segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19527: Manuscrito(s) (Luís Graça) (151): o passado, o presente e o futuro: tal como em Guidaje, Guileje ou Gadamael, não vai haver ... "bunkers" para todos


Lourinhã > Praia da Areia Branca > 14 de fevereiro de 2019 >  Pôr do sol às 17h42


Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O futuro

por Luís Graça


A última barreira: adivinhar o futuro. 
Seria a omnis...ciência. 
Usurparíamos o poder dos deuses. 
Mas sempre quisemos, em todas as culturas,
deter esse poder... 

Adivinhar o futuro através do voo das aves, 
ou da dissecação das suas vísceras,
da conjugação dos astros, 
da queda dos meteoritos, 
do nascer e do pôr do sol, 
da bola de cristal, 
das cartas de jogar,
da ficção científica... 
Através das pitonisas,
das bruxas,
das cartomantes,
dos vendedores de sonhos...

E desgraçadamente não somos sequer capazes
de reconstruir o "puzzle" do passado, 
juntar as peças e dar-lhes um sentido... 

E muito menos ainda compreender 
o que se está a passar, aqui e agora... 
na casa comum da humanidade. 
Como se diz hoje, 
não temos escapadela, 
não há saída de emergência,
não há plano B, 
não há planeta suplente...
Tal como em Guidaje, Guileje ou Gadamael,
não vai haver... "bunkers" para todos nós.

Lourinhã, Praia da Areia Branca
Passeio da Foz do Rio Grande,
Esplanada do 100 Pratus - White Sand Club
14 de fevereiro de 2019

______________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19450: Manuscrito(s) (Luís Graça) (150): No país dos poetas...

5 comentários:

Anónimo disse...

Abro o blogue e aparece pela manhã radiosa um por de sol, numa praia que nem conheço, um poema, mais um belo poema, relembrando o triângulo dos 3G.

E não só, não há mesmo nenhum plano B, se calhar. até nem temos o plano A.

Porquê que não tenho um dom de poeta, Deus não quis?

Um bom inicio de semana.

Virgilio Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Virgílio...

É apenas uma legenda para uma foto, em formato de... "texto poético", livre... Tanto esrevo sonetos e quadras populares como lengalengas, tirando partido da oralidade... Ainda este fim de semana fuia duas festas de anos, e fiz 12 quadras, para a mulher de um amigo e camaradacom está com Alzheimer, e um soneto para o "mano" Tó Carneiro, o irmão mais velho da Alice, que fez 80 anos, e que é Deficiente das Forças Armadas: tirou um tiro de Uzi, que o atingiu em 7 órgãos... Diz 800 quilómnetros para estar com ele 3 horas... Em suma, este fim de semana, tive que "poetar"...

O pôr do sol inspira-me sempre sentimentos "ambivalentes"... Nisso sou "bipolar": sentimentos que vão do 0 a 10, numa escala de 0 a 10...

Quanto ao talento, é como tudo, "cultiva-se"... e "dai do pelo", levantas-te mais cedo, aí pelas 5 da manhã, como o padeira, abres o cpompuatdor, começas a escrever, e aí pelas 7 horas és capaz de meia uma dúzia de quadras populares, de 7 sílabas métricas, tudo a rimar, à maneira, como o povo gosta...

Também faço versos "por encomenda"... Quando precisares, apita!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

"Concordo com esta ideia de John Berger de que podemos fazer o passado", acaba de me escrever uma amiga do Porto... "O passado é uma coisa de que não somos prisioneiros.Podemos fazer com o passado exatamente aquilo que desejarmos. O que não podemos fazer é alterar as suas consequências"...

Ela pergunta-me se eu concordo... Respondo: Concordo inteiramente, miha querida amiga... O passado não existe, a não ser como "puzzle" (esburacado) na nossa memória... É um conjunto de "peças soltas", a que temos de dar "algum sentido"... O passado só existe como (re)construção... O mal é, às vezes, ficarmos prisioneiros nele quando ele se torna uma teia de aranha... Sim, há um risco de ficarmos prisioneiros do passado... Mas o passado não é determinístico... Mas as suas "marcas" não podem ser apagadas...

E sugeri-lhe lesse este poste, que escrevi ontem à noite, antes de me deitar... Tem alguma relação com a nossa conversa... O (pre)texto foi um pôr do sol de há uns dias atrás... na Praia da Areia Branca.

Acho que só a palavra nos salva, de preferência com humor e ironia...

PS - Mas no caso do(s) "desastre(s) planetário(s)" de que já estamos a vítimas e testemunhas, é também urgente a ação... A nossa geração sabe a "merda" que fez, em tão pouco tempo... desde a revolução industrial de finais do séc. XVIII / princípios do séc. XIX. Os mais jovens não sabem o que é isso: estudar à noite com uma cadeeiro a petróleo, estar numa guerra dois anos sem telefonar à família, escrever uma "aéreo!, viver, dormir, comer, rezar, num "bunker", etc.

Valdemar Silva disse...

Luís
E andar descalço sem ser na praia.
E na praia alugar uns calções, por não ter dinheiro prós comprar.
E só os bêbados é que podiam dizer Viva a República.
E desejar só ter filhas para não irem prá tropa (até ver).
.....…

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Olhem só, o Valdemar também faz aqui umas boas quadras - não sei se são métricas ou assimétricas - eu é que não faço uma só.
Cada um é talhado para uma função na vida, acredito nisto, mesmo que 'não esteja escrito'.

Como dizia Sir Lawrence d'Arabia,


"nothing is written unless they write it".

depois da sua travessia triunfal do deserto.

Virgilio Teixeira