terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19491: A Galeria dos Meus Heróis (22): O "Duque de Palmela" ou o pão que o diabo amassou - II (e última) Parte (Luís Graça)


Guiné > Região do Óio > Porto Gole > Fvereiro de 1967 >  A despedida: em segundo plano, o  gen Arnaldo Schulz ao lado do piloto do helicópetrio;  no banco de trás, duas caixas de cerveja, Sagres e Cristal; em primeiro plano, à esquerda, um cabo especialista da FAP e, à direita, o fur mil Viegas, do Pel Caç Nat 54,  com camuflado paraquedista trocado com um camarada numa operação no Morés em outubro de 1966.


Foto (e legenda) : © José António Viegas (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Luís Graça, ex-fur mil, CCAÇ 12, Contuboel, junho de 1969

A galeria dos meus heróis > O “Duque de Palmela” ou o pão que o diabo amassou- II (e última parte)

por Luís Graça 



(Continuação)


12. O “Duque de Palmela” não se deu mal com a “nova vida”, a de padeiro (*)... Deixou de fazer colunas, operações e serviço de guarda, etc.,  mas tinha que trabalhar de noite para ter pão fresco todas as manhãs… 

E a verdade é que a malta se habituou ao pão fresco todas as manhãs. E isso também ajudou a levantar o moral da tropa. O casqueiro era um parte importante da ração a que cada homem tinha direito. Cabia nos 24 escudos e 50 centavos que eram atribuídos a cada militar, do soldado básico ao general, para efeitos de alimentação. Quem era arranchado, recebia em géneros, quem era desarranchado recebia em espécie, sendo no caso dos africanos, muçulmanos ou animistas, que não comiam a comida dos brancos, um importante complemento do salário: dava para comprar um saco de arroz de 100 kg.

− Comia-se mal e porcamente. Faltavam as batatas. E os frescos só os havia quando, uma vez por outra, vinha uma avioneta de Bissau. Massa com cavala era o prato do dia. O vinho era pouco e 'batizado'. Que não faltasse, ao menos, o pão nosso de cada dia…

O Zé Soldado era pãozeiro, como qualquer bom português de origem rural. O padeiro, por sua vez, em conjunto com o vagomestre, responsável pelos géneros,  tinha que saber gerir muito bem o “stock” de farinha (e fermento…), sobretudo no tempo das chuvas em que as picadas no sul da Guiné se tornavam autênticos rios. O  abastecimento era então irregular e incerto.


Na realidade, ficavam isolados muitos aquartelamentos, destacamentos e tabancas. As colunas tornavam-se um pesadelo, às vezes chegava-se a andar um quilómetro por hora (!) e praticamente não se fazia mais nada do que tentar assegurar, a todo o custo, no final do tempo seco e no início do tempo das chuvas, a autossuficiência da tropa em matéria de abastecimentos (munições, comes & bebes, outros géneros de primeira necessidade, etc.). 

A farinha e a cerveja era dois géneros alimentares de “primeiríssima necessidade”… Ainda bem que a atividade operacional ficava mais reduzida, sobretudo de julho a setembro, meses de maior pluviosidiade, tanto para as NT como para o PAIGC.

O nosso homem tinha, nesse aspeto, um bom entendimento com o vagomestre e com o capitão. E nunca houve, até ao primeiro ano, falta de farinha para fazer o pão.

− No novo 'posto', eu tinha durante o dia tempo e vagar para ir passear à tabanca, fazer a 'psico',  e, ao lusco-fusco, ir caçar galinhas do mato e lebres, na orla da bolanha. Arranjei uma espingarda de caça e ganhei um vício que não tinha…


− A caça ?!...

− Sim, a caça... Dava para fazer o gosto ao dedo e sempre se arranjava carne para o petisco. Matei a malvada a muita gente, incluindo alferes e furriéis… Uma vez por outra convidava o capitão, mas ele nunca aceitava… Acho que não se queria misturar com os subordinados, o que eu hoje entendo... Por outro lado, ele não gostava nada que eu saísse fora do arame farpado, mas lá ia fechando os olhos… E eu também não era mau cozinheiro, diga-se em abono da verdade… Uma vez por outro fazia-lhe uns miminhos, como um cabritinho assado.



13. A coroa de glória do “Duque de Palmela” foi quando a companhia, a dois grupos de combate, ficou com as calças na mão, mum medonho ataque a um dos seus destacamentos, lá para os lados de Aldeia Formosa, já na segunda parte da comissão, em inícios de 1967, em  plena época das chuvas.

− Os gajos atacaram-nos,  às tantas da noite, e usaram metralhadoras pesadas 12.7, com balas incendiárias. Acordei sobressaltado. Em pouco tempo, a tabanca, fula, com as palhotas muito juntas umas às outras, foi pasto das chamas. Nunca tinha visto um incêndio como aquele, a não ser quando se deitava fogo ao capim, no tempo seco. Valeram-nos as valas onde o pessoal se entrincheirou e resistiu até de madrugada. Eu, mais o capitão que teve o azar de lá estar nessa semana, agarrámo-nos com unhas e dentes ao morteiro 81. A companhia tinha apenas uma secção de morteiros. E dessa vez estava colocada, em reforço, noutro destacamento, não muito longe do nosso. Mas tínhamos, aqui, um morteiro 81. Foi o que nos valeu.  Apoio de artilharia não havia.

O nosso padeiro conta que ia ficando com as mãos queimadas se não fora as luvas que apareceram no espaldão, "por milagre".

− Granadas não faltavam, graças a Deus. E foi a nossa sorte. Os gajos retiraram com mortos e feridos, a avaliar pelos rastos de sangue que deixaram nos abrigos individuais junto ao arame farpado. Por minha conta, devo ter mandado alguns para o inferno. Em contrapartida, tivemos dois mortos e vários feridos graves. Só por milagre, é que a população se safou. Só houve alguns feridos ligeiros.  Mas a tabanca ficou praticamente calcinada. E com ela perdemos também os nossos haveres e os improvisados abrigos onde tínhamos os géneros alimentícios, bem como as outras palhotas que tinham sido cedidas à tropa. Ficámos só com a roupa que trazíamos no pêlo.


A descrição não poderia ser mais pormenorizada:

− A tabanca estava sobrelotada. Era pressuposto ficarmos ali temporariamente em reforço do sistema de autodefesa.  Havia suspeitas, fundadas, de colaboração com o inimigo, por parte de alguns elementos da população, e que por isso estavam de debaixo de olho do comandante do pelotão de milícias e do régulo.

− Mas os fulas eram leais à nossa tropa…

− Nem todos, junto à fronteira, eram mais permeáveis à propaganda e às ameaças do PAIGC – respondeu-me o M. Santos.

− Quer então dizer que, dessa vez, vocês ficaram de tanga…

− Ficámos de calcões e chanatas. Só com a G3 na mão, e as cartucheiras à cintura… Alguns ficaram só em cuecas!... A minha mala ardeu. Houve malta que perdeu tudo, tinham trazido os parcos pertences com eles, convencidos que iam passar ali umas ricas e merecidas férias… O tanas!... O mais grave é que ficámos sem comes e bebes, incluindo as rações de combate. Lá se aproveitou uma ou outra maldita lata de cavalas ou de conservas de pêssego da África do Sul… Claro que a população também pilhou o que não ardeu... Nestas situações, os seres humanos são todos iguais, sejam brancos ou pretos: há sempre uns tantos que tiram partido da desgraça dos outros...


De Bissau vieram, de helicóptero, trazer alguns reabastecimentos mais urgentes: caixas de munições, por exemplo. A coluna de Nova Lamego [, ou de Aldeia Formosa ?] só chegou ao fim do segundo dia. E traziam alguns sacos de farinha. Mas como fazer pão se até o pequeno forno do destacamento, em adobe, também tinha sido destruído?

− Com bidões cortados ao meio, na vertical, improvisei um forno e fiz o milagre dos pães, para meia centena de homens esfomeados… Tive um louvor do Schulz, e outro do comandante do batalhão, sob proposta do meu capitão. Mandei ampliar e emoldurar o louvor do general Schulz. Está no escritório. Ou estava, agora já passei a pasta ao meu filho mais velho. Reformei-me da Panificadora.


13. A padaria a que o “Duque de Palmela" se refere, foi a que ele criou, depois do seu regresso da Guiné em finais de 1967, e que ajudou a crescer, nos últimos 50 anos, "com mais algumas dezenas de colaboradores".


Com a construção e a inauguração da Ponte Salazar, unindo finalmente as duas margens do Tejo, entre Lisboa e Almada, o distrito de Setúbal conheceu um enorme surto de desenvolvimento, em termos urbanísticos, industriais, económicos e demográficos. 
Com algum dinheiro que poupou em África e um pequeno empréstimo bancário e mais uma ajuda de um dos irmãos que fora 'a salto' para França, fugindo à tropa, e que agora estava lá bem, perto de Paris, o “Duque de Palmela" comprou a quota de um seu antigo patrão, que se reformara, e que fazia parte de uma cooperativa de panificação num dos concelhos vizinhos. Essa Panificadora deu muitas voltas, depois do 25 de Abril, passou a sociedade anónima, até que o M. Santos se tornou o acionista principal, com o filho e com o irmão que estava em França.

Hoje é uma empresa de referência, no seu ramo, faturando cerca de 6 milhões de euros, e tendo uma razoável rede de clientes, incluindo superfícies comerciais, em todo o distrito de Setúbal. O “Duque de Palmela”, outrora o “pé descalço”, o 1º cabo que queria "ser mercenário e ir para o Vietname", tem hoje motivo de orgulho no legado que deixa aos filhos e netos.

− É sobretudo um exemplo de vida, tenho pena que o meu velhote já não esteja cá, há muito, para ainda poder ver a obra do filho.


Enxuga uma lágrima furtiva… Pediu-me uns minutos para ir a casa, uma bela vivenda ali ao lado das instalações fabris da Panificadora, para ir buscar uma foto que tinha com o general Schulz e mostrar-me o louvor, emoldurado.

− Não conheci o Spínola, o meu comandante foi o Schulz. Só tenho a dizer bem dele. Visitou-nos por duas vezes. Esta é a foto dele comigo, eu a enfornar o pão. E chegou a levar do meu pão para o palácio do Governador, em Bissau. Em troca deixou-me uma caixa de cerveja “para os padeiros”...

Infelizmente, o “Duque de Palmela” tinha enviuvado há dois ou três anos e lamentava não poder partilhar, com a “duquesa” (como ele, carinhosamente, tratava a sua alentejana de Santiago do Cacém), a alegria que fora a “transferência de poderes” para o filho, seu sucessor, e agora o maior acionista da Panificadora e seu administrador.

− Afinal, é a ela que eu devo tudo ou quase tudo. A ela e ao meu capitão. Foi, na Guiné, um pai para mim. Fiquei-lhe grato para o resto da vida. Vim a descobrir, entretanto,  que trabalhava nas Alfândegas de Lisboa, há uns dez anos atrás, quando ele se reformou. Nessa altura, fiz-lhe uma grande homenagem. Fizemos aqui o convívio anual da companhia. Foi memorável. Faltaram muitos mas mesmo assim consegui juntar uns sessenta camaradas. Com as mulheres, filhos e netos, éramos quase um centena de convivas. Fiz questão de ser eu a oferecer o almoço. Arranjei uma empresa de “catering” e o borreguinho assado foi feito cá nos fornos da Panificadora. Por coincidência, comemorávamos também nesse ano os 40 anos do regresso da Guiné.


E acrescenta, com alguma euforia:

− Foi um dia de alegria, um dos maiores da minha vida. Esse convívio ficou na memória da malta toda. E quem não veio, ficou com pena… Infelizmente, o capitão morreria uns tempos depois, ainda a minha mulher era viva.


Falando do seu sucesso empresarial, disse-me em tom de confidência:

− Tive sorte nos negócios, não vou dizer que não. Mas fui sempre um homem decidido e determinado. Tinha pouco a perder e tudo a ganhar. Se fosse alferes ou furriel, com estudos, teria arranjado um reles emprego,  num banco ou num escritório, aqui ou em Setúbal. Hoje sou patrão, ajudei a criar cinquenta postos de trabalho, são outras tantas famílias que dependem do bom andamento da empresa. Não tenho luxos, tirando a caça, continuo a ser um gajo simples… O que é quer que lhe diga mais, camarada ?!... Ponha aí que sei dar valor ao dinheiro e ao trabalho, e sou amigo do meu amigo.


Curiosamente, eu conhecera este homem, não na Guiné, mas por ocasião de um estudo europeu sobre condições de trabalho, saúde e absentismo, nos anos 90. A Panificadora tinha então ganho um prémio de segurança, e poderia ser um potencial estudo de caso de “boas práticas”… Conheci o pai e o filho através do médico do trabalho que tinha uma avença com a empresa e que fora meu aluno. Conversa puxa conversa, acabei por saber que ele tinha estado na Guiné, antes de mim, mas não longe dos sítios por onde passei e penei…

Já nessa altura eu gostava de dizer que o mundo é pequeno e que um dia voltaria a tropeçar na guerra da Guiné. Também eu, como muita gente, precisava de exorcizar os fantasmas do passado.

− Chegou a hora do repouso do guerreiro, camarada! – disse-lhe eu, da última vez que estive com ele, já depois de enviuvar.

− Esse é um dos problemas da malta da nossa geração… Muitos nunca fizeram férias, passaram a vida a trabalhar e a poupar, não gozaram a vida… Falo por mim… Como saber que estamos a chegar ao fim da picada ? Ainda gostava de lá ir, à Guiné, mas não sei se tenho força nas canetas…

− Mas já agora diga-me porquê e para quê voltar à Guiné?!... Se a pergunta, claro, não o ofender… – pedi-lhe eu. (Continuávamos a tratar-nos por camaradas, mas não por tu, ao fim destes anos todos, cerca de vinte e tal…).

Pesou a pergunta antes de responder:

− Porquê ?... O criminoso gosta sempre de voltar ao local do crime – respondeu-me com  um misto de bonomia e malícia. 


− E para quê, já agora ? – voltei a insistir.

− Olhe, sempre ouvi falar do Saltinho e dos rápidos do Corubal, até se dizia que era a parte mais bonita da Guiné… Andei por lá perto, mas nunca lá fui, nunca vi sequer o rio Corubal. Era um dos sítios da Guiné que gostava de visitar… E, depois, se conseguir fazer alguma coisa por aquela gente, tanto melhor.


Demos um grande abraço de despedida… e eu prometi a mim mesmo  escrever a história de vida deste homem… Porque não pô-lo também na Galeria dos Meus Heróis ?!  


Sei que voltou o ano passado à Guiné-Bissau e ainda encontrou gente do seu tempo, nas tabancas que ele conhecia… Mandou construir , do seu bolso, uma escola na antiga tabanca onde estivera destacado, e que ardera em 1967. Julgo que fez as pazes com o passado, tal como eu.

Faltou-me na altura, por lapso ou talvez por pudor, perguntar-lhe a origem da alcunha “Duque de Palmela”… Não tive lata ou faltou-me o tempo, se bem que ele nunca tivesse rejeitado, bem pelo contrário, a alcunha que lhe puseram na tropa e na guerra. Estendia a mão, muitas vezes, aos amigos dos seus amigos, quando se apresentava,  dizendo com graça: 'O Duque de Palmela, para o servir!'... Inclusive tratava a esposa por “duquesa… de Santiago do Cacém”. Tinha sentido de humor.


Um antigo camarada, furriel, da sua companhia, explicou-me, ao telefone, a origem da alcunha:

− Em Santa Margarida, no IAO, já toda a gente o tratava por “Palmela”… Acho que não havia mais ninguém daquelas bandas… Ao que parece, no barco, quando fomos para a Guiné, é que apareceu o “Duque”… Ele gostava de jogar às cartas, para passar o tempo, como boa parte dos militares embarcados. Mas não tinha sorte ao jogo… ‘Só me saem duques’, queixava-se sempre que perdia… Afinal, foi um camarada com azar ao jogo e sorte aos amores e aos negócios, pelo que eu sei e pelo que me contas… Quando chegou a Bissau, já toda a malta o tratava por “Duque de Palmela”… E acho que é também uma justa homenagem, visto o filme ao contrário, da frente para trás…


− É uma figura ilustre da nossa história, o 1º Duque de Palmela, político, militar e diplomata, um patriota do tempo do liberalismo − acrescentei eu. − Não nasceu em Palmela, mas para o caso pouco importa. No tempo da nossa monarquia constitucional davam-se títulos nobiliárquicos honoríficos por razões nem sempre nobres...  aos amigos e correligionários. Homenageavam-se homens e terras.  Dizia o povo, com sarcasmo: "Foge, cão, que te fazem barão!... Mas para onde se me fazem visconde?!"... 


Aqui para o leitor, que ninguém nos ouve: não me admirava nada que no próximo 10 de Junho a gente ainda vá a tempo de ver, na televisão, o nosso ex- camarada M. Santos a receber a comenda de mérito industrial... Não seria nada de mais justo, ver o nosso padeiro chegar a comendador depois de ter comido o pão que o diabo amassou.  

Afinal, mudam-se os tempos, mudam-se  as honrarias e as mercês...

© Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados.

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28 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É interessante esta referência ao gênero Schulz... Já não é do meu tempo, mas tinha a ideia que nunca foi tão popular, entre a tropa e os civis como o Spínola. Eram personalidades diferentes. Faltam-nos mais mais depoimentos sobre o Schulz.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Queria dizer "general", obviamente...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... e estratégias poltico-militares diferentes!

José Teixeira disse...

Luís
Genial texto que me fez lembrar Contabane me Junho de 1968, ali bem perto. As nossas histórias não podem ficar na parteleira do comodismo ou do esquecimento. Agora com o passar dos anos trazem o molho do romantismo que lhe dá outra graça. Bem haja.

Hélder Valério disse...

Ora bem

Aqui está o que se pode chamar de "história de sucesso". Ainda bem que temos por vezes lembrança e disso damos testemunho de casos assim, mais que não seja para contrariar a tendência que há de só se olhar para as desgraças.
O nosso "camarada da Guiné" aqui relembrado e retratado parece estar de bem com a vida.
E isso deve ser, tem que ser, um objectivo que devemos prosseguir e perseguir.
Em termos gerais já pouco tempo nos resta, considerando as nossas idades já "avançadas".
Por isso, com o balanço de vida já feito, pensemos em viver o melhor possível o tempo restante procurando fazer a paz com o passado e apreciando o presente, mesmo que a nossa perspectiva de futuro não seja a mais optimista.

E, já agora... a "panificadora" qual será?

Hélder Sousa

Valdemar Silva disse...

Realmente, no tempo das chuvas era muito difícil o reabastecimento. As estradas/picadas ficavam em muito mal estado para a circulação auto. As 'Berliet' e os camiões civis, mesmo assim, conseguiam passar, mas com grande dificuldade. Lembro-me no leste, em Canquelifá, só haver arroz, e vá lá, e se ter caçado, com grande dificuldade, uma porca javali que deu para comer durante uns dias.
Mas, no caso do 'Duque', lá para o sul, era bem pior e até foi preciso ir de Nova Lamego, bem longe no leste, uma coluna reabastecer Aldeia Formosa.
Não há dúvidas, comemos o pão que o diabo amassou.
Luis, mais uma parte do enredo para o filme 'A Guerra na Guiné'.
Venham mais.
Ab.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Hélder, o M. Santos (nome fictínio, por razões óbvias...) é um camarada que eu conheço (e adorei conhecer)... É pouco provável que leia esta história,mas também não quis, deliberadamente, dar demasiadas pistas para ser apanhado, amanhã, pelos repórteres da TV do Correio da Manhã... Portugal é pequenino, a Guiné é pequenina... Posso-te garantir que esta história é verdadeira... O meu "conto" pdoe ter várias leituras, mas uma delas, garanto-te, é esta: a Guiné também foi uma escola de virtudes... Vê o número daqueles de nós que estudaram e chegaram à unidadersidade: vê os exemplos daqueles que montaram os ssus negócios: vê os que fizeram as malas e procuram no estrangeiro, na emigração, na diáspora, o caminho para sobreviver, e dar uma vida digna aos filhos, coisa que infelizmente não tinham quando, regressados da Guiné, passaram "à peluda"...

A Panificadora. qual será ?.. Olha, um dia destes, pegas no teu carro e dás uma volta pelo teu distrito, batendo à porta das panificadoras... Também podes vir à minha terra, que é o último concelho do distrito de Lisboa...


De qualquer modo, é uma homenagem que eu faço a um camarada da tua região adotiva... Tu, ribatejano, és agora setubalense...

Fico-te grato pelo comentário. Luís

Anónimo disse...

Ora vamos lá escrevinhar alguma coisa, vou ver se passo no crivo do CAPTCHA e depois escrevo...


Tabanca Grande Luís Graça disse...

Dizes bem, Zé: "As nossas histórias não podem ficar na parteleira do comodismo ou do esquecimento"... Eu sei que a escrita é "algo de doloroso"... Eu gosto de uma boa história, e vou tomando boa nota de personagens e episódios que oiço...Depois é preciso encontrar o fio à meada...E escrever e reescrever...

Pode parecer incrível, eu também nunca tinha ouvido falar de recrutamento dos nossos jovens para a guerra do Vietname ou para a Legião Estrangeiro... Mas que houve casos, houve, e esta história ouvia da boca do próprio "Duque de Palmela"...

Anónimo disse...

Camarada Anónimo, nada mais simples:

Se não tens conta no Blogger, entras como "anónimo", deixas o teu comentário, pões o teu nome por baixo e...tens que provar que não és nenhum robô, antes de publicar o comentário... Se for um comentário extenso, é sempre conveniente ficar com uma cópia em "word", não vá o diabo tecê-las..., isto é, "desaaprecer" o comentário antes de ser publicado...

Luís Graça

Anónimo disse...

Caros amigos,
Mais uma história, ou uma bela estória do nosso amigo Luís Graça. Vê-se que tens jeito para isto.
Se um dia viesses a escrever a minha história, tinhas trabalho para uns anos, não remunerado, e isso ninguém quer fazer, mas a minha história, A minha Vida, dava um Livro e um Bom Filme, só que tem custos e as pessoas não querem investir no escuro, por isso não vai haver nada.
Depois do que já disseram os meus antecessores, este diálogo da vida de um dos nossos mais importantes camaradas de tropa, na Guiné, eram precisamente ‘Os padeiros’ bem como ‘Os nossos cozinheiros’, eram eles que nos enchiam a mula, com a fome que grassava por ali. Posso dizer que sempre me dei muito bem, com a malta dos comes e bebes, cozinheiros, cantinas, padeiros, vagomestres, eram os maiores, quando precisavamos de preencher um pouco o nosso tão frágil estomago ou a boca secava com o pó ou o calor.
Tenho algumas fotos com padeiros e afins, um dia vou juntar e mandar para um Poste, sobre estes homens, que eram tudo, menos básicos.
Este ‘Duque de Palmela’ foi um dos nossos heróis. A vida correu-lhe bem, pelos vistos sempre a subir, o que é muito dificil, todos sabem disso. Ele lutou por isso concerteza, mas outros fazem o mesmo e as coisas não correm assim tão bem. Foi bom para ele.
A tropa foi boa para muita gente, como já foi aqui comentado. Uns porque nunca souberam fazer nada antes do serviço militar, aprenderam uma profissão e depois de passarem à peluda, eis que fazem sucesso na vida civil e se tornam uns novos herois. Conheço alguns como todos também conhecem.
Não vem a proposito, mas lembro-me de um Presidente de um banco privado, que por pouco não levou um tiro na cabeça em Angola ou Moçambique, alferes miliciano atirador, e depois se tornou num dos maiores banqueiros portugueses, só a pensão de reforma dele actual – cerca de 170 mil euros/mensais- dava de comer e beber a muitos portugueses, e salvava da rua muitos sem-abrigo, alguns ex-combatentes, como cheguei a falar com um deles, tinha sido militar na Guiné, estava a dormir numa entrada de casa, dentro das habituais ‘caixas de cartão’ numa das mais comerciais Ruas da cidade, de então, na Rua de Julio Dinis no Porto, onde estava então instalada a sede desse Banco e tinha como presidente o já referido. A vida tem destas coisas, parece que é o destino, ou ‘porque tem de ser’…
Outros já tinham uma boa profissão cá fora, e deram continuidade a ela na tropa, e fizeram sucesso depois de fazerem o espolio militar, e seguiram em frente, há muitos exemplos disso.
Os outros, a maioria, começou a sua vida de homem na tropa, fez o seu serviço militar e depois, nada tendo aprendido, foram arranjando a sua vida, a começar aos 22 ou 23 anos, uns foram grandes homens, não queria dizer isso, porque são todos Homens – grandes, médios ou pequenos – fizeram pela vida ou a vida fez por eles, e outros voltaram à Cepa Torta, isto é às suas velhas terras, e não aprenderam nada, a não ser conhecer alguns locais em Portugal e no mundo, onde nunca tinham sonhado em estar lá.
Vantagens e beneficios da tropa, tirando é claro aqueles que não sobreviveram – que vieram numa caixa de pinho do outro lado do mar – os feridos os doentes os traumatizados de guerra, ninguém ficou impune a isso, todos sofremos e vamos assim acabar os nossos dias, senão não estavamos aqui juntos neste Blogue a contar as nossas histórias. E a diaspora como foi referido, milhares seguiram esse caminho, que antes da tropa nem sabiam que existia outro mundo, a não ser aquele cantinho da sua aldeia.

... continua, não cabe mais ....


Virgilio Teixeira
PS: Escrevi no Word e depois copiei para o CAPTCHA, e neste computador não aceita acentos, por isso vão faltar muitos, mas percebe-se.

Anónimo disse...

… continuação ……..

Tropa, como foi dito, uma verdadeira ‘escola de virtudes’.
Essa de «ocultar» os nomes e outros sinais, faz-me lembrar umas fotos que foram parar a um grupo de teatro, que as sacou do Blogue, e passaram a fazer capa de cartaz de um tema sobre os amores coloniais. Felizmente, ao que parece, foram retiradas a tempo de serem vasculhadas por toda a Net pelo mundo fora, sem qualquer autorização ou aviso prévio dos seus actores, e autores das fotos.
Pelo que vejo o nosso ‘Duque de Palmela’ ainda se cruzou comigo uns meses na Guiné, no Leste, em Chão Fula lá para os lados do Corubal. Ironia do destino, nunca cheguei a conhecer o Rio Corubal e ele passava ali tão perto de Nova Lamego, 30 km para Cabuca, ou outros 30 para o Cheche.
Só conheci o Geba, o Cacheu e um pequeno afluente, o Rio de São Domingos, por ser um daqueles pequenos rios que passava ali mesmo à minha porta. Embora tivesse percorrido dezenas de pequenos afluentes de rios, que nem sei os nomes deles.
Depois, quando lá voltei em 1984 e 1985, para um projecto privado em Cabuca, nas margens do Rio Corubal, estive lá perto a ver os terrenos, mas não cheguei a ver o Rio Corubal, pelos vistos dos mais bonitos da Guiné, e eu pensava que era o Rio Cacheu, que me encheu as medidas, em especial a sua foz, uma coisa impressionante como nunca tinha visto antes.
Não sei mais que falar, aqui fico com o meu testemunho face ao padeiro da Guiné e à sua Panificadora, que fica por aí num sitio qualquer.
Um abraço e mais uns parabens.

Virgilio Teixeira

PS: Escrevi no Word e depois copiei para o CAPTCHA, e neste computador não aceita acentos, por isso vão faltar muitos, mas percebe-se.





Tabanca Grande Luís Graça disse...

O "per diem" de 24 escudos e 50 centavos a que tínhamos direito no TO da Guiné para nos alimentamos, em 1966, equivalia hoje a 9 euros...Com esse dinheiro tínhamos que tomar o pequeno almoço, o almoço e o jantar...

Em dias de operações, de saída para o mato, em que levámos as "intragráveis rações de combate", esse dinheiro era "substraído" ao "per diem"... Não sei, já não me lembro, como é que se dizia na linguagem da tropa, para efeitos orçamentais e contabilísticos... Talvez o Virgílio Teixeira, que era oficial SAM,nos possa ajudar...

No início da guerra, nos anos 60, essa importância andava nos 10 euros... No final em 1974, com a inflação a "comer" o escudo, valia apenas 4 euros, a preços de hoje... Não sei se o "per diem" foi atualizado nos anos 70... Mas, digam lá, o que é que se comia com 4 euros (24$50) no final da guerra ?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mensagem acabada de enviar ao Virgílio Teixeira:


Virgílio, não estás, nunca estás esquecido...Vou ver se consigo editar os teus dois postes sobre o Gabu... Tem paciência.... Mas agora vê me respondas a esta questao que pus na caixa de comentários

(...) O "per diem" de 24 escudos e 50 centavos a que tínhamos direito no TO da Guiné para nos alimentamos, em 1966, equivalia hoje a 9 euros...Com esse dinheiro tínhamos que tomar o pequeno almoço, o almoço e o jantar...

Em dias de operações, de saída para o mato, em que levámos as "intragráveis rações de combate", esse dinheiro era "substraído" ao "per diem"... Não sei, já não me lembro, como é que se dizia na linguagem da tropa, para efeitos orçamentais e contabilísticos... Talvez o Virgílio Teixeira, que era oficial SAM,nos possa ajudar...

No início da guerra, nos anos 60, essa importância andava nos 10 euros... No final em 1974, com a inflação a "comer" o escudo, valia apenas 4 euros, a preços de hoje... Não sei se o "per diem" foi atualizado nos anos 70... Mas, digam lá, o que é que se comia com 4 euros (24$50) no final da guerra ? (...)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2019/02/guine-6174-p19491-galeria-dos-meus.html


Questões:

i) Como se chamava o nosso "per diem" ? Os meus soldados africanos recebiam em dinheiro, eram desarranchados...

ii) qual era o valor no teu tempo ? 24$50 ? Eu almoçava, em 1969/70, em Bafatá, no restauarante Transmontana por 20$00 (bife com batatas fritas e ovo a cavalo cerveja),,,

iii) o que é cobria o "per diem" ? Toda a alimentação ?

iv) sabes qual era o valor contabilístico de uma "ração de combate" ?

... Enfim, tens aqui pano para mangas...É a tua especialidade...

Xicoração. Luís

PS - Já viste o anúncio do nosso Encontro Nacional em Monte Real, em 25 de Maio ?

Anónimo disse...

Não se comia nada com isso, hoje, mas dava nessa altura.
o que é "per diem".?
Talvez o custo do rancho, não me lembra bem.

Sei que um uisque com perrier, pagava no bar, 4$50.

Ab. VT

Anónimo disse...

Luis estou a escrever e ver a TVI, o FCP-Roma. Por isso respondi no comentário anterior sem ler o que estava escrito.
Apesar de dizeres que tenho uma memoria enorme, não é verdade, pois muita coisa passou para a parte escura do cérebro.Tu sim tens uma memoria invulgar, até sabes quanto custava um bife com batatas etc, eu não me lembro de nada. Pagava e ponto.
Esta não era a minha especialidade, isso era do Vagomestre, eu desconhecia isso, nem sei o que é 'per diem!'
Talvez seja o 'subsidio de alimentação' ou nome parecido. Não faço ideia qual era esse valor, infelizmente. A minha função, se considerares 3000 homens que chegamos a ter sob a nossa administração, eu funcionava como o 'gestor de uma grande empresa'.
Todas as unidades prestavam contas ao Chefe do CA, eu prestava contas directamente na Chefia de Contabilidade, que aprovava ou não. Sempre me aprovaram tudo.

continua, antes que acabem os 4000 caracteres.

Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

Feito este pequeno introito, vamos tentar responder às perguntas:


Questões:

i) Como se chamava o nosso "per diem" ? Os meus soldados africanos recebiam em dinheiro, eram desarranchados...
resposta: julgo que se chamava o subsidio de alimentação, por dia e per capita. Os teus soldados desarranchados recebiam o valor do subsidio, em dinheiro, mas não sei ao certo, era uma tarefa do vagomestre de cada unidade, que tinha os seus mapas com os militares que estavam na lista dos presentes.


ii) qual era o valor no teu tempo ? 24$50 ? Eu almoçava, em 1969/70, em Bafatá, no restaurante Transmontana por 20$00 (bife com batatas fritas e ovo a cavalo cerveja),,,

Resposta: Não sei, mas devia ser igual, não existia a inflação galopante. Nem sei quanto pagava nos meus inúmeros almoços e jantares em Bissau, pois em NL foi pouca coisa pois não havia oferta especial para se comer fora, tirando os petiscos que fazia com os soldados condutores, e em SD nada mesmo, não havia onde comer fora, nem perto, só saía de avião para Bissau, ou no Sintex para Cacheu e Susana, Varela, etc.

... continua a seguir, vou jantar!!!



iii) o que é cobria o "per diem" ? Toda a alimentação ?

iv) sabes qual era o valor contabilístico de uma "ração de combate" ?

... Enfim, tens aqui pano para mangas...É a tua especialidade...

Zé manel cancela disse...

Caro amigo Luis…..No teu texto
veio-me á mente 0 22 de Junho de 1968,em Contabane
onde tudo foi destruído num ataque,e ao mesmo
tempo lembrei-me do Geada,o nosso padeiro que fazia um pão
do outro mundo,algumas vezes "exportado" para o Palácio
do governador,em Bissau…..E depois do regresso teve uma panificadora.
Só os locais não condizem,com a realidade…..

Anónimo disse...

... continuando...



iii) o que é cobria o "per diem" ? Toda a alimentação ?

Acho que sim, as 3 refeições, sem duvida.



iv) sabes qual era o valor contabilístico de uma "ração de combate" ?

Não faço ideia, mas não seria o mesmo, pela qualidade da ração - que também me calhou várias vezes - devia ter um custo inferior, na minha opinião, mas nada sei, é assunto do vagomestre.



... Enfim, tens aqui pano para mangas...É a tua especialidade...

Resposta: Infelizmente como já disse não era nem nunca foi a minha especialidade. E não temos aqui nenhum vagomestre no Blogue?

Sei alguns preços de coisas que me lembro, mas como tinha o meu vencimento - pré - todo lá, não senti muito os preços daquilo que gastava fora do quartel.

Este assunto, é muito sensível, não dá para escrever aqui o que se passava nesse ´'nicho de mercado' muito complicado. A alimentação sempre foi um assunto sensível. Ponto.

É tudo o que posso adiantar sobre este tema.

Concluindo, a minha função estava muito para além destes pormenores, eram contas que tinham a ver com o Fundo do tesouro, o Fundo Privativo, o saco azul (sim havia), o saco negro, era da competência exclusiva do comandante, para cobrir e pagar informações fornecidas pelas populações e informadores locais, os caçadores, que levavam e traziam informação sobre o IN. E por vezes ganhavam pelos dois lados, são temas de altas esferas, desculpem mas isto passava ao largo do comum dos militares, mas os CA estavam a par, mais ou menos, destes acontecimentos. Não quero levantar aqui outro tema, porque não adianto mais. Prescreveu.

Um abraço, não estou muito contente a esta hora.

Virgilio Teixeira








Anónimo disse...

Agora li o comentário do Zé Manuel Cancela, que de uma forma subtil, manda algumas 'achas' para a fogueira, ele lá sabe!

Quando eu estava em NL, os ataques a Madina - CCAÇ1589 - destruíam sempre tudo, e lá apareciam os 'autos de destruição' que vinham para o CA para os anexar às suas contas e submeter à Chefia de Contabilidade, e ninguém confirmava nada!

Disse,

Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

Mas, ainda sobre o 'per diem' não se confunda linearmente os 24$ com os 9€ actuais ou os 10€ em 74.
Isto já pode ser da minha lavra, 24$ em 66 não são os 9 ou 10 euros de 74, vistos à imagem da nossa mudança de moeda.
Como todos sabem, não foi tudo linear, coisas que subiram 2 a 3 vezes e as receitas de salários e outras ficavam na mesma.
Não vejo estas mudanças assim, agora vejam com o Brexit os britânicos estão à nora, por causa da introdução do euro no nosso sistema monetário.
Isto não é assim tão linear, nem dá para escrever aqui sobre isto.

Boa noite.

Virgilio Teixeira

Valdemar Silva disse...

Julgo que o 'per diem' é um termo agora utilizado nas empresas multinacionais, para as Ajudas de Custo (diária) quando de viagens ao estrangeiro.
No nosso POC é escriturado como Ajudas de Custo na subconta de 'Ordenados e Salários'.(era assim em 2015 quando andava nessas 'escritas')
Mas, o Virgílio é que é o homem certo para nos dar esta explicação.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgilio, estou a utilizar o "conversor" da Por Data


"Utilize este conversor para conhecer o valor de um montante (em euros ou em escudos) dos últimos 50 anos, a preços de hoje.", ou seja, tendo em cona a desvalorização da moeda...


https://www.pordata.pt/Portugal


É um valioso portal da Fundação Manuel dos Santos... Aqui podes fazer a conversar de escudos em euros (e vice versa) desde 1960!...

Anónimo disse...

O Valdemar tem razão, já vi no google, trata-se realmente de um termo latino, para referir as ajudas de custo, nas suas muitas e variadas formas, é novo o termo e não o conhecia. Mas não é um termo para substituir o montante 'pago' pelo Estado, para alimentação das suas tropas, quando em serviço permanente, com pequeno almoço, almoço e jantar. Isso era um subsidio de alimentação que os 'fazedores' de refeições, recebiam do Estado, para o pessoal 'enfardar' durante um dia em que estivesse no quartel. Falta-me o termo, há um certo, mas não me lembro realmente, é a memória a falhar, também não foi um termo que utilizasse no dia a dia.
No nosso POC que conheço desde que existe, ando agora afastado dele há mais de 10 anos, mas estas Ajudas de Custo 'per diem' eram contabilizadas nas Despesas com o Pessoal, numa sub conta com esse nome ou outro mais actualizado, isto anda sempre a ser mudado.
Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

Luís, o conversor da Por Data, não o conheço de trabalhar com ele, mas acredito que deve ter em conta todas estas variáveis que podem ter influência no resultado final da conversão. Quem o 'produziu' deve ter em conta muitas variáveis, como a taxa de inflação e outras, que conduzem também ao coeficiente que as Finanças aplicam na tributação das mais valias.
Só que isto pode ser uma aproximação, mais nada, um instrumento de trabalho, mas vale o que vale, é melhor que nada.
Não consigo imaginar quanto seria hoje em dia, os tais 24,50€ de 1960 até 1970, pois com a inflação em milésimas pouco adianta as virgulas. Em Escudos era só aplicar o tal Coeficiente para efeitos de mais valias, mas depois entra aqui um fenómeno que ninguém consegue dominar na sua amplitude, a mudança de escudos para euros, com os tais 200, e tal escudos por cada euro.
Como se pode hoje saber o que seria a vida financeira das famílias sem a introdução do Euro?
Por isso só posso adiantar que é alguma coisa para servir de termo de comparação, mais nada.

Em 1970, quando casei, pagava de água aqui em Vila do Conde, 10$00 por mês - dez escudos! e nos anos seguintes quase a mesma coisa, já com a família toda incluindo os 3 filhos.
Hoje eu e a minha mulher, pagamos cerca de 60€ mensais. Quanto dá isto com a aplicação da pordata? É só um exemplo.

Virgilio Teixeira



Anónimo disse...

Estive a fazer umas contas:
10 escudos com aplicação do por data são hoje 2,93€!
24,50 escudos em 1974 - fim da guerra - são hoje 4,09
- O coeficiente de Mais Valias, de 1970 a 2018, multiplica tudo por 56,68 vezes.
isto é 10 escudos seriam hoje, sem euro, 566 escudos.
. Os 60€ de factura de água, são hoje 12000 escudos, isto é são 120 vezes mais.
o que quer dizer, mais do dobro da inflação - mais valias.
Isto é muito complicado decifrar tudo, com a introdução do euro, e a desvalorização, isto é, taxa de inflação quase zero, para não dizer negativa, em muitos dos últimos anos.

Quem souber mais que responda.

Mas eu sei, quase de certeza, que viveria melhor com a minha pensão de reforma, nos velhinhos escudos, do que nos moderno-europeus Euros - dos europeístas.

Um pão, carcaça para os lisboetas, custa aqui no mínimo 10 centimos, são 20 escudos, portanto os nossos militares só tinham direito a um paozinho por dia...

Os 5 pães custam 50 centimos, isto é, 100$00 - Cem escudos.

Este foi o valor do meu primeiro salário em 1955, só dava hoje para 5 carcaças por mês!

Obrigado e desculpem esta trapalhada, nunca tinha feito estas coisas.

Vou começar a fazer estudos sobre esta temática, mas não ganho nada com isto.

Um abraço,

Virgilio Teixeira




Anónimo disse...

Escrevi um novo comentário com muitas contas, enviei ontem, depois das 13 horas, mas não aparece aqui, significa que não entrou, por causa do anónimo e do robot, o reCAPUTCHA está sempre a colocar dificuldades, por isso terei de fazer tudo em word primeiro, esta que fiz foi recta e já não sei o que disse!

E venho aqui porque me lembrei que o nome dado para a alimentação, poderá, não tenho a certeza, ser «Abono para alimentação»

Pode ser que alguém se lembre, era bom ter aqui um elementos do SAM - mas de Intendência, tipo Vagomestre ou afim, eles é que sabiam destas coisas.

Ab, Virgilio Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Camaradas, não dá para comentar, estou fora da blogosfera desde quarta-feira... É coisa estranha. É como um ET na terra dos homens... Só amanhã devo ter acesso a NET... Bom fim de semana. Estou furioso com o meu operador de telecomunicações... Fui a Belver comer lampreia e perdi-me. LG