)
Guiné 63/74 - P2049: Convívios (23): CART 1690 (Geba, 1967/68) (A. Marques Lopes)
A. Marques Lopes, ex- Alf Mil At Inf(Hoje Cor DFA, reformado), CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro) . Vive em Matosinhos.
Encontro da CART 1690 em 2 de Junho de 2007 no Lugar de Esteves, Sever do Vouga
O nosso camara A. Marques Lopes, mandou em tempo oportuno uma mensagem a dar conta deste encontro da CART 1690.
Embora, um pouco tarde, com as esfarrapadas desculpas do costume, aqui fica o registo do acontecimento.
Dizia então Marques Lopes:
No dia 2 de Junho reuniram-se em convívio, no Lugar de Esteves, Sever do Vouga, elementos da CART 1690.
Lembro que esta Companhia esteve em quadrícula na zona de Geba, onde tinha a sede, com quatro destacamentos, em Sare Banda, Camamudo, Cantacunda e Banjara. Neste último destacamento foi substituída por um pelotão da CCAÇ 2406, de Mansabá, o qual, no entanto, saíu a 19 de Janeiro de 1969, desactivando o destacamento, que ficou abandonado.
Faltou o Domingos Maçarico, por afazeres profissionais (também ferido em combate e evacuado para o HMP).
O Orlando Lourenço, que substituíu na companhia o Domingos Maçarico, faltou, por razões desconhecidas.
E faltaram, claro, mas foram lembrados, os que morreram lá: o Fernando da Costa Fernandes, que me substituira a mim, e o Carlos Peixoto, que substituira o Fernandes (foram, pois, os meus dois substitutos...).
Foto 3> Nesta foto estamos os três ex-alferes e o 2.º Sargento José Ferreira Fernandes (na ponta direita). Há outro, à esquerda, cujo nome não me lembro. Ao centro está o Malan Baldé, ex-elemento da Companhia de Milícias 3, em Sare Ganá, onde o pai dele, Samba Baldé, era régulo.
Após a entrega dos aquartelamentos da zona ao PAIGC, feita pela 3.ª Companhia do BCAÇ 4514/72, em 7 de Setembro de 1974, o Malan e o Pai, Samba, foram presos. A ele não lhe fizeram nada, mas o Malan Baldé, então com 23 anos, viu o seu pai Samba Baldé ser fuzilado, mesmo à sua frente.
O Luís Graça passou por Sare Ganá, talvez se lembre deles.
Foto 4> Esta rapaziada pertenceu ao meu grupo de combate em Geba. São, da esquerda para a direita: Paz, José Duarte, Guimarães, Santarém e... eu.
O José Manuel Moreira Duarte foi um dos que foi capturado em Cantacunda e esteve preso em Conakry. É o de cabelo comprido e braços cruzados que está no meio da fotografia, em baixo, publicada em 29 de Novembro de 1997 na Revista do Expresso:
Foto 5> Foto publicada na Revista Expresso de 29 de Novembro de 1997. Com a devida vénia
Foto 6> Fotografia do conjunto (sem as mulheres, que havia várias)
A. Marques Lopes
Encontro da CART 1690 em 2 de Junho de 2007 no Lugar de Esteves, Sever do Vouga
O nosso camara A. Marques Lopes, mandou em tempo oportuno uma mensagem a dar conta deste encontro da CART 1690.
Embora, um pouco tarde, com as esfarrapadas desculpas do costume, aqui fica o registo do acontecimento.
Dizia então Marques Lopes:
No dia 2 de Junho reuniram-se em convívio, no Lugar de Esteves, Sever do Vouga, elementos da CART 1690.
Lembro que esta Companhia esteve em quadrícula na zona de Geba, onde tinha a sede, com quatro destacamentos, em Sare Banda, Camamudo, Cantacunda e Banjara. Neste último destacamento foi substituída por um pelotão da CCAÇ 2406, de Mansabá, o qual, no entanto, saíu a 19 de Janeiro de 1969, desactivando o destacamento, que ficou abandonado.
Foto 1> Identificação na sala do restaurante
Foto 2> Os ex-alferes que estiveram presentes (da esquerda para a direita): Alfredo Reis (ferido em combate, mas que lá continuou após passar pelo HM241), António Moreira (o único que esteve o tempo todo na companhia) e Marques Lopes (ferido em combate e evacuado para o HMP). Faltou o Domingos Maçarico, por afazeres profissionais (também ferido em combate e evacuado para o HMP).
O Orlando Lourenço, que substituíu na companhia o Domingos Maçarico, faltou, por razões desconhecidas.
E faltaram, claro, mas foram lembrados, os que morreram lá: o Fernando da Costa Fernandes, que me substituira a mim, e o Carlos Peixoto, que substituira o Fernandes (foram, pois, os meus dois substitutos...).
Foto 3> Nesta foto estamos os três ex-alferes e o 2.º Sargento José Ferreira Fernandes (na ponta direita). Há outro, à esquerda, cujo nome não me lembro. Ao centro está o Malan Baldé, ex-elemento da Companhia de Milícias 3, em Sare Ganá, onde o pai dele, Samba Baldé, era régulo.
Após a entrega dos aquartelamentos da zona ao PAIGC, feita pela 3.ª Companhia do BCAÇ 4514/72, em 7 de Setembro de 1974, o Malan e o Pai, Samba, foram presos. A ele não lhe fizeram nada, mas o Malan Baldé, então com 23 anos, viu o seu pai Samba Baldé ser fuzilado, mesmo à sua frente.
O Luís Graça passou por Sare Ganá, talvez se lembre deles.
Foto 4> Esta rapaziada pertenceu ao meu grupo de combate em Geba. São, da esquerda para a direita: Paz, José Duarte, Guimarães, Santarém e... eu.
O José Manuel Moreira Duarte foi um dos que foi capturado em Cantacunda e esteve preso em Conakry. É o de cabelo comprido e braços cruzados que está no meio da fotografia, em baixo, publicada em 29 de Novembro de 1997 na Revista do Expresso:
Foto 5> Foto publicada na Revista Expresso de 29 de Novembro de 1997. Com a devida vénia
Foto 6> Fotografia do conjunto (sem as mulheres, que havia várias)
A. Marques Lopes
terça-feira, 14 de agosto de 2007
Guiné 63/74 - P2048: Cusa di nos terra (4): Mancarra, semente do diabo (iblissa, em fula) (Luís Graça)
Excertos do diário de um tuga (Sansancuta, 8 de Março de 1970). Originalmente reproduzido de Blogue-fora-nada (1).
É interessante notar que na mitologia fula a mancarra (amendoím) esteja associada ao Diabo em pessoa (Iblissa). O cherno Umaru que dirige uma pequena escola nesta tabanca de Sansancuta, do regulado do Corubal, e que se prepara, como bom muçulmano devoto (tijanianké), para fazer no próximo ano a sua peregrinação a Meca (Iado Hadjo, em fula) e assim juntar ao seu nome o título venerando de al-hadj, contou-me, por intermédio do Suleimane (o meu braço direito, guarda-costa, intérprete, cozinheiro, secretário – é um dos nossos poucos soldados que sabe ler e escrever português, daí ser soldado arvorado e em breve 1º cabo - vd foto em anexo), contou- me ele a seguinte estória:
- Um dia Iblissa (o Diabo) quis desafiar a autoridade divina de Mohamadu (o Profeta Maomé). Tinha chovido muito e o Profeta dissera que então nasceriam todas as sementes que fossem lançadas à terra. O Diabo, em vez de uma semente de milho ou de arroz, deitou leite numa cova que ele próprio tinha feito no chão. Mohamadu, intrigado e inquieto com a provocação de Iblissa, foi falar com Alá, que lhe mandou guardar uma semente. E ao fim desse tempo, não é que do leite nasceu mesmo a mancarra ?
Recordo que Amílcar Cabral, na Estação Agronómica de Fá Mandinga, fez estudos sobre vários tipos de semente de amendoím. E já então ele denunciava o perigo que representava, para o desenvolvimento da agricultura na Guiné, a monocultura desta oleaginosa, um típico produto imposto pelo colonialismo aos guinéus. (Tal como representa hoje o caju...).
__________
Nota de L.G.:
(1) Vd post de 7 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - L: Mancarra, a semente do diabo... (Luís Graça)
É interessante notar que na mitologia fula a mancarra (amendoím) esteja associada ao Diabo em pessoa (Iblissa). O cherno Umaru que dirige uma pequena escola nesta tabanca de Sansancuta, do regulado do Corubal, e que se prepara, como bom muçulmano devoto (tijanianké), para fazer no próximo ano a sua peregrinação a Meca (Iado Hadjo, em fula) e assim juntar ao seu nome o título venerando de al-hadj, contou-me, por intermédio do Suleimane (o meu braço direito, guarda-costa, intérprete, cozinheiro, secretário – é um dos nossos poucos soldados que sabe ler e escrever português, daí ser soldado arvorado e em breve 1º cabo - vd foto em anexo), contou- me ele a seguinte estória:
- Um dia Iblissa (o Diabo) quis desafiar a autoridade divina de Mohamadu (o Profeta Maomé). Tinha chovido muito e o Profeta dissera que então nasceriam todas as sementes que fossem lançadas à terra. O Diabo, em vez de uma semente de milho ou de arroz, deitou leite numa cova que ele próprio tinha feito no chão. Mohamadu, intrigado e inquieto com a provocação de Iblissa, foi falar com Alá, que lhe mandou guardar uma semente. E ao fim desse tempo, não é que do leite nasceu mesmo a mancarra ?
Recordo que Amílcar Cabral, na Estação Agronómica de Fá Mandinga, fez estudos sobre vários tipos de semente de amendoím. E já então ele denunciava o perigo que representava, para o desenvolvimento da agricultura na Guiné, a monocultura desta oleaginosa, um típico produto imposto pelo colonialismo aos guinéus. (Tal como representa hoje o caju...).
__________
Nota de L.G.:
(1) Vd post de 7 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - L: Mancarra, a semente do diabo... (Luís Graça)
Guiné 63/74 - P2047: Tabanca Grande (32): José Luiz Soares da Fonseca, ex-Fur Mil Trms (CCAV 3366/BCAV 3846, Susana e Varela, 1971/73)
Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Susana > CCAV 3366
1. O nosso camarada Luiz Fonseca, em 11 de Julho, dirigia-se assim ao nosso Blogue:
As minhas melhores saudações
Uma vez mais, como quase todos os dias, visitei o sítio e verifiquei que algo me tocava.
Pertenci à penúltima Companhia sediada em Susana (CCAV 3366, Maio de 1971/Março de 1973) e foi com um misto de tristeza e melancolia que olhei para aquelas fotografias do Pepito (1).
Embora as notícias do noroeste da Guiné Bissau sejam escassas tenho tentado acompanhar com interesse o que por ali se passa e verifico que, passados quase três dezenas e meia de anos, se mantêm algumas (muitas) reservas para com os Felupes. Eu aprendi com eles uma série de conceitos que o passar dos anos levou a recortar e a confirmar.
Uma coisa é verdade, pelas fotos se verifica que embora abandonadas as instalações não foram destruídas incluindo a espada felupe estilizada, onde se encontrava o mastro da bandeira.
Pode ser que seja desta que me reuna ao pessoal da Tabanca Grande.
Luiz Fonseca
ex-Fur Mil Tms
2. O Luiz Fonseca voltava a comunicar no dia 19 do mesmo mês:
As minhas melhores saudações.
Para contraste das fotos do Pepito, junto envio três documentos, de pouca qualidade, relativos ao aquartelamento.
Relativamente aos Felupes, agradeço a porta aberta e em breve farei chegar algumas notas para que se possam entender alguns mitos, por vezes negativos, e relativos aquela etnia.
Luiz Fonseca
ex-Fur Mil Tms
CCAV 3366
3. No mesmo dia o Editor Luís Graça dava resposta.
Luiz:
Muito obrigado. Ainda hoje falei, ao telefone, com o Pepito que está de férias, cá em Portugal, e ao mesmo tempo a angariar apoios para o Simpósio Internacional sobre o papel de Guileje na Luta pela Independência Nacional.
Ele tem uma enorme admiração pelos felupes. O pai dele é autor dum livro, etnográfico, sobre os felupes: Usos e costumes jurídicos dos felupes da Guiné / Artur Augusto da Silva. Ele acha que é a melhor etnia da Guiné, que os felupes são os mais puros, os mais autênticos, os mais leais, corroborando a tua opinião e partilhando o teu sentimento... E foram as grandes vítimas do esclavagismo. Eram caçados pelos mandingas... Em contrapartida, ele não sabia da espada estilizada dos felupes, no monumento junto ao pau da bandeira, no teu antigo aquartelamento... Os teus apontamentos serão bem vindos. Quando quiseres, manda. Temos tempo, mas não me esquecer.
Um grande abraço.
Boas férias.
Luís Graça.
4. No dia 23 de Julho, Luiz Fonseca voltava ao nosso contacto:
(...) Mas uma vez que fui eu quem abriu o jogo e não renegando as dificuldades, tentarei que algo de proveitoso possa merecer a vossa atenção. Parece-me, porém, que antes de começar, devo solicitar a entrada formal na Tabanca Grande e para tal faço uma breve apresentação:
José Luiz Soares da Fonseca, casado, 57 anos, vivo em Gulpilhares (Vila Nova de Gaia), fui quadro da extinta Companhia Portuguesa do Cobre, SA (24 anos), sou formador nas áreas de Electrotecnia e Higiene e Segurança no Trabalho (Técnico Superior, de nível V).
Estive na Guiné de 9 de Abril de 1971 a 6 de Março de 1973, integrado na CCAV 3366/BCAV 3846, Susana e Varela, como Fur Mil de Transmissões.
Não envio agora as fotos comprometendo-me a fazê-lo no mais curto espaço de tempo.
Luiz Fonseca
(ex-Fur Mil Trms CCAV 3366)
5. Comentário do co-editor CV:
A entrada do camarada Luiz Fonseca no nosso Blogue foi motivada pela sua paixão e conhecimento dos Felupes. A Tabanca Grande só tem a ganhar, pois é uma etnia da Guiné pouco conhecida, sobre a qual correm algumas ideias erradas que o Luiz Fonseca vai concerteza desmistificar.
Já cá temos algum trabalho dele para publicar com interesse histórico e está prometido mais para breve.
Iremos publicando para darmos a conhecer um chão que pisámos, mas que no fundo desconhecemos.
Ao nosso novo camarada damos as boas vindas.
___________As minhas melhores saudações
Uma vez mais, como quase todos os dias, visitei o sítio e verifiquei que algo me tocava.
Pertenci à penúltima Companhia sediada em Susana (CCAV 3366, Maio de 1971/Março de 1973) e foi com um misto de tristeza e melancolia que olhei para aquelas fotografias do Pepito (1).
Embora as notícias do noroeste da Guiné Bissau sejam escassas tenho tentado acompanhar com interesse o que por ali se passa e verifico que, passados quase três dezenas e meia de anos, se mantêm algumas (muitas) reservas para com os Felupes. Eu aprendi com eles uma série de conceitos que o passar dos anos levou a recortar e a confirmar.
Uma coisa é verdade, pelas fotos se verifica que embora abandonadas as instalações não foram destruídas incluindo a espada felupe estilizada, onde se encontrava o mastro da bandeira.
Pode ser que seja desta que me reuna ao pessoal da Tabanca Grande.
Luiz Fonseca
ex-Fur Mil Tms
Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Susana > CCAV 3366
2. O Luiz Fonseca voltava a comunicar no dia 19 do mesmo mês:
As minhas melhores saudações.
Para contraste das fotos do Pepito, junto envio três documentos, de pouca qualidade, relativos ao aquartelamento.
Relativamente aos Felupes, agradeço a porta aberta e em breve farei chegar algumas notas para que se possam entender alguns mitos, por vezes negativos, e relativos aquela etnia.
Luiz Fonseca
ex-Fur Mil Tms
CCAV 3366
Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Susana > CCAV 3366
Luiz:
Muito obrigado. Ainda hoje falei, ao telefone, com o Pepito que está de férias, cá em Portugal, e ao mesmo tempo a angariar apoios para o Simpósio Internacional sobre o papel de Guileje na Luta pela Independência Nacional.
Ele tem uma enorme admiração pelos felupes. O pai dele é autor dum livro, etnográfico, sobre os felupes: Usos e costumes jurídicos dos felupes da Guiné / Artur Augusto da Silva. Ele acha que é a melhor etnia da Guiné, que os felupes são os mais puros, os mais autênticos, os mais leais, corroborando a tua opinião e partilhando o teu sentimento... E foram as grandes vítimas do esclavagismo. Eram caçados pelos mandingas... Em contrapartida, ele não sabia da espada estilizada dos felupes, no monumento junto ao pau da bandeira, no teu antigo aquartelamento... Os teus apontamentos serão bem vindos. Quando quiseres, manda. Temos tempo, mas não me esquecer.
Um grande abraço.
Boas férias.
Luís Graça.
4. No dia 23 de Julho, Luiz Fonseca voltava ao nosso contacto:
(...) Mas uma vez que fui eu quem abriu o jogo e não renegando as dificuldades, tentarei que algo de proveitoso possa merecer a vossa atenção. Parece-me, porém, que antes de começar, devo solicitar a entrada formal na Tabanca Grande e para tal faço uma breve apresentação:
José Luiz Soares da Fonseca, casado, 57 anos, vivo em Gulpilhares (Vila Nova de Gaia), fui quadro da extinta Companhia Portuguesa do Cobre, SA (24 anos), sou formador nas áreas de Electrotecnia e Higiene e Segurança no Trabalho (Técnico Superior, de nível V).
Estive na Guiné de 9 de Abril de 1971 a 6 de Março de 1973, integrado na CCAV 3366/BCAV 3846, Susana e Varela, como Fur Mil de Transmissões.
Não envio agora as fotos comprometendo-me a fazê-lo no mais curto espaço de tempo.
Luiz Fonseca
(ex-Fur Mil Trms CCAV 3366)
5. Comentário do co-editor CV:
A entrada do camarada Luiz Fonseca no nosso Blogue foi motivada pela sua paixão e conhecimento dos Felupes. A Tabanca Grande só tem a ganhar, pois é uma etnia da Guiné pouco conhecida, sobre a qual correm algumas ideias erradas que o Luiz Fonseca vai concerteza desmistificar.
Já cá temos algum trabalho dele para publicar com interesse histórico e está prometido mais para breve.
Iremos publicando para darmos a conhecer um chão que pisámos, mas que no fundo desconhecemos.
Ao nosso novo camarada damos as boas vindas.
Nota de CV:
(1) Vd. post de 10 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1939: Susana, região de Cacheu: fantasmas do passado (Pepito)
Guiné 63/74 - P2046: Tabanca Grande (31): Joaquim Lúcio Ferreira Neto, ex-Cap Mil (CART 2340, Canjambari, Jumbembem, Nhacra, 1968/69)
1. Em 5 de Agosto, Ferreira Neto dizia em mail dirigido ao editor do Blogue:
Só hoje tive oportunidade de ver o blogue sobre a Guiné.´
Fiz a minha comissão entre 8 de Janeiro de 1968 e 3 de Novembro de 1969.
Estive em Canjambari com um destacamento em Jumbembem, sector de Farim .
A maior parte da minha Companhia foi evacuada por doença em Abril de 1969, devido ao xistosoma mansoni (1), idêntica à bilharsiose (2) de Moçambique.
Permaneci em Canjambari somente com cerca de 25 elementos, reforçados com 4 pelotões nativos.
Em Julho, fomos juntar-nos ao pessoal evacuado, ocupando Nhacra e os seus seis destacamentos.
Espero que as fotografias que envio sejam bem recebidas.
Com os melhores cumprimentos
F.Neto
2. O co-editor CV dirigiu uma mensagem ao camarada Ferreira Neto nos seguintes termos:
Camarada Ferreira Neto:
As tuas fotos chegaram bem. Já que mostraste interesse no nosso Blogue ao ponto de quereres contribuir com as tuas fotos, quero-te convidar a aderires à nossa Tabanca Grande, como é mais conhecido o Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Para formalizares a tua adesão deves mandar uma fotografia do teu tempo de Guiné e outra actual. Contar-nos algo de ti, como por exemplo o teu antigo posto, por onde andaste, onde moras, etc. A partir daí ficaremos à espera do envio das tuas estórias e fotografias.
Deves ter reparado que temos um espólio enorme de prosa e fotografias de todos os tertulianos, que representa já um registo histórico importante. Como diz o nosso Comandante Luís Graça, não devemos deixar que outros contem as nossas estórias, teremos que ser nós mesmos a fazê-lo.
Na nossa Tabanca tratamo-nos todos por tu, independentemente do posto que se teve então. Preservamos o direito de propriedade intelectual de tudo o que se publica e não discutimos ideais políticos ou religiosos.
Respeitamos os povos que se libertaram e consideramos nossos camaradas os nossos antigos antagonistas.
Na página sobre a nossa tertúlia, poderás encontrar resposta às tuas perguntas quanto à nossa conduta.
Caro camarada, ficamos a aguardar a tua resposta.
Um abraço de Carlos Vinhal, co-editor
3. Em resposta ao convite do co-editor para aderir à nossa Tabanca Grande, em 10 de Agosto Ferreira Neto dizia:
Respondendo às questões postas:
Envio as fotografias.
Joaquim Lúcio Ferreira Neto, licenciado em Engenharia Mecânica, Bacharel em Engenharia Electromecânica e professor de Matemática do Ensino Secundário. Actualmente aposentado.
Fui convocado em Dezembro de 1966, para o curso de capitães em Mafra. (1.º Curso de Oficiais Milicianos a ser convocado para tal - Classe de 1958).
Em Janeiro de 1968, parti para a Guiné, comandando a CART 2340, onde depois de uma semana em Bolama , segui para Canjambari, sector de Farim, ficando a minha Companhia repartida por Canjambari ( dois pelotões mais um pelotão nativo) e Jumbembem, situada a 13 km (dois pelotões).
Em Março de 1969, o pessoal na quase totalidade, foi evacuado por doença para Bissau. Ficando eu com cerca de 25 homens não contagiados e reforçados por 4 pelotões de soldados nativos em Canjambari.
O pessoal de Jumbembem foi substituido pelo COP 3 comandado pelo Major Correia de Campos (homem valente), considerado juntamente com o major Azeredo (era comandante do RC 6 no Porto e já foi candidato à autarquia portuense) como os puros sangue do General Spínola.
Em Julho fui ocupar Nhacra, juntando-me ao pessoal evacuado, onde permaneci até ao meu regresso à metrópole em Novembro de 1969.
Oportunamente envarei mais fotografias após fazer as buscas necessárias.
Obrigado pelo convite.
Saudações guerreiras
F. Neto
4. Comentário de CV:
Ontem, tive oportunidade de falar ao telefone com o nosso novo camarada, a propósito de um pedido de esclarecimento que lhe tinha feito. Para surpresa minha, constatei que o conhecia de longa data, pois o ex-capitão Ferreira Neto foi professor na antiga Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, onde fiz o meu Curso de Montador Electricista.
Nunca foi meu professor, pois leccionava no horário nocturno para trabalhadores-estudantes, mas o engenheiro Neto faz parte do meu imaginário como estudante.
Caro professor Neto, é para mim uma honra dar-lhe as boas vindas ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, em nome do Comandante que está ausente da Tabanca por motivo de férias.
Caro camarada Ferreira Neto esperamos de ti, as tuas histórias (tens razão, o termo estória não faz parte do léxico da Língua Portuguesa) e as tuas fotos. As que enviaste estão na forja para serem publicadas brevemente.
________
Notas de CV:
(1) Xistossomose - doença provocada por vermes parasitas.
(2) Bilharziose - doença provocada por um verme parasita, a bilhárzia. (3)
(3) Bilhárzia - verme da família dos distomídeos que se aloja nas veias do intestino, do baço, da bexiga e do fígado provocando a bilharziose.
Só hoje tive oportunidade de ver o blogue sobre a Guiné.´
Fiz a minha comissão entre 8 de Janeiro de 1968 e 3 de Novembro de 1969.
Estive em Canjambari com um destacamento em Jumbembem, sector de Farim .
A maior parte da minha Companhia foi evacuada por doença em Abril de 1969, devido ao xistosoma mansoni (1), idêntica à bilharsiose (2) de Moçambique.
Permaneci em Canjambari somente com cerca de 25 elementos, reforçados com 4 pelotões nativos.
Em Julho, fomos juntar-nos ao pessoal evacuado, ocupando Nhacra e os seus seis destacamentos.
Espero que as fotografias que envio sejam bem recebidas.
Com os melhores cumprimentos
F.Neto
Guiné > Região do Oio > Canjambari > Vista aérea de Canjambari> Sede da CART 2340
Foto: © Ferreira Neto (2007). Direitos reservados.
2. O co-editor CV dirigiu uma mensagem ao camarada Ferreira Neto nos seguintes termos:
Camarada Ferreira Neto:
As tuas fotos chegaram bem. Já que mostraste interesse no nosso Blogue ao ponto de quereres contribuir com as tuas fotos, quero-te convidar a aderires à nossa Tabanca Grande, como é mais conhecido o Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Para formalizares a tua adesão deves mandar uma fotografia do teu tempo de Guiné e outra actual. Contar-nos algo de ti, como por exemplo o teu antigo posto, por onde andaste, onde moras, etc. A partir daí ficaremos à espera do envio das tuas estórias e fotografias.
Deves ter reparado que temos um espólio enorme de prosa e fotografias de todos os tertulianos, que representa já um registo histórico importante. Como diz o nosso Comandante Luís Graça, não devemos deixar que outros contem as nossas estórias, teremos que ser nós mesmos a fazê-lo.
Na nossa Tabanca tratamo-nos todos por tu, independentemente do posto que se teve então. Preservamos o direito de propriedade intelectual de tudo o que se publica e não discutimos ideais políticos ou religiosos.
Respeitamos os povos que se libertaram e consideramos nossos camaradas os nossos antigos antagonistas.
Na página sobre a nossa tertúlia, poderás encontrar resposta às tuas perguntas quanto à nossa conduta.
Caro camarada, ficamos a aguardar a tua resposta.
Um abraço de Carlos Vinhal, co-editor
3. Em resposta ao convite do co-editor para aderir à nossa Tabanca Grande, em 10 de Agosto Ferreira Neto dizia:
Respondendo às questões postas:
Envio as fotografias.
Joaquim Lúcio Ferreira Neto, licenciado em Engenharia Mecânica, Bacharel em Engenharia Electromecânica e professor de Matemática do Ensino Secundário. Actualmente aposentado.
Fui convocado em Dezembro de 1966, para o curso de capitães em Mafra. (1.º Curso de Oficiais Milicianos a ser convocado para tal - Classe de 1958).
Em Janeiro de 1968, parti para a Guiné, comandando a CART 2340, onde depois de uma semana em Bolama , segui para Canjambari, sector de Farim, ficando a minha Companhia repartida por Canjambari ( dois pelotões mais um pelotão nativo) e Jumbembem, situada a 13 km (dois pelotões).
Em Março de 1969, o pessoal na quase totalidade, foi evacuado por doença para Bissau. Ficando eu com cerca de 25 homens não contagiados e reforçados por 4 pelotões de soldados nativos em Canjambari.
O pessoal de Jumbembem foi substituido pelo COP 3 comandado pelo Major Correia de Campos (homem valente), considerado juntamente com o major Azeredo (era comandante do RC 6 no Porto e já foi candidato à autarquia portuense) como os puros sangue do General Spínola.
Em Julho fui ocupar Nhacra, juntando-me ao pessoal evacuado, onde permaneci até ao meu regresso à metrópole em Novembro de 1969.
Oportunamente envarei mais fotografias após fazer as buscas necessárias.
Obrigado pelo convite.
Saudações guerreiras
F. Neto
4. Comentário de CV:
Ontem, tive oportunidade de falar ao telefone com o nosso novo camarada, a propósito de um pedido de esclarecimento que lhe tinha feito. Para surpresa minha, constatei que o conhecia de longa data, pois o ex-capitão Ferreira Neto foi professor na antiga Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, onde fiz o meu Curso de Montador Electricista.
Nunca foi meu professor, pois leccionava no horário nocturno para trabalhadores-estudantes, mas o engenheiro Neto faz parte do meu imaginário como estudante.
Caro professor Neto, é para mim uma honra dar-lhe as boas vindas ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, em nome do Comandante que está ausente da Tabanca por motivo de férias.
Caro camarada Ferreira Neto esperamos de ti, as tuas histórias (tens razão, o termo estória não faz parte do léxico da Língua Portuguesa) e as tuas fotos. As que enviaste estão na forja para serem publicadas brevemente.
________
Notas de CV:
(1) Xistossomose - doença provocada por vermes parasitas.
(2) Bilharziose - doença provocada por um verme parasita, a bilhárzia. (3)
(3) Bilhárzia - verme da família dos distomídeos que se aloja nas veias do intestino, do baço, da bexiga e do fígado provocando a bilharziose.
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
Guiné 63/74 - P2045: Tabanca Grande (30): Diamantino Pereira Monteiro, ex-Alf Mil, CCAÇ 1496/BCAÇ 1876 (Bissum, Pirada e Bula, 1966/67)
1. Mensagem de Diamantino Pereira Monteiro, ex-Alf Mil da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, Bissum, Pirada e Bula, para o editor do Blogue:
Caro companheiro:
Antes de mais os meus parabéns pela excelente ideia do site, que vem preencher uma lacuna importante na historiografia da Guerra Colonial.
Quem por lá passou, como nós, sente necessidade de lembrar à nova geração e aos políticos e militares actuais, que nós pagámos e continuamos a pagar muito caro o simples facto de termos pertencido à geração colonial.
Por isso gostaria de entrar na tertúlia e para tal envio os dados solicitados:
Nome: Diamantino Pereira Monteiro
Posto na guerra: Alferes Miliciano
Unidade: CCAÇ 1496/BCAÇ 1876
Comissão: de Janeiro de 1966 a Novembro de 1967
Locais de permanência: Bissau, Pirada, Paúnca, Bafatá, Bula e Bissum
Residência: Soure, Coimbra
Email: dpmonteiro@sapo.pt
Página sobre a Guerra na Guiné: Guiné - À margem da guerra colonial/
Sobre a minha página, muito gostaria de ler os teus comentários assim como dos camaradas da tertúlia.
Junto duas fotos minhas
Um grande abraço de camaradagem do
Monteiro
2. Comentário do co-editor Carlos Vinhal
Caro Monteiro, desculpa a demora da tua apresentação, mas foste mais uma vítima da nossa adaptação ao trabalho de equipa dentro do Blogue.
Pequena falta aqui, outra acolá e lá vamos acertando as agulhas, à custa de aparentes desconsiderações.
A partir de hoje vais ter mais visitas à tua página sobre a Guiné , onde eu aprendi que qualquer atirador (sem ofensa para ti e para mim), munido com meia dúzia de aspirinas e ar sério, se convertia num médico mais ou menos convincente. Isto no nosso tempo, numa zona de guerra e à falta dos verdadeiros técnicos de saúde, é bom de ver.
Na Guiné não se fazia só guerra. Também se ensinava, tratava-se da saúde e mata-se a fome aos naturais.
Companheiro Monteiro, fica assim oficializada a tua entrada no nosso Blogue.
Esperamos que tragas até nós algumas das estórias do teu blogue, se for essa também a tua vontade.
Caro companheiro:
Antes de mais os meus parabéns pela excelente ideia do site, que vem preencher uma lacuna importante na historiografia da Guerra Colonial.
Quem por lá passou, como nós, sente necessidade de lembrar à nova geração e aos políticos e militares actuais, que nós pagámos e continuamos a pagar muito caro o simples facto de termos pertencido à geração colonial.
Por isso gostaria de entrar na tertúlia e para tal envio os dados solicitados:
Nome: Diamantino Pereira Monteiro
Posto na guerra: Alferes Miliciano
Unidade: CCAÇ 1496/BCAÇ 1876
Comissão: de Janeiro de 1966 a Novembro de 1967
Locais de permanência: Bissau, Pirada, Paúnca, Bafatá, Bula e Bissum
Residência: Soure, Coimbra
Email: dpmonteiro@sapo.pt
Página sobre a Guerra na Guiné: Guiné - À margem da guerra colonial/
Sobre a minha página, muito gostaria de ler os teus comentários assim como dos camaradas da tertúlia.
Junto duas fotos minhas
Um grande abraço de camaradagem do
Monteiro
2. Comentário do co-editor Carlos Vinhal
Caro Monteiro, desculpa a demora da tua apresentação, mas foste mais uma vítima da nossa adaptação ao trabalho de equipa dentro do Blogue.
Pequena falta aqui, outra acolá e lá vamos acertando as agulhas, à custa de aparentes desconsiderações.
A partir de hoje vais ter mais visitas à tua página sobre a Guiné , onde eu aprendi que qualquer atirador (sem ofensa para ti e para mim), munido com meia dúzia de aspirinas e ar sério, se convertia num médico mais ou menos convincente. Isto no nosso tempo, numa zona de guerra e à falta dos verdadeiros técnicos de saúde, é bom de ver.
Na Guiné não se fazia só guerra. Também se ensinava, tratava-se da saúde e mata-se a fome aos naturais.
Companheiro Monteiro, fica assim oficializada a tua entrada no nosso Blogue.
Esperamos que tragas até nós algumas das estórias do teu blogue, se for essa também a tua vontade.
Guiné 63/74 - P2044: O cruzeiro das nossas vidas (8): Porto de Lisboa, Cais de Alcântara (Luís Graça)
Lisboa > 9 de Março de 2007 > Adninistração do Porto de Lisboa > Cais de Alcântara > A linha de caminho de ferro que nos levou ao navio (o Niassa, o Uíge, o Alfredo da Silva...) que nos levou à Guiné entre 1963 e 1974...
Lisboa > 9 de Março de 2007 > Administração do Porto de Lisboa > Cais de Alcântara, terminhal de cruzeiros> A linha de caminho de ferro
Lisboa > 9 de Março de 2007 > Cais de Alcântara> Locomotiva da CP.
Lisboa > 9 de Março de 2007 > Administração do Porto de Lisboa (que comemora 100 anos da sua fundação) > Gare Marítima de Alcântara.
Lisboa > 9 de Março de 2007 > O Porto de Lisboa. Cais de Alcântara.
Lisboa > 9 dce Março de 2007 > Doca de Alcântara > A ponte 25 de Abril reflectida num dos modernos edifícios de vidro da APL.
Lisboa > 9 de Março de 2007 > O Monumento ao Cristo-Rei, em Almada, na outra margem do Rio Tejo. a margem sul.
Lisboa > 9 de Março de 2007 > Porto de Lisbo > Cais de Alcântara, com o Monumento ao Cristo-Rei ao fundo.
Lisboa > 9 de Março de 2007 > A Ponte 25 de Abril vista do Jardim defronte ao Palácio das Necessidades.
Texto de L.G. (em férias):
Foi daqui que todos partimos (1, 2). Todos ou quase todos (os das ilhas adjacentes, partiam do Funchal ou de Ponta Delgad). Vocês ainda se lembram ? A Administração do Porto de Lisboa comemora 100 anos. No vídeo (promocional) O Porto de Lisboa há uma escassa referência ao passado. Mas não se pode ignorar ou escamotear os anos de brasa da guerra colonial... Há uma odisseia, há quase um milhão de homens a partir e a chegar. E depois de 1974, há mais meio milhão de homens, mulheres e crianças que retorna de África, com os seus parcos haveres. Por ar e por mar. Uma formidável muralha de contentores irá separar Lisboa e o Tejo, irá cortar o contacto visual dos lisboetas com o seu rio... Passei há tempos por lá... Muita coisa mudou... O edifício, arquitectura do Estado Novo, é o mesmo... As infraestruturas portárias e toda a envolvente é que mudaram... Hoje é um pomposo terminal de cruzeiros de luxo, por onde passam os maiores navios do mundo, como o Queen Mary II... Sntimentos contraditórios assaltam-nos quando voltamos ao passado...Enfim, façam os vossos comentários. L.G.
Fotos e legendas: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. último post desta série:
3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)
(2) 13 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1366: A galeria dos meus heróis (6): Por este rio acima, com o Bolha d'Água, o Furriel Enfermeiro Martins (Luís Graça)
Lisboa > 9 de Março de 2007 > Administração do Porto de Lisboa > Cais de Alcântara, terminhal de cruzeiros> A linha de caminho de ferro
Lisboa > 9 de Março de 2007 > Cais de Alcântara> Locomotiva da CP.
Lisboa > 9 de Março de 2007 > Administração do Porto de Lisboa (que comemora 100 anos da sua fundação) > Gare Marítima de Alcântara.
Lisboa > 9 de Março de 2007 > O Porto de Lisboa. Cais de Alcântara.
Lisboa > 9 dce Março de 2007 > Doca de Alcântara > A ponte 25 de Abril reflectida num dos modernos edifícios de vidro da APL.
Lisboa > 9 de Março de 2007 > O Monumento ao Cristo-Rei, em Almada, na outra margem do Rio Tejo. a margem sul.
Lisboa > 9 de Março de 2007 > Porto de Lisbo > Cais de Alcântara, com o Monumento ao Cristo-Rei ao fundo.
Lisboa > 9 de Março de 2007 > A Ponte 25 de Abril vista do Jardim defronte ao Palácio das Necessidades.
Texto de L.G. (em férias):
Foi daqui que todos partimos (1, 2). Todos ou quase todos (os das ilhas adjacentes, partiam do Funchal ou de Ponta Delgad). Vocês ainda se lembram ? A Administração do Porto de Lisboa comemora 100 anos. No vídeo (promocional) O Porto de Lisboa há uma escassa referência ao passado. Mas não se pode ignorar ou escamotear os anos de brasa da guerra colonial... Há uma odisseia, há quase um milhão de homens a partir e a chegar. E depois de 1974, há mais meio milhão de homens, mulheres e crianças que retorna de África, com os seus parcos haveres. Por ar e por mar. Uma formidável muralha de contentores irá separar Lisboa e o Tejo, irá cortar o contacto visual dos lisboetas com o seu rio... Passei há tempos por lá... Muita coisa mudou... O edifício, arquitectura do Estado Novo, é o mesmo... As infraestruturas portárias e toda a envolvente é que mudaram... Hoje é um pomposo terminal de cruzeiros de luxo, por onde passam os maiores navios do mundo, como o Queen Mary II... Sntimentos contraditórios assaltam-nos quando voltamos ao passado...Enfim, façam os vossos comentários. L.G.
Fotos e legendas: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. último post desta série:
3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)
(2) 13 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1366: A galeria dos meus heróis (6): Por este rio acima, com o Bolha d'Água, o Furriel Enfermeiro Martins (Luís Graça)
domingo, 12 de agosto de 2007
Guiné 63/74 - P2043: Bibliografia de uma guerra (23): Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente, aliás Mário Fitas (CCAÇ 763, Cufar)
1. O nosso camarada Mário Fitas, enviou-nos, do seu livro, Putos, Gandulos e Guerra, um trecho onde conta o episódio do rebentamento de uma mina AP que vitimou um alferes da Arma de Artilharia, militar que à partida estaria a salvo deste lamentável episódio. CV
Capa do livro de Mário Vicente, Putos, Gandulos e Guerra (2000).
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
2. “Putos Gandulos e Guerra”
(Transcrição de IX – Guerra 2)
Mário Fitas
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
2. “Putos Gandulos e Guerra”
(Transcrição de IX – Guerra 2)
Mário Fitas
Foto 1> Estrada Cufar-Catió> Elementos da CCAÇ 763 em progressão
Foto 2> Estrada Cufar-Catió> Elementos da CCAÇ 763 em progressão
Foto 3> Estrada Cufar-Catió> Elementos da CCAÇ 763 em progressão
Havia apenas oito dias, sobre a varredela em Cabolol, e eis que o 2.º Grupo de Combate tem de partir para Catió e levar o Pelotão de Artilharia. Nessa noite, um grupo da milícia estacionado em Priame, detecta que a estrada foi minada, pelo que temos de voltar ao sistema de picagem da mesma. Sorte!...
Mesmo ao cimo da leve subida, quando a estrada entra no túnel da mata após o vale de capim que separa aquela do cruzamento do Cabaceira, foram detectadas duas “meninas simpáticas, blenorrágicas prostitutas Anti/Carro” que por nós esperavam, para nos “fornicarem” o corpo. Que grande porra!... As viaturas e os obuses no vale e, se somos emboscados, estamos com as calças na mão. Há que deitar mãos à obra rapidamente e rebentar as minas, coisa que ainda dá problemas pois, o maluco do Chico Zé as quer levantar em vez de rebentar. Não pode ser!... E se estão armadilhadas? Felizmente que ele é o único com essa ideia, e o Almeida não autoriza. Vagabundo brinca com Chico Zé:
- Oh pá, Zé, porra!... estás farto da malta? Queres-te ir embora já?...
E era verdade, porque estavam armadilhadas.
Mesmo ao cimo da leve subida, quando a estrada entra no túnel da mata após o vale de capim que separa aquela do cruzamento do Cabaceira, foram detectadas duas “meninas simpáticas, blenorrágicas prostitutas Anti/Carro” que por nós esperavam, para nos “fornicarem” o corpo. Que grande porra!... As viaturas e os obuses no vale e, se somos emboscados, estamos com as calças na mão. Há que deitar mãos à obra rapidamente e rebentar as minas, coisa que ainda dá problemas pois, o maluco do Chico Zé as quer levantar em vez de rebentar. Não pode ser!... E se estão armadilhadas? Felizmente que ele é o único com essa ideia, e o Almeida não autoriza. Vagabundo brinca com Chico Zé:
- Oh pá, Zé, porra!... estás farto da malta? Queres-te ir embora já?...
E era verdade, porque estavam armadilhadas.
Foto 4> Estrada Cufar-Catió> Segurança montada enquanto se levantam as minas AC
Depois de rebentadas, deixaram uma cratera que cabia lá um Unimog! Toca a tapar o buraco para as viaturas passarem. Trabalho efectuado, viaturas passadas, pessoal em segurança, vai um minutinho para fumar um cigarrito. Em todos os trabalhos se fuma, como se diz na minha terra, costumava Vagabundo dizer.
Foto 5> Estrada Cufar-Catió> Um tempo para fumar um cigarro
Vamos então verificar como funciona a guerrilha, altamente organizada e eficiente contra a nossa ainda ingenuidade. Fumando o cigarro, juntaram-se em amena cavaqueira de guerra nada menos nada mais que: três alferes, três furriéis milicianos e um milícia, Zé de nome e Libanês de nacionalidade, sendo de alcunha portanto, o “Zé Libanês” e que também ninguém sabia porque é que aquela espécie aparecia fazendo a guerra.
Conversa animada no grupo quando, num repente, um clarão chama aflorou da terra, secundado de um grande estrondo e o grupo foi atirado cada um para seu lado. Chico Zé de gatas, em frente de Vagabundo, dizia para este:
- Estou ferido!… Estou ferido!...
Vagabundo vergado, apalpando-se todo da cabeça aos pés, sem olhar para o seu companheiro e tendo em atenção apenas a confirmação da apalpação que a si próprio fazia e só com o sentido em si, respondia ao companheiro:
- Não, não estás!
Por momentos a mente de todos entrou no vazio.
Um gemido, levou-os a voltarem à realidade. Olharam na direcção do gemer agora mais forte, e todos viram o alferes de Artilharia estendido na berma. Perna direita levantada, onde apenas uma óssea forca tíbio-perónia aparecia por entre a chamuscada calça camuflada, pois o pé direito tinha desaparecido. Porra!... uma mina Anti/pessoal.
- O enfermeiro depressa!
Gritou Almeida.
O artilheiro, que em princípio não ia p’ró mato nem andava no duro e na dança, ali estava agora a receber os primeiros socorros, com esfacelamento total do pé direito, fractura do terço inferior na mesma perna, queimaduras na coxa esquerda e nos braços. Mais um inválido com vinte e quatro anos!
O cabo de transmissões entra em contacto com o aquartelamento que de imediato, pede evacuação a Bissau que será depois feita de avião. Mas agora como vai ser? Há que levar o camarada para Cufar. Mais outra loucura. Mas a guerra é isto!... Chico Zé, cara toda chamuscada, camuflado cheio de terra, oferece-se:
- Eu levo o Évora para Cufar !
Todos conhecemos a perícia do Zé, autêntico condutor de ralis, mas é perigoso voltar só. Almeida decide rapidamente. Acede e manda subir para o Unimog o enfermeiro entregando-lhe uma G3 e nomeia outro soldado, que também salta para a viatura. Chico Zé dá a G3 ao condutor que sede o lugar e salta para o lugar deste e, com o ferido esticado na caixa, o enfermeiro e soldado segurando o infeliz, arrancam direito a Cufar. É assim a guerra: ou ficamos todos, ou salvamos um!...
Almeida manda o cabo transmitir para Cufar, de onde saem uma auto-metralhadora e o piquete para vir ao reencontro.
O enfermeiro depois contou que nunca tinha andado assim de carro.
Aquela “merda” até andava só sobre duas rodas!
Conversa animada no grupo quando, num repente, um clarão chama aflorou da terra, secundado de um grande estrondo e o grupo foi atirado cada um para seu lado. Chico Zé de gatas, em frente de Vagabundo, dizia para este:
- Estou ferido!… Estou ferido!...
Vagabundo vergado, apalpando-se todo da cabeça aos pés, sem olhar para o seu companheiro e tendo em atenção apenas a confirmação da apalpação que a si próprio fazia e só com o sentido em si, respondia ao companheiro:
- Não, não estás!
Por momentos a mente de todos entrou no vazio.
Um gemido, levou-os a voltarem à realidade. Olharam na direcção do gemer agora mais forte, e todos viram o alferes de Artilharia estendido na berma. Perna direita levantada, onde apenas uma óssea forca tíbio-perónia aparecia por entre a chamuscada calça camuflada, pois o pé direito tinha desaparecido. Porra!... uma mina Anti/pessoal.
- O enfermeiro depressa!
Gritou Almeida.
O artilheiro, que em princípio não ia p’ró mato nem andava no duro e na dança, ali estava agora a receber os primeiros socorros, com esfacelamento total do pé direito, fractura do terço inferior na mesma perna, queimaduras na coxa esquerda e nos braços. Mais um inválido com vinte e quatro anos!
O cabo de transmissões entra em contacto com o aquartelamento que de imediato, pede evacuação a Bissau que será depois feita de avião. Mas agora como vai ser? Há que levar o camarada para Cufar. Mais outra loucura. Mas a guerra é isto!... Chico Zé, cara toda chamuscada, camuflado cheio de terra, oferece-se:
- Eu levo o Évora para Cufar !
Todos conhecemos a perícia do Zé, autêntico condutor de ralis, mas é perigoso voltar só. Almeida decide rapidamente. Acede e manda subir para o Unimog o enfermeiro entregando-lhe uma G3 e nomeia outro soldado, que também salta para a viatura. Chico Zé dá a G3 ao condutor que sede o lugar e salta para o lugar deste e, com o ferido esticado na caixa, o enfermeiro e soldado segurando o infeliz, arrancam direito a Cufar. É assim a guerra: ou ficamos todos, ou salvamos um!...
Almeida manda o cabo transmitir para Cufar, de onde saem uma auto-metralhadora e o piquete para vir ao reencontro.
O enfermeiro depois contou que nunca tinha andado assim de carro.
Aquela “merda” até andava só sobre duas rodas!
Foto 6> Estrada Cufar-Catió> Elementos da CCAÇ 763 de novo em progressão
Quando a auto-metralhadora e o Unimog do piquete faziam a aproximação para entrar na estrada Cufar-Catió, o Chico Zé entrava no fundo da pista a alta velocidade deixando os outros para trás, fazendo a inversão de marcha.Primeira vítima da estrada maldita! Eles não perdoam!...
Foto 7> Estrada Cufar-Catió> Elementos da CCAÇ 763 junto de uma autometralhadora Daimler
Cufar informa e continuamos para Catió.Chegados a Catió não dá para mais nada: é largar os obuses e correr para o cais, pois há que embarcar para o Cachil na ilha do Como. Temos de fazer a segurança àquele desterro, enquanto os desterrados vão efectuar uma operação ao Tombali. É chegarmos nós e saírem eles.
Ficam o Primeiro Sargento e os cozinheiros, para nos darem as explicações sobre a defesa deste forte Apache. Também não tem explicação plausível pois, é já lugar comum, que só quem passou por terras da Guiné e pelos diversos aquartelamentos pode aquilatar do poder de adaptação do valoroso soldado português. Desfalcados, com cozinheiros e outros pobres de Deus, defender um aquartelamento daqueles?!... E se o IN soubesse, e fosse lá? Escaqueirava aquela “merda” toda e os que não morressem seriam apanhados à mão. Já não vale a pena comentar pois, por vezes, sente-se mesmo a tristeza e a impotência de uma tropa tipo pé descalço.
Quero antes Cufar onde há ar e espaço; quero ir para a estrada; prefiro morrer nas matas de Cabolol do que aqui entoupeirado neste pequenino murado "quintal.”
Mário Fitas
Fotos: © Mário Fitas (2007). Direitos reservados.
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Nota do co-editor CV
Vd. Post Guiné 63/74 - P2034: Bibliografia de uma guerra (22): Putos, gandulos e guerra, de Mário Vicente, aliás, Mário Fitas (CCAÇ 763, Cufar) (Carlos Vinhal)
Guiné 63/74 - P2042: Estórias do Zé Teixeira (20): A vaca que deu sorte (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)
José Teixeira, 1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , (1968/70), autor das mais tocantes estórias, fruto do seu contacto íntimo com as populações autóctones (1) .
VACA: Sinónimo de sorte... ou de azar?
por Zé Teixeira (subtítulos do co-editor CV)
Num dia, após um ataque a Aldeia Formosa, que começou cerca das 17,30 e acabou altas horas da madrugada, o Caco Baldé apareceu por lá para apreciar os estragos, que felizmente para os militares tinham sido nulos. Ao comentar com o Comandante da Guarnição o local de onde o IN tinha atacado, concluiram que possivelmente tinha havido apoio logístico de uma tabanca colocada para lá da fronteira. O Homem do monóculo só fez uma pergunta:
-Nunca te lembraste de apontar para lá os obuses?
Claro que nessa noite foi um corridinho de granadas de 18 Kg naquela direcção. Eu guardei a frase e quando em Mampatá se comia arroz com arroz, enquanto as vacas do homem grande se deliciavam a pastar entre os arames farpados de protecção da tabanca.
Ao fazer a ronda nocturna notei o tilintar de garrafas e perguntei ao sentinela o que se passava:
- É uma vaca que anda por aí, respondeu-me ele, não há perigo.
Havendo perigo ou não, resolvi imitar o Caco e dizer-lhe:
-Já pensaste em mandar para lá um tirito, ninguém sabe se está lá uma vaca ou um turra e assim amanhã teríamos banquete do bom.
Após alguns minutos de conversa em surdina, para o ajudar a passar o tempo, parti de novo e embrenhei-me pelo interior da tabanca em direcção a outro posto de sentinela.
Surgiu um tiro, sem resposta imediata, a assustar a noite e eu deixei-me sonhar com o saboroso bife que no dia seguinte teria no prato...se o sentinela tivesse acertado na vaca.
Ao chegar junto do outro, o camarada estava tenso e preocupado, um tiro, no silêncio da noite, era mau presságio, eles estariam por perto. O tiro talvez fosse o sinal. Acalmei-o como pude, sem lhe contar a conversa tida momentos antes.
No dia seguinte, ninguém soube explicar, mas apareceu uma vaca coxa. O Aliu Baldé, Chefe de Tabanca e Alferes de 2ª linha, armou grande barafunda, pois tinha perdido uma vaca e queria saber quem a feriu, para levar o justificado castigo. Como ninguém se acusou e... para não perder tudo vendeu-nos a vaca pelo preço da chuva. O almoço sonhado ia acontecer.
Só que o IN também queria tomar parte no banquete e fez-se convidado.
À hora prevista, lá estava junto à 2ª cerca, sabendo que a fome e o apetite por um bom bife eram factores que nos iriam criar possíveis desatenções. Tal aconteceu de facto.
O Sol já ia alto e queimava os dorsos descamisados. O amanho da vaca foi longo e atrasou o esperado almoço. Os jagudis, no cocuruto das árvores, espreguiçavam-se e afiavam o bico. Também eles se fizeram convidados.
Toda a gente fazia fila junto ao grelhador onde crepitava o fogo, enquanto o Valente virava e revirava os bifes e o Alves aprontava as estaladiças batatas fritas. Os grandes e apetitosos nacos de carne eram um regalo para os olhos. Pelas narinas subiam odores que inebriavam o cérebro e faziam sofrer o estômago, pela longa espera do tão esperado pitéu. Numa mão a marmita, na outra o copo de vinho fresco, enquanto a cerveja (complemento mais que necessário) se escondia no bolso e o IN à espreita, junto ao arame farpado.
Os postos de sentinela foram desguarnecidos. Apenas o Silva algarvio ficara no seu abrigo, devido a forte dose de paludismo. Os putos, pulavam a nossa volta de olhos arregalados. Também eles iam ter restos melhorados, como paga por nos lavarem as marmitas. A população (*) escondia-se do sol dentro das moranças e espreitava a festa que o branco fazia.
Chegam convidados indesejáveis
De repente os putos desaparecem. O silêncio impera. Apenas a nossa algazarra de gente feliz, que antevia um lauto banquete.
Começa a distribuição com o Valente a resmungar_
- Calma, que chega para todos!
Eu esperava pacientemente com a Maimuna ao colo, que chegasse a minha vez. Tinha já surripado umas febras e bebido uns copos (vantagem de enfermeiro).
Os primeiros felizardos, contrariamente ao que sempre faziam – irem de imediato para o seu posto de sentinela – sentam-se à sombra do gigante poilão e começam a saborear o petisco, quando se houve uma rajada de G3 e logo de seguida, como que por encanto, de todos os lados da tabanca, surgem costureirinhas a vomitar o seu temido trac-trac, seguindo-se o troar dos rebentamentos do morteiro 60 e das bazucadas
Os bifes e as batatas fritas voaram pelo ar. Toda a gente a correr para os postos. Há que correr com os malandros que nos querem estragar o almoço.
Felizmente o Silva algarvio, deitado à porta do abrigo, esperava que alguém lhe levasse o seu almoço, para o qual não teria apetite tal era o seu estado de saúde. Estranhamente vê uns vultos, de uniforme diferente, aproximarem-se da cancela em arame farpado, abri-la e tentarem esconder-se por detrás de uma morança. Nem hesita em abrir fogo, provocando a enorme barafunda que se seguiu.
Eles tinham o esquema bem montado. Concentraram as suas forças de penetração na entrada da picada para Buba e na entrada da picada para Cumbijã. Do lado de Aldeia Formosa, estavam emboscados perto de Bakar Dado, para impedir a chegada de eventuais reforços. Em redor de toda a Tabanca estavam atiradores isolados que faziam fogo de costureirinha, com balas incendiárias, para desviar as atenções, enquanto outros forçavam a entrada nos portões.
Atingiram onze moranças que de imediato começaram a arder aumentando a confusão. Atingiram também o paiol das munições, o que naturalmente originou um festival de rebentamentos.
Fotos: © Zé Teixeira (2007). Direitos reservados.
Nota do editor:
(1) Vd. último post desta série> 5 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2030: Estórias do Zé Teixeira (18): A G3ertrudes encravada que salvou duas vidas.
VACA: Sinónimo de sorte... ou de azar?
por Zé Teixeira (subtítulos do co-editor CV)
Num dia, após um ataque a Aldeia Formosa, que começou cerca das 17,30 e acabou altas horas da madrugada, o Caco Baldé apareceu por lá para apreciar os estragos, que felizmente para os militares tinham sido nulos. Ao comentar com o Comandante da Guarnição o local de onde o IN tinha atacado, concluiram que possivelmente tinha havido apoio logístico de uma tabanca colocada para lá da fronteira. O Homem do monóculo só fez uma pergunta:
-Nunca te lembraste de apontar para lá os obuses?
Claro que nessa noite foi um corridinho de granadas de 18 Kg naquela direcção. Eu guardei a frase e quando em Mampatá se comia arroz com arroz, enquanto as vacas do homem grande se deliciavam a pastar entre os arames farpados de protecção da tabanca.
Ao fazer a ronda nocturna notei o tilintar de garrafas e perguntei ao sentinela o que se passava:
- É uma vaca que anda por aí, respondeu-me ele, não há perigo.
Havendo perigo ou não, resolvi imitar o Caco e dizer-lhe:
-Já pensaste em mandar para lá um tirito, ninguém sabe se está lá uma vaca ou um turra e assim amanhã teríamos banquete do bom.
Após alguns minutos de conversa em surdina, para o ajudar a passar o tempo, parti de novo e embrenhei-me pelo interior da tabanca em direcção a outro posto de sentinela.
Surgiu um tiro, sem resposta imediata, a assustar a noite e eu deixei-me sonhar com o saboroso bife que no dia seguinte teria no prato...se o sentinela tivesse acertado na vaca.
Ao chegar junto do outro, o camarada estava tenso e preocupado, um tiro, no silêncio da noite, era mau presságio, eles estariam por perto. O tiro talvez fosse o sinal. Acalmei-o como pude, sem lhe contar a conversa tida momentos antes.
No dia seguinte, ninguém soube explicar, mas apareceu uma vaca coxa. O Aliu Baldé, Chefe de Tabanca e Alferes de 2ª linha, armou grande barafunda, pois tinha perdido uma vaca e queria saber quem a feriu, para levar o justificado castigo. Como ninguém se acusou e... para não perder tudo vendeu-nos a vaca pelo preço da chuva. O almoço sonhado ia acontecer.
Só que o IN também queria tomar parte no banquete e fez-se convidado.
À hora prevista, lá estava junto à 2ª cerca, sabendo que a fome e o apetite por um bom bife eram factores que nos iriam criar possíveis desatenções. Tal aconteceu de facto.
O Sol já ia alto e queimava os dorsos descamisados. O amanho da vaca foi longo e atrasou o esperado almoço. Os jagudis, no cocuruto das árvores, espreguiçavam-se e afiavam o bico. Também eles se fizeram convidados.
Toda a gente fazia fila junto ao grelhador onde crepitava o fogo, enquanto o Valente virava e revirava os bifes e o Alves aprontava as estaladiças batatas fritas. Os grandes e apetitosos nacos de carne eram um regalo para os olhos. Pelas narinas subiam odores que inebriavam o cérebro e faziam sofrer o estômago, pela longa espera do tão esperado pitéu. Numa mão a marmita, na outra o copo de vinho fresco, enquanto a cerveja (complemento mais que necessário) se escondia no bolso e o IN à espreita, junto ao arame farpado.
Os postos de sentinela foram desguarnecidos. Apenas o Silva algarvio ficara no seu abrigo, devido a forte dose de paludismo. Os putos, pulavam a nossa volta de olhos arregalados. Também eles iam ter restos melhorados, como paga por nos lavarem as marmitas. A população (*) escondia-se do sol dentro das moranças e espreitava a festa que o branco fazia.
Chegam convidados indesejáveis
De repente os putos desaparecem. O silêncio impera. Apenas a nossa algazarra de gente feliz, que antevia um lauto banquete.
Começa a distribuição com o Valente a resmungar_
- Calma, que chega para todos!
Eu esperava pacientemente com a Maimuna ao colo, que chegasse a minha vez. Tinha já surripado umas febras e bebido uns copos (vantagem de enfermeiro).
Os primeiros felizardos, contrariamente ao que sempre faziam – irem de imediato para o seu posto de sentinela – sentam-se à sombra do gigante poilão e começam a saborear o petisco, quando se houve uma rajada de G3 e logo de seguida, como que por encanto, de todos os lados da tabanca, surgem costureirinhas a vomitar o seu temido trac-trac, seguindo-se o troar dos rebentamentos do morteiro 60 e das bazucadas
Os bifes e as batatas fritas voaram pelo ar. Toda a gente a correr para os postos. Há que correr com os malandros que nos querem estragar o almoço.
Felizmente o Silva algarvio, deitado à porta do abrigo, esperava que alguém lhe levasse o seu almoço, para o qual não teria apetite tal era o seu estado de saúde. Estranhamente vê uns vultos, de uniforme diferente, aproximarem-se da cancela em arame farpado, abri-la e tentarem esconder-se por detrás de uma morança. Nem hesita em abrir fogo, provocando a enorme barafunda que se seguiu.
Eles tinham o esquema bem montado. Concentraram as suas forças de penetração na entrada da picada para Buba e na entrada da picada para Cumbijã. Do lado de Aldeia Formosa, estavam emboscados perto de Bakar Dado, para impedir a chegada de eventuais reforços. Em redor de toda a Tabanca estavam atiradores isolados que faziam fogo de costureirinha, com balas incendiárias, para desviar as atenções, enquanto outros forçavam a entrada nos portões.
Atingiram onze moranças que de imediato começaram a arder aumentando a confusão. Atingiram também o paiol das munições, o que naturalmente originou um festival de rebentamentos.
Mampatá > 3 de Novembro de 1968 > Rescaldo do ataque da hora de almoço
Tal como entraram, rapidamente tiveram de sair, ao sentirem-se descobertos, perante a reacção da nossa gente bem apoiada no Pelotão de Milícia, comandado pelo Chefe de Tabanca, Alferes Aliú Baldé (**) que coordenou de peito aberto a defesa, do portão de Cumbijã, de morteiro 60 na mão (***). Logo de seguida dirigiu-se ao portão de Buba e continuou a festa. Um verdadeiro herói, que tanto quanto soube, viria a falecer em combate cerca de dois anos depois, também na defesa de Mampatá, quando a zona aqueceu, com a reabertura de frente de Colibuia e Cumbijã.
Estranha foi a minha reacção. Assustado com o fogachal e as labaredas que surgiam de todos os lados das moranças a arder, em lugar de me proteger e aguardar pelo fim da contenda, como era e continuou a ser, meu hábito, larguei a bebé, no abrigo do posto de rádio e desatei a correr pela tabanca, perguntando aos gritos, se havia feridos.
Recordo-me bem da razão do meu estado de espírito: Tinha comigo apenas dois frascos de soro, algumas agulhas e linha de sutura, meia dúzia de Zimema K e pouco mais. Entrei em pânico. A estrada para Aldeia Formosa, estava cortada pelo IN e eu senti-me sem nada para poder valer aos colegas e à população.
Foram vinte minutos terríveis, que se saldaram num grande susto e... moranças queimadas, pois nem um ferido para amostra.
- Já estou apanhado! - Foi o meu pensamento íntimo, logo depois e que me obrigou a rever a forma de estar nos teatros de guerra que se seguiriam.
A nossa reacção obrigou o IN a refugiar-se rapidamente na mata e continuar a flagelação, mas um tanto descontrolada. Tudo acabou em bem. Apenas se atrasou um pouco a hora da petiscada, repetida nos dias seguintes, mas agora com cuidados redobrados.
Afinal tivemos a vaca da sorte a proteger-nos para que pudéssemos saborear a vaca verdadeira.
Estranha foi a minha reacção. Assustado com o fogachal e as labaredas que surgiam de todos os lados das moranças a arder, em lugar de me proteger e aguardar pelo fim da contenda, como era e continuou a ser, meu hábito, larguei a bebé, no abrigo do posto de rádio e desatei a correr pela tabanca, perguntando aos gritos, se havia feridos.
Recordo-me bem da razão do meu estado de espírito: Tinha comigo apenas dois frascos de soro, algumas agulhas e linha de sutura, meia dúzia de Zimema K e pouco mais. Entrei em pânico. A estrada para Aldeia Formosa, estava cortada pelo IN e eu senti-me sem nada para poder valer aos colegas e à população.
Foram vinte minutos terríveis, que se saldaram num grande susto e... moranças queimadas, pois nem um ferido para amostra.
- Já estou apanhado! - Foi o meu pensamento íntimo, logo depois e que me obrigou a rever a forma de estar nos teatros de guerra que se seguiriam.
A nossa reacção obrigou o IN a refugiar-se rapidamente na mata e continuar a flagelação, mas um tanto descontrolada. Tudo acabou em bem. Apenas se atrasou um pouco a hora da petiscada, repetida nos dias seguintes, mas agora com cuidados redobrados.
Afinal tivemos a vaca da sorte a proteger-nos para que pudéssemos saborear a vaca verdadeira.
Mampatá > 3 de Novembro de 1968 > Eu e a minha Maimuna no rescaldo da morança queimada
Fotos: © Zé Teixeira (2007). Direitos reservados.
Subida de popularidade
Como resultado extremamente positivo para a minha pessoa, foi a forma como a partir daquela altura a população em geral me acolheu e o carinho com que me tratavam. Se já era bom, ficou excelente.
Tempos mais tarde, quando a Companhia recebeu ordens para seguir para Buba, ficando apenas um Grupo de Combate na Chamarra, por mais algum tempo, enquanto Mampatá Forreá era reforçado com o 2º Pelotão de Milícia e tropa estacionada seguia também para Buba. O Chefe de Tabanca foi pedir ao Comando em Aldeia Formosa a minha continuidade em Mampatá, o que foi recusado. No entanto fui colocado na Chamarra com o compromisso de vir duas vezes por semana a Mampatá, tratar a população e ensinar o enfermeiro africano que lá foi colocado.
Ao procurar saber das razões do interesse em mim, a Jobo (Maria) disse-me:
- Naquele dia em que fomos atacados na hora do almoço, vimos fermero a correr debaixo de fogo, para junto dos abrigos da população a perguntar se havia feridos. Fermero é amigo da gente.
Quando cerca de mês e meio depois, deixei definitivamente a zona, ao passar por Mampatá, deixei algumas emocionadas lágrimas para regar aquela terra tão linda, ao receber as despedidas com abraços beijos e cânticos e uma população amorosa, com quem tanto aprendi em cerca de meio ano de convivência.
... E lá ficou a minha Maimuna, a bébé que ensinei a andar, que me seguia para todo o lado e que partilhou este drama comigo. Também lá ficou a outra bébé, a quem salvei a vida quando, regressada de Bissau com 42 graus de temperatura e desenganada pelo médico, eu a recuperei. A Mudjer de fermero como a mãe teimava em afirmar. Veio trazer-ma na despedida. Queria que a levasse comigo:
- Tua mudjer, leva minina.
Quantas vezes me levou uma caneca de água fresquinha, trazida da fonte, que ficava para além do perímetro de segurança da Tabanca´:
-Mudjer de fermero na bai buská água pra fermero.
Quantas vezes vinha com um cacho de bananas à cabeça;:
-Mudjer de fermero, parte banana.
Se à noite me descuidava e não ia dar um beijinho à bebé, quando passava à porta, a caminho do meu abrigo, fosse a que horas fosse, lá estava a mãe:
– Fermero tu ká na vem parte mantenha a tua mudjer! - Entrava dava um beijo e ficava conversar até às tantas, em família.
Os pesadelos que me perseguiam, de arame farpado, sinal impeditivo de liberdade e de perigo que rodeava as aldeias, das emboscadas, dos ataques dirigidos a nós, tugas, mas que afectavam aquela gente indefesa, dos feridos que tratei e dos que vi morrer sem poder ajudar, dos que morreram sem a mais pequena hipótese de se safarem, dos momentos de ansiedade que vivi, tudo se tem vindo a dissipar, mas a imagem das duas crianças no meu colo, com as mães abraçadas a mim, vai-me acompanhar sempre, porque retrata e reflecte os momentos mais belos da minha passagem pela guerra.
Como resultado extremamente positivo para a minha pessoa, foi a forma como a partir daquela altura a população em geral me acolheu e o carinho com que me tratavam. Se já era bom, ficou excelente.
Tempos mais tarde, quando a Companhia recebeu ordens para seguir para Buba, ficando apenas um Grupo de Combate na Chamarra, por mais algum tempo, enquanto Mampatá Forreá era reforçado com o 2º Pelotão de Milícia e tropa estacionada seguia também para Buba. O Chefe de Tabanca foi pedir ao Comando em Aldeia Formosa a minha continuidade em Mampatá, o que foi recusado. No entanto fui colocado na Chamarra com o compromisso de vir duas vezes por semana a Mampatá, tratar a população e ensinar o enfermeiro africano que lá foi colocado.
Ao procurar saber das razões do interesse em mim, a Jobo (Maria) disse-me:
- Naquele dia em que fomos atacados na hora do almoço, vimos fermero a correr debaixo de fogo, para junto dos abrigos da população a perguntar se havia feridos. Fermero é amigo da gente.
Quando cerca de mês e meio depois, deixei definitivamente a zona, ao passar por Mampatá, deixei algumas emocionadas lágrimas para regar aquela terra tão linda, ao receber as despedidas com abraços beijos e cânticos e uma população amorosa, com quem tanto aprendi em cerca de meio ano de convivência.
... E lá ficou a minha Maimuna, a bébé que ensinei a andar, que me seguia para todo o lado e que partilhou este drama comigo. Também lá ficou a outra bébé, a quem salvei a vida quando, regressada de Bissau com 42 graus de temperatura e desenganada pelo médico, eu a recuperei. A Mudjer de fermero como a mãe teimava em afirmar. Veio trazer-ma na despedida. Queria que a levasse comigo:
- Tua mudjer, leva minina.
Quantas vezes me levou uma caneca de água fresquinha, trazida da fonte, que ficava para além do perímetro de segurança da Tabanca´:
-Mudjer de fermero na bai buská água pra fermero.
Quantas vezes vinha com um cacho de bananas à cabeça;:
-Mudjer de fermero, parte banana.
Se à noite me descuidava e não ia dar um beijinho à bebé, quando passava à porta, a caminho do meu abrigo, fosse a que horas fosse, lá estava a mãe:
– Fermero tu ká na vem parte mantenha a tua mudjer! - Entrava dava um beijo e ficava conversar até às tantas, em família.
Os pesadelos que me perseguiam, de arame farpado, sinal impeditivo de liberdade e de perigo que rodeava as aldeias, das emboscadas, dos ataques dirigidos a nós, tugas, mas que afectavam aquela gente indefesa, dos feridos que tratei e dos que vi morrer sem poder ajudar, dos que morreram sem a mais pequena hipótese de se safarem, dos momentos de ansiedade que vivi, tudo se tem vindo a dissipar, mas a imagem das duas crianças no meu colo, com as mães abraçadas a mim, vai-me acompanhar sempre, porque retrata e reflecte os momentos mais belos da minha passagem pela guerra.
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Notas do autor:
(*) Creio bem que a população estava avisada e refugiou-se nos abrigos e, só tal facto impediu que houvesse mortos e feridos, tal a proximidade.
(**) Tive o grato prazer de reavivar a sua memória, quando em 2005 reencontrei a sua filha Naná, mudjer do actual Régulo da Tabanca de Sinchã Shambel (ele mesmo, também milícia em Mampatá no meu tempo), que resultou do reordenamento de Contabane, após a destruição desta tabanca na noite de S. João em 1968.
(***) Na minha louca corrida à procura de eventuais feridos, pude testemunhar a acção deste homem, na contenção do ataque.
________________Notas do autor:
(*) Creio bem que a população estava avisada e refugiou-se nos abrigos e, só tal facto impediu que houvesse mortos e feridos, tal a proximidade.
(**) Tive o grato prazer de reavivar a sua memória, quando em 2005 reencontrei a sua filha Naná, mudjer do actual Régulo da Tabanca de Sinchã Shambel (ele mesmo, também milícia em Mampatá no meu tempo), que resultou do reordenamento de Contabane, após a destruição desta tabanca na noite de S. João em 1968.
(***) Na minha louca corrida à procura de eventuais feridos, pude testemunhar a acção deste homem, na contenção do ataque.
Nota do editor:
(1) Vd. último post desta série> 5 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2030: Estórias do Zé Teixeira (18): A G3ertrudes encravada que salvou duas vidas.
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