terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19509: Memórias de Gabú (José Saúde) (77): Pequena biografia da Guiné-Bissau. Viagem pela história. (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série. 


Pequena biografia da Guiné-Bissau

Viagem pela história

Numa curta viagem pela história da Guiné-Bissau, procuro disseminar conteúdos que conduzem a pequenas biografias de um território palmilhado por camaradas que para lá foram atirados “sem lei nem roque” e onde fomos combatentes numa comarca que se deparava então com a crueldade da guerra.

Sei que o debitar narrativa publica é por vezes mal entendida. Porém, não diverge-mos de pontuais opiniões, que aceitamos, e nem tão-pouco façamos do tema um cavalo de batalha. Passemos à frente e respeitemos. Aliás, enquanto a flexibilidade do cosmos da escrita o permitir, sê-lo-ei sempre um camarada pronto a responder à chamada e trazer à estampa pequenos “contos” de uma terra avermelhada que nos fez sofrer. 

Vamos ao tema que hoje aqui narramos. Foi uma pesquisa feita a um país que nos fora anfitrião durante o conflito e que serviu de base ao texto aqui inserido. 

A Guiné é um território plano, com poucas elevações, muitos rios e canais, sendo constituída por algumas ilhas, muitas delas próximas da costa - Bissau, Bolama, Como, Melo, Caió e Pecixe - e pelo arquipélago dos Bijagós, no qual se salientam, de entre outras, as ilhas Caravela, Formosa, Roxa, Galinhas, Orango, Ponta e Maio. 


O primeiro império a invadir o território foi o Gana por volta do século V. Sabe-se que a história refere um certo materialismo nas relações com os árabes do Magreb, sendo estas, por outro lado, amistosas, uma vez que a tolerância com o islamismo prevaleceu.

Alguns desses povos foram convertidos à religião muçulmana e apelidados de almorávidas. Estes, no século XI, empreenderam uma guerra santa a partir do Senegal, tendo-se o movimento expandido até à Península Ibérica. 

Com a destruição do império Gana, houve a libertação de muitos dos povos que entretanto estavam dominados, os Mandingas são disso um fidedigno exemplo, e partiram deliberadamente para a invasão do atual território da Guiné/Bissau no Séc. XIII.

Os portugueses chegaram à Guiné em 1446 e quando exploravam a costa africana. O conceito de Guiné do século XV era muito amplo, abrangia grande parte da África Ocidental, a sul do Cabo Bojador, dobrado em 1434 por Gil Eanes. Em 1466 a Coroa concedeu a administração da Guiné desde o Rio Senegal até à Serra Leoa, com exceção das ilhas de Arguim, incluindo o tráfego de escravos aos capitães de Cabo Verde. Os espanhóis tentaram, e por diversas vezes, conquistar a região, mesmo que a forma para o conseguirem se situasse afastado pelo Tratado de Alcáçovas (1480).

No segundo quartel do século XVI há uma grande intervenção da pirataria de traficantes franceses, seguindo-se os ingleses. Durante o período de denominação filipina (1580-1640) apareceram os Holandeses. A primeira povoação a ser criada foi o Cacheu, 1588, e que se tornou mais tarde na sede das primeiras autoridades coloniais de nomeação régia: os capitães-mor.

Em meados do século XVII, a ocupação portuguesa estende-se ao longo dos rios Casamansa, Cacheu, Geba e Buba. Em 1687 constrói-se uma importante fortaleza em Bissau. Sucede-se, até ao século XIX, um período de conflitos entre Portugal, a Inglaterra e a França pela posse destes e outros territórios da Costa Ocidental de África. A França consegue melhores resultados. Pela Convenção de 1836, Portugal cede-lhe os territórios que iriam constituir a África Ocidental Francesa. 


O fim da escravatura, principal negócio da região, levou a que fosse desenvolvida a agricultura e silvicultura, onde operavam grandes companhias francesas, inglesas e alemãs que exploravam o amendoim, óleo de palma e a borracha. Em 1879 a Guiné passa a ter um governo próprio. Em 1943 a capital é fixada em Bissau. 

Chegamos, agora, à guerra na Guiné. O conflito iniciou-se a 23 de janeiro de 1963 na região de Tite. O PAIGC apresentou-se, desde logo, como uma força militar deveras eficiente. A sua ação de início obrigava as forças portuguesas a defenderem-se no interior dos aquartelamentos, ou em grandes operações travadas no interior da mata.

Segundo informações recolhidas em sites sobre o conflito armado na Guiné, soubemos que no princípio da guerra as nossas tropas registavam cerca de 10 mil combatentes no terreno e que terminámos com cerca de 40 mil soldados distribuídos pelos três ramos das Forças Armadas, ou seja, Exército, Força Aérea e Marinha.

Em 1974, após a Revolução dos Cravos, 25 de Abril, Portugal reconheceu a Independência da Guiné, dando-se por terminado um conflito onde se registaram um infinito números de mortos, mutilados, desaparecidos, de entre muitos camaradas que sofrem ainda hoje de um atroz stress traumático de uma pós guerra deveras avassaladora. 

Para a história fica, também, que o PAIGC proclamou a independência da Guiné-Bissau a 24 de setembro de 1973 nas Colinas de Boé. 

Camaradas, deixo-vos com esta pequena história de um território onde assistimos a díspares acontecimentos de uma guerra que nos foi na verdade cruel.

Um abraço camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:  

28 DE DEZEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P19343: Memórias de Gabú (José Saúde) (76): As habituais mensagens Natalícias de antigos combatentes. Realidades de guerra (José Saúde)

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