1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:
O fado de Lisboa
Rezam as lendas que, vindo da Grécia,
deixou o mar, subiu o Tejo, numa madrugada de luar.
Era Ulisses. Deixara Ítaca e sua esposa.
Lisboa era uma urbe humilde.
Estendida pela colina que, hoje, é do Castelo.
Extasiado com sua beleza, aqui ficou.
Por ela andou e cirandou.
Fez-se um seu.
Saíam à porta a ouvi-lo as gentes
quando, pela madrugada, passava entoando loas, em voz sonora.
Ninguém entendia.
Eram saudades.
Faziam chorar.
Até que um dia, de madrugada,
não resistindo,
desceu o rio e se fez ao mar.
Penélope o esperava, longe.
Tão forte e belo era o seu canto,
calou profundo na alma das gentes.
Ainda hoje perdura nas suas ruelas,
nas casas de fado.
À guitarra:
- Ai, Mouraria, na velha rua da Palma...
- Foi Deus...
- Mãe negra...
Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 27 de Janeiro de 2019
10h27m
Jlmg
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Acridoces...
Acridoces são as saudades de Lisboa.
Distante, para lá dos Pirinéus.
Onde o sol se põe em cada dia.
E o mar é o fim do mundo.
Me rendo ao esplendor dos seus clarões.
Me consolo com a memória dos dias doces que por lá andei.
Aquelas descidas à Baixa pelo Chiado.
Ao Rossio engalanado de verdura.
À Rua Augusta que é augusta e elegante, com suas vitrinas.
O Elevador altivo donde se alcança Lisboa para todo o lado.
Subir a Avenida larga e saborear a doçura da liberdade.
Aquele Parque solene ao cimo, que nos transporta até ao céu.
Girar de eléctrico por toda a parte, no meio das gentes atarefadas.
Como se está à janela da nossa casa.
Quem me dera, agora, sentar-me à mesa e tomar uma bica com o Pessoa...
Ouvindo Tchaikovsky - Hymn of the Cherubim - USSR Ministry Of Culture Chamber Choir
Berlim, 29 de Janeiro de 2019
8h28m
Jlmg
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Meu pensamento
Largo ao vento meu pensamento livre.
Qual condor, de asas abertas,
Sobre os penhascos das escarpas imensas.
Procurando a presa.
Desfaço em pedras minha mole inerte,
Como brasa a arder.
Queimo no chão a lenha inútil.
Garimpo na areia pepitas d'oiro,
Sonhando ser rico.
Incendeio na eira toda a palha seca e para nada serve.
Exponho ao sol minha alma a arder.
De olhos fechados, subo aos céus e contemplo o infinito.
Inibrio meu espírito sedento, de perfumes de alabastro.
Enlevo-me a ouvir acordes sublimes de beleza.
Nem a tela nem a pena conseguem traduzir...
Ouvindo HAUSER - Song from a Secret Garden
Berlim, 1 de Fevereiro de 2019
8h25m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 27 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19444: Blogpoesia (605): "Andorinhas de Lisboa", "Fugacidade da vida" e "As calçadas de Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
3 comentários:
Assim ficas mais perto de nós!... O mito de Ulisses é um dos mais belos da humanidade... E Lisboa fica bem nesta lenda... Lisboa ficava no fim do mundo conhecido pelos gregos... Mas o fado tem uma outra origem do ponto de vista socioantropológico, musical e poético... LG
Mendes Gomes
Este 'Meu pensamento' é um caso sério.
Até diria, ou digo, é um caso sério que merece ser nobelizado.
Ab.
Valdemar Queiroz
Obrigado a ambos.
Abraço grande.
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