quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2051: Os pára-quedistas no mítico Cantanhez: Operação Tigre Poderoso (II parte) (Victor Tavares, CCP 121 / BCP 12)

Segunda e última parte do texto enviado em 2 de Julho de 2007 pelo nosso camarada Victor Tavares (ex-1º Cabo Pára-quedista, CCP 121/BCP 12, Brá, 1972/74). Fixação do texto e subtítulos, da responsabilidade do editor L.G.

Cantanhez > Operação Grande Empresa (Comando Chefe) / Operação Tigre Poderoso (BCP 12) > De 12 Dezembro de 1972 a 19 de Janeiro de 1973. Continuação (1)


14 de Dezemro de 1972

Patrulhamento feito pelo 2º Pelotão sem qualquer tipo de incidente. No entanto, detectámos trilhos recentes de passagem de canhão sem recuo com rodas. Seguindo o rasto, este veio a desaparecer junto ao local onde atravessaram o rio.

Também passámos por um Tabancal escondido debaixo de um arvoredo imenso, o que tornava aquela zona escura. Ali não entrava o mais pequeno raio de sol, era arrepiante aquele local. Passámos revista a todas as Tabancas e a alguns abrigos, encontrando alguns invólucros de granadas de canhão sem recuo. Também aqui encontrámos dois idosos e uma mulher mais nova e que foram interrogados pelos nossos intérpretes. Como era habitual, nada diziam.

16 de Dezembro de 1972: abatado um guerrilheiro

O 1º Bigrupo de combate da CCP 121 do qual eu fazia parte , foi emboscado por um grupo de guerrilheiros do PAIGC que se estimava em cerca de 15 elementos e que estavam fortemente armados e muito bem posicionados. Felizmente tivemos sorte de não termos sido atingidos pelos primeiros tiros e rebentamentos. Reagimos de forma eficaz ao fogo inimigo que perante a nossa reacção se pôs em debandada deixando no terreno um dos seus elementos já sem vida e várias armas ligeiras, 1 kalachnikov, 1 PPSH e 1 Simonov e granadas de RPG 2 e RPG 7, estas já com as cargas propulsoras enroscadas, preparadas para serem disparadas naquele ataque, o que não veio a acontecer derivada a eficácia do nosso fogo.


18 de Dezembr de 1972. abatido um apontador de Degtyarev pesada

Patrulhamento de Cadique até às Caxambas Balantas e regresso. Nesta última localidade aonde havia bastantes Tabancas [moranças], depois de se passar revista às palhotas e quando já nos encontrávamos todos fora da zona do aldeamento, tivemos contacto de fogo com um grupo do PAIGC que se encontrava emboscado criando uma zona de morte para quem seguisse a picada. Só que nós, ao abandonarmos o local revistado, fizemo-lo a corta mato o que lhes dificultou de certa forma a manobra de acção.

Este grupo estimava-se entre 8 a 10 guerrilheiros, dos quais abatemos o apontador de 1 Degtyarev Pesada com prato superior. As nossas forças não tiveram qualquer problema embora o contacto durasse vários minutos e o inimigo possuisse um bom apoio bélico (as armas capturadas Degtyarev pesada, 1 PPSH ou costureirinha, e uma de repetição, além de várias granadas de RPG2).


19 de Dezembro de 1972: apanga, em emboscada, uma enfermeria armada com uma Kalash

Mais um patrulhamento - era o prato do dia -, desta vez na direcção de Cadique Yalla, manhã cedo. Estávamos a andar seguindo por uma picada já há muito tempo que não era utilizada, chegámos então a outra que seguia na perpendicular àquela que seguíamos.

Esta era a velha estrada que dava para Jamberem e que viria mais tarde a ser aberta e alcatroada entre Cadqieu e o lugar atrás referido. Passada esta, seguimos a corta mato em direcção a uma bolanha. Nesse percurso passámos por um aldeamento já há muito desabitado: as Tabancas, cerca de meia dúzia, estavam todas em ruínas; nas imediações destas existiam vários Mangueiros e Cajueiros assim como bastantes Bananeiras.

Aqui estacionámos por alguns minutos, num canto do velho aldeamento, talvez local de alguma horta, com meia dúzia de pés de piri-piri que pareciam plantas ornamentais, carregados com o seu fruto de várias cores e com uma imponência de cerca de um metro a metro e meio de altura, Fizemos uma monda rápida aà malaguetas que não eram muito grandes mas que deu para encher os dois bolsos laterais das calças, que não eram nada pequenos .

Entretanto seguimos o rumo previsto para passado algum tempo chegarmos a uma picada que tomámos e nos levou até junto da orla da mata. Era bastante utilizada, atravessava uma Bolanha de grande dimensão, com 500 a 600 metros de largura.

Não arriscámos a travessia da mesma por se tornar perigoso, continuámos a marcha, agora a corta mato, a uma distância de alguns metros da picada. A mata nesta zona era semiaberta, de fácil progressão. Andados mais ou menos 1000 metros, a Bolanha era mais estreita naquele lugar e continuava a alargar logo de seguida, Foi então aqui que atravessámos para o outro lado da Bolanha.

Aí, já era Cadique Yalla. Até aqui tudo tinha corrido dentro da normalidade, a mata deste lado não tinha nada a ver com a de onde tínhamos acabado de sair, era mais fechada e com árvores de grande porte.

Fomos também chamados a atenção para nos deslocarmos com redobrados cuidados, havia informações de movimentos de guerrilheiros e a possibilidade de existirem um grupo de mulheres armadas, isso veio a confirmar-se num pequeno contacto que tivemos passado pouco tempo depois de entrarmos na mata densa que antecedia um pequeno Tabancal quase na orla da mata e que não se referenciava a mais de 20 a 30 metros.

Foi aqui que, deslocando-nos a corta mato nos apercebemos das Tabancas. Avançando para as mesmas com rapidez, tomámos de assalto esta pequena povoação sem qualquer reacção armada por parte dos presentes.

Feita revista às habitações, encontrámos varias peças de fardamento e munições de armas ligeiras. Interrogadas as pessoas ali presentes, nada adiantaram para justificarem a presença das munições.

Partindo deste local, seguimos novamente a corta mato, agora abandonando a orla da mata e progredindo mais no seu interior durante mais de uma hora, acabámos por chegar a uma picada bastante batida, onde montámos uma emboscada.

Passado algumas duas dezenas de minutos eis que se começa a ouvir vozes várias que se iam aproximando e que entram na zona de morte: eram 4 mulheres já de idade avançada umas com balaios à cabeça, outras com eles debaixo do braço e dois garotos. Atrás destas seguia uma mulher de cerca de 30 anos com um pano sobre o ombro direito que cobria uma arma. É então dada ordem através de sinais para tentar capturar a mulher armada de surpresa, evitando fazer fogo. Foi o que veio a acontecer.

Quando as primeiras mulheres se encontravam já perto do final da zona emboscada e verificando que estas não eram seguidas por Guerrilheiros, avançaram rapidamente 4 ou 5 Pára-quedistas em direcção À picada, não havendo hipóteses de reacção da mulher armada, que não esboçou qualquer movimento, sendo desarmada sem problema. Transportava uma Kalashnikov e 3 carregadores.


Tomado de assalto mais um populoso aldeamento


Posto isto, levantamos a emboscada, seguindo pela picada em direcção ao aldeamento que ficava a cerca de 500 metros. Ao aproximarmo-nos do mesmo, saímos da picada e formámos em linha para avançar sobre o objectivo com poder de fogo caso houvesse qualquer reacção armada por parte dos habitantes do mesmo, o que não veio a acontecer felizmente.

Tomámos de assalto este local colhendo de surpresa a grande quantidade de habitantes. Este aldeamento era enorme teria mais de 30 Tabancas , que foram passadas em revista , tal como dois abrigos à prova de artilharia aonde se encontrou vario fardamento e equipamento.

Foi aqui em Cadique Iala que comprámos várias galinhas nheques, para fazermos os nossos petiscos, o que até aí não era possível. Até construímos um galinheiro de onde nos abastecíamos para fazer as tainadas.

Entretanto iniciámos o regresso a Cadique City fazendo deslocar connosco alguns habitantes e a mulher capturada, utilizando a picada que atravessava a Bolanha e um pequeno rio servindo de ponte um tronco de arvore. Fizemos o resto do percurso sem problemas.

22 de Dezembro de 1972: captura do comandante do bigrupo de Malan Camará

Dia 22 de dezembro, o primeiro bi-grupo da CCP 121 parte para mais um patrulhamento desta vez com destino as Caxambas Balantas, depois de andadas algumas horas atravessando matas, bolanhas e rios alguns de difícil passagem derivado ao imenso lamaçal e arvoredo rasteiro ou Tarrafo aonde nos enterrávamos até à cintura e por vezes mais a cima, tendo que ser ajudados pelos camaradas que mais rapidamente chegavam a margem segura.

Fomos entretanto aproximando-nos da zona onde se pretendia descobrir uma base IN que, segundo informações do pessoal capturado, era bastante utilizada e frequentada pelos Guerrilheiros.

Progredindo a corta mato, lá fomos andando com grande dificuldade rompendo floresta muito serrada. A determinada altura e já numa zona da mata mais aberta, detectámos varias valas – abrigo, local onde os Guerrilheiros estacionavam em segurança e onde se instalavam para emboscar as nossas tropas. A cerca de 50 metros dali passava um trilho paralelo as valas.

Estacionamos durante cerca de 15 minutos sem que o IN se revelasse, retomando a marcha com atenção redobrada. A mata tinha árvores imponentes, o sol não entrava por lado algum, parecia noite em alguns locais.

Entretanto retomámos a marcha até que os homens da frente apercebendo-se de movimento de pessoas que passavam no trilho atrás referido que ficava do nosso lado direito, pararam, o que aconteceu com os restantes quase por simpatia, passando sinal do que se estava a passar.

Referenciámos três pessoas desarmadas que seguiram o seu destino. Aqui montámos uma emboscada. Passados cerca de 10 minutos aparece uma mulher com uma criança as costas também no mesmo sentido. Poucos minutos passaram e aparecem pela mesma picada mas no sentido inverso 4 Guerrilheiros armados. Quando estes se aproximavam dos nossos homens da frente , estes abriram fogo abatendo de imediato 2 guerrilheiros ferindo os outros dois, tendo um deles conseguido fugir. Capturámos o outro, sendo ele o comandante de bigrupo de Simbeli, Malan Camará.

Neste contacto foram apreendidas 2 Kalashnikov, 4 granadas de RPG 2 e 1 RPG 2.

Entre o Natal de 1972 e o fim de ano

Entre o Natal de 1972 e o fim de ano, o destacamento de Cadique foi atacado por várias vezes, sempre à canhoada, todas caindo dentro da nossa zona ou seja no perímetro do destacamento. Isto no dia 26.

No inicio da noite do dia 27, novo ataque à canhoada, nesta mesma noite cerca das 23 horas, novo ataque desta vez de armas ligeiras vindo os guerrilheiros até bem perto de nós, ao arame farpado, como se costuma dizer (porque não o tínhamos.

Posso considerar que a táctica utilizada foi perfeita porque quando foi feito o ataque à canhoada, o mesmo foi para permitir a aproximação dos guerrilheiros até cerca de 30 metros das nossas posições. Foi um ataque bem organizado pelo inimigo mas que não lhes trouxe qualquer proveito, porque a maioria dos Pára-quedistas já se encontravam nas valas onde durante a noite se descansava. Estas tinham sido abertas nos dias anteriores, não tivemos qualquer ferido durante este ataque, porque tínhamos todo o nosso armamento e equipamento preparado e à mão para estas eventualidades. D.desta forma reagimos pronta e eficazmente a este ataque.

No dia seguinte fomos passar busca às posições inimigas e encontrámos um morto com uma arma Kalashnikov e uma mochila com material de primeiros socorros e alguns papéis .

Entretanto tinha passado o Natal de 1972. Ao almoço e ao jantar, como não tínhamos condições para cozer pão, tivemos que fazer as primeiras refeições quentes com bolachas de água e sal a substituir o pão.

Entretanto foi destacado para nos fazer companhia um Bigrupo da Companhia de Caçadores Pára-quedistas 123 (CCP 123) e uma Companhia do exército que viria a ficar no destacamento e os Pára-quedistas a fazer patrulhamentos e operações na zona de Cadique, Cafal Balanta, Cafine e na zona de Cacine-Jamberem e em toda a mata do Cantanhez.


9 de Janeiro de 1973: abatidos mais dois guerrilheiros e capturada mais uam enfermeira

Tivemos dois violentos contactos com as forças do PAIGC nas zonas alagadiças de Cacine, durante a acção Escorpião Claro, onde abatemos dois Guerrilheiros e ferimos vários, como viemos a confirmar no reconhecimento posteriormente feito , onde eram visíveis abundantes rastos de sangue. Capturámos vários equipamentos de guerra, e também uma enfermeira. De salientar que o PAIGC tinha um grupo armado formado por mulheres do qual esta enfermeira fazia parte activa, como se veio a confirmar.

Nesta acção, a CCP 121 além de vário equipamento atrás referido capturou 1 LGFog RPG 2, 5 espingardas Mosin Negant, 5 granadas de canhão sem recuo,11 granadas de RPG 2, 2 granadas de mão ofensivas e 460 munições para armas diversas.

Durante o restante tempo que aqui permanecemos com saídas diárias, apenas tivemos pequenos e esporádicos contactos como IN sem relevância.

Foi a partir desta altura que as acções operacionais das nossas tropas tivera, um significativo abrandamento, porque as forças do PAIGC tinham sido enfraquecidas pelas constantes acções das nossas forças.

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Nota de L.G.:

(1) Vd. posta de 9 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2038: Os pára-quedistas no mítico Cantanhez: Operação Tigre Poderoso (I parte) (Victor Tavares, CCP 121 / BCP 12)

1 comentário:

Anónimo disse...

Caros Senhores

Trabalho na Câmara Municipal de Mação. Estamos a preparar um Monumento e Homenagem aos Mortos no Ultramar. Um dos nossos conterrâneos - da Unidade Operacional: BCP12(CCP121) - perdeu a vida no dia 10.01.1973. Chamava-se Adriano Rosa Martins. O local de sepultura é desconhecido. Peço, por favor, que se tiverem informações sobre este Português o favor de me contactarem. E-mail: vera.dias@cm-macao.pt

Muito grata,
Vera Dias António