Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Aqui não há praias de areia fina... Cananima é uma praia fluvial e um aldeia piscatória. Gente de vários pontos, desde os Bijagós até à Guiné-Conacri, vêm para aqui trabalhar na actividade piscatória. No entanto, é preciso saber gerir os recursos do rio e do mar com sabedoria... A sobre-exploração de certas espécies pode ser um desastre... Por outro aldo, as infra-estrututuras de apoio à pesca são precárias ou inexistentes.
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > No estaleiro naval artesanal, de Cananima, também se constroem barcos, segundo os modelos tradicionais. A matéria-prima, a madeira, é abundante. Abate-se uma árvore centenária para fazer uma piroga. Felizmente, as pirogas não são feitas em série. E hoje há, também felizmente, restrições ao abate de árvores no Cantanhez. O problema são, muitas vezes, os projectos megalómanos e inconsistentes, que acabam por morrer na praia, como estas embarcações.
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Uma típica paisagem de tarrafe, na margem dierita do Rio Cacine, onde almoçámos, numa tarde domingueira, antes do início dos trabalhos do Simpósio Internacional de Guileje, cuja inauguração oficial seria no dia seguinte à tarde, em Bissau, no Hotel Palace, um hotel moderníssimo, de cinco estrelas... Mas eu preferi as cinco estrelas de Iemberém e de Cananima...
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Do outro aldo do rio, fica Cacine, que tem muito que contar, aos nossos camaradas do exército e da marinha... Alguns deles ficaram por aqui, enterrados e abandonados... A guerra e as suas memórias estão por todo o lado, não nos largam.
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Antes de nós, no tempo da guerra, poucos tugas se poderão ter gabado de ter feito um piquenique tão agradável, tão calmo, tão saboroso, tão fraterno como o nosso... Aqui, nesta praia fluvial, frente a Cacine...
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A areia não é fina, as águas não são azuis, nem a paisagem é a mais bela do mundo, mas tudo depende dos olhos com que se olha, dos ouvidos com que se ouvem, das emoções com que se capta o instante, o eféremo, o diferente...
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > É preciso salvar o Cantanhez, dando uma chance às crianças de Tombali. Projectos como o ecoturismo, ou o turismo de natureza, podem vir a ser um factor dinamizador de mudanças, a nível local e regional.
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Esta criança, felizmente, já não conheceu a guerra, e sobreviveu com sucesso ao 365º dia... Uma em cada crianças na Guiné morre antes de antingir um ano. O sorriso tímido (e ao mesmo desafiador) desta criança desarma-nos, perturba-nos, interpela-nos: o que é que fizeste hoje por mim ?
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A diversidade étnico-linguístico e cultural da Guiné-Bissau, em geral, e do Tombai, em particular, não deve ser vista como uma obstáculo, mas sim como um factor potenciador da cidadania e do desenvolvimento... Os demónios étnicos não podem é dormir descansados na Caixinha de Pandora... Combatem-se com as armas da saúde, da educação, da democracia, da integração, do desenvolvimento económico, social e cultural... Esta criança tem de ter sentir orgulho na terra onde nasceu, e onde vive...
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > O inconfundível barrete vermelho, tradicional, dos balantas. Com Kumba Ialá, tornou-se um ícone. Os balanta foram a principal base de apoio do PAIGC. Têm também hoje um peso considerável (excessivo, para alguns analistas e observadores da situação político-militar) na estrutura das Forças Armadas. Amílcar Cabral falava, com particular simpatia, da sociedade balanta, horizontal, sem classes... Alguns mitos ou estereótipos foram-se construíndo, à volta do grupo étnico e social dos balantas, uns pela etnografia colonial, outros pela análise marxista. Como se o balanta fosse aqui o representante do bom selvagem do Rousseau...
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cananime > 2 de Março de 2008 > Dança de boas vindas aos participantes do Simpósio Internacional de Guileje. Se os meus rudimentares conhecimentos etnográficos da Guiné não me atraiçoam, trata-se de um grupo de dançarinos balantas, misto, composto por rapazes e raparigas. Há uma energia telúrica e uma alegria vital nos seus cantares e nas suas danças, que eu nunca encontrei, no tempo da guerra, por exemplo, em Nhabijões, , que era um um importante aglomerado populacional balanta (e com alguns mandingas), junto ao Rio Geba, entre Bambadinca e Xime. Os balantas de Nhabijões nunca poderiam sentir-se felizes e livres, sob a dupla tutela dos fulas e dos tugas...
Fostos e vídeo (1' 21''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojado em: You Tube >Nhabijoes
Guiné-Bissau > Mapa do sector de Bedanda que, juntamente com o sector de Cacine, alberga as matas do Cantanhez, um espaço que é urgente preservar, salvaguardar, proteger e potenciar, numa perspectiva de desenvolvimento integrado e sustentado... A verde assinala-se o trajecto que os participantes do Simpósio Internacional de Guileje fizeram no fim de semana de 1 e 2 de Março de 2008, na sua visita ao Cantanhez... A vermelho assinalam-se algumas das localidades por onde passámos e onde parámos: Balana, Guileje, Mejo, Imberem (passámos aqui duas noites)...
Vindos do Acampamento de Osvaldo Vieira (1), onde passámos uam parte da manhã de domingo, fomos almoçar a uma praia piscatória, deslumbrante... Do almoço (de peixe galo - gato ? - pescado nas águas do Rio Cacine (que em rigor é um braço de mar, como todos os outros, com a excepção do Rio Corubal - falarei em próxima crónica. Agora, deixem-me saborear este pedaço de paraíso que ainda existe na terra e na Guiné: O Cantanhez...Tenho pudor em falar de paraíso, num terra que as estatísticas dizem ser um dos mais pobres do mundo... O paraíso não existe, é uma utopia que os homens criaram. Falemos então de um sítio, na crosta terrestre, que ainda é capaz de nos encantar, em que nos sentimos em harmomia com os homens, com os bichos, com a floresta, com a água, com o ar...
Fonte: Brito (2007) (com a devida vénia...)
22 de Abril, Dia Mundial da Terra
(...) Em Abril, tomem por favor boa nota do sete,
na vossa agenda-planning de executivos,
porque é Dia Mundial da Saúde.
E um semana depois
o Dia da Conservação do Solo (15),
bem como do pobre Índio (19)
e do paupérrimo ou depauperado Planeta Terra (22),
finalizando a maratona das comemorações
no Dia da Educação (28),
tão pouco ou nada ambiental…
Não sei explicar se o Índio
é o que está em vias de extinção
ou o Índio, escalpelizado, morto e enterrado,
depois da chegada ao Novo Mundo
do idiota que acreditava ter chegado à Índia
e que hoje tem nome de praças
e estatuária pomposa
por tudo o que são cidades hispânicas.(...)
Luís Graça > Blogue Fora Nada... e Vão Dois
5 de Novembro de 2007 > Blogantologia(s) II - (59): Hoje é dia mundial de qualquer coisa...
O nosso camarada Juvenal Amado veio, gentilmente, (re)lembrar-nos que ontem foi o Dia Mundial da Terra, criado em 1970 a partir da ideia do norte-americano John McConnell, que a apresentou, na conferência da UNESCO sobre o Ambiente. «Só temos esta Terra para vivermos e sermos felizes»...
E mais: só há uma terra, só um mar, só há uma floresta, só há uma espécie humana, só há uma raça, o Homo Sapiens Sapiens. Talvez por isso valha a pena evocar aqui a nossa (sem paternalismos, saudosismos...) Guiné-Bissau, um pequeno país da África Ocidental, com o qual temos particulares afinidades, pela história, pela língua ... Mesmo se apenas 70 e poucos mil falam e escrevem o português que nos une e às vezes nos separa...
Falemos, pois, dessa terra (vermelha, verde, negra...) que se chama Guiné-Bissau. E duma parcela dessa terra que se chama Tombali, Região de Tombali, onde outrora travámos feros e feios combates... Voltámos lá, em missão de paz e de amizade, nos princípios de Março de 2008. E vimos coisas bonitas, até promessas de futuro.
Pessoalmente, descobri (ou entrevi) o Cantanhez, que era no meu tempo de soldado um topónimo que se pronunciava com um misto de respeito e de temor. Tomei conhecimento de projectos de desenvolvimento para a rehgião do Tombali, e que passariam também por essa coisa nova que se chama ecoturismo, e que se calhar para os guineenses é mais um palavrão que entra por um ouvido e sai por outro. Conversa de e para as elites. Enfim, li - se bem que ainda por alto - uma brochura de Brígida Rocha Brito (40 anos de idade, especialista em estudos africanos, socióloga, doutorada pelo ISCTE) e em que ela apresenta o seu estudo das potencialidades e dos constrangimentos do ecoturismo na Região de Tomnbali.
É um trabalho que me despertou a atenção e o interesse, elaborada no âmbito do projecto U' Anan (Construir o Desenvolvimento Comunitário Sustentável na Região de Tombali: Ecoturismmo e Cidadania, ONG - PVD/2004/095-097). E edição, em Abril de 2007, é da responsabilidade da ONG portuguesa, Instituto Valle Flor, um dos parceiros privilegiados da AD - Acção para o Desenvolvimento.
Independentemente de uma leitura mais aprofundada e mais crítica deste relatório, e das suas principais conclusões e recomendações (2), apetece-me hoje transcrever apenas - com a devida vénia à editora e à autora, que é uma apaixonada de África (veja-se o seu blogue África de Todos os Sonhos) - alguns excertos. Por razões de economia e de legibilidade bloguísticas, cortei as referências bibliográficas e adaptei as notas de pé de página. Nalguns casos cortei um ou outro páragrafo. Eliminei também quadros e figuras. Espero que a autora me perdoe a ousadia. Em nome do comum paixão pelo Cantanhez. Não tenho o prazer de conhecer, pessoalmente, a minha colega de academia (é professora e investigadora no ISCTE, onde também eume licenciei em sociologia). Mas aproveito para a cumprimentar, dar-lhe os parabéns e oferecer este espaço para... blogar connosco. L.G.
II. O Turismo na região de Tombali
por Brígida Rocha Brito
A região de Tombali dista de Bissau em cerca de 250 Km, localizando-se a sul da Guiné-Bissau, concretamente a sul e sudoeste, fazendo fronteira com o norte da Guiné Conacri e sendo parcialmente rodeada pelo oceano atlântico (...). A região é constituída por 3.736,5 Km2, correspondendo a 10,3% do total do território nacional, destacando-se por ser uma zona fronteiriça dominada, do ponto de vista ambiental, por uma área florestal de grande densidade (…), rica em biodiversidade de fauna e de flora, definida como uma das últimas florestas primárias a nível mundial e considerada o ícone da luta pela independência.
Administrativamente, a região subdivide-se em sectores, sendo privilegiados no Estudo os de Bedanda e Cacine, já que são os que estão mais directamente relacionados com o Projecto Ecoturístico (…). Os dois sectores destacam-se devido ao enquadramento pelo conjunto dos Matos que constituem as Floresta de Cantanhez, sendo limitados por dois grandes rios, Cacine e Cumbidjan, fazendo fronteira com o Oceano Atlântico, e sendo dotados de diversidade étnica e cultural.
As características ambientais da região evidenciam especificidades únicas resultantes da densidade florestal e do estado de preservação dos espaços naturais, que em parte têm beneficiado da distância e do isolamento em relação aos principais centros urbanos, nomeadamente da capital.
Do ponto de vista turístico, a região apresenta um conjunto alargado de potencialidades que, no decorrer da missão, foram identificadas, estando contudo em “estado bruto”, requerendo uma acção planeada e concertada no sentido da valorização dos aspectos chave para o ecoturismo, nomeadamente relativos à preservação ambiental, à protecção de espécies ameaçadas e à dinamização das práticas e dos traços culturais característicos das comunidades residentes.
Contudo, em Tombali, evidenciam-se alguns constrangimentos que, se não forem controlados e minimizados, podem ser condicionantes, limitando a implementação do Projecto. Neste contexto, destacam-se factores estruturais, que são comuns a todo o País e que requerem uma intervenção global de âmbito nacional por ultrapassarem a acção do Projecto U'Anan, e factores conjunturais, que podem ser minimizados através da adopção de medidas estratégicas sectoriais direccionadas e enquadradas por um planeamento adequado.
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Em pleno coração do Cantanhez > 2 de Março de 2008 > Um dos jovens guias ecoturísticos, recentemente formados, no âmbito do projecto U'Anan.
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > No coração do Cantanhez > 2 de Março de 2008 > Logótipo do projecto U'Anan, estampado na T-shirt de um dos jovens guias ecoturísticos. O dari (chimpanzé), espécie em vias de extinção em África, é o ex-libris do Cantanhez.
Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
1. Identificação das principais potencialidades
Apesar da relativa instabilidade político-governativa que pode naturalmente influenciar a dinamização do sector do turismo, as relações entre as Organizações promotoras do Projecto e as Instituições, nacionais e internacionais, vocacionadas para o planeamento ambiental, preservação de áreas protegidas e conservação de espécies, são de grande entendimento, havendo lugar para o estabelecimento de parcerias. Estes são os casos do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) e da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
No contexto das potencialidades regionais e locais, ou factores perspectivados como positivos, foram identificados três tipos principais: as especificidades ambientais; os elementos culturais; os factores históricos e de pendor nacionalista.
Por um lado, os factores tipológicos, entendidos isoladamente ou de forma conjugada, são considerados como determinantes na construção e no reforço das identidades comunitárias; por outro, para a prática do turismo, são elementos apelativos e dinamizadores de diferentes segmentos: Turismo de Natureza ou Ecoturismo; Turismo Étnico; Turismo Cultural e Turismo Científico.
1.1. As particularidades ambientais
Tal como acontece na maioria do território guineense, na região de Tombali o clima é caracteristicamente tropical húmido, evidenciando-se duas estações principais, a seca (entre Novembro e Maio) e a estação das chuvas (entre Junho e Outubro). O principal factor diferenciador no que respeita ao clima é que no sul a intensidade das chuvas é maior do que em qualquer outra região, podendo atingir níveis de precipitação na ordem dos 2.000 a 2.500 mm anuais, com temperaturas médias entre os 28º e os 31º (…).
Se a acção humana de exploração e utilização de recursos for planeada e controlada, verifica-se uma tendência para a renovação do manto florestal com carácter espontâneo, em resultado das condições climatéricas, traduzidas na intensidade e nos elevados níveis pluviométricos anuais associados ao calor.
A região de Tombali é caracterizada por uma mancha florestal de grandes dimensões, com cerca de 650 Km2 (…) denominada de Floresta de Cantanhez (a), que consiste num agrupamento de catorze áreas florestais densas e húmidas, habitualmente referenciadas como Matos.
Actualmente existe a proposta de alteração do estatuto para área protegida, com a criação de um Parque Natural, envolvendo três sectores da região, Bedanda, Cacine e Quebo, perfazendo um total de 1.067 Km2 (…).
Os matos são caracterizados pela densidade típica da floresta tropical, sendo considerada como uma das últimas florestas primárias pelo estado de preservação e de manutenção do ecossistema, resultado da fraca penetração humana, tornando-a num habitat privilegiado para a vida de numerosas espécies de flora e de fauna.
No que respeita à flora, destacam-se as árvores de grande porte, centenárias, muitas vezes identificadas como sagradas e locais de culto, de inspiração e de aconselhamento junto do “irã”, a entidade sobrenatural, tanto venerada como temida. Entre a multiplicidade de espécies arbóreas (b) existentes, referenciam-se como observáveis a Tagara, o Manpataz e o Poilão. O interesse turístico da Floresta de Cantanhez consiste na possibilidade de, no decurso das actividades e das visitas, observar a diversidade biológica que coexiste de forma equilibrada: árvores de grandes dimensões; árvores de médio porte; arbustos .
Também no que respeita à fauna, a região é rica em diversidade, encontrando-se diferentes espécies de grandes mamíferos (c), cefalofos, ungulados, primatas (d), aves (e), répteis (f), peixes e insectos (g), de entre os quais algumas estão ameaçadas ou em risco, pelo que têm estatuto reconhecido de espécie protegida. A maioria destes animais reveste interesse turístico, existindo, a nível internacional, mercado potencial por segmentos. Contudo, a observação nem sempre é facilitada visto que os animais a viverem em habitat natural são fugidios, o que também evidencia o estado ainda virgem do parque florestal.
Paralelamente, a acção conjugada do IBAP, da IUCN e da AD tem viabilizado a demarcação das áreas através da colocação de placas indicativas em algumas áreas, com classificação de “corredores de animais” (…), de forma a facilitar a identificação tanto das zonas como das espécies mais importantes. Nos Matos de Cantanhez, existem sete corredores, dos quais dois são transfronteiriços, cruzando o sul da Guiné-Bissau com o norte da Guiné Conacri, e delimitam áreas prioritárias de passagem de grandes mamíferos, como o elefante africano, o búfalo da floresta e a gazela pintada. Estas são acções que, do ponto de vista ecoturístico, representam uma mais-valia importante por evidenciarem preocupação com a preservação espacial e com a conservação de espécies ameaçadas.
Por outro lado, todos os Matos estão também identificados com placas indicativas do início e do fim de cada área, o que permite ao turista um acompanhamento dos percursos, a distinção dos Matos a partir da identificação das características florestais e a valorização do conhecimento sobre os locais de passagem e de visita. Além de ser fundamental para a prossecução das actividades do ecoturismo, esta sinalética representa um esforço na sensibilização das comunidades no sentido da identificação de locais “intocáveis” porque protegidos, ou seja onde é proibido desflorestar, provocar o abate de árvores, proceder a queimadas ou capturar os animais referenciados como protegidos.
As Floresta de Cantanhez são caracteristicamente fechadas e de difícil penetração, mas não representam o único tipo de paisagem ambiental que caracteriza a região, já que se encontram, de forma intercalada, áreas de savana arbórea e herbácea, e com maior importância mangal ou tarrafes, rios, estuários e paisagem fluvial, costa marítima e, com menor destaque, praias.
Toda a região é caracterizada pela existência de cursos de água, sob a forma de grandes e pequenos rios, afluentes e braços fluviais que penetram para o interior das áreas florestadas (…). Os principais rios são o Cacine e o Cumbidjan, qualquer um navegável em pequenas embarcações, desde que pouco fundas, devido à existência de grandes flutuações na quantidade de água em resultado da variação das marés e à existência de bancos de areia que conferem pouca profundidade aos cursos fluviais. Proliferam ainda os pequenos rios afluentes dos principais, como o Balana e o Balanazinho, o Gadamael, o Bendungo, o Cachadeba e o Gaduar, revestindo contudo menor importância.
O meio fluvial é particular do ponto de vista paisagístico já que apresenta uma estrutura diferenciada da que caracteriza a floresta, mas também por ser rico em flora e fauna. Do ponto de vista turístico, este é um meio de grande valor porque, além de propiciar a realização de actividades diferenciadas e complementares às florestais, de observação de animais e de contemplação, representa uma possibilidade alternativa e acrescida de acesso e de transporte, estabelecendo a ponte com outras localidades.
Contudo, não é aconselhada a utilização das águas dos rios para banhos ou natação, devido à existência de crocodilos, que mesmo que não visíveis se tornam perigosos pondo em risco a segurança. As águas dos rios sendo turvas e barrentas, e as areias lodosas, não favorecem a prática balnear em meio fluvial, mas proporcionam o desenvolvimento de práticas ecoturísticas.
Os rios são assim uma forte potencialidade para o turismo de contemplação de paisagens e de observação de animais como aves, nomeadamente grupos de pelicanos, e espécies migratórias, dada a proximidade e a facilidade de acesso para a Ilha de Melo e Ilha dos Pássaros, situados na foz do rio Cacine.
Por fim, a região de Tombali, em particular na zona oeste dos sectores de Bedanda e de Cacine, pelo contacto com o Oceano Atlântico, é marcada pela proximidade em relação ao sul do arquipélago dos Bijagós, nomeadamente no que respeita ao Parque Natural Marinho de João Vieira e Poilão.
Esta coincidência geográfica de elementos naturais de reconhecida importância, e que revestem interesse turístico, evidencia a possibilidade de estabelecer ligações entre o meio florestal, propiciada pelos Matos de Cantanhez, o meio fluvial, favorecida pelos rios e inúmeros cursos de água, e o meio marinho, em que se destacam espécies diferenciadas, tais como os cetáceos e as tartarugas marinhas. Por outro lado, está favorecida a complementaridade entre meio continental e insular, viabilizando o desenvolvimento de actividades diferenciadas tendentes à preservação ambiental e à conservação de espécies. (...)
pp. 31-35
(Continua)
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Notas da autora, BRB:
(a) É comum entender estas áreas como florestas sagradas, dotadas de pontos específicos e identificáveis por guias locais, como fontes sagradas, árvores sagradas ou simplesmente zonas referenciadas e que os animistas acreditam que têm poderes, realizando práticas de veneração.
(b) Podem ainda referir-se outras espécies como pau veludo, pau miséria, malagueta preta, lianas lenhosas, figueira estranguladora, líquenes.
(c) Os grandes mamíferos que podem ser observados são os elefantes, os búfalos da floresta, as gazelas, e mais raros os felinos como a onça pintada, vulgarmente conhecida como leopardo.
(d) Os primatas são comuns e apresentam diversidade: chimpanzé, babuíno ou macaco cão e colobus ou macaco fidalgo e preto.
(e) As aves apresentam grande diversidade: garças, picanço, abelharuco, pica-peixe, calao grande, pica-pau, cotovia, andorinha, melro, pardal, entre outras.
(f) Os principais répteis terrestres são a cobra preta, cuspideira ou bida, a cobra tutu, a cobra verde, da palmeira ou kakuba, a cobra vermelha e a jibóia ou irã seco. Nos rios pode encontrar-se crocodilo ou lagarto preto e no mar tartarugas marinhas.
(g) Os insectos com maior interesse turístico e que podem ser enquadrados nas potencialidades ambientais são a borboleta, que existe na região em quantidade, destacando-se pelas cores, e as térmites ou baga baga, devido às construções de terra. Por outro lado, existem abelhas associadas à actividade da apicultura.
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Notas de L.G.
(1) Vd. poste de 12 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2752: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (14): Acampamento Osvaldo Vieira (II)
(2) Esta publicação está disponível, em formato.pdf, no sítio do Instituto Marquês de Valle Flôr :
ESTUDO DAS POTENCIALIDADES E DOS CONSTRANGIMENTOS DO ECOTURISMO NA REGIÃO DE TOMBALI