quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2050: Cruzeiro das nossas vidas (9): Do Funchal para Bissau no Ana Mafalda (Carlos Vinhal)

Carlos Vinhal, ex-Fur Mil MA, (CART 2732) Mansabá , 1970/72


Viagem em Primeira Classe no navio Ana Mafalda (1)

Antes do embarque, quando se começava a estruturar uma Companhia, havia um sem número de tarefas burocráticas a cumprir que competiam principalmente aos sargentos do Quadro.

No GAG2 (S.Martinho-Funchal-Madeira) formavam-se, simultaneamente duas companhias, a CART 2731 para Angola e a CART 2732, a minha, para a Guiné.

Os respectivos sargentos não tinham mãos a medir tanta era a burocracia e nós, os cabos milicianos, futuros camaradas de classe, bem nos apercebíamos disso. Contudo, como tínhamos que ministrar o treino operacional aos militares que nos haviam de acompanhar, achávamos que já tínhamos trabalho que chegasse.


Funchal, 1985> O Cais era assim no dia 13 de Abril de 1970.

Verdade se diga que nos fins de semana, além dos serviços ao quartel e passear pelo Funchal atrás das miúdas, não tínhamos mais nada para fazer e os desgraçados dos sargentos nem sábados nem domingos gozavam.

Num qualquer sábado de Março de 1970, estava eu e o meu camarada Carneiro em amena cavaqueira na caserna, quando o sargento Rita da CART 2732 veio ter connosco a pedir-nos ajuda.

A nossa Companhia não tinha Primeiro Sargento indigitado e os dois Segundos tinham que superar essa falha para dar conta a tanto trabalho. Anuímos logo de boa vontade até porque estávamos aborrecidos por não termos nada que fazer. Assim trabalhámos toda a tarde desse Sábado e o Domingo seguinte até muito tarde.

Claro que, a partir desse dia, nos tornámos colaboradores oficiais dos sargentos Rita e Santos, praticamente até à data de embarque, ajudando no preenchimento da imensa papelada e ocupando assim as nossas horas de ócio. Tudo feito sem esperar alguma recompensa, como é bom de ver.

Entretanto o tempo foi passando, e no dia de saída para a Guiné, 13 de Abril de 1970, já a bordo do navio “Ana Mafalda”, o sargento Rita veio ter comigo e com o Carneiro para nos dizer que não precisávamos de procurar alojamento a bordo, pois iríamos no camarote deles que tinha quatro beliches.

Ficámos contentes, pois ficaríamos mais bem instalados que os restantes camaradas furriéis.

Os camarotes dos oficiais e, dos sargentos do quadro, eram no casario superior do navio enquanto que os furriéis iam nos camarotes do casco, junto à linha de água.

Já agora, diga-se que os soldados e cabos iam nos porões, instalados de qualquer maneira. Para piorar a situação, o navio já trazia dos Açores uma Companhia açoriana com o mesmo destino que o nosso, a Guiné.

Nós os quatro, mais os nossos alferes e os oficiais da guarnição do Ana Mafalda fazíamos as refeições na sala de jantar principal do navio.
Havia um senão, que era a etiqueta que impedia de se comer em quantidade, mas tudo bem, como diz o ditado: - Não há bela sem senão.

Todas as tardes tinhamos direito a chá e bolachas, servido com todos os requintes.

A viagem correu muito bem, sempre com mar chão, com direito a ver peixes voadores em exibição, sem pagar mais por isso.

Finalmente, no dia 17, ao levantar, quando espreitámos pelas janelas do camarote, tivemos a primeira impressão da paisagem da Guiné. Estávamos fundeados ao largo de Bissau, tendo o desembarque acontecido pelas 16 horas.
Os Adidos esperava-nos para nos lembrar que tinha chegado ao fim o (primeiro) cruzeiro da nossa vida.

Carlos Vinhal
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Nota de C.V.:

(1) Vd. Post de 17 de Abril de 2007> Guiné 63/74 - P1671: Efemérides (2): Há 37 anos a CART 2732 desembarcava em Bissau (Carlos Vinhal)

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