quarta-feira, 18 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10166: Fauna & Flora (28): A Mamba-verde, particulamente temida pelos recolectores de chabéu ...

Mamba-verde - Dendroaspis viridis Hallowvell  (Família Elapidae - Proteroglypha).


[Imagem à esquerda: Aguarela do pintor Silva Lino (1911-1984)]


Principais caraterísticas desta espécie de serpente (*):

(i) Serpente longa (comprimento: até 210 cm) e relativamente delgada, com a cabeça estreita, pescoço pouco distinto e cauda comprida, atilada;


(ii) Olhos pequenos, com pupila redonda; coloração verde-olivácea, por cima, e amarelada ou esverdeada na face ventral, com escamas e placas finamente debruadas de negro;

(iii) Dentes: dentadura proteroglifodonte: dentes inoculadores sulcados, erécteis mas não retrovertíveis, na parte anterior do maxilar, sem precedência de outros dentes;


(iv) Sinais da mordedura: três pares de perfurações dilatadas, inoculadoras, ladeando o extremo anterior de duas linhas de perfurações, mais finas, dos dentes normais palatino-pterigóides; 

(v) Veneno:  mortal, neurotóxico;

(vi) Costumes:  espécie arborícola, frequentando plantações de palmeiras, bananeiras, etc., muito agressiva, especialmente na época da reprodução, e, por isso, temida pelos nativos, que chegam a ser perseguidos;

(vii) Reprodução por oviparidade;

(viii) Alimento: aves e pequenos roedores;

(ix) Distribuição geográfica: desde o Senegal até à Costa do Marfim; encontra[va]-se com relativa frequência na [antiga] Guiné Portuguesa, hoje Guiné-Bissau; em São Tomé foi coligida por A. Moller (1885), mas não tornou a ser assinalada, nem encontrada durante as pesquisas recentes da Missão Científica; em Angola, encontram-se as espécies D. jamesoni e D.angusticeps, ao passo que em Moçambique existe apenas esta última. 



Fonte: Cortesia do sítio Triplov > Serpentes do ultramar português

Referência bibliográfica: FRADE, Fernando - Serpentes do Ultramar Português. Garcia de Orta. Lisboa; 1955; III (4), pp. 547-553. Em colab. com Sara Manaças. Legendas e notas de aguarelas de Silva Lino.

Vd. tambEm em Google >Imagens >Dendroaspis viridis Hallowvell [Nome comum em inglês:  Western Green Mamba]



2. Comentário de L.G.:

Ainda há dias, falando com um amigo e conterrâneo meu, L.R., antigo alf mil pil Al III, no TO da Guiné (1970/72), parece que era relativamente frequente o pedido de helievacuações para civis que faziam a recolha do chabéu, trepando às palmeiras, e se atiravam, instintivamente, para o chão, muitos metros abaixo, quando eram surpreendidos por uma mamba verde (n

ão confundir com a vulgar cobra verde, em inglês a smooth green snake, norteamericana, não venenosa)... 

De acordo com as observações da missão científica que estudou, em meados dos anos  40 do séc. XX, a fauna da Guiné (chefiada por essa grande figura de naturalista que foi o prof Fernando Frade, cuja vida e obra merece ser melhor conhecida pelos nossos leitores ), esta espécie - a mamba verde - abundava nos palmeirais e nas plantações de bananeiras, e era particularmente temida pelos "nativos" da Guiné, recolectores de chabéu [vd. imagem em baixo; cortesia do sítio Novas da Guiné-Bissau]...



Fui testemunha de um caso desses, numa ponta, em Contuboel, por volta de junho/julho de 1969... Na Guiné, chamávamos-lhe simplesmente a cobra verde ou cobra verde das palmeiras...

Claro que "os desgraçados chegavam todos partidos ao hospital de Bissau", acrescentava o L.R., o meu amigo e conterrâneo, piloto da FAP...
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Nota do editor:

 Último poste de 10 de julho de 2012 > Guiné-Bissau - P10138: Fauna & Flora (27): A cobra cuspideira (de seu nome científico Naja nigricollis Reinhardt)

Guiné 63/74 - P10165: Em bom português nos entendemos (9): Uma declaração de amor, bem humorada, à língua portuguesa (Teolinda Gersão + netos)


Sítio do Observatório da Língua Portugesa (OLP)... Constituído em Junho de 2008, o OLP -  é uma associação sem fins lucrativos que tem por objectivos contribuir para:  (i) o conhecimento e divulgação do estatuto e projecção, no mundo,  da Língua Portuguesa; (ii) o estabelecimento de redes de parcerias visando a afirmação, defesa e promoção da Língua Portuguesa; e (iii) a formulação de políticas e decisões que concorram relevantemente para a afirmação da Língua Portuguesa como língua estratégica de comunicação internacional, hoje já com 250 milhões de falantes.


1. Porque (i) somos um blogue lusófono, com milhões de "baites" debitados para a blogosfera,  e (ii) fazemos questão de "em bom português nos entendermos", todas as questões da defesa e da promoção da língua portuguesa não nos são indiferentes, antes pelo contrário... Além disso, também (iii) temos (muitos de nós) filhos e netos em idade escolar, fazendo por isso parte da comunidade educativa... Mais: (iv) como antigos combatentes, também gostamos de escrever e de contar histórias aos mais novos, na escola ou fora dela... Temos, na Tabanca Grande, (v) gente que até já dá autógrafos e tem livros sobre a temática da guerra colonial... Enfim, e não menos importante, (vi) achamos que ninguém é dono da língua portuguesa, a começar pelo sr. ministro da educação de Portugal, mais todos os srs. ministros da educação da CPLP e os demais (e)duqueses, portugueses, brasileiros ou outros. Para aqueles que a têm como língua materna é provavelmente a única coisa que nada nem ninguém lhes pode roubar, mesmo cortando-lhes... a língua.


Com a devida vénia ao Observatório da Língua Portuguesa, reproduz-se aqui um bem humorado mas oportuno e contundente artigo de crítica ao atual estado do ensino da língua portuguesa, a nível do ensino básico e secundário, sob a forma de uma redação de um neto, João Abelhudo, do 8º ano C (Cê... de Carvalho). A autora é a avó Teolinda Gersão, que também é contra o NAO (Novo Acordo Ortográfico). O texto foi originalmente publicado no jornal "Público".


Teolinda Gersão é uma conhecia escritora de língua portuguesa. [Foto à esquerda]:  (i) nasceu em Coimbra; (ii) estudou Germanística e Anglística nas Universidades de Coimbra,Tuebingen e Berlim; (iii) foi leitora de Português na Universidade Técnica de Berlim; (iv) docente na Faculdade de Letras de Lisboa e posteriormente professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, onde ensinou Literatura Alemã e Literatura Comparada até 1995; (v) partir dessa data passou a dedicar-se exclusivamente à literatura;  (vi) além da Alemanha (3 anos), viveu ainda em São Paulo, Brasil (2 anos...reflexos dessa estada surgem em alguns textos de Os Guarda-Chuvas Cintilantes,1984); (vii) conheceu Moçambique, cuja capital, então Lourenço Marques, é o lugar onde decorre o romance A Árvore das Palavras (1997); (ix) foi ainda escritora residente na Universidade de Berkeley (Fevereiro e Março de 2004).

B. Teolinda Gersão faz uma declaração de amor à Língua portuguesa

Tempo de exames no secundário, os meus netos pedem-me ajuda para estudar português. Divertimo-nos imenso, confesso. E eu acabei por escrever a redacção que eles gostariam de escrever. As palavras são minhas, mas as ideias são todas deles.11-06-2012

Redacção – Declaração de Amor à Língua Portuguesa

Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta. Por exemplo, isto: No ano passado, quando se dizia “ele está em casa”, ”em casa” era o complemento circunstancial de lugar. Agora é o predicativo do sujeito.”O Quim está na retrete” : “na retrete” é o predicativo do sujeito, tal e qual como se disséssemos “ela é bonita”. Bonita é uma característica dela, mas “na retrete” é característica dele? Meu Deus, a setôra também acha que não, mas passou a predicativo do sujeito, e agora o Quim que se dane, com a retrete colada ao rabo.


No ano passado havia complementos circunstanciais de tempo, modo, lugar etc., conforme se precisava. Mas agora desapareceram e só há o desgraçado de um “complemento oblíquo”. Julgávamos que era o simplex a funcionar: Pronto, é tudo “complemento oblíquo”, já está. Simples, não é? Mas qual, não há simplex nenhum, o que há é um complicómetro a complicar tudo de uma ponta a outra: há por exemplo verbos transitivos directos e indirectos, ou directos e indirectos ao mesmo tempo, há verbos de estado e verbos de evento, e os verbos de evento podem ser instantâneos ou prolongados, almoçar por exemplo é um verbo de evento prolongado (um bom almoço deve ter aperitivos, vários pratos e muitas sobremesas). E há verbos epistémicos, perceptivos, psicológicos e outros, há o tema e o rema, e deve haver coerência e relevância do tema com o rema; há o determinante e o modificador, o determinante possessivo pode ocorrer no modificador apositivo e as locuções coordenativas podem ocorrer em locuções contínuas correlativas. Estão a ver? E isto é só o princípio. Se eu disser: Algumas árvores secaram, ”algumas” é um quantificativo existencial, e a progressão temática de um texto pode ocorrer pela conversão do rema em tema do enunciado seguinte e assim sucessivamente.
No ano passado se disséssemos “O Zé não foi ao Porto”, era uma frase declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa.

No ano passado, se disséssemos “A rapariga entrou em casa. Abriu a janela”, o sujeito de “abriu a janela” era ela, subentendido. Agora o sujeito é nulo. Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da rapariga? Evaporou-se no espaço?
A professora também anda aflita. Pelo vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português, que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiado parvas. Por exemplo, o que acham de adjectivalização deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer. Dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma tralha, para não dizer outra palavra (a começar por t, com 6 letras e a acabar em “ampa”, isso mesmo, claro.)

Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases cheias deles, excepto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo: haviam duas flores no jardim. Ou: a gente vamos à rua. Puseram-me erros desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e reportagens, ou pedaços de novelas. Estou careca de saber o que é o lead, parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero.

E pronto, que se lixe, acabei a redacção - agora parece que se escreve redação. O meu pai diz que é um disparate, e que o Brasil não tem culpa nenhuma, não nos quer impor a sua norma nem tem sentimentos de superioridade em relação a nós, só porque é grande e nós somos pequenos. A culpa é toda nossa, diz o meu pai, somos muito burros e julgamos que se escrevermos ação e redação nos tornamos logo do tamanho do Brasil, como se nos puséssemos em cima de sapatos altos. Mas, como os sapatos não são nossos nem nos servem, andamos por aí aos trambolhões, a entortar os pés e a manquejar. E é bem feita, para não sermos burros. 

E agora é mesmo o fim. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra me perguntar: Ó João, onde está a tua gramática? Respondo: Está nula e subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito.

João Abelhudo, 8º ano, turma C (c de c…r…o, setôra, sem ofensa para si, que até é simpática).



Teolinda Gersão, junho, 2012
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10074: Em bom português nos entendemos (8): O angolês, termos angolanos que pode dar jeito integrar no nosso léxico (Luís Graça, com bué de jindandu para o Raul Feio e demais kambas kalus)

Guiné 63/74 - P10164: Blogues da nossa blogosfera (52): Estrada fora... de Gama Carvalho, a viver em Braga, e que esteve em Piche e Buruntuma, no BCAV 8323 (1973/74)


Blogue Estrada Fora, de Carlos da Gama. Existe desde abril de 2011. O Carlos da Gama vive em Braga e é um apaixonada autocaravanista. Micha é a sua autocaravana. As "memórias da Micha" já deram cerca de 180 postes. Há também  algumas recordações do tempo da Guiné (1973/74).


1. Mensagem. de ontem, enviada pelo nosso leitor (e camarada) Gama Carvalho:


Boa noite: Já há algum tempo que passo horas a ver o seu magnífico blog - repositório de memórias da Guiné.


Eu sou um ex-combatente. Estive em Buruntuma em 1974 e em Piche em 1973.

Aqui lhe deixo umas crónicas que escrevi no meu blog http://memoriadamicha2011.blogspot.pt e que podem ser pesquisadas no Google.

Estrada fora >  O mais belo nascer do sol
 Estrada fora > Fidelidade canina
 Estrada Fora > No cais de Alcântara

etc...

Abraço
Gama Carvalho

2. Comentário de L.G:

Obrigado, camarada, pelas tuas gentis palavras. Considera o nosso blogue também como teu. Ficas, desde já convidado a integrar a nossa Tabanca Grande, onde cabe toda a malta que passou pela Guiné (1961/74) , dos velhinhos aos piras. Sobre o teu batalhão, temos mais de duas dezenas de referências... Podes trazer a tua Micha, que também há espaço para ela. Sei que gostas de correr mundo... Vou convidar os nossos leitores a visitar o teu blogue. Também temos autocaravanistas entre os mais de 565 camaradas e amigos da Guiné, que leem e fazem este blogue de partilha de memórias e de afetos. Como camaradas que somos, tratamo-nos por tu. Aparece. Vou reproduzir um dos teus postes, o  da partida para a Guiné.  Felizmente partiste e chegaste!!... Um Alfa Bravo (ABraço) do Luís Graça.


3. Estrada fora, de Carlos da Gama > 23 de junho de 2011 > No cais de Alcântara... (Reproduzido com a devida vénia)

Alcântara estava ensolarada naquele longínquo dia 13 de Setembro do ano de 1973.
Lisboa corria apressada pelas ruas e tinha-se enchido de gente da província que viera para uma última despedida dos jovens soldados que, pela tarde, embarcariam no Niassa, rumo à Guiné. 

A grande maioria vinha do Alentejo já que o Batalhão de Cavalaria 8323/73 tinha-se constituído e formado em Estremoz. Apenas uns poucos, como eu, eram do norte do país.
Tudo, para mim, era novidade nos meus vinte anos. Não fazia a mínima ideia que final me estava destinado naquele filme de que era um protagonista forçado. Nenhum familiar eu tinha no cais do desespero e da saudade. Para além da penúria da deslocação a Lisboa, num tempo em que não existiam auto-estradas, eu assim preferi. Já imaginava que a melancolia seria ampliada pelas emoções da despedida para um destino todo feito de incertezas.

Ao meio da tarde, embarquei na companhia dos cerca de 500 homens, de várias toneladas de equipamento e armamento militar e de umas largas dezenas de caixões destinados a dar abrigo aos corpos daqueles que por lá deixassem a vida. 

Quando as amarras libertaram o navio do cais, Lisboa ouviu o rumor crescente do choro da multidão que, numa constante agitação, se despedia com acenos ansiosos, com desejos de boa-sorte, com olhares fixos, com palavras de revolta e de um desespero impotente. Um cenário melodramático que atingia em cheio o coração dos embarcados.

Lembro que me recolhi a um canto do navio, de frente para o cais, assistindo, atónito, àquelas emoções libertadas com intensa comoção. Ao meu lado, vi soldados em pranto convulso enquanto as suas mãos se dirigiam para o local donde partiam lamentos lancinantes e se mostravam lenços brancos agitados com melancólica ternura.  Vi alguns, mais desesperados, a desfalecer, quer devido às fortes emoções, quer ao excesso de álcool de que tinham abusado. Daí o cheiro pestilento dos bafos etílicos misturados com vómitos imundos espalhados pelo chão.

Durante a alongada espera do soltar das amarras, ainda em pleno Tejo, perpassou pela minha alma a proibida letra de uma melodia do cantor de intervenção, Adriano Correia de Oliveira: «Tejo que levas as águas, correndo de par em par, lava a cidade de mágoas, leva as mágoas para o mar!». 

Aquela despedida deixou-me em grande sobressalto e despertou em mim algumas questões para as quais não conseguia encontrar respostas. Sobretudo, a razão porque os homens e mulheres do meu país, apenas ali, no cais de Alcântara, reagiam à dor de ver partir os seus filhos para incertas paragens de sangue, suor e lágrimas.

Mas foi lá longe que, para além da lógica da guerra, lidei com uma realidade económica e social que jamais julguei existir e que me impressionou profundamente. A Guiné era, e continua a ser, um território sem cor, sem alma, sem economia, sem organização social, sem horizontes, sem liberdade, sem vida … sem quase nada! 

Na sua história, teve, apenas, um líder, por quem nutro uma grande admiração, que, um dia, sonhou com a liberdade e ousou lutar por ela: Amílcar Cabral. Não fosse o seu cobarde assassinato perpetrado pela polícia política portuguesa (**), uns meses antes de eu lá chegar, e a Guiné teria podido sonhar com um futuro melhor. Apesar da pobreza!

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10098: Blogues da nossa blogosfera (51): "Uma boa e rápida recuperação Meu Coronel", in Swedish Lapland to Key West (José Belo)


(**) A autoria material e sobretudo moral do assassinato de Amílcar Cabral ainda hoje é e continuará a ser objeto de grande controvérsia. Questão já aqui amplamente debatida no nosso blogue. A nós interessa-nos a busca da verdade histórica. 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Guiné 63/74 – P10163: Convívios (459): Convívio da CART 2771 “Os Duros”, Nova Sintra, 1970/72 (Herlânder Simões)

1. O nosso Camarada Herlander Simões, ex-Fur Mil At Inf (MAI1972 a JAN1974), foi destinado à CCAÇ 16 (sem chegar a ser colocado) e seguindo para a CART 2771 os "Duros" de Nova Sintra. Posteriormente, foi enviado para os "Gringos" de Guileje (CCAÇ 3477 - 1971/73), que inicialmente se encontrava sediada em Nhacra, enviou-nos a seguinte mensagem.

 Convívio da CART 2771 “Os Duros”




Caros Camarigos,



Finalmente, ao fim de tantos anos, consegui encontrar os meus camaradas da CART 2771, com quem tive o privilégio de conviver durante 6 meses. 

Este reencontro posso agradecer ao meu companheiro, o ex-Furriel Miliciano José Manuel Rodrigues Cunha, pois foi ele que me encontrou pela Net e me contactou para o nosso convívio.

Foi com grande emoção que reencontrei os meus camaradas de algumas aventuras pelas bolanhas da Guiné. 

Neste convívio realizado na Mealhada, comemorou-se ainda os 40 anos do regresso dos Duros a Portugal.

Um abraço a todos os Ex combatentes.
Herlander Simões 
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 



Guiné 63/74 - P10162: Cartas do meu avô (13): Décima primeira (Parte I): A toga de juiz que não cheguei a envergar... (J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)


A. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria de J.L. Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66. [, Foto à esquerda, com os netos]. As cartas, num total de 13, foram escritas em Berlim, onde vivem os netos, entre 5 de março e 5 de abril de 2012. (*)

B. DÉCIMA PRIMEIRA CARTA > De Novo Para Lisboa (Parte I)

I - A Frustração do CEJ (Centro de Estudos Judiciários)


A actividade que exercia na Caixa, [como jurista,] era muito específica e rotineira. Por outro lado, não me deixava tempo para exercer a advocacia a sério.

Embora, pelo pouco que fiz, deu para conhecer os meandros negros que a envolvem na prática. Pude verificar e constatar,  com muita surpresa e desconforto, que para se singrar na advocacia,  numa terra pequena como era Aveiro, tinha de se lançar mão de métodos que exigiam o estômago que eu nunca tive.

Era-me muito indigesto ter de comprar por bom preço, se quisesse singrar e não fechar as portas, as boas graças de todo o cortejo de gente que trabalhava atrás dos balcões de serviços públicos, desde as Conservatórias todas, às secções dos tribunais.

Quem lá mandava e geria o curso dos papéis em azul papel selado, salvo raras excepções, eram toda a sorte de escrivães, que ali entravam com a quarta classe ou o 5º ano dos liceus. Vindos do mundo rural.





Cabeçalho do famigerado papel selado, símbolo da burocracia e da arrogância dos burocratas, entretanto extinto em Portugal como forma de cobrança do imposto de selo... Vigorou mais de 3 séculos ... 'Embrulhar alguém em papel selado' era uma expressão, coloquial, corrente, na tropa, no nosso tempo... Era sinónimo de ameaça (por ex,, fazer uma participação)  por parte de um superior hierárquico... (LG)


Ao fim de muitos anos, conheciam melhor que os magistrados toda a ladainha processual naqueles calhamaços que eles manipulavam lambendo os dedos e escozipavam à sovela. Do outro lado, era a exacerbada arrogância flatulenta da maioria dos causídicos da praça. Já muito bem instalados, na terra, com forte raizame subterrâneo que chegava a todo o terreno. Irradiavam uma feroz competição onde eu não podia entrar, nem aceitar. 


O exercício da magistratura judicial era um espaço que, desde miúdo, me seduzia. Conheci figuras de juízes veneráveis lá na terra onde cresci que me fascinaram. Lembro-me do Dr. Maltês, muito bem. Com suas barbas brancas. Eram pessoas finas, impecáveis, respeitadoras e distantes de todas as influências. Pareciam sacerdotes da Justiça. Ora, como advogado que era, eu tinha a hipótese de ir frequentar o curso de formação de magistrados no Centro de Estudos Judiciários, em Lisboa. Era um direito que tinha e que a entidade patronal não podia impedir. Não tinha nada a perder. Podia optar pelo ordenado de um ou do outro lado. Se gostasse ficava. Se não,  voltava ao meu posto de trabalho. A idade que tinha era a adequada. Sentia-me na minha capacidade física máxima para o desafio. Não podia deixar passar o tempo.




Antiga cadeia do Limoeiro, sede do Centro de Estudos Judiciários desde 1979 < Gravagura (aguarelada) do pintor (1858-1947). Cortesia do sítio Rede do Conhecimento da Justiça (LG) 

Entrei no CEJ naquele ano. Como Auditor de Justiça. A maioria eram jovens,  rapazes e raparigas,  saídos das faculdades de direito. Para eles, o CEJ era, sobretudo, uma óptima oportunidade de emprego e de uma boa carreira. Éramos, desde logo considerados da família de magistrados.  Muito bem tratados pelos magistrados instrutores. Saídos da carreira prática. As aulas eram muito intensas. Num curto espaço de tempo, os instruendos revisitavam,  com o seu sentido prático muito apurado, todas as cadeiras de direito processual. Com provas teóricas e práticas. Exigentíssimas. Numa abordagem tão profunda e imediata, que deixava os advogados-alunos, numa grande dificuldade.

Falo por mim. Habituado a dispor de todo o tempo do mundo para analisar os casos práticos e consultar as fontes, via-me grego para corresponder com suficiência. O direito penal estava-me bastante distante do que era necessário. Sentia que, não obstante, meia dúzia de meses depois, se fosse aprovado, eu estaria à frente duma pessoa para a julgar com toda aquela ferramenta penal que eu não dominava. Comecei a sentir-me cada vez mais desconfortado, à medida que o tempo avançava. Cada sentença que eu tinha de elaborar como exercício prático deixava-me muito embaraçado. Era como se fosse a sério. Ter de aplicar uma pena de prisão...nunca imaginei o que sentiria de facto...Passar o resto da minha vida, aí uns dez a doze anos a exercer uma tarefa tão delicada, surgiu-me claramente como manifestamente impossível. Resolvi desistir. Quando fui comunicá-lo ao director do CEJ, Desembargador A. Leandro (**), este ficou desapontado e lamentou, nestes termos que não esqueço:
- Tenho, temos muita pena, pode crer. A toga de juiz assentava-lhe muito bem...tinha e tem o exacto perfil para o cargo.

Foi o melhor prémio que eu queria tanto ouvir. Por mim, estava ganho o desafio que me tinha posto, contra tudo e todos. Sobretudo a família...Regressei a Aveiro. Cá por dentro, como um vencido. Embora tivesse sido muito bem recebido. Percebi-o quando lhes revelei que já tinha decidido ir para o contencioso central. Ficaram visivelmente desapontados, sobretudo o gerente e os que trabalhavam mais próximos comigo. Não esconderam. Tive pena mas já estava comprometido com o director do contencioso. Por isso, mais uma vez tive de vir para Lisboa. (...)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10136: Cartas do meu avô (12): Décima carta: a casa das Quintãs, Aveiro (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

(**) Juiz conselheiro Dr. Armando Acácio Gomes Leandro, diretor do CEJ entre 1990 e 1998...




Guiné 63/74 - P10161: Memória dos lugares (188): Lisboa, Belém, os vivos e os mortos, o passado e o futuro... (Luís Graça)




Lisboa > O Tejo e o Centro Champaliimaud... > 4 de julho de 2012 > O Pedro e a sua família... Um quadro que poderia ter sido pintado por um surrealista, italiano (Giorgio di Chirico) ou português (António Dacosta)... Ou até por um respeitável "velho do Restelo", mais agarrado às âncoras do passado do que capaz de desfraldar as velas loucas do futuro... Afinal, donde vimos, para onde vamos ? Nós, o coletivo a que chamamos Portugal e os portugueses...



Lisboa > 4 de julho de 2'012 > O Pedro e a família, em Belém, junto ao Monumento aos Mortos do Ultramar > Inaugurado em 1994,  o monumento é uma homenagem a todos os soldados que morreram ao serviço de Portugal, entre 1961 e 1975. A parede em redor do monumento (, parede exterior do forte do Bom Sucesso, ) está revestida com mais 180 placas com o nomes gravados dos cerca de 9000 combatentes que a morte ceifou no Ultramar, nessa época (em combate, em acidente, em doença).




Lisboa > 4 de julho de 2012 > A lista infindável de mortos... 1969, 1970, 1971, 1972... Felizmente, não consta lá o nome do avô e pai José Ferreira Carneiro, natural de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canveses, que fez a guerra de Angola, em Camabatela (1969/72)...



Lisboa > Pastéis de Belém  (*) > 4 de julho de 2012 > O Diogo, turista ocasional, fã do Iphone e da playstation,  tripeiro, de 9 noves anos, num dos lugares obrigatórios de Lisboa, para quem vem à capital que já o foi de um vasto império, donde vinham a cana de acúçar e o pau de canela... 


Fotos : © Luís Graça  (2012). Todos os direitos reservados.


1. Há dias passei por Belém, numa visita guiada em que servi de cicerone a um casal de sobrinhos meus, do Porto, e entre outras coisas fui mostrar-lhes o monumento aos mortos do Ultramar (ou aos combatentes ?), que eles pura e simplesmente desconheciam... Lisboa tem muitas coisas para ver, e a descobrir, de preferência  a pé e devagar, em certas horas do dia, em certos dias da semana... mas os cemitérios e os monumentos aos mortos não serão, de certo,  para  os jovens, os lugares que lhes despertarão mais interesse e curiosidade.

Estacionámos por ali perto, junto ao forte do Bom Sucesso (hoje transformado num  ainda obscuro, vazio e triste museu do combatente) com a ideia de ir visitar o Centro de Investigação da Fundação Champalimaud, a doca de Pedrouços, a Torre de Belém, a caminho dos pastéis de Belém que estão para Lisboa e os seus mouros como as francesinhas estão para o Porto e os seus morcões...

O Pedro é um morcão querido, um sobrinho da minha mulher de quem eu gosto muito,  tem hoje trinta e  poucos anos, e fez muitas vezes férias juntamente com os meus filhos em pequeno. É filho do meu cunhado, José Ferreira, que fez a sua comissão de serviço militar (sic), em Angola, em Camabatela, no tempo da guerra do ultramar ou guerra colonial, como quiserem. É além disso um jovem que já sentiu, muito cedo, adolescente, a dor imensa da perda precoce e irreparável de uma mãe, vitimada por doença à época incurável...

O Pedro, que é pescador e músico de jazz, e um qualificado técnico de inspeção de gás do Instituto de Soldadura e Qualidade, na delegação do Porto,  ficou impressionado com a lista infindável de nomes de combatentes que morreram pela Pátria no antigo ultramar português, ou melhor dizendo, na(s) guerra(s) colonial(ais). Eu próprio me virei para o seu filho, de nove anos, e comentei:
- Já viste, Diogo, meu morcão ?!...  Se o nome do teu avô estivesse inscrito nestas paredes, tu nunca terias nascido...

Não sei se o puto, entretido com um dos seus jogos de guerra preferidos, no Iphone, me ouviu e, em caso afirmativo, se entendeu a minha mensagem... Ele (e o pai) pertence a um geração que felizmente não conheceu a guerra, as suas angústias, incertezas e horrores... O Diogo é, além do mais, um filho do séc XXI, da aldeia global, da realidade virtual, do Iphone, do Ipad, do cinema 3D, da playstation, da televisão digital, da Web 2... Pergunto-me como lhes podemos contar, a ele e à sua geração,  a história desta guerra, parte integrante da nossa história pátria... Como sermos suficientemente sábios, assertivos e incisivos, sem cairmos no risco de nos tornarmos patéticos, demagógicos, ridículos ?



Pela minha parte estou seguro - pelo que conheço dele - que o meu cunhado nunca contou ao filho, muito menos ao neto, as suas peripécias lá pelas fazendas do café, no norte de Angola, entre 1969 e 1972 [, foto à direita]... Ele era 1º cabo radiotelegrafista, de rendição individual, não sabe sequer o número da companhia a que esteve adido nem nunca mais encontrou (nem procurou) um camarada de guerra, ou os seus antigos camaradas de guerra... 


Pura e simplesmente ele fechou, como muitos outros de nós,  esse capítulo da sua vida. Restam-lhe as muitas dezenas de cartas e aerogramas que recebia da família, e que ele organizou, meticulosamente, em Camabatela, por data e remetente, e que trouxe consigo, religiosamente, como património valioso.  Restam-lhe ainda uma mão cheia das cartas que ele enviou à mana Chita... e que escaparam aos trambolhões do espaço e do tempo. 


Não tenho netos. Ainda. Mas,  quando (e se) os tiver, prometo trazê-los pela mão, até aqui a Belém, à Torre de Belém e ao Forte do Bom Sucesso, e esperar que me façam perguntas sobre este imenso mural onde estão os nomes dos nossos camaradas mortos... A memória de um povo transmite-se de geração em geração.  De preferência, "en su sitio", e de viva voz, pelos mais velhos, para os mais novos...

L.G. (**)

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Notas do editor:

(*) História do pastel de Belém:

"O sabor da Tradição:

"No início do Século XIX, em Belém, junto ao Mosteiro dos  Jerónimos, laborava uma refinação de cana-de-açúcar associada a  um pequeno local de comércio variado.

"Como consequência da revolução Liberal ocorrida em 1820, são em  1834 encerrados todos os conventos de Portugal, expulsando o  clero e os trabalhadores.  nNuma tentativa de sobrevivência, alguém do Mosteiro põe à venda  nessa loja uns doces pastéis, rapidamente designados por 'Pastéis de Belém'.

"Na época, a zona de Belém era distante da cidade de Lisboa e o  percurso era assegurado por barcos de vapor. No entanto, a  imponência do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém,  atraíam os visitantes que depressa se habituaram a saborear os  deliciosos pastéis originários do Mosteiro.

"Em 1837, inicia-se o fabrico dos 'Pastéis de Belém', em instalações nanexas à refinação, segundo a antiga 'receita secreta', oriunda do  convento. Transmitida e exclusivamente conhecida pelos mestres  pasteleiros que os fabricam artesanalmente, na 'Oficina do
Segredo'. Esta receita mantém-se igual até aos dias de hoje.

"De facto, a única verdadeira fábrica dos 'Pastéis de Belém'  consegue, através de uma criteriosa escolha de ingredientes, proporcionar hoje o paladar da antiga doçaria portuguesa".



Fonte: Pastéis de Belém

(**) Último poste da série > 13 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10149: Memória dos lugares (187): Gabu, ontem e hoje (Tino Neves, ex- 1º cabo escrit, CCS / BCAÇ 2893, 1969/71)

Guiné 63/74 - P10160: FAP (69): Aterragem em grande estilo (António Martins de Matos)

1. Mensagem do nosso camarada António Martins de Matos*, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, actualmente Tenente-General (R), com data de 8 de Julho de 2012:

Caros amigos
Aqui vai uma pequenina história.

Abraços
AMM


Aterragem em grande estilo

A manhã tinha sido calma, apenas uma missão de bombardeamento, 2 bombas de 200 e 4 de 50 quilos algures na Guiné, alguém devia ter ficado com dores de cabeça. Seguiu-se o almoço, já não me lembro onde, se na messe da FAP (comia-se mal), se nos Pára-quedistas, a comida era melhor mas não era a nossa casa, a derradeira solução era no bar dos pilotos, umas francesinhas, duas rodelas de pêssego em calda e uma bica.

Depois do almoço passei a estar de alerta ao DO-27, para alguma eventual evacuação. De referir que à chegada à Guiné tinha zero horas em tais aeronaves ou, por outras palavras, nunca tinha posto o cu em tais máquinas. Que tal situação não tinha sido problema, o Tio Brito tinha-me explicado como aquilo funcionava, não havia TO nem Checklist mas também não era importante, primeiro tinha aprendido a pôr em marcha e descolar, depois a aterrar na pista de Bissau, logo tínhamos ido fazer o circuito operacional, Bula (pista média), Binar (curta) e Biambe (rasca a valer),... já está, em 5 voos tinha passado a operacional de DO-27.

O pedido de evacuação acabou por chegar já ao fim da tarde, através do intercomunicador alguém gritou... “ALERTA AO DO-27”. De imediato fui às Operações, a fim de saber o que me esperava, uma evacuação ( Y) de um militar, em Bissorã, pediam igualmente médico para acompanhar o ferido, em termos práticos significava enfermeira a bordo, já que os médicos... nicles. Os DO-27 vulgarmente conhecidos no meio do pessoal terrestre como as “avionetas”, apesar de parecerem todos iguais não o eram, havia 2 modelos, o A-3 e o A-4, independentemente de outras diferenças que agora não vêm ao caso, o A-4 tinha rodas maiores, travavam melhor mas, por serem mais altos, eram mais instáveis nas aterragens.

Passei junto do pessoal da Linha dos DO-27, lá me indicaram o avião de alerta, um A-4. Com a chegada da enfermeira à placa logo partimos para Bissorã, igualmente acompanhados de mecânico, não era necessário mas neste voos curtos eles gostavam de voar connosco e sempre davam uma ajuda, nomeadamente na manipulação das macas.

O António Martins de Matos, então jovem Tenente Pilav (BA12, Bissalanca, 1972/74), junto a um DO 27. 

Foto do blogue do nosso camarada Victor Barata, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74. Com a devida vénia.


Voo sem história, 15 minutos depois estava aterrado na pista do quartel. Trouxeram o ferido, um jovem soldado acidentado, uma das pernas apresentava uma fractura exposta digna de realce. Lá o pusemos na maca e posteriormente na aeronave, com todos os cuidados já que o rapazito gritava que se fartava. Voo de regresso foi igualmente sem história, a enfermeira vinha lá atrás junto ao paciente, devia ter-lhe dado algo para as dores que o evacuado vinha calado, o cabo mecânico ao meu lado a admirar este piloto bem esgalhado.

À chegada a Bissau e a pensar na fractura exposta do doente disse para o cabo: “Vais ver como aterram os pilotos dos jactos, isto vai ser com a maior suavidade, tipo ziiiiiip, nem vais dar por tocar no asfalto,... vais ter que ligar prá Torre a pedir confirmação que aterrámos”. Apontei à pista e tudo correu bem até ao momento de fazer o tal ZIP, só que.... esqueci-me que este DO-27 tinha rodas maiores, dei uma trancada na pista, a que se seguiu outra, e outra,... a pior aterragem da minha vida.

Logo naquele avião se formou um coro a três vozes, o doente lá atrás aos gritos, a enfermeira calada mas com ar assustado, o mecânico a amaldiçoar a hora em que tinha solicitado a boleia e o piloto a rir da situação caricata a que tínhamos chegado. “Ao doente de Bissorã, estimo as melhoras da perna e desculpa lá o mau jeito”.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9991: (Ex)citações (183): Comparandos os dois G, Guidaje e Guileje... (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

Vd. último poste da série de 15 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9906: FAP (68): O Óscar e os meus relógios (Miguel Pessoa)

Guiné 63/74 - P10159: Parabéns a você (450): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf.º da CART 3492/BART 3873 e José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op. Cripto da CCAÇ 19

Para aceder aos postes dos nossos camaradas Álvaro Basto e José Manuel Pechorro, clicar nos seus nomes
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10147: Parabéns a você (446): António Tavares, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912 e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 2658/BCAÇ 2905

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10158: (Ex)citações (189): Chamem-lhe destino, providência, desígnio ou simplesmente sorte... mas a verdade é que eu estive para me sentar duas vezes no lugar do morto (Jorge Narciso, ex-1º cabo espec MMA, Bissalanca, BA 12, 1969/70)


1. Comentário, com data de hoje, de Jorge Narciso [, foto acima, do próprio,] ao poste P10144 (*):

Luís:

Antes de mais agradecer-te as muito gentis palavras que me diriges, especialmente no realce da homenagem prestada aqueles nossos camaradas.

Relativamente ao teu ultimo comentário, é correto que no heli canhão existiam dois únicos lugares (sentados), o do Piloto e,  na sua retaguarda e virado lateralmente para o exterior,  o do apontador que manobrava o canhão colocado entre as suas pernas. 

No entanto e como relatei no Post 5756, uns meses após este acidente acabei mesmo por fazer um curto voo num canhão, de pé por detrás do apontador, entre o corredor de Guileje e Aldeia Formosa, quando da captura do Cap Peralta (cubano).

Mas,  no caso ora tratado, o que estava efetivamente combinado e autorizado,  era que eu no regresso da operação ocupasse o "lugar" do Machadinho, trocando ele para o heli onde afinal acabei eu por voar. 

Mas este não foi caso único no que me diz respeito.

Durante o meu periodo de Guiné, registaram-se dois únicos acidentes aéreos mortais e ambos com helis. 

Pouco mais de um ano após este (em 25 de julho de 70) aconteceu o que,  no Rio Mansoa, vitimou o Alf Manso (Piloto), 4 deputados em visita à Guiné e um capitão do Exército, salvo erro chamado Carvalho.

Sobre o mesmo escrevi em comentário ao Post 5176 o seguinte: 

(...) Porque estava escalado para esse voo, tendo inclusive estado pronto a partir, no helicóptero acidentado (já com os rotores a funcionar e portas fechadas), só não seguindo porque chegou entretanto à placa o malogrado Capitão do Exército para integrar a visita e que face à lotação completa que se registava nos helis, tomou o meu lugar por determinação do comandante de Esquadra, seguindo a missão com o suporte técnico do Mecânico Electricista ( Jorge Caiano) já antes sediado no Heli 1 (...).

Assim, como lhe queiramos chamar: destino, providência, desígnio, ou meramente sorte, se a chuva de Galomaro e aquela tardia chegada do malogrado Cap Carvalho não tivessem no primeiro caso evitado que tomasse um lugar e no segundo me retirado doutro, ambos com caminho sem retorno,  o facto é que a transmissão destas emoções teria, hoje, seguramente outro relator.

Quanto ao comentário do leitor S. Nogueira, que agradeço, só através dele tomei conhecimento do testemunho do Dâmaso [Post P4742], com quem, aliás, numa recente iniciativa do Blogue da BA12 [, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74,],  almocei lado a lado, sem que tivessemos abordado o tema do acidente, desconhecedores que ambos o tinhamos presenciado. (**)

Com um abraço

Jorge Narciso
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Notas do editor:

(*) 12 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10144: In Memoriam (121): António Machado, 1.º Cabo Especialista MARME, e António Rodrigues, Capitão Pilav, que pereceram num acidente de helicóptero no dia 12 de Julho de 1969, em Bafatá (Jorge Narciso)

Guiné 63/74 - P10157: Notas de leitura (381): O Meu Diário, Guiné - 1964/1966, CCAÇ 674, de Inácio Maria Góis (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 30 de Maio de 2012:

Queridos amigos,
Chegamos ao fim deste diário singularíssimo do soldado Góis.
Nada conheço que se aproxime desta intimidade desvelada, deste afã em passar ao papel operações, patrulhamentos, os desastres de guerra, a apresentação dos atores, o gosto de contar histórias, os queixumes no tratamento díspar entre as praças e os oficiais e sargentos.
Estas 400 páginas mereciam ser reapreciadas pelo que valem e não tenho pejo em considerá-las um documento único, o olhar de um operário que se fez soldado e que decidiu anotar com impressionante minúcia a vida daquela companhia sediada em Fajonquito.
Que grande surpresa poder juntar o diário do soldado Góis como um acontecimento para a literatura da guerra!

Um abraço do
Mário


O diário do soldado Inácio Maria Góis (3)

Beja Santos

O segundo ano da comissão da CCAÇ 674, de acordo com o diário do soldado Góis, foi mais movimentado na atividade operacional, mais doloroso pelos sacrifícios, pela perda de vidas e número de feridos. O soldado Góis pode andar desalentado mas em caso algum abandona este relato único na literatura da guerra de África. Logo em 26 de Junho a Companhia parte para Sarinhaco(1) (entre Fajonquito e Farim) havia notícias de uma presença regular de guerrilheiros na área. Neste tempo ainda se combate com capacete. O pelotão de milícias comandando pelo alferes Galã vai à frente. Estamos em plena época das chuvas. Ao amanhecer, avistam tabancas junto a um vale, entram cautelosamente e dão com dois homens já em idade avançada. Queimam-se as tabancas, um dos anciãos é baleado à queima-roupa e quando a força se embrenha na mata começa uma emboscada, as consequências foram um milícia ferido. Na retirada veio a aviação e bombardearam toda a zona da emboscada. Encaminham-se para Sárdico aonde vai aparecer o Comandante de Bafatá que insistia que regressassem à frente de combate mas o Comandante de Companhia considerou que estavam completamente exaustos.

Toda esta intensidade operacional aparece entremeada por colunas de abastecimento a Bafatá, pernoitas em Cambajú, há guerrilheiros capturados que virão a ser fuzilados, o diarista descreve os vencimentos de todos os membros da CCAÇ 674, depois segue-se para uma operação ao Oio, onde se capturam civis: “Capturámos 1 homem, 2 mulheres e 3 crianças, os outros conseguiram fugir, conseguimos também capturar 3 ovelhas e 75 vacas, que foram entregues aos soldados da milícia, que as fizeram chegar a Fajonquito. Os prisioneiros foram levados pelos soldados da milícia, as crianças, as mulheres e o homem não foram mal tratados. Andámos mais uns 200 metros e surgiu uma nova bolanha, alguns camaradas tinham bastante sede e começaram a beber a água, apesar desta se encontrar muito turva”.

O diarista está firme no seu posto, escreve logo a seguir: “Tento escrever os dias mais tristes e mais amargos da minha vida, assim como os dos meus camaradas. Estes factos são os reais e verídicos, são escritos na frente de combate, os meus camaradas podem confirmar, mesmo havendo quem não dê grande importância ao que eu vou escrevendo no teatro de guerra”. É uma retirada esgotante, não faltam pormenores. Os patrulhamentos são insistentes, a escrita não desfalece, tem interrupções quando o diarista é atacado pelo paludismo. Todos os seus amigos são mencionados, são um exemplo da sua página de 6 de Setembro: “Quando escrevo estas tristes e amargas palavras, tento escrever para comigo e ao mesmo tempo narrando o sofrimento do meu amigo Vítor João Caniço, natural de Santo Estevão, Ribatejo. Pertence à CCAÇ 727 (…) Dia 24 de Junho de 1965, quinta-feira, próximo de Canquelifá, onde se encontrava acantonado o pelotão do meu amigo Caniço, os guerrilheiros pela calada da noite aproximaram-se do aquartelamento e lançaram diversas granadas de morteiro e dezenas de rajadas de metralhadora, surpreendendo os soldados que não tiveram outra alternativa senão abandonar o pequeno aquartelamento e foram para a mata para tentarem salvar as próprias vidas. Neste ataque morreram 3 soldados, o meu amigo Caniço sobreviveu mas deixou a sua arma que os guerrilheiros levaram e agora tem um auto levantado”.

Nova operação em Sarinháco(1), foram emboscados. Andam perdidos pela mata e depois de muito sobressalto chegam a Sárdico(2). A partir de Outubro toda a prosa é um espelho de sofrimento, abundam as imprecações, as operações e os patrulhamentos não abrandam. Em 11 de outubro fala nos últimos 7 meses de sofrimento que ainda tem pela frente, isto durante um patrulhamento a Sitató. Acantonam regularmente em Cambaju, aí o soldado Góis esmera-se na cozinha e diz com orgulho: “Comemos todos do mesmo caldeiro enquanto em Fajonquito há duas cozinhas, uma para os soldados e outra para os oficiais, sargentos e furriéis”. É em Cambaju que o diarista se apercebe do drama das populações sujeitas a duplo controlo e escreve: “Os guerrilheiros nem os próprios irmãos de cor respeitam, cada vez há mais ódio e vingança”. Comove-se com o drama das crianças, muitas delas perderam já os seus pais. E começa um registo intenso de rebentamento de minas antipessoais e anticarro. De Cambaju vai pernoitar a outra tabanca, Alicunda. E passa o dia de Natal em Cambaju. A passagem de ano é um delírio, emborcaram champanhe, vinho do Porto e uísque, a bazuca e algumas granadas de mão deram sinal de festa, a população de Cambaju estava arrelampada com tanta gritaria e gente bêbeda.

Regressam a Fajonquito e ele escreve a 2 de janeiro: “Sou o único militar que me considero repórter de guerra, sou o único que vou escrevendo o que se vai passando na companhia” e uma semana depois nova operação no Oio, vão para Sarinháco(1), vai ter lugar uma emboscada fatal: “Chegámos a Sárdico(2), são 17:45. Ao aproximar-me das viaturas encontrei um camarada encostada à mesma e eu toquei-lhe pensando que ele estava ferido mas verifiquei que já estava morto; tinha partes do corpo completamente abertas e estava crivado por dezenas de balas. Subi para cima da viatura que sofreu a emboscada, nunca tinha presenciado um cenário tão horrível. Vi 9 camaradas mortos, em cima uns dos outros, estendidos sobre o solo da viatura. Vi um camarada que se encontrava sentado no banco da viatura mas já não tinha cabeça, a mesma encontrava-se junto aos seus pés. Muitos dos meus camaradas não conseguiram resistir a tudo isto, cada um chorava pelo seu canto. Os nossos camaradas não tiveram a felicidade para pedir a Deus para os salvar e dizerem adeus aos seus familiares. Os meus olhos viram e ficaram cheios de tanta mágoa e de uma tristeza profunda”.

É um dos trechos mais patéticos que saíram do punho do soldado Góis, ele não se poupa a descrever a colocação dos corpos dentro das urnas e a sua deposição no cemitério de Bafatá. E volta a pernoitar em Cambaju e Alicunda. Em Fajonquito é colocado de faxina à cozinha e explica a sua missão: “Carregar água que temos de tirar de um poço que fica a pouco mais de 30 metros da cozinha, temos também que carregar lenha, descascar batatas, louça não há para lavar porque cada um de nós, soldados, come na sua própria marmita, umas vezes ao sol outras à chuva". Em 1 de fevereiro regista: “Os últimos 60 dias que nos faltam para deixarmos a frente de combate”. Num desastre morre o soldado José Rodrigues Vicente Murracão, será sepultado no cemitério de Bafatá em 2 de fevereiro: “Estes são os factos verídicos desta guerra que vai continuando e ao mesmo tempo ceifando a vida a dezenas e dezenas de soldados, dia após dia, durante anos e anos, mas esta guerra um dia terá fim, tenho esse pressentimento para comigo”.

Temos depois o rebentamento de uma mina anticarro acionada entre Cambaju e Fajonquito, morre Aires de Jesus Ferreira, natural de Sargaçal dos Vinagres, Pombal, virá falecer perto das 8 da noite, a notícia amarfanhou toda a gente: “Eu acompanhei todo este inferno de sofrimento e por algumas vezes não consegui deter as lágrimas. O meu camarada Pombal lutou contra a morte durante mais de 3 horas, se o helicóptero tivesse vindo quem sabe se a sua vida teria sido salva?”. Haverá registo de mais mortos, sinistros com armas que se disparam durante a limpeza, pernoitas em Sómundo, chega a notícia que morrera o camarada Silva que tinha ido para os Comandos e no fim de março saem de Fajonquito, todo o mês de abril será passado em missões em Bissau, no fim de abril partem para Lisboa.

É um documento único, lê-se com comoção tudo quanto escreve o repórter Góis, apetece escrever para Porto Covo e pedir-lhe que reveja este exercício extraordinário de registo, valeria a pena pensar numa edição que garantisse ampla divulgação nacional das memórias do soldado Góis.

Nota do editor baseada na informação de Cherno Baldé:
(1) - Sare-Nhaco
E por analogia:
(2) - Sare-Dicó
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10148: Notas de leitura (380): O Meu Diário, Guiné - 1964/1966, CCAÇ 674, de Inácio Maria Góis (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10156: Tabanca Grande (350): Bernardino Cardoso, ex-fur mil, Pel Rec Panhard 2024 (Bula, jan 1968/dez 1969), grã-tabanqueiro nº 567

1. Mensagem do Bernardino Cardoso, deixada em 9 do corrente, na página do Facebook da Tabanca Grande.

Será privilégio meu pertencer à Tabanca Grande. Não fazia a menor ideia que havia um blogue [, Luís Graça & Camaradas da Guiné,] ou mesmo uma página no Facebook [, Tabanca Grande Luís Graça,] apenas relacionada com a Guiné. 

Passo a apresentar-me.

Em 14/1/68 cheguei a Bissau a bordo do Quanza. Como bom periquito que era, saltei do navio para cima duma GMC que nos levou a passar pelos Adidos onde nos deram uma ração de combate.

Como estava cheio de sede por causa do novo clima, bebi a primeira e única Coca-Cola. Esta era genuína. Voltei a saltar para a GMC e os soldados da escolta aconselharam-me a tirar as divisas porque íamos viajar até Bula, mais ou menos 30 km e depois do Rio as coisas podiam ser feias.


Estão a ver como se encorajam os piras, não é verdade? Atravessámos o rio [ Mansoa,] na jangada em João Landim [, foto à esquerda, de Virgínio Briote,] e lá seguimos até Bula.


De Bissau,  nem o cheiro. Se eu não fosse pira, sabia muito bem que se as coisas fossem assim ruins, toda a gente teria levado uma G3 nas unhas. Na verdade o território ali era já de guerra plena mas não era caso para tanto. A escolta era suficiente para para tomar conta do caso.


Era um novo PEL REC de Cavalaria, o 2024 que ia operar as Panhards que aí estavam estacionadas. Mas era um pelotão especial pois levava 30 Soldados atiradores, 2 cabos mecânicos do quadro, 12 Furrieis de Rec, 1 Fur rádio montador, 2 Sargentos, e 2 Tenentes do quadro. Isto porque tinha em vista a formação dum Esquadrão de Rec Cav, como veio a acontecer (, o EREC 2454, ) comandado pelo, na altura, Capitão Manuel Monge, homem de grande carácter e elevação.


Durante a comissão fiz serviços em Bula, Teixeira Pinto, Pelundo e Có para além de imensas viagens, como seria de esperar, para um pelotão que escoltava colunas de todo o tipo.


Saudações combatentes.


Bula, Jan68 / Dez69, Bernardino Cardoso,
ex-fur mil rec cav


2. Comentário do editor L.G.:

Sê bem vindo, camarada! Passas a ser o grã-tabanqueiro nº 567!

De acordo com os ainda escassos dados que possuímos sobre este  novo grã-tabanqueiro, sabemos que o Bernardino Cardoso - vd. a respetiva página no Facebook -, nasceu em 1 de fevereiro de 1945, andou no Colégio João de Deus, no Porto, entre 1961 e 1963, e trabalhou como inspetor no Círculo de Leitores.

De qualquer modo, temos muito gosto em aceitá-lo na nossa Tabanca Grande e assentá-lo no bentém, sob o nosso mítico poilão, à sombra do qual convivem, há mais de oito anos, mais de meio milhar de camaradas (e amigos) da Guiné.

Bernardino: para completar o teu pedido (formal) de adesão à Tabanca Grande, gostaríamos que  nos mandasse uma foto (ou mais) digitalizada do seu tempo de Bula, e que nos contasses mais alguma coisa sobre as andanças do seu Pel Rec 2024. Também era conveniente termos o teu endereço de email, para troca de mensagens (a nível interno). Todos os elementos informativos sobre o nosso blogue, estão afixados na coluna do lado esquerdo, incluindo o nosso endereço e os contactos dos nossos editores.


Segundo informação do nosso colaborador permanente José Martins, o Pel Rec 2024 [, imagem á esquerda do respetivo crachá, cortesia do sítio Ultramar Terraweb], foi mobilizado pelo RC 7, Lisboa, e esteve no TO da Guiné entre  Jan 68 e Nov 69, sendo depois  integrado no ERec 2454.

Ainda recentemente, e segundo imformação constante no síto Ultramara Terraweb, realizou-se em 12 de maio de 2012, em Algeruz, Palmela, no Clube Golfe do Montado, o almoço de confraternização dos camaradas de cavalaria que passaram por Bula (1968/71), a saber, o Esquadrão de Reconhecimento AML 2454, o Pelotão de Reconhecimento AML 2024 e o Esquadrão de Reconhecimento 2641 (1.ª fase)... A organização do evento esteve a cargo de Custódio Morais e Vânia Morais Contactos: tefef 265 718 651 / telem 936 924 944).
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10151: Tabanca Grande (349): Abel Moreira dos Santos, ex-Soldado Atirador da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69)

domingo, 15 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10155: Agenda Cultural (211): "Contos Populares de Angola", de M. Margarida Pereira-Müller, dia 17 de Julho de 2012 no Auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, Lumiar

1. Mensagem chegada ao nosso Blogue dando conta do lançamento do livro "Contos Populares de Angola", de M. Margarida Pereira-Müller:

Convite

Gostaria de contar com a vossa presença no lançamento do livro CONTOS POPULARES DE ANGOLA, de M. Margarida Pereira-Müller, publicado na Feitoria dos Livros, no próximo dia 17, às 18h30, na Biblioteca de Telheiras em Lisboa (convite em anexo). 

Com os melhores cumprimentos 
Maria Lídia


C O N V I T E


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10121: Agenda Cultural (210): “Não sabes com vais morrer” um livro do nosso Camarada Jaime de Jesus Froufe Andrade – Moçambique -, 1968-70 (José Martins)

Guiné 63/74 - P10154: (Ex)citações (188): Os Joões Mecânicos, nós, os outros... (Carvalho de Mampatá)


1. Comentário do Carvalho de Mamapatá ao poste P10146 [, o António Carvalho, discreto, afável, mas sempre oportuno e incisivo, é um comentarista habitual do nosso blogue, além de um mui querido camarada e amigo gondomarense]:

 Caro Cherno:

Gosto do teu discurso, da sabedoria e afeto que nos transmites.

São palavras de uma grande limpidez, despidas de preconceito ideológico e sem espírito catequético.

É claro que resultam de um espírito muito fraterno, de alguém que perdoou os ferimentos da alma.

Houve, como bem sabemos, muitos Joões Mecânicos mas também, por parte de muitos de nós, atitudes racistas e explosões de ódio, como se as crianças tivessem alguma culpa...

A história, enquanto retrato real do passado, há-de conter toda a verdade.

Lembro-me da minha convivialidade com os civis de Mampatá e de como essa comunhão adoçava o tormento da guerra.

Era como se quisesse construir ali um mundo irreal que me desse a fugaz ilusão de uma terra normal para se viver

... mas de vez em quando era acordado para a triste realidade: o heli que passava, os rebentamentos mais longe ou mais perto, as notícias de feridos ou mortos...

O sentimento nostálgico que nos assola, não é a evocação da juventude perdida mas sim um regresso aos nossos mortos e a toda a envolvência geográfica e social de uma guerra evitável.

Um abração para ti Cherno e para todos os tabanqueiros.

Carvalho de Mampatá
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de junho de 2012 >Guiné 63/74 - P10056: (Ex)citações (187): A secção de funerais, 1ª Rep / 2ª Fun QG/CTIG do meu tempo (Francisco Jorge de Pinho)