domingo, 10 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19487: Blogpoesia (607): "Nevoeiro em Lisboa", "Lapinho de carvão" e "Passear por Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728



1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Nevoeiro em Lisboa

Uma manta espessa cobre o rosto de Lisboa.
O sol adormeceu e se esqueceu de nascer.
As gaivotas apardaladas não enxergam um metro à sua frente.

Roncam frenéticas as sirenes. Ninguém atravessa o rio.
As ruas entupidas fecham suas portas ao movimento.
Uma paralisia assustadora paira sobre as colinas.
Ninguém sabe se o Castelo ainda lá está.
Os lampiões das avenidas parecem pirilampos.
Os eléctricos colaram-se aos trilhos com medo de avançar.

Já há quem suplique ao Criador que o sol apareça e ponha fim a este inferno de apagão.

Ouvindo Madredeus - O Pastor

Berlim, 7 de Fevereiro de 2019
8h28m
Jlmg

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Lapinho de carvão

Não jogues fora o lápis pequenino de carvão.
Afinal se consumiu para te acompanhar na arte de escrever.
Linha longa ele escreveu em rabiscos sinuosos.
Com vontade de dizer o que te ia na alma.
Desde o local e a data que puseste na primeira linha do teu caderno.
Até ao teu nome que ele respeitou.
O seu a seu dono.
E nada cobrou.

Sofreu golpes de navalha fina.
Para riscar melhor.
Se despojou de ser.
Como o sol que se vai deitar.

Agora, quase chora da pequenês.
Só não espera que o deites fora.

Berlim, 9 de Fevereiro de 2019
20h13m
Jlmg

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Passear por Lisboa

Privilégio quase divino poder deambular por Lisboa em doce liberdade.
Haurir a frescura da sua brisa, agridoce,
Que lhe vem do mar pelo Tejo acima.

Saborear o azul do céu, como não se vê noutro lugar.
Passear na Baixa, desde o Rossio até ao rio.
Aquelas ruas a fervilharem de restaurantes onde o bacalhau com grão é rei.
Trepar o elevador do Chiado e alcançar ao longe o desfraldar do Alentejo.
Mirar o Castelo no seu esplendor, um açafate carregado de verdura.
Vaguear sobre o casario de telha rubra, como se fosse um condor em majestade.

Poisar na Sé da mouraria e agradecer a Deus por tanta beleza.
Tomar um ronceiro cacilheiro e poder mirar Lisboa da outra banda, como é bela, de Belém até à Gare do Oriente.

Ouvindo Concierto de Aranjuez - II. Adagio - Pablo Sáinz Villegas – LIVE

Berlim, 5 de Fevereiro de 2019
6h5m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19465: Blogpoesia (606): "O Fado de Lisboa", "Acridoces..." e "Meu pensamento", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Joaquim, estás a ficar um grande poeta de Lisboa... Estou a gostar... LG

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Minhas "Baladas de Lisboa"...

Abraço.
Joaquim