domingo, 17 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19500: Blogpoesia (608): "Árvore do amor...", "Chuvas de Lisboa" e "O final da tarde...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Árvore do amor…

Árvore do amor…
A vida é um bosque extenso e longo,
De árvores com muitos ramos.
Não é o sol que a alimenta.
É o amor divino.
Que não nasce e se põe
Em cada dia.
Ele está presente ao centro,
Em cada hora
e cada momento.
Não vem de longe,
Nem vem do alto,
Está cá dentro.
Ele mora connosco
Se O deixarmos entrar.
Seu mandamento não é jamais
Que O amemos sobre tudo e todos… 
É que O deixemos amar-nos.
Antes de tudo e todos.
Tudo o mais será com Ele.
Sua lei não é a Justiça…
Mas sua misericórdia.
Um mar imenso,
Um mar de amor,
Onde ninguém naufraga.
Uma grande árvore.
Com muitos ramos.

Mafra, 29 de Setembro de 2014
7h43m
O dia nascendo com sol e neblina
Jlmg

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Chuvas de Lisboa

Escorrem pelas ruas as águas de Inverno.
Saíram do armário as gabardinas e, sorumbáticos, caminham pelos passeios os guarda-chuvas.
Adeus aos sapatos de tacão alto.
É a altura das solas espessas e dos cachecóis.
Chegou, de vez, o frio e a chuva grossa.

Desertas as esplanadas, ficam a abarrotar de gente os cafés, saboreando suas bicas.

Pendem molhadas as cortinas de plástico sobre os escaparates de revistas e jornais.

Pelos jardins esperam, sozinhos, todos os bancos, pelas horas de sombra seca.

Escorrem cheios dos telhados os beirais e algerozes
E, desvairadas, fazem rios as valetas.

Inconformados com tanta água, só se ouvem lamentos e suspiros pelo chegar da Primavera.

Ouvindo Cantiga do Maio - Carlos Paredes
Berlim, 13 de Fevereiro de 2019
9h9m
Jlmg

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O final da tarde…

Experimento a luz escassa
Do anoitecer.
Ardem-me os olhos de Tanto ver,
Sem nada ver.
Perpassa-me na mente, às cegas,
O terrível pavor das madrugadas.
De todo o lado,
Chegam fantasmas mortos
De hora a hora.
Num cortejo incessante
E prepotente.
Vêm extorquir-me a pouca paz
Que consegui no dia,
A troco de promessas falsas
Nunca cumpridas.
Jazem mortos os mortos debaixo das pedras.
E os cães danados
Soltam vagidos.
Me arremessam pedradas,
À falsa fé, os maus amigos.
E, nas horas mortas,
Vibram facadas vis,
Donde menos se espera.
É o final da tarde horrenda do abandono.
Quando, cá dentro, tudo apagou
E já nada arde.

Mafra, 25 de Outubro de 2014
0h58m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19487: Blogpoesia (607): "Nevoeiro em Lisboa", "Lapinho de carvão" e "Passear por Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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