quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19535: Historiografia da presença portuguesa em África (152): Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Junho de 2018:

Queridos amigos,

Não hesito em classificar o relatório do Dr. Damasceno Isaac da Costa como de leitura obrigatória para quem pretenda saber qual o estado da Guiné e como se processava a presença portuguesa nos primeiros anos da autónoma Província da Guiné. Há pontos do maior interesse no seu documento: veja-se o que escreve sobre o Geba e a referência que faz ao ponto extremo da nossa presença, Bafatá. Referirá nas considerações finais que espera que as negociações luso-francesas não nos retirem a influência secular nos territórios do Casamansa e do rio Nuno, este médico ainda vivia numa mítica Senegâmbia Portuguesa.

Um abraço do
Mário


Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (4)

Beja Santos

Este relatório consta dos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa e foi oferecido pelo seu filho Pedro Isaac da Costa ao antigo administrador de Bissau, António Pereira Cardoso, autor de um conjunto apreciável de documentos, muitos deles de leitura indispensável para conhecer a vida administrativa da Guiné, sobretudo entre as décadas de 1930 e 1950.

Este relatório, como se verifica pelo seu fecho, foi copiado pelo filho do autor. E diz-se que é de estranhar que tendo sido escrito em 1884 se refere a factos de 1888.

Chamou-se a atenção para o acervo de olhares sobre a fortaleza de S. José de Bissau, a vila, o Geba e a vila do mesmo nome, tudo meticulosamente comentado. Chega agora a vez do médico se debruçar sobre higiene e salubridade.

Começa pela sanidade marítima, dizendo o seguinte:

“Durante o ano, quando se vê no mapa do movimento marítimo, demandaram o porto doze navios de vela de longo curso, 25 a vapor e 244 de capotagem. Aqueles foram regular e pontualmente por mim visitados, sendo os últimos pela Alfândega, por o porto de procedência estar limpo. Foram submetidas a cinco dias de observação uma chalupa procedente da Goreia, um brigue americano e uma lancha procedentes de Carabane, visto serem considerados suspeitos de Colera morbus os portos do Senegal. Em nenhum destes navios se manifestou moléstia alguma.

O ilhéu de Bandim, ou de Bourbon, como o denominam os franceses, é o que até aqui tem servido para se proceder às quarentenas de observação. O ilhéu tem pouca extensão e é habitado unicamente pelos pássaros e pelos répteis. No preamar um extenso banco que se descobre torna fácil a passagem para a aldeia de Bandim onde residem o régulo e os principais balobeiros e se refugiam os criminosos para se livrarem das perseguições da Justiça”.

Após estes considerandos, desvia a sua atenção para a higiene pública, sem contemplações nem rendilhados:

“A vida de Bissau está cercada de pântano. Ao sul, a vila é limitada pela praia que na baixa-mar se descobre numa grande extensão e deixa exalar um cheiro infecto devido à decomposição e putrefação de limos, plantas, animais, lixo e várias imundícies intimamente misturadas com a lama.
Vários produtos, tais como o couro, borracha, amêndoa de palma, armazenados nas próprias habitações dos negociantes, exalam um cheiro infecto. Os poços e nascentes que existem na povoação contêm águas estagnadas, as quais repetidas vezes são utilizadas pelos habitantes da vila para usos culinários, devido ao desleixo das autoridades competentes. Finalmente, encontra-se por toda a parte, tanto intra como extramuros, depósitos de lixo. 

Tais são, em resumo, as poderosas causas geradoras de tantas e tão variadas moléstias que se manifestam na vila. A influência desses poderosos factores, auxiliado pelo clima, é assaz sensível aos recém-chegados. Os tripulantes dos navios de longo curso que demandam o porto de Bissau é raro que durante a sua permanência de 15 a 20 dias fiquem incólumes da perniciosa influência das emanações do porto, pois apesar de cheios de vida e rubor nas faces, apresentam-se profundamente anémicos, sendo preciso, quase sempre, baixarem ao hospital. É o que repetidas vezes tenho observado desde 1879”.

Seguidamente, os seus comentários direcionam-se para fábricas e depósitos de substâncias alteradas, nos seguintes termos:

“Há duas fábricas para clarificar a cera situadas nos extremos da vila, as quais amiudadas vezes foram por mim visitadas. Uma dessas fábricas, na data em que escrevo o presente relatório, foi removida para outro ponto afastado.

O comércio da ilha consiste principalmente na cera, couro, amêndoa de palma, arroz, borracha, etc. Estes produtos são acondicionados pelos seus proprietários em quartos contíguos ou nos armazéns sitos no pavimento inferior das habitações. O couro, a borracha e a amêndoa de palma, algum tempo depois de armazenados, exalam um cheiro nauseabundo. Se a pólvora é removida para o paiol da fortaleza para evitar a explosão e os desastres que ela pode causar, por que razão não se pratica o mesmo com os produtos acima apontados, especialmente com os couros e borracha, que pelas suas exalações produzem constantes explosões perniciosas sobre a salubridade dos habitantes da vila?”.

Os próximos comentários vão incidir sobre o mercado e o açougue:

“Há dois lugares onde se notam quotidianamente ajuntamentos do povo com variados produtos à venda a que se dá a denominação de mercado ou feira.

Um destes mercados é destinado exclusivamente aos Bijagós e tem lugar ao Norte e o outro aos Papéis, a Sul e extramuros. Nestes dois mercados permuta-se o arroz, feijão, carne de porco ou de vaca, leite, galinhas, lenha, mandioca, milho, batata e vários outros produtos cuja aparição na feira está dependente da estação apropriada. Não havendo vigilância alguma sobre a higiene destes dois lugares, apresentam-se eles frequentes vezes imundos.

Quanto ao açougue, para o consumo público foram abatidos durante o ano 118 cabeças de gado vacum e 404 de suínos, não tendo sido nenhuma inutilizada por serem de boa qualidade mas a Câmara Municipal não possui casa para este fim e permite que em qualquer porta ou rua se exponha a carne à venda. Urge, pois, que se proceda à construção de uma casa destinada a açougue”.

Não menos importante é o que o Dr. Damasceno Isaac da Costa nos diz sobre as habitações:

“Na vila, as casas correm de norte a sul e são todas cobertas de telha de barro; na maioria térreas, há algumas assobradadas; os pavimentos inferiores destas últimas servem ordinariamente para armazenar couros, arroz, amêndoa de palma, amendoim e outros produtos, cujas exalações são altamente nocivas à salubridade pública. À excepção de algumas, na maioria as casas são mal divididas e ventiladas, húmidas e algumas vezes até imundas por servirem de pocilgas aos porcos e outros animais domésticos que vivem com confraternidade com os racionais.

Ruas propriamente não existem, à excepção da central denominada S. José; as que porém têm tais denominações não passam de becos.

As cubatas dos grumetes que vivem extramuros são todas construídas de taipa e cobertas de colmo e conquanto algumas são espaçosas não possuem se não duas portas sem nenhuma outra abertura para a entrada de luz e ventilação. O colmo, porém, cobre mal algumas destas casas ao que dá lugar a que os abrasadores raios de sol tropical penetrem nelas e as iluminem. Em torno destas habitações existem grandes depósitos de lixo e imundícies. As cubatas dos Papéis que servem na ilha são arredondadas; as suas paredes construídas de taipa têm a altura de 1,5 metros e o tecto é composto de paus de mangue e a coberta de colmo é piramidal, cuja base repousando sob as paredes fica o vértice olhando para o céu.

A capacidade da cubata assim construída pode ser calculada em 4 metros de diâmetro; é dividida em 4 a 5 compartimentos para a residência de 8 a 10 pessoas.

A reunião destas cubatas constitui o que no país se denomina morança.”

Como se vê, é bem estimulante a leitura deste relatório. Vão seguir-se outros aspetos bem impressivos como a alimentação, a limpeza das ruas e dos cemitérios, o estado dos hospitais e apresenta-se mesmo uma relação das plantas medicinais. E pede-se ao leitor que esteja atento às considerações gerais por ele tecidas.

(Continua)


Aguarela de Edgar Silva, datada de 1994, a sede do BNU na Rua Augusta
Por amável deferência do Arquivo Histórico do BNU.


Homenagem em casa do Dr. Vieira Machado pelos corpos diretivos do BNU, 1972
Imagem cedida pelo Arquivo Histórico do BNU, agradece-se a deferência. 

Francisco Vieira Machado foi figura determinante do BNU mas foi igualmente um esteio da política colonial.

Em 1934, então Subsecretário de Estado das Colónias, ao prefaciar o catálogo da 1.ª Exposição Colonial Portuguesa, não se escusou a um claro ponto de vista ideológico:

“Há através da História de Portugal uma Ideia, ou antes, um Ideal, que decerto enraíza na própria essência da alma e no carácter dos portugueses, tal é o vigor com que se formou a persistência com que renasce: o Ideal da formação dos Impérios.

Esboçado e vago na organização do Infante, mais preciso sob a ambiciosa vontade de D. João II, ganha a primeira expressão real e perfeitamente enformada com Afonso de Albuquerque. E o primeiro esforço imperial da parte portuguesa despende-se no sonho de formação de um grande Império Asiático com guardas vigilantes em Aden, Ormuz e Malaca.

Desfeito com a morte do grande político e guerreiro, o plano tão audaz e inteligentemente iniciado, logo outro grande português – e esse tão desconhecido, tão caluniado, tão incompreendido por mais de três séculos de História, D. João III ! – nos lança para a formação do Império Sul-Africano. E o novo sonho, do novo rumo que o Ideal português procura, nasce esse portentoso Brasil, descoberto, colonizado, povoado e engrandecido por gente portuguesa.

Num vale escuso da História, invadidos nas organizações políticas e nas almas, pelas ideologias de 1789, aleados do sentido da nossa grandeza e da nossa missão pelo falso esplendor de novas ideias, perdemos o Brasil e o rumo imperial da nossa nação nas Colónias.

Passam-se longas dezenas de anos – quase um século.

Uma geração de escola, que em si guardava as mais ricas virtudes de Portugal, levanta de novo a ideia colonial, lança-se para África, ocupação pacífica, e refaz e fixa as novas fronteiras imperiais.
Depois deles outros seguiram o seu esforço heróico.

E novamente o sonho do Império – desta vez o Império africano – ganha forma e encontra o velho Ideal português.

Estamos novamente no caminho do Império”.
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19511: Historiografia da presença portuguesa em África (150): Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19534: Parabéns a você (1581): Luís R. Moreira, ex-Alf Mil Sapador do BART 2917 e BENG 447 (Guiné, 1970/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19531: Parabéns a você (1580): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista MMA da FAP (1979/82)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19533: Memórias de Gabú (José Saúde) (78): O paludismo. (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem. 

Falemos de uma doença conhecida pelos camaradas

O paludismo

Neste incessante vaguear por caminhos já estreitos que a mente, por enquanto, vai sendo benévola para que possamos escalpelizar a nossa passagem pela Guiné, acontece, agora, falar sobre o paludismo. Um tema que, aliás, nos foi comum.

O paludismo é tão-somente uma doença provocada ao ser humano através de picadelas de uma determinada variedade de mosquitos que por terras guineenses eram “mato”. Julgo que numa triagem que porventura ousemos efetuar ao enormíssimo contingente militar que pisou aquele solo, raro terá sido o camarada que não conheceu a enfadada moléstia, ou porque o paludismo lhes fustigou o físico, ou porque camaradas que viviam por perto terão sido atacados com tal malazenga.

A doença, em si, é também conhecida como malária. As causas que o paludismo provoca interferem com febres altas, dores de cabeça, vómitos, fraqueza muscular, tosse, problemas renais e hepáticos, alteração do sistema nervoso central de entre outros problemas, assim como a implícita chancela de gravidade que pode levar à morte.

As estatísticas são explícitas quando referem que milhares de pessoas morrem por ano tendo como causa principal o paludismo. Aliás, acrescesse que a maioria das mortes ocorridas são de crianças que vivem no continente africano.

Mas será que existem mecanismos para abreviar a propagação da doença? Claro que os há! Basta, por exemplo, tratar a água estancada em pântanos que se constituem como os locais ideais para o seu habitat natural e onde estes insetos proliferam.

Sabe-se, por outro lado, que existem vacinas que visam prevenção no desenvolvimento do mal. Não sendo especialista na matéria, isto é, sou leigo, e humildemente confesso, diz-se que uma vacina considerada capital para o aniquilar o paludismo estará ainda por descobrir. Por conseguinte, a definitiva cura para a maleita persiste.

A cédula pessoal deste velho combatente regista dois casos de paludismo: o primeiro contraído em Gabu; o segundo em Beja em finais de 1970. Este último foi-me diagnosticado por um médico amigo que me visitou quando me encontrava acamado no leito da minha cama e logo me pôs ao corrente do meu estado de saúde.

Neste contexto, sinto-me minimamente à-vontade para debitar narrativa sobre as condicionalidades que o conhecido paludismo me provocou. Sei que vi a coisa preta. Os arrepios de frio e o mal estar geral deixaram-me o corpo quase inerte. Depois, com uma santa paciência lá me ergui e prossegui o meu caminho. Ficou, porém, a malvadez da experiência.

Na Guiné a ansiedade do “mal” deixava o combatente de rastos. Presenciei camaradas entregues a uma luta corporal que impunha apertadas restrições. O “mal” não era fácil combater e um dia, tal como atrás referi, calhou-me conhecer essa efémera e tenebrosa doença.

Asseguram os especialistas na matéria, que o paludismo, vulgo malária, é uma doença transmitida pela picada de mosquitos pertencentes ao gênero Anopheles.

Recorrendo a dados da Organização Mundial de Saúde, observa-se que cerca de 200 milhões de criaturas foram detetadas como portadores da doença e que derrapa, infelizmente, para cerca de 700.000 mortes por ano. A praga é de tal modo agressiva que os médicos travam árduas lutas para minorar as estratégias de contaminação.

Recordo a nossa espontânea deliberação para protegermos a “carcaça” da praga de mosquitos que nos nossos “poisos” não davam tréguas ao combatente que requeria o merecido descanso, isto é, dormir sob a proteção dos famosos mosquiteiros que, em princípio, salvaguardavam inesperadas picadelas destes inoportunos “terroristas”.

Uma curiosidade: quando cheguei à Guiné e me fixei nas exíguas instalações do Quartel General (QG ), “Biafra” como a malta apelidava o pomposo alojamento, vi, desde logo, que muitas das camas das camaratas eram dotadas com os pomposos mosquiteiros.

Lembremos, então, a guerrilha travada com estes inusitados inimigos, leia-se insetos, que não davam pausas a homens cujo propósito era, naturalmente, salvaguardar o corpo de outros ferrões maiores que o IN, sempre à espreitava, impunha no terreno.

E assim vamos dissecando memórias de uma guerra onde conhecemos variadíssimas situações de calamidades, e de pânicos, sendo o paludismo uma “arma de arremesso” que visava um ataque cirúrgico a camaradas que caíam numa emboscada desses proféticos “bicharocos”.



Um abraço camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

19 DE FEVEREIRO DE 2019 > Guiné 61/74 - P19509: Memórias de Gabú (José Saúde) (77): Pequena biografia da Guiné-Bissau. Viagem pela história. (José Saúde) 

Guiné 61/74 - P19532: (D)o outro lado do combate (44): A morte de Rui Djassi - Parte I (Jorge Araújo)


 Imagem nº 2 > Ilha do Como (Jan1964) - «Operação Tridente». Desembarque das forças do BCAV 490.


Imagem nº 3 > Ilha do Como (1964) – Embarque de vário material de regresso a Bissau.

Fotos do camarada Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 498 (1963/1965) - P12386, com a devida vénia.


Imagem nº 1 > Infogravura da «Operação Tridente», com a indicação do desenrolar das acções iniciadas em 15 de Janeiro de 1964, 4.ª feira. In. Guerra Colonial: Angola - Guiné - Moçambique, edição do Diário de Notícias, p.73, com a devida vénia. 


Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue



GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > OS RETIROS RESERVADOS DE RUI DJASSI (FAINCAM), NAS MATAS DE GAMPARÁ, DESCOBERTOS PELA CART 643, NA «OPERAÇÃO ALVOR», EM 24ABR64, DATA DA SUA MORTE... "HERÓI DA PÁTRIA", TEM HOJE NOME DE RUA EM BISSAU 



1. INTRODUÇÃO

Mantendo o interesse em encontrar respostas fiáveis às dúvidas suscitadas nas narrativas anteriores, partilhadas no fórum nos P19433, P19437 e P19471, onde se colocava a questão relacionada com o desconhecimento do paradeiro do cmdt da Zona 8 (região de Quinara), Rui Djassi (Faincam), de quem Amílcar Cabral recebera as últimas notícias em finais de 1963, identificamos novas pistas que indiciam termos chegado ao fim desta incógnita e, por conseguinte, deste tema.

Para situar o contexto historiográfico e cronológico das ocorrências, recorda-se que os últimos contactos de Rui Djassi (Faincam) tinham sido duas cartas enviadas ao secretário-geral, datadas de 26 e 30 de Dezembro de 1963. Este, como resposta, manifesta-lhe um duplo desagrado, para o qual utilizei a metáfora "puxão de orelhas", o primeiro por insuficiente comunicação, o segundo por um comportamento pouco cuidado, rigoroso e muito permissivo na "zona 8", enquanto principal responsável operacional na região de Quinara, que facilitou um bloqueio da fronteira Sul por parte das NT, inviabilizando o cumprimento da estratégia logística no «Corredor de Guileje» [P19433].

Certamente, consequência desse laxismo, o seu nome/pessoa deixou de contar para a nova estrutura político-militar do PAIGC decidida no I Congresso, realizado em Cassacá, entre 13 e 17Fev1964, onde foram nomeados os líderes do 1.º Corpo de Exército Popular. Já nessa ocasião Amílcar Cabral (1924-1973) dava conta do agravamento da situação naquela região (Zona 8 - Quinara) por via do desaparecimento do seu responsável – Rui Demba Djassi (1937-1964) – cujo paradeiro ninguém conhecia embora, para ele, existisse a convicção de que estaria vivo [P19433].


2. OPERAÇÃO "TRIDENTE" – DE 15JAN64 A 24MAR64

Tendo por objectivo recuperar o controlo das ilhas de Caiar, Como e Catunco, antes ocupadas pelos guerrilheiros do PAIGC sob a liderança de 'Nino' Vieira (1939-2009) [Marga, nome de guerra], no sentido a garantir a segurança dos abastecimentos marítimos na costa sul da Guiné, foi realizada a «Operação Tridente», a qual teve uma duração de dois meses e meio, entre 15 de Janeiro e 24 de Março de 1964 [Vd. imagem nº 1, acima].

De referir que durante a realização do 1.º Congresso do PAIGC já a componente terrestre dessa operação contabilizava um mês de intensa actividade operacional, sob o comando do Tenente-Coronel Fernando José Marques Cavaleiro (1917-2012), que, para além do envolvimento do seu Batalhão de Cavalaria 490 [BCAV 490], de Estremoz, contava, também, com a participação conjunta de outras unidades militares dos três ramos das Forças Armadas, num contingente superior a um milhar de elementos. [Vd. imagenns nºs 2 e 3, acima].

Entretanto, após concluída a reunião de quadros do PAIGC, em Cassacá [, na pensínsula de Quitafine], onde 'Nino' Vieira viu reforçada a sua liderança, enquanto principal responsável operacional da guerrilha naquela região sul, este seguiu, naturalmente, para essa frente de luta tendente a assumir o controlo da situação e, concomitantemente, dos diferentes combates.

Em função das dificuldades observadas no terreno, tomou a iniciativa de escrever uma carta aos seus camaradas «Faincam» e «Kant», nomes de guerra de 'Rui Djassi' e 'Domingos Ramos', respectivamente, implorando ajuda em recursos humanos (guerrilheiros) para fazer face à situação militar difícil que estava a viver [, na Ilha do Como].

Este pedido de apoio, expresso na referida carta, não teria nada de anormal, digo eu, para a construção desta narrativa, se não tivesse encontrado duas versões divergentes quanto à génese dos factos narrados. Ainda assim, as divergências encontradas não nos impediram de perseguir com o aprofundamento da investigação, cujos resultados aproveito para partilhar convosco.

2.1. CARTA DE 'NINO' VEIRA ENVIADA A RUI DJASSI [FAINCAM] E DOMINGOS RAMOS [KANT] NO INÍCIO DE MARÇO DE 1964

De acordo com o acima exposto, é de relevar que as duas versões, ainda que o conteúdo da carta [texto] seja igual, entre elas existem diferenças quanto ao contexto como foram obtidas.

No primeiro caso, o acesso à carta está plasmada no livro «Os Anos da Guerra Colonial (1961-1974)», no sítio: [http://batalhaocacadores2885.blogspot.com/2009/08/as-grandes-operacoes.html].

Diz a carta: […]

"Ao fim de 48 dias de combates na região do Como (ou seja, em 3 de Março de 1964, 3.ª feira), as
tropas portuguesas interceptaram um estafeta com uma carta de Nino Vieira, escrita à máquina, para outros chefes da guerrilha. Os destinatários eram os comandantes Faincam e Kant".

O exemplar da carta dactilografada, que se apresenta na figura ao lado, pela sua qualidade, não nos permite decifrar, com nitidez, o que nela consta. Apenas tivemos acesso ao seu conteúdo no texto que a enquadra, publicado na obra acima citada. [Imagem nº 4].

No segundo caso, a referência à carta em apreço consta do livro do Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974) – Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014). 

Dele se retira, para o presente propósito e com a devida vénia, a seguinte passagem: 

"Sobre a operação "Tridente" junta-se uma carta atribuída a João Bernardo Vieira "Nino", capturada em Maio [Abril] de 1964, na operação "Alvor". […] Na realidade, a carta de João Bernardo Vieira "Nino", esclarece a situação aflitiva dos guerrilheiros nas referidas ilhas perante a acção das NT. O original da carta figurava entre os documentos capturados por forças da CArt 643 na "Operação Alvor", realizada na península de Gampará, de 22 a 26Abr64, quando atingiram o "Quartel-General" do chefe da região Sul, Rui Demba Djassi (op.cit., pp 218/219).

Eis a transcrição do seu conteúdo:

"Camaradas Faincam e Kant

Para que esta vos encontre continuando uma boa saúde, junto dos vossos camaradas. Eu e os meus vamos indo razoavelmente bons.

Camaradas, achei obrigado a dirigir-vos estas linhas, porque sei que já não tenho nenhuma safa a não ser que dirigir-me a vós. Como sabem estou muito afrontado, porque as tropas ainda continuam a praticar bárbaros massacres no I. Como. Hoje [3 de Março de 1964] já se faz 48 dias que os n/ [nossos] camaradas estão enfrentando corajosamente as forças inimigas. Queria que os camaradas retirassem juntamente com a população conforme era a solução tomada pelo n/ [nosso] Secretário Geral. Mas o que certo é impossível, porque não temos caminho de fazê-los sair. Por isso agradecia-vos que me mandassem reforço vindo de todas as partes. Mesmo se por acaso será possível podem enviar no mínimo 150 a 200 camaradas, porque senão os portugueses vão-me dar cabo da população.

Camaradas, tenham paciência porque não tenho uma outra safa a não ser o vosso auxílio.

Tenho encontrado numa situação muito grave. As tropas estão aumentando cada vez mais as suas forças, tanto como terrestres, aviação e também por meios marítimos.
Camaradas, não tenho mais nada a dizer-vos. Somente posso dizer-vos que dum dia para outro vamos ficar sem a população e sem n/ [nossos] guerrilheiros aí. Já estamos a contar com a baixa de 23 camaradas n/ [nossos] durante todos estes dias dos ataques. Portanto termino desejando-vos maiores sucessos, junto dos vossos camaradas e do povo em geral.

Do vosso camarada Marga – Nino"

2.2. Segue-se a reprodução da carta manuscrita por 'Nino' Vieira [Imagem nº 5].



Imagem nº 5


Imagem nº 6 > Bilhete-Postal (s/d) da Rua Dr. Oliveira Salazar, em Bissau [hoje, Rua Rui Djassi], da Colecção "Guiné Portuguesa, 135". (edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, Sarl.) - P6625, com a devida vénia.



Imagem nº 5 > Localização da Rua Rui Djassi, em Bissau. 


3. RUI DEMBA DJASSI [FAINCAM] – HERÓI DA PÁTRIA

Depois da independência o corpo de Rui Djassi ('Faincam') foi transladado [teria sido o seu corpo?] para Bissau, encontrando-se sepultado no Memorial dos Heróis da Pátria da Guiné-Bissau, na Fortaleza de São José de Amura, no centro da cidade.

Hoje, o seu nome faz parte da toponímia de "Bissau-Antigo", substituindo a designação anterior que era a do Dr. Oliveira Salazar (1889-1970).

Continua…
Nota:

Em função da extensão da presente narrativa, considerámos ser de interesse colectivo dar conta, em novo poste, ao modo como se desenrolou a «Operação Alvor», de que resultou a morte de Rui Djassi (Faincam), na medida em que sobre ela nada consta no puzzle historiográfico da «Tabanca».

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

18Fev2019.
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P19531: Parabéns a você (1580): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista MMA da FAP (1979/82)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19525: Parabéns a você (1579): Gumerzindo da Silva, ex-Soldado Condutor da CART 3331 (Guiné, 1970/72)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19530: Manuscrito(s) (Luís Graça) (152): Parabéns ao meu mano Tó, o ex-1º cabo magarefe, António Ferreira Carneiro, o "Brasileiro", que, em Tete, Moçambique, no Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664, levou um tiro de Uzi no bucho... Ficou com uma cicatriz tipo 'fecho éclair', de alto a baixo, do peito à barriga, já teve vários AVC, e chega hoje aos 80 anos, rodeado de uma bela família de filhas e netos




Moçambique > Tete > 25 de fevereiro de 1964 > Pessoal do Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664 (Tete, 1964/66) > Almoço do 25º aniversário do António Ferreira Carneiro, 1º cabo magarefe, natural da Ribeira, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses... Este destacamento chegou a Moçambique uns meses antes do inícío oficial da guerra colonial em Moçambique. As primeiras ações armadas da FRELIMO datam de agosto de 1964. Havia dois no destacamento. O outro cabo, além dele, era minhoto: chamavam-lhe o Cabinho... O camarada que está defronte dele, na foto, era um alentejano... de que também não sabe o nome. São mais de 50 anos passados...

O António é o nosso  "mais velho", na Tabanca de Candoz. Nasceu precisamenre há 80 anos, no dia 25 de fevereiro de 1939, seis meses   antes do início da II Guerra Mundial. Depois de regressar do Brasil, aos 24 anos, teve de cumprir o serviço militar. Estamos em meados dos anos sessenta. Com a especialidade de Magarefe, da Manutenção Militar, foi mobilizado para Moçambique. m Tete, o António sofreu um grave acidente com uma pistola-metralhadora ligeira, uma UZI, disparada acidentalmente por um camarada... Milagrosamente salvou-se. Hoje é um DFA - Deficiente das Forças Armadas (com cerca de 2/3 de incapacidade). E como  se isso não bastasse, já teve vários AVC... Mas é um otimista, "quase profissional"... Aos 80 anos, diz-me que já não conta os anos mas os dias... Mas a verdade é que "os 80 anos já cá cantam"...

Uma análise da foto acima  (, digitalizada, a partir de um original de formato reduzido,) mostra-nos doze jovens, em tronco nu, à volta de um mesa comprida, comendo e bebendo na festa dos 25 anos do "Brasileiro". Há, para além de um garrafão, 15 garrafas de cerveja, das grandes, da marca Mac Mahon, uma das bebidas produzidas em Moçambiquem, na época... Também era conhecida pela 2 M. A marca rival era a Laurentina. (Recorde-se que, em Angola, eram as marcas Cuca e Nogal).


Foto (e legenda): © António Carneiro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Maia > Restaurante Quinta das Raparigas > 23 de fevereiro de 2019 > Almoço dos 80 anos do António Carneiro (n. 24/2/1939) > Aqui com a esposa, à esquerda, e as quatro filhas, que são superdivertidas ... O nosso "Brasileiro" tem dois netos e quatro netos... O mais velho com 25 anos...



Maia > Restaurante Quinta das Raparigas > 23 de fevereiro de 2019 >  Almoço dos 80 anos do António Carneiro (n. 24/2/1939) >  A surpresa a meio da tarde: cinco sobrinhos, grandes foliões, que apareceram, quatro,  "travestidos de putas da via Norte" eu m quinto, o último, à esquerda, mascarado de "azeiteiro" (leia-se: chulo)... Como já estamos no Carnaval, ninguém levou a mal... E ao "sangue, suor e lágrimas", juntaran-se as "barrigadas de riso"... Que, para a reinação, o folguedo, a risota, não há gente como esta... É uma grande família, divertida...e solidária. E, afinal, esta vida são dois dias, e o Carnaval são três, diz o nosso "Brasileiro"!

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Finalmente, ao fim de estes anos todos (oito anos!), apareceu um camarada, que vive em Braga, que conseguiu localizar o "Brasileiro", o António Ferreira Carneiro, meu cunhado, irmão mais velho da Alice... Afinal, o  Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande! (*)....  

Esse camarada, o tal minhoto, que também era 1º cabo, no Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664 (Tete, 1964/66), foi testemunha do acidente que ia matando o  nosso "morgado", o filho mais velho de José Carneiro e Maria Ferreira: ele transmitiu ao António a sua versão dos acontecimentos, que é diferente da oficial ou oficiosa, mas que não interessa aqui para o caso... Na tropa encobria-se "muita merda" com  papel selado...

Para o mano Tó, foi  uma grande alegria poder abraçar este camarada., que penso que é "caixeiro viajante" ou coisa parecida, e vive em Braga, e que há uns meses atrás foi bater à sua porta, em Custóias. Telefonou-lhe primeiro, através do número de telemóvel que divulgámos no blogue.

 O António Carneiro não pertence à Tabanca Grande, não tem de resto endereço de email, página no Facebook e outros "modernices"... É um homem do seu tempo...  Mas pertence à... Tabanca de Candoz...

É o mano mais velho de seis irmãos, três rapazes e três raparigas, uma das quais a Alice Carneiro, nossa grã-tabanqueira. Esteve imigrado no Brasil entre 1957 e 1963, para grande desgosto do seu pai, que era um proprietário rural e industrial de construção de ramadas, conceituado na sua terra e região. Só os "rendeiros" e os "cabaneiros", os "proves" [pobres]  é que iam para o Brasil, tentar a sua sorte... Creio que o pai nunca lhe perdoou essa "desonra"... Mas o rapaz era teimoso, não tinha jeito nem físico para trabalhar na arte de ramadeiro... E depois, aos 18 anos, é difícil resistir aos apelos da laventura e da iberdade...  Aproveitou a "boleia" de um tio materno, com quem irá aprender a arte de magarefe...

Em 1957, com 18 anos, o António obteve dispensa do serviço militar para se fixar, a título definitivo, no Brasil. Pagou, em Viseu, no RI 14, duzentos escudos de emolumentos, em selos, pela sua dispensa militar (, o equivalente hoje a cerca de 90 euros.)

Era pressuposto ficar pelo Novo Mundo, até porque em 1961 "rebenta a guerra de Angola"... Acabou por ter de regressar, por razões obscuras... Há quem diga que era um rabo de saias... Enfim, voltou a apanhar a boleia do tio,  em 1963, então de de regresso a casa, no Alto, em Paredes de Viadores,  Marco de Canaveses,. onde tinha mulher e filhos...

Está-se mesmo a ver a cena seguinte: no aeroporto, em Lisboa, o  passaporte do Tó levou logo com o "carimbo da PIDE"....  É notificado de que deverá regularizar de imediato a sua situação militar. Faz a recruta, aos 24 anos, e é de seguida mobilizado para Moçambique. Viaja no T/T Niassa. Chega a Tete, em janeiro de 1964, integrado numa subunidade de intendência, o Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664.

A sua experiência profissional (era magarefe no Brasil) é devidamente aproveitada pela tropa. Um mês depois celebra o seu 25º aniversário, como se podes ver na foto acima...

Seis ou sete meses depois de chegar a Tete, sofreu em julho de 1964 um grave acidente com uma pistola-metralhadora ligeira, uma UZI, uma arma de fabrico israelita,  disparada acidentalmente por um camarada que acaba de "fazer o seu serviço de sentinela" (versão oficial, ou oficiosa)...

O 1º cabo Carneiro irá estar mais de um mês em estado de coma. Só um milagre o salvou. Hoje tem uma enorme cicatriz, um autêntico fecho "éclair",  de alto a abaixo, do peito à barriga... O tiro perfurou-lhe sete órgãos. É um DFA - Deficiente das Forças Armadas (com cerca de 2/3 de incapacidade)...

O António Ferreira Carneiro, na altura conhecido como o "Brasileiro",  pertencia, como dissemos,   ao Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664, sendo o seu comandante o alf mil Patrício (, que nunca mais viu). O 1º Sargento era o Anmtónio Teles Touguinha, já falecido, que se veio a revelar grande amigo da família. Era natural de Vila do Conde.

Havia ainda dois furriéis açorianos, de que o António já não se lembra o nome. Ao todo, eram cerca de 25 militares, viviam numa vivenda em Tete, em plena cidade. Os graduados eram apenas 2 cabos, 2 furriéis e 1 alferes.

O "Brasileiro"  foi ferido em julho de 1964 e transferido para o HMP - Hospital Militar Principal, em Lisboa, em Dezembro desse ano. No HMP passou cerca de oito meses.  Regressou à vida civil em agosto de 1965, tendo casado depois. Vive em Custóias, Matosinhos, há mais de meio século. Tem 4 filhas, e seis netos.

Durante anos e anos,  procurou malta da sua subunidade bem como o médico que o operou em Tete ("Era a maior alegria que me podiam dar, saber do paradeiro dos meus camaradas de Intendência bem como do médico que me salvou").

Afetado por um AVC, por volta de 2013,  foi tratado no Hospital Militar do Porto. Teve outros pequenos AVC posteriormnete. Ficou com alguns sequelas. Emociona-se com facilidade... Mas faz a sua vida "quase normal", e adora andar de comboio. Dantes vinha de propósito a Lisboa, visitar a mana... Agora mete-se no comboio da Linha do Douro e vai até ao "Calça Curta", um conhecido restaurante na Foz do Tua... Um dia não são dias, e no céu não há as iguarias cá da terra...

 Depois do seu regresso do Hospital Militar Principal, em Lisboa, a família recebeu a  visita desse 1º  sargento, o Touguinha, que foi para o António um verdadeiro anjo da guarda. Sem a a acção dele, provavelmente o nosso mano não se teria salvo.


2. Ontem fiz 800 km para dar um abraço fraterno ao mano (e meu camarada) Tó. E desejar-lhe a saúde possível... Fizeram-lhe uma bonita festa, as filhas, netos, manos, sobrinhos... Onde não faltaram os foliões de Carnaval,  alguns sobrinhos machos "travestido" de "putas da Via Norte"... (Imagens, feiizmente, do passado,  uma vez que já não há... esse triste espetáculo  das "putas da Via Norte", segundo me garante o nosso especialista Zé Ferreira, o autor das "Memórias Boas da Minha Guerra"... De resto, de vez em quando passo por lá, e também confirmo que a informação).

A pedido de várias das respeitáveis famílias da Tabanca Grande, publicamos duas fotos da festa, mesmo que uma vá com... bolinha.

E eu escrevi-lhe, em nome de todos os irmãos/irmãs e cunhadas/os,  um soneto, enquanto ia na autoestrada, com a minha "chofera" a conduzir... Aqui fica, para "memória futura"... Só hoje lhe dei os parabéns, no próprio dia, antes dá azar, como é crença corrente aqui no Norte... (**)


Para ti, mano, que fazes 80 anos,
a melhor prenda que os teus manos te gostariam de dar...


A melhor prenda para ti, mano Tó,
É uma que não te podemos dar,
Não serve para nada, é tão só
Um bem sem preço, não dá para trocar.

Adivinha que prenda será esta,
Não serve para comer nem beber,
Mas sem ela não és feliz, nem há festa,
Nem tempo p'ra os bisnetos ver nascer.

Chegaste hoje a uma bonita idade,
Tens sido um grande resistente,´
Mano querido da nossa irmandade.

Essa prenda de que aqui falamos,
É... a saúde, é não estar doente,
È a melhor que nós hoje te desejamos.



Maia, Restaurante Quinta das Raparigas,
almoço de 80º aniversário do Tó Carneiro,
Os manos Alice e Luís, Nitas e Gusto, Rosa e Quim, Zé e Teresa, Manel e Mi.
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Guiné 61/74 - P19529: Em busca de... (294): O ex-1.º Cabo At Alberto de Aparecida Couto do Pel Caç Nat 54 procura o seu camarada José Augusto da Silva Dias, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BART 3873 que o salvou de morrer afogado no rio Geba (Sousa de Castro)

1. Em mensagem do dia 22 de Fevereiro de 2019, o nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74) enviou-nos para publicação este apelo do ex-1.º Cabo Atirador Alberto de Aparecida Couto que procura o Soldado José Augusto da Silva Dias da CCS do BART 3873.

Boa noite, 
Caros camaradas, em anexo um apelo que gostaria ver publicado no nosso Blogue. 

Saudações veteranas, 
Sousa de Castro 
CART 3494 - Guiné


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Nota do editor

Último poste da série de 27 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19445: Em busca de... (293): O sobrinho do Marinheiro Radarista Ademar da Silva, natural de Matosinhos, pede que o ajudem a esclarecer as circunstâncias do desaparecimento de seu tio, em 24 de Junho de 1968, assim como do 2.º Sargento Ricardo Manuel Serpa Bettencourt, natural de Angra do Heroísmo (Artur Santos)

Guiné 61/74 - P19528: Convívios (887): 1.º Almoço de Confraternização do Combatente Limiano: Ponte de Lima, 10 de Junho de 2019 (Manuel Pereira e Mário Leitão)


Página do Facebook do Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes




Mnauel Pereira
 1. O nosso camarada e grã-tabanqueiro  Manuel [Oliveira] Pereira, é um  limiano de pura gema [, ou seja, natural de Ponte de Lima]. Foi fur mil, CCAÇ 3547,   "Os Répteis de Contuboel", (Contuboel 1972/74), subunidade que pertencia ao BCaç 3884 (Bafatá, 1972/74).

Foi um dos primeiros camaradas da Guiné a dar a cara no nosso blogue. Conhecemo-nos no I Encontro Nacional da Tabanca Grande, na Ameira, Montemor-O-Novo, em 2006. Temo-nos encontrado de vez em quando por aí, em Lisboa. Trabalhou durante anos no Hospital da CUF, em Lisboa, como técnico de gestão, ligado à produção, licenciando-se, entretanto, em Direito. Depois da reforma, regressou à sua terra natal onde, com o Mário Leitão e outros antigos combatentes, tem animado o Núcleo local da Liga dos Combatentes..

O Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes tem página no Facebook:

(..) Este "espaço", agora, reactivado, pretende - com a ajuda de todos - ser "ponto de encontro", mas também "ponte", entre todos os "Combatentes Limianos", quer no contexto nacional, quer na diáspora. 

Iremos, sempre que possível, dar as informações que entendermos úteis, à nossa condição de "combatentes", quase "esquecidos" pelo poder político.
Mário Leitão

Iremos igualmente e, para maior transparência à nossa "missão", dar a conhecer toda a actividade do Núcleo. Assim, correspondência, actas, comunicados, fotografias e outra documentação, será aqui disponibilizada.

Para que os objectivos acima descritos, sejam alcançados, precisamos de "sócios" e muito particularmente da colaboração de todos. (...) 

É ele que está a organizar,  juntamente com o Mário Leitão, o 1.º almoço de confraternização do Combatente Limiano, no próximo 10 de junho de 2019.
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de fevereiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19520: Convívios (886): Encontro do pessoal do BCAV 3846, a levar a efeito no próximo dia 17 de Março de 2019, no Cartaxo (Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf.º)

Guiné 61/74 - P19527: Manuscrito(s) (Luís Graça) (151): o passado, o presente e o futuro: tal como em Guidaje, Guileje ou Gadamael, não vai haver ... "bunkers" para todos


Lourinhã > Praia da Areia Branca > 14 de fevereiro de 2019 >  Pôr do sol às 17h42


Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O futuro

por Luís Graça


A última barreira: adivinhar o futuro. 
Seria a omnis...ciência. 
Usurparíamos o poder dos deuses. 
Mas sempre quisemos, em todas as culturas,
deter esse poder... 

Adivinhar o futuro através do voo das aves, 
ou da dissecação das suas vísceras,
da conjugação dos astros, 
da queda dos meteoritos, 
do nascer e do pôr do sol, 
da bola de cristal, 
das cartas de jogar,
da ficção científica... 
Através das pitonisas,
das bruxas,
das cartomantes,
dos vendedores de sonhos...

E desgraçadamente não somos sequer capazes
de reconstruir o "puzzle" do passado, 
juntar as peças e dar-lhes um sentido... 

E muito menos ainda compreender 
o que se está a passar, aqui e agora... 
na casa comum da humanidade. 
Como se diz hoje, 
não temos escapadela, 
não há saída de emergência,
não há plano B, 
não há planeta suplente...
Tal como em Guidaje, Guileje ou Gadamael,
não vai haver... "bunkers" para todos nós.

Lourinhã, Praia da Areia Branca
Passeio da Foz do Rio Grande,
Esplanada do 100 Pratus - White Sand Club
14 de fevereiro de 2019

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19450: Manuscrito(s) (Luís Graça) (150): No país dos poetas...

Guiné 61/74 - P19526: Notas de leitura (1153): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Outubro de 2016:

Queridos amigos,

A questão agrária é a espinha dorsal dos acontecimentos guineenses pós-coloniais. Durante o período da luta armada, Cabral motivara os quadros políticos para um desenvolvimento agrícola descentralizado e na base do respeito popular. No período a seguir à independência investiu-se pouco na agricultura e apostou-se num modelo faraónico agroindustrial, também assente na substituição de importações. Descurou-se a formação agrícola, desapareceram os subsídios, as sociedades rurais ficaram entregues a si próprias.

É essa notável resiliência que o investigador Philip Havik analisa neste livro, que é seguramente o documento histórico-político mais importante de 2016, no que concerne à Guiné-Bissau.

Um abraço do
Mário

Guiné-Bissau: de Micro-Estado a Narco-Estado (2)

Beja Santos

“Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’”, por Patrick Chabal e Toby Green, Hurst & Company, London, 2016, é constituído por um acervo de estudos dedicados à memória de Patrick Chabal, falecido em Janeiro de 2014, e que idealizou até ao fim dos seus dias a organização desta obra com Toby Green. Obra constituída por três partes (fragilidades históricas; manifestações da crise e consequências políticas da crise), convocou nomes importantes da historiografia da Guiné-Bissau no plano internacional como Toby Green, Joshua B. Forrest, Philip J. Havik, entre outros.

Compete a Philip Havik, investigador sénior no Instituto de Higiene e Medicina Tropical e professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa uma apreciação em profundidade da economia rural e da sociedade guineense.

No meu livro “História(s) da Guiné-Bissau”, Edições Húmus, 2016, procurei apurar como o PAIGC abordou a questão agrária, antes e depois da independência, e que tratamento político foi dada à chamada “linha de Cabral”, e invoco os trabalhos de Philip Havik nesta área. O PAIGC do tempo de Cabral punha em lugar de topo o desenvolvimento agrícola a par da mobilização rural, da descentralização política e numa perspetiva da melhoria dos níveis de vida das famílias camponesas.

O PAIGC não ignorava que a sua base militante se situava nos campos, mas ascendo ao poder com um pano de fundo de crise económica mundial, as agências internacionais não puderam acompanhar o impulso de modernização. Só no III Congresso é que o PAIGC apresentou uma estratégia para um desenvolvimento equilibrado que incluía programas de formação destinados aos agricultores guineenses. O grande objetivo era obter-se um excedente alimentar, sobretudo em arroz. Isto aconteceu no mesmo ano em que ocorreu uma grave seca. Os centros de extensão agrícola são criados enquanto os Armazéns do Povo e a SOCOMIN eram supostas oferecer crédito à custa da diferença de preços no produtor e no retalho/exportação.

Contrariando vozes autorizadas, o governo lançou-se na construção de um gigantesco complexo agroindustrial destinado ao descasque de arroz. Os investimentos injetados na agricultura, no entanto, eram mínimos. A “linha de Cabral” fora desviada. Com o golpe de Estado de Novembro de 1980 anunciou-se um regresso a essa linha de Cabral. Mas também não se passou das intenções. Philip Havik escreveu, a tal propósito:

“A falta de quadros e de infraestruturas prejudicou seriamente a capacidade do Estado em planear e executar as suas intervenções na agricultura. O conflito então em curso entre as facções populista e tecnocrata, ou seja, entre os militantes rurais formados no mato e os educados na Europa e noutros locais, surge como factor determinante na incapacidade de um aparelho de aparelho de Estado supercentralizado mobilizar os camponeses, que não eram encarados como uma classe”.

Em resultado, deu-se um afastamento dos camponeses face aos decisores políticos instalados em Bissau.

Philip Havik observa que, ao abandonar a sua função mobilizadora, o PAIGC travestiu-se numa classe média burocratizada e mercantil. Os agricultores ficaram progressivamente mais pobres e entregues a si próprios.

No seu ensaio no livro de homenagem a Patrick Chabal, Havik retoma as suas teses de que a produção industrial e a substituição de importações se fez em detrimento do pensamento de Cabral e que a seguir ao golpe de Estado de 1980 as medidas associadas às políticas de ajustamento estrutural deixaram a agricultura periférica. Nunca se encontrou autossuficiência no arroz, a produção de amendoim veio a ser gradualmente substituída pela produção de caju. Enquanto o Estado enfraquecia, as sociedades agrícolas procuravam encontrar soluções graças aos djilas e aos compradores diretos de amendoim e caju. Philip Havik recorda que em meados do século XX o amendoim se apresentava como excelente produto de exportação, criaram-se pontas ou propriedades agrícolas que privilegiavam o amendoim e o coconote.

Quando Nino Vieira ascendeu ao poder e deu luz verde ao plano de ajustamento estrutural veio muito dinheiro para crédito agrícola e que acabou desviado para formar uma classe rica a explorar as novas pontas. Philip Havik observa as grandes questões étnicas do século XX, incluindo a luta de libertação, à luz da resposta das sociedades agrícolas. Mais adiante recorda a organização económica colonial pós o período da pacificação, em que preponderavam as exportações da CUF e as transações da Sociedade Comercial Ultramarina, Barbosa & Comandita, Nunes e Irmãos, Mário Lima, bem como uma série de negócios dirigidos por cabo-verdianos, sírios e libaneses.

O PAIGC trazia um plano de nacionalizações e previa a integração de uma agricultura coletiva a par de uma distribuição estatal onde preponderavam os Armazéns do Povo e a SOCOMIN (integraram a Casa Gouveia, que mesmo durante o período da luta armada conseguiu manter uma gestão apreciável no import/export).

O dado importante deste ensaio de Philip Havik é a forma como ele integra a sua análise a partir do período colonial, destacando a etapa de desenvolvimento em torno de meados do século XX, como conflituaram a linha colonial e pós-colonial, como depois da independência foram permitidas depredações no campo florestal na miragem de bons negócios na venda de madeiras exóticas (é atualmente um dos grandes interesses dos chineses na Guiné-Bissau), e como se manteve a fragilidade da economia rural neste enorme puzzle de conflitos, migração, alterações climáticas e ambientais, falta de apoio à modernização agrícola e em que a reposta óbvia foi os agricultores encontrarem os seus meios de subsistência tanto na economia de troca como na monocultura.

A Guiné-Bissau é correntemente apresentada como um Estado frágil e passadeira de droga, mas à margem dessa cupidez e constituição de uma classe suportada por uma clique militar e política, a economia rural demonstra uma notável capacidade para resistir indiferente à fragilidade das instituições políticas, resiste pela economia informal, com as precárias infraestruturas de educação e saúde e com um 'per capita' dos mais pobres do mundo.

Como observa Philip Havik, a despeito de todos estes constrangimentos, a riqueza e a diversidade dos recursos económicos, sociais e culturais permanece o pilar fundamental da resiliência da sociedade rural e da possível dinâmica guineense.

(Continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 18 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19505: Notas de leitura (1151): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 22 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19516: Notas de leitura (1152): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (74) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19525: Parabéns a você (1579): Gumerzindo da Silva, ex-Soldado Condutor da CART 3331 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de de 24 de Fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19522: Parabéns a você (1578): António Cunha, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66) e Manuel Henrique Quintas de Pinho, ex-Marinheiro Radiotelegrafista (LDM 301 e 307) (Guiné, 1971/73)

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19524: Blogpoesia (609): "Parecemos diferentes", "Tardes de Lisboa" e "Renovar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Parecemos diferentes

Parecemos diferentes mas somos iguais.
Os mesmos medos.
Os mesmos anseios.
O amor pela vida.
Receio da morte.

Nos custa sofrer.
Nos alegra a saúde.
Damos tudo por ela.
Não gostamos de perder.
Vingança à derrota.

Esperança na sorte.
Navegamos na fé.
Olhamos o alto.
Fugimos do chão.

Por mais voltas que dermos,
Buscamos um rumo,
No sul ou no norte.

Se fingem diferentes,
Despindo ou vestindo.
Mostrando, escondendo.
No fundo, iguais.

Café Setemomentos em Mafra, 22 de Fevereiro de 2019
9h24m
Jlmg

********************

Tardes de Lisboa

Fervilhando de gente, nas praças e nas ruas.
Calmas passeatas, vendo as vitrinas e armazéns.
Esplanadas coloridas, onde servem os cafés e se lêem os jornais.
Alamedas sombreadas com arvoredo secular.
Corridas desenfreadas de táxis para o aeroporto.
Autocarros e eléctricos pendulares que visitam Lisboa inteira.
Doces banhos de maresia nas bordas do rio Tejo.
Que encanto ir de comboio até Cascais sempre à beira rio.
Tantos miradouros que nos dão o céu na terra.
E, lá no alto, de atalaia, o Castelo altaneiro,
afugentando de Lisboa as feras e os piratas.

Ouvindo Carlos Paredes

Bar Castelão em Mafra, 23 de Fevereiro de 2019
9h5m
Jlmg

********************

Renovar…

A oliveira será das plantas mais duradoiras e permanentes,
À face da terra.
Muito serenas.
Pouco balançam suas ramadas discretas.
Uma cor cinzenta.
Para não dar nas vistas.
Até seus frutos,
Têm tamanho e tons,
Tão sóbrios
Mas refulgentes.
A elegância de formas
Não é seu timbre.
São tímidas.
Por vezes demais.
Se torcem e reviram todas,
Para não prenderem os olhos
De quem as vê.
Estão muito enganadas.
O seu silêncio de cinza
É tonitroante.
Ouve-se e vê-se ao longe.
Impuseram-se ao mundo,
De todas as camadas.
Das mais humildes
Às mais supostas altas.
Não há casebre, por esses montados,
Não há palacete ou santuário de culto,
Profano ou não,
Que não as cultue.
É nos jardins. É nos relvados.
Extensos ou mais exíguos.
É nas varandas opíparas
E nos terraços celestiais.
Até esses Havais…sofistas...
Ó que pobreza!
Que o deserto escolhe.
Mas quem delas recolhe
O saborosíssimo néctar
Tão bem calibrado e raro
Que ela encerrra e dá…
Se rende e prende a elas
se avassala a elas,
Suas rainhas ou mestras abelhas.

Ouvindo Albinoni…e mais

Segunda-feira a abrir-se envergonhada
Mafra, 13 de Outubro de 2014
8h55m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de

17 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19500: Blogpoesia (608): "Árvore do amor...", "Chuvas de Lisboa" e "O final da tarde...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19523: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XV: cap pilav Luís Alberto Fonseca Ferreira Simões (Azembuja, 1933 - Angola, ZIN, 1965)





1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972. Foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar.

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de fevereiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19514: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XIV: maj pilav João António de Lemos Silva Santos Gomes (Lisboa, 1929 - Moçambique, 1964)

Guiné 61/74 - P19522: Parabéns a você (1578): António Cunha, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66) e Manuel Henrique Quintas de Pinho, ex-Marinheiro Radiotelegrafista (LDM 301 e 307) (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19519: Parabéns a você (1577): José Carlos Pimentel, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2401 (Guiné, 1968/70); José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689 (Guiné, 1967/69) e José Maria Claro (DFA), ex-Soldado Radiotelegrafista da CCAÇ 2464 (Guiné, 1969)