sábado, 27 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25782: Os nossos seres, saberes e lazeres (638): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (163): Uma romagem de saudades pelo Pinhal Interior - 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Maio de 2024:

Queridos amigos,
Aqui se afiança que Figueiró dos Vinhos oferece muito mais do que uma impressionante exposição de pintores naturalistas no Centro de Artes, em que a pintura de José Malhoa recebe o natural destaque, pois ele aqui viveu e morreu. Figueiró é uma vila mimosa, muito florida, não só cercada pela natureza, sente-se à vista desarmada que tem uma singular oferta a quem a visita, praia fluvial, percursos pedestres, trilhos, quanto ao seu património edificado o concelho tem os seus valores na igreja matriz, no Convento de Nossa Senhora do Carmos e também nas ferrarias na Foz do Alge, elas foram fundamentais nas lutas liberais. Digamos que foi visita de médico, partiu-se para Casal dos Matos, onde houve residência secundária que era uma ternura, não havia quem ali chegasse que não se desdobrasse em louvores. E seguiu-se para Pedrógão Grande, aqui se tem dormida, na manhã seguinte ir-se-á bater à porta de Pedrógão Pequeno.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (163):
Uma romagem de saudades pelo Pinhal Interior – 2


O ponto de partida da visita a Figueiró dos Vinhos foi a visita a O Casulo, a casa que José Malhoa transformou para sua habitação e ateliê, seguiu-se a Casa das Artes e Museu, está dia chuviscoso e tenho uma certa ânsia de me pôr ao caminho, de Figueiró a Outeiro do Nodeirinho, daqui até Figueira, e depois contemplar, com profunda mágoa, a ruína de uma casa que ajudei a remodelar e de que guardo as mais gratas memórias. Mas que o leitor saiba que Figueiró dos Vinhos tem muito para oferecer, andei com as minhas filhas na praia fluvial Ana de Aviz, hei de despedir-me desta romagem de saudade nas Fragas de S. Simão, há percursos pedestres aliciantes, pormenores de património edificado que vale a pena visitar, é o caso da igreja matriz, de uma outra estaria em ruínas no século XIV, com profundas alterações ao longo dos séculos, tem bela azulejaria, os capitéis são renascentistas, dispõe de boa pintura do século XVI e no altar-mor está uma pintura de José Malhoa intitulada O Batismo de Cristo, de 1904. E posso afiançar que os arredores oferecem panoramas aliciantes e pormenores históricos curiosos como a Antiga Ferraria da Foz do Alge, situada na Ribeira de Alge, viveu duas épocas distintas: a que terminou no tempo do Marquês de Pombal e a segunda, iniciada no reinado de D. Maria I, que se estendeu até final das lutas liberais.
Antiga Ferraria da Foz do Alge
Ninguém esqueceu o pavoroso incêndio que assolou povoações de Pedrógão Grande em 2017, morte e destruição. A casa de agricultores que começara a reconstruir no princípio do século, reconstrução em fases, primeiro o telhado, dois quartos, um salão, cozinha e casa de banho, restaurou-se a adega, consertaram-se as pipas e as telhas, lajeou-se todo o pátio, como os invernos são verdadeiramente álgidos, pôs-se uma salamandra na cozinha, o carpinteiro caprichou a fazer o varandim; na segunda fase alterou-se profundamente a chamada casa dos cereais, a casa da mula, a charrete e a carpintaria mereceram restauro, aqui se conviveu e havia força anímica para aqui se passarem as férias e as estadias breves de fim de semana. Houve depois a troca por uma casa em Tomar, continuou-se a fazer visitas e a ver com agrado, que os novos donos, professores de Educação Física, introduziam acrescentos e eu via crescer um rododendro de folhas brancas, os kiwis, as oliveiras. Por razões de pudor, não mostro o escombro, a vegetação viceja entre as ruínas, o dono atual terá regressado ao seu país, não terá recursos para voltar a pôr de pé este recanto encantador. Aqui se viu tudo especado e amargurado. Partiu-se para Pedrógão Grande, aí se dormirá e amesendará.
Estou agora na igreja matriz de Pedrógão Grande, dedicada a Nossa Senhora da Assunção, a construção primitiva data do período da Reconquista (séc. XII), mas o essencial do que vemos no seu interior é marcado pelo período manuelino e pelo barroco. Confesso que sinto uma forte atração por esta abóbada polinervada sobre o altar-mor, obviamente sujeita a restauros, tem uma sinalética curiosa, bem gostaria de identificar ao pormenor o que estou a ver.
É uma das lajes funerárias proeminentes que guarda o transepto, trata-se da sepultura perpétua de Pedro Carvalho Andrada Leitão e seu herdeiros, ele faleceu a 26 de junho de 1640, não chegou a ver a Restauração.
É um belo monumento nacional, impossível não gostar deste púlpito lavrado, adossado à coluna.
A entrada principal prima pela severidade, anoitecia, o que oferece a oportunidade a quem capta imagens de gerar um contraste entre a profusão de dourados do altar-mor e o que de austero capta a vista em profundidade.
Este monumento nacional prima por ter este corpo em andares, uma inusitada torre cimeira, há a vantagem do desafogo com que pomos os olhos, assombrados pela singularidade da construção e pela qualidade da intervenção a que tenho sido sujeito, é um tempo inigualável.
Vista que vai do pelourinho à torre sineira
Pedrógão Grande, tal como Figueiró e outros locais do Pinhal Interior, goza do privilégio de ter dentro da vila múltiplos sinais da natureza, vadiando por azinhagas e caminhos deu para encontrar estas duas orquídeas selvagens, no entanto eram as grandes manchas de amarelo de flores silvestres que pronunciavam o vigor primaveril.
Procurou-se o Centro de Interpretação, é mesmo uma curiosidade, fizeram-se obras num casarão que se arruinou, consolidaram-se paredes esventradas, fez-se no interior um património remoçado, tem sala de exposições e auditório, publicações e produtos artesanais, aqui colhem-se informações, pena não haver um folheto que elucide o visitante de que Pedrógão tem as suas pérolas a oferecer: a igreja matriz, a igreja da Misericórdia, alguns museus, ruínas romanas, nos arredores, em Troviscais, um museu multimodal com objetos da I República, da Maçonaria, do povo ratinho que por aqui passava a caminho ou vindos do Alentejo, deixou marcas que um colecionador põe à disposição do público, são imprevistas e muito impressíveis as recordações que todos estes objetos nos deixam, imagens de grande valor etnológico e etnográfico, marcas do culto artístico e de valioso património acolhido neste ponto do Pinhal Interior.
A neblina começa a tomar conta da barragem do Cabril, deste imponente parapeito vê-se o caminhar do Zêzere que se irá encontrar com o Tejo ali em Constância, aqui nos detemos na esperança de um bom pitéu regional, a barragem faz fronteira com a freguesia de Pedrógão Pequeno, concelho da Sertã, onde também se viveu e se vai recordar.

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 20 DE JULHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25764: Os nossos seres, saberes e lazeres (637): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (162): Uma romagem de saudades pelo Pinhal Interior - 1 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25781: Lições de artilharia para os infantes (11): A artilharia portuguesa, até à década de 90, nunca teve condições para efectuar a Preparação Teórica do Tiro (Morais Silva, cor e prof art AM, ref; ex-cap art, instrutor 1ª CCmds Africanos, Fá Mandinga, adjunto COP 6, Mansabá, cmdt CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 > A famosa e feliz foto do ex-alf mil médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007: a saída do obus 14, de noite.

"Foi tirada com a máquina rente ao chão. Bedanda tinha três. Uma arma demolidora. Um supositório de 50 quilos lançado a 14 km de distância... Era um pavor quando disparavam os três ao mesmo tempo... Era costume pregar sustos aos periquitos... Eu também tive honras de obus, quando lá cheguei... Guileje não tinha nenhum obus, mas sim três peças de artilharia 11.4. A peça era esteticamente mais elegante do que o obus" - disse-me o Amaral Bernardo, no dia em que o conheci pessoalmente, no Porto, no seu gabinete no Hospital Geral de Santo António, que era então a sua segunda casa, e onde era o director do ensino pré-graduado da licenciatura de medicina do ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar/HGSA Ciclo Clínico (ou seja, responsável por mais de meio milhar de alunos, um batalhão; reformou-se, entretanto]...

Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Morais Silva (cor art ref; foi professor de artilharia e investigação operacional durante duas décadas, na Academia Militar; ex-cap art, cmdt  CCAÇ 2796, Gadamael,  instrutor 1ª CCmds Africanos, Fá Mandinga, adjunto COP 6, Mansabá,1970/72; colabora com o nosso blogue desde 31/5/2010; integra formalmente a nossa Tabanca Grande desde 17/3/2019; tem 142 referências no blogue; página na Net:  https://www.moraissilva.pt/):


Data - 26/07/2024, 21:54
Assunto - 

Caro Luís

Afinal resolvi fazer o seguinte comentário “educativo” (*):

A afirmação de Domingos Robalo "No CTIG, devido à rarefação do ar (pressão atmosférica reduzida), este alcance tabular tem um incremento de 10%" sugere-me um muito breve apontamento teórico sobre o tiro de artilharia. (**)

A trajectória de um projéctil é afectada por:

1. Condições balísticas : "Gastamento do tubo" e "Temperatura da carga" que afectam a Velocidade Inicial da granada e, portanto, o alcance do tiro. Para um obus/peça o efeito conjunto deste dois parâmetros só pode ser conhecido, para cada carga, dispondo de um Velocímetro que na nossa Artilharia só apareceu na década de 90...

2. Condições aerológicas: "Rumo donde sopra o vento" para calcular os efeitos longitudinal e transversal respectivamente nas Distância e Direcção do tiro. "Temperatura e Densidade do ar" para obter correcções na distância de tiro. Para calcular o efeito destes parâmetros é necesssário dispor de uma estação meteo (Meteogramas) e só na década de 80 passamos a dispor desta facilidade.

Resumindo, a Artilharia portuguesa, até à década de 90, nunca teve condições para efectuar a Preparação Teórica do Tiro. E porque assim foi, o atrás referido “incremento de 10%” não tem suporte analítico que eu conheça.

Nos 3 TO a artilharia usava a prancheta topográfica que, na Guiné, dispunha do suporte da preciosa carta totográfica 1:50000.

A distância topográfica e diferença de cota determinavam Carga e Elevação do tubo. Os Rumos Posição-Objectivo e de Vigilância permitiam calcular a Direcção topográfica que era corrigida da Derivação tabular associada ao tempo de voo.

Procedimento simples cuja eficácia era afectada pela localização "estimada" das bocas de fogo do IN...

Ainda hoje não entendo porque não foi prioritária a aquisição de radares contra-morteiro que transformassem a nossa artilharia "barata-tonta" em "barata-inteligente e eficaz".

Última nota para alguns Oficiais artilheiros-infantes que recorreram à observação aéra/terrestre, para obter correcções empíricas para a distância topográfica e assim melhorar as condições balísticas para o "Apoio próximo". Era poucochinho (100, 200 metros) mas melhor do que nada.
Abraço

Morais Silva

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)
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Notas do editor:


Vd. também poste de 26 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25777: Casos: a verdade sobre... (47) "Fogo amigo", Xime, 1/12/1973: o obus 14 cm m/43 usava a granada HE (45 kg) com alcance máximo de 14,8 km... (Morais Silva, cor e prof art AM, ref; ex-cap art, instrutor 1ª CCmds Africanos, Fá Mandinga, adjunto COP 6, Mansabá, cmdt CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25780: S(C)em Comentáros (44): o seminário, a tropa e a guerra (Francisco Baptista, autor do livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia", Edição de autor, 2019, 388 pp.)


1. Dois comentários sobre o tema "o seminário, a tropa e a guerra colonial", no poste P18954 (*)



(i) 
Francisco Baptista 

ex-Alf Mil Inf, CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72); natural de Brunhoso, concelho de Mogadouro, Nordeste Transmontano, é autor do livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia" (Edição de autor, 2019, 388 pp.)

Dos ex-seminaristas fala-se mas não sei porquê apesar de aprenderem a falar , a ler e a escrever, poucos falam e escrevem, outros lhe dissecam as vísceras como se fossem aves frias e estranhas, do interior do país que nunca tiveram voz e autoridade religiosa ou laica para ser escutados entre as inteligências que do litoral governam tudo.

(ii) Tabanca Grande Luís Graça

Francisco, o teu comentário parece-me "sibilino"... Eu acho que o entendo... Mas há dois sujeitos da frase, se bem entendo: (i) os ex-seminaristas, apesar de terem aprendido a falar, a ler e a escrever, pouco falam e escrevem.. ; (ii) os do interior do país que nunca tiveram voz e autoridade para serem escutados pelo senhores do litoral...

É verdade: (i) os ex-seminaristas pouco escrevem sobre o tema "seminário, tropa e guerra colonial"; (ii) há um dicotomia interior-litoral, mais uma "assimetria" no discurso de uns e outros...

28 de agosto de 2018 às 20:27 

(iii) Francisco Baptista:

Amigo Luís, entre um poste e outro, para mim não foi tudo claro, daí talvez o "sibilino" entre aspas. Nem tudo tem explicação ou por outro lado nem tudo merece ser explicado porque ao sê-lo pode-se expor demasiado algum mistério que deve existir sempre nas relações entre as pessoas de modo a não perderem o entusiasmo por um convívio estimulante.

Os seminaristas do nosso tempo foram os pobres, filhos de pobres, a maioria do interior, que na procura de mais conhecimentos e mais dinheiro se sujeitaram a viver ainda crianças nos seminários, grandes edifícios parecidos com enormes quartéis, frios, húmidos, impessoais, sujeitos a uma disciplina rígida e desumana ministrada por homens frustrados sem mulheres e sem filhos.

O meu ano no seminário (**) , longe de casa, a viver numa terra plana, onde não havia mar à vista em alternativa, sem a amizade dos amigos de infância, sem o calor da família e da lareira. foi o pior ano da minha vida. Pior do que o pior dos três anos de tropa.

A maior parte dos seminaristas não falam dessa experiência como se de uma experiência traumática se tratasse. Esses anos de clausura, de estudo, missas diárias, rezas e penitências, que duravam por cada ano quase onze meses deixaram-lhes marcas psicológicas que em muitos deles ficaram sempre reconhecíveis na forma de ser, de estar e de viver. No rosto de alguns ficou sempre visível, um certo desânimo, alguma tristeza e ponderação a mais.

Passei pelo mesmo seminário onde esteve o nosso camarada coronel A. Marques Lopes, autor do livro "Cabra Cega", que gostei de ler. Conheci personagens que ele retrata,, confesso que não me lembro dele, mas lembro-me bem dum amigo dele de Cabo Verde, um tipo afável e simpático que um dia me disse, nunca esqueci, que eu nunca seria padre porque tinha muitas irmãs. Esse enigma nunca o decifrei.

Conheci o padre José Maria, um transmontano bondoso e amigo de todos, o diretor, um padre mirandês, de Ifanes, muito severo. que para castigo de todos usava os argumentos e instrumentos de suplício das professoras primárias. Quando um dia me tratou assim, explodi e gritei-lhe que não tinha o direito de me tratar desse modo, pois não era meu pai.

Quis deixar o seminário mas não mo permitiram, no fim do ano expulsaram-me, talvez para assinalarem bem a autoridade deles.

O livro "Nó Cego", do camarada Carlos Matos Gomes, que li recentemente e também gostei muito, fala de um alferes, ex-seminarista que tem uma deriva, que além de afastada dos ensinamentos religiosos e conservadores da época, é também muito desumana. Aconteceu com alguns ex-seminaristas talvez originada pela discrepância entre a violência psicológica dos anos de seminário e a santidade apregoada por palavras.

Revejo-me nalguma tristeza que durante anos cobriu de névoa o semblante de alguns ex-seminaristas e que cobriu igualmente o semblante de muitos camaradas ex-combatentes. (...) (***)

29 de agosto de 2018 às 19:35

Guiné 61/74 - P25779: Notas de leitura (1712): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, ano de 1869) (13) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Maio de 2024:

Queridos amigos,
O Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde e da Costa de Guiné, parece que ganhou vivacidade quanto aos assuntos da ainda Senegâmbia, já não se limita a nomeações, transferências ou autorização de férias por motivos de saúde ou às receitas alfandegárias, vimos em números anteriores que os governadores passam a enviar para a cidade da Praia informações mensais, fala-se de tudo um pouco desde a agricultura à saúde. Ora, nestes Boletins do início de 1869, aparece um relatório assinado pelo governador Fortunato Meira para o Governador Geral, dando conta de ocorrências havidas na região de Geba, não era a presença portuguesa que estava em causa, eram questiúnculas de diferente dimensão, revoltas contra régulos, que tinham obrigado à intervenção da força militar de Geba, o chefe dos Futa-Fulas veio atacar territórios Mandingas, queimou uma povoação, ainda se faziam escravos nestes ataques, como no passado, esse mesmo chefe dos Futa-Fulas pretendia atacar Gofia, povoação próxima de Geba, as tropas do presídio tiveram que intervir, o Governador mandou levantar quatro baluartes para defender o presídio, na eventualidade de tentativas de agressão. O Governador regressou a Bissau e o chefe dos Futa-Fulas queimou Gofia, degolando todos os homens que apanharam com armas na mão. No meio deste turbilhão, o Governador da Guiné informa o Governador Geral que a navegação no rio Geba estava desembaraçada, o chefe dos Futa-Fulas pusera termo a outras sublevações. Em leitura política podemos dizer que se estava a afirmar a boa relação entre as autoridades portuguesas e as etnias Fulas.

Um abraço do
Mário



Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX
(e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, ano de 1869) (13)

Mário Beja Santos

Este ano de 1869 está a trazer algumas surpresas, ficamos a saber que a escravatura foi totalmente abolida e que há um prazo determinado para o escravizador libertar o escravo. E aparece um interessante relatório, seguramente que irá interessar os investigadores que pretendam aprofundar este período.

No Boletim Official n.º 4, de 25 de janeiro, por disposição do Ministério dos Negócios da Marinha e Ultramar, é criado em cada uma das províncias ultramarinas lugar de chefe de serviço de saúde, irá exercer as mesmas atribuições que até então pertenciam ao físico-mor. Lido atentamente o documento, não fica tudo exatamente na troca de nomes, abre-se a oportunidade a aparecer mais gente qualificada. No Boletim n.º 6, de 6 de fevereiro, é aprovado o orçamento de despesa a fazer com a reconstrução do Baluarte do Pidjiquiti na importância de 456.720 réis. No Boletim n.º 7, com data de 13 de fevereiro, confirma-se a nomeação feita pelo Governador da Guiné de Martinho Lopes de Oliveira para fiscal no ponto de Geba, fazendo serviço no ponto de S. Belchior (confirma-se assim que esta região do Geba passara a merecer quadro de ocupação e vigilância, o que não ocorrera até então).

Neste mesmo Boletim, o Governador da Guiné, Manuel Fortunato Meira, envia ao Governador Geral a ata de uma sessão da Comissão Municipal da Guiné, com data de 16 de janeiro, onde além do agradecimento ao Governador Geral “pelas acertadas medidas e providências que adotou para debelar a epidemia da febre amarela, louva igualmente o Governador Geral pelas acertadas ordens que deu para que a bandeira nacional fosse novamente colocada na colónia do Rio Grande de Bolola”, o que foi recebido por todos os povos desta Possessão, ainda os mais estranhos, com demonstrações de agrado e regozijo.

O Boletim n.º 8, de 20 de fevereiro, traz uma novidade, o relatório do Governador da Guiné para o Governador Geral, tem data de Bissau de 18 de janeiro. Depois dos cumprimentos da praxe, Fortunato Meira informa que embarcara para Geba, onde chegara no dia 15 de dezembro pela manhã, reuniu com os notáveis e mais povo deste ponto, queria apurar as ocorrências que haviam tido lugar envolvendo os gentios vizinhos, os de Badora e os Futa-Fulas. Apurou-se ter havido uma revolta dos gentios de Ganadu contra o seu régulo, o que levou as nossas tropas em Geba a atacar uma povoação, de Futa-Fulas, este, por sua vez, tinham vindo atacar diversos territórios de Mandingas, tudo isto se passou na margem direita; na outra margem, em Badora, houvera conflito entre régulo principal e um fidalgo daquele território, o chefe dos Futa-Fulas passou aquela gente para a outra margem e queimou a povoação de Bricama, o régulo teve que fugir para o território de Gole; este chefe dos Futa-Fulas, de nome Sori, convidou os Grumetes de Geba para o acompanharem, aliciava-os a trazerem escravos, etc.

Este documento de Fortunato Meira vem abonar a tese de que, independentemente dos conflitos à volta da presença portuguesa, as guerras gentílicas na segunda metade do século XIX tinham ganho uma enorme intensidade. A preocupação do Governador era que houvesse liberdade de circulação no rio Geba, que fora posta em causa por este conjunto de confrontos e até ataques ao presídio de Geba. No mesmo Boletim Official publica-se as instruções que Fortunato Meira deixava ao chefe do presídio de Geba, ficava autorizado a trazer a paz com os gentios vizinhos quando estes a vierem pedir; deveria o chefe do presídio conservar o mesmo presídio sempre na defensiva, e controlar todos os meios possíveis conciliatórios, que jamais se agridam gentios entre si, defendendo-se se for atacado, mas nunca atacando, e para esse fim iria permanecer em Geba um destacamento de 15 praças; havia que procurar manter sempre o presídio em boas relações de amizade, etc. etc. Isto para significar que passara a ser política dominante os termos de uma ocupação que dissuadisse conflitos interétnicos e que não pusesse em causa a soberania portuguesa.

No Boletim n.º 11, com data de 13 de março, publica-se um documento curioso emanado do hospital militar de Bissau, com nota das doenças que foram tratadas no serviço clínico nos meses de setembro e outubro de 1868. Referindo-se aos doentes militares, no mês de setembro, houvera um doente com bronquite crónica, tinha melhorado; outro com epididimite (inflamação do epidídimo nos testículos), estava curado; houvera três doentes com febres intermitentes quotidianas simples (?), estavam curados; um outro doente curado tinha tido febre terçã; um outro doente com febre perniciosa (forma congestiva) também estava curado; um doente com ferida na região diafragmática (produzida por um instrumento perfurante, faca), também estava curado; um doente com ferida à região anterior na coxa direita (produzida por instrumento perfuro-cortante, baioneta), também curado; um doente com ferida no dedo grande do pé (arrancadura da unha) continuava em tratamento; melhorara um doente que padecia de reumatismo articular crónico; um doente que padecia de sífilis e de cancros infetantes, tinha estado em tratamento e era dado como curado; com referência à tuberculose pulmonar, havia um doente em tratamento, outro falecera e um outro continuava em tratamento; quanto a úlceras da Guiné (?) havia um caso, o doente melhorou.

Para não cansar o leitor, há que referir que existe um quadro dos doentes civis, homens com pleuropneumonia, sífilis, tuberculose pulmonar, curados ou em tratamento; as mulheres padeciam de caquexia palustre (enfraquecimento extremo causado pelo paludismo) e de sífilis.

À relação de setembro segue-se a do mês de outubro, é bastante parecida com a anterior. O Boletim n.º 12 de 20 de março, emanado do Ministério dos Negócios da Marinha e Ultramar, decreta que ficava abolido o estado de escravidão; e no dia 29 de abril de 1878 cessaria para todos os indivíduos a condição de libertos; não pertencerão a qualquer pessoa de quem tenham sido escravos.

(continua)

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Notas do editor:

Post anterior de 19 DE JULHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25761: Notas de leitura (1710): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1868 e 1869) (12) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 22 DE JULHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25770: Notas de leitura (1711): Aqueles anos horríveis do ajustamento estrutural, fim do sonho coletivista: Dois ensaios de cientistas sociais suecos, um documento importante de Lars Rudebeck, amigo da Guiné (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25778: Timor-Leste: passado e presente (14): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte VI: Díli, 20 de fevereiro de 1942: a invasão e a ocupação japonesas



Timor > s/l (Díli ?) > s/ d (c. 1936-1940) > Grupo de filhos de portugueses enquadrados na "Mocidade Portuguesa"


Timor > s/l (Díli ?) > s/ d (c. 1936-1940) > Sessão de ginástica com jovens (todos timorenses ?) enquadrados na "Mocidade Portuguesa"



Timor > s/l  > s/ d (c. 1936-1940) > Estação TSF de Díli (ou seria Taibéssi, de que os japoneses se apoderaram em 31 de maio de 1942 )


Timor > s/l  > s/ d (c. 1936-1940) > Alfândega de Díli



Timor > s/l > s/ d (c. 1936-1940) > Vista de Ermera



Timor > s/l > s/ d (c. 1936-1940) > Beiro do chefe de posto de Ataúro


Fotos do Arquivo de História Social > Álbum Fontoura. Imagens do domínio público, de acordo com a Wikimedia Commons. Editadas por blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)



Timor Leste > Com c. 15 mil km2, e mais de 1,3 milhões de habitantes, ocupa a parte oriental da ilha de Timor, mais o enclave de Oecusse e a ilha de  Ataúro. Antiga colónia portuguesa, tornou-se independente desde 2002, depois de ter sido  invadida e ocupada pela Indonésia durante 24 nos, desde finais de 1975.   Na II Grande Guerra, conheceu por duas vezes a invasão e ocupação por tropas estrangeiras (os Aliados, em 17 de fevereiro de 1941; e depois os japoneses, em 20 de fevereiro de 1942). Na altura teria pouco mais de 400 mil habitantes. O território era administrado por Portugal desde o início do Séc. XVIII.

Infografia : Wikipédia > Timor-Leste |  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 





Fonte: Portal Casa Comum | Fundação Mário Soares e Maria Barroso | Pasta: 05768.032.08355 | Título: Diário de Lisboa | Número: 6913 | Ano: 21 | Data: Sábado, 21 de Fevereiro de 1942 | Directores: Director: Joaquim Manso | Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos | Tipo Documental: Imprensa.


Citação: (1942), "Diário de Lisboa", nº 6913, Ano 21, Sábado, 21 de Fevereiro de 1942, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_26735 (2024-7-26)


1. Estamos a publicar notas de leitura e excertos do livro de memórias do médico de saúde pública José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (*), disponível em formato digital no Internet Archive.

Ao povo de Timor Leste ligam-nos laços históricos, linguísticos e afetivos, razão por que temos a obrigação de conhecer melhor a sua história, passada e presente, incluindo os trágicos acontecimentos que ocorreram na II Guerra Mundial.

Da entrada sobre "Timor", no "Dicionário de História de Portugal. Suplementos" (ed. lit, António Barreto e Filomena Mónica, vols. VII a IX, Porto, Figueirinhas, 2000), pode ler-se, no Vol IX, Suplemento P/Z, a pp. 515-517, e bem como do livro de memórias de José dos Santos Carvalho que temos vindo a recensear, recolhemos a seguinte informação, sumária, de natureza socioeconómica e demográfica:

(i) de 1926 a 27 de fevereiro de 1942 (data do desembarque japonês), Timor conheceu "um período de abandono e estagnação" (sic), não obstante a "ação civilizadoa e colonizadora" do governador Álvaro Fontoura (1936-1940), propagandeada no célebre "Álbum Fontoura" (coleção com mais de meio milhar de fotografias sobre a "colónia portuguesa de Timor"; ficou com "o nome do governador que o mandou elaborar, em finais dos anos 30, e coincidindo, então, com a permanência em Timor de uma missão geográfica e geológica, chefiada pelo geógrafo Jorge Castilho").

(ii) 200  civis (cerca de metade eram deportados) e 300 militares (a maior parte indígenas) garantiam a soberania portuguesa;

(iii) mais de 90% dos menos de 500 mil timorenses de então viviam nas zonas rurais governados pelsos seus próprios régulos (os "liurais", da confiança política dos portugueses);

(iv) a economia, de base agrícola, era de subsistência (milho, introduzido pelos portugueses no séc. XVII, e arroz de sequeiro), tendo alguma importância o café (que era exportado), a criação de gado e o artesanato;

(v) em Díli, a atividade comercial era dominada por uma "elite de mestiços e chineses";

(vi) 80% das exportações eram representadas pelo café, de alta qualidade (700 toneladas exportadas em 1938);

(vii) na ausência de receitas próprias, Lisboa tinha que suportar as despesas de administração do território;

(viii) em Díli, em 1940, não havia energia elétrica, água corrente, ruas pavimentadas, telefones públicos, instalações portuárias (cais de carga);

(ix) apenas cerca de um milhar de crianças frequentavam a escola primária;

(x) havia 4 médicos (segundo o testemunho de José dos Santos Carvalho, médico de saúde pública) e uns tantos enfermeiros e auxiliares de enfermagem;

(xii) os direitos civis, reconhecidos em 1822, na sequência da revolução liberal, foram revogados pela nova política colonial do Estado Novo (Ato Colonial de 1930);

(xiii) os assimilados ou civilizados eram uma minoria de 2% de timorenses (os que tinham instrução e bens próprios);

(xiv) pelo Ato Colonial de 1930, praticava-se o "trabalho forçado", embora "pago" (obras públicas, etc.);

(xv) o território (a c. 20 mil km de distância da "metrópole") continuava a ser local de deportação e encarceramento (deportados "políticos" e "sociais", que em 1840 não chegaram a uma centena);

(xvi) a Igreja Católica era influente mas só 13% dos timorenses eram então católicos praticantes;

(xvii) a assinatura da Concordata e do Acordo Missionario entre o Vaticano e o Estado Novo tinha-se traduzido na criação de uma diocese em Díli (Timor até então dependia de Macau);

(xviii) não havia rádio nem jornais;

(xix) praticamente, os únicos professores eram os missionários (e um ou outro militar);

(xxx) o sistema de saúde resumia-se praticamente a um pequeno hospital, em Lahane, uma "farmácia de Estado", e três delegacias de saúde pública, para um território de 15 mil km quadrados;

(xxxi) a rede rodoviária era ainda rudimental: o trânsito automóvel (havia poucas viaturas) limitava-se à zona costeira; nas montanha-se recorria-se ao cavalo; e a navegação de cabotagem era feito pelos "beiros" (barcos à vela)...

São dados que estão longe de serem lisongeiros para a potência administrante do território (com governador nomeado desde o início do séc. XVIII)... Compare-se esta informação com as fotos do "Álbum Fontoura", nomeadamente sobre a "ação civilizadora e colonizadora"... Álvaro Fontoura (1895-1975) foi governador de Timor entre 1936 e 1940 e, como se costuma dizer, "deixou obra", leia-se, "obras públicas (escolas, igrejas, enfermarias, edifícios públicos, algumas pontes...).


Timor, Díli, 20 de fevereiro de 1942 - A invasão e a ocupação japonesas

por José dos Santos Carvalho



(i) Sabemos que nesta altura o autor estava em Baucau, onde exercia a função de autoridade de saúde. Bacau estava a mais de 120 km da capital, Díli. Não foi, pois, testemunha direta da invasão japonesa. Os japoneses desembarcaram a 5 km de Dili, expulsaram os Aliados e instalaram-se na capital.

Daí o José dos Santos Carvalho ter-se socorrido de outras fontes, como o livro do deportado dr. Cal Brandão (1906-1973), "Funo: guerra em Timor" (Porto, 1946). E de testemunhos posteriores de quem viveu os primeiros acontecimentos, em Díli e Lahane.

As forças militares portuguesas não ultrapassavm os 300 homens, mal armados e enquadrados: além da Polícia de Fronteira, havia a Companhia de Caçadores, comandada pelo cap Freitas da Costa, e coadjuvada por outros três oficiais, os tenentes Liberato, Ramalho e Garcia de Brito; inicialmente aquartelada em Taibéssi, próximo de Díli, foi obrigada pelos Aliados a ir para Maubisse (e, depois, com os japoneses, para Aileu).

(...) Cerca das nove horas do dia 8 de fevereiro, dois aviões japoneses metralharam as posições holandesas na praia de Díli, atingindo casas da cidade e só por milagre não feriram os portugueses que, a essa hora se dirigiam para o edifício da Câmara Municipal onde se realizaria a eleição do Senhor Presidente da República [ reeleição de Osar Carmona, pela única, da União Nacional] (1).

 Na madrugada do dia 20 de fevereiro, forças japonesas desembarcaram em Díli após uma fraquíssima resistência das tropas holandesas, logo abandonadas pelos soldados javaneses que constituíam a sua maior parte e, como gamos, fugiram para o interior deixando as armas.

Seguiu-se desenfreado saque à cidade pela indisciplinada tropa de choque que tinha feito o assalto e a encontrou quase vazia de habitantes.

Dos poucos europeus que ainda viviam em Díli, muitos foram pedir auxílio às casas de Lahane e, sobretudo, ao hospital e edifícios anexos e à Missão, onde se alojaram cerca de trinta pessoas. Outros, foram para muito mais longe, a Aileu, à Ermera, a Liquiçá e a Maubara, onde tinham as famílias desde dezembro do ano anterior  [ desde ainvasão das tropas autraliano-holandesas].

Tendo caído granadas junto ao quartel de Taibéssi, aquando do bombardeamento japonês que precedeu o desembarque, o tenente Ramalho seguiu com o destacamento da companhia de caçadores que comandava para Aileu onde se juntou à companhia de caçadores que, por ordem do Governador, se deslocou para ali, de Maubisse, ficando todos instalados no edifício do presídio.

Os japoneses ocuparam quase todos os edifícios de Díli e, em Lahane, o edifício da Assembleia dos Funcionários, e as casas do chefe do gabinete do governador, capitão Vieira, e do Dr. Francisco Rodrigues, que nessa altura estavam sem moradores. 

Libertaram imediatamente os seus concidadãos presos pelas tropas aliadas e internaram no hospital Dr. Carvalho, à responsabilidade assumida pelo seu director, Dr. Correia Teles, e sob palavra de honra, de que não fugiria, o cônsul da Holanda, engenheiro Brower e sua esposa.

Naquele mesmo hospital ficaram alojados, até ao fim da guerra, o alemão Max Sander e o autraliano Arthur Brian.

Somente através de atos do mais puro heroísmo e destemida dedicação foi possível a alguns portugueses voltar a Díli e salvar alguma coisa, destacando-se, nomeadamente, o gerente do Banco Nacional Ultramarino João Jorge Duarte, o Dr. Tarroso Gomes (que exercia as funções de diretor dos Serviços de Fazenda) e o aspirante administrativo José Duarte Santa.

Obrigados a cumprimentar os japoneses com repetidas vénias e maltratados e até esbofeteados, não deixaram de teimosamente voltar às suas antigas repartições, procurando manter um esboço de serviço e evitar a destruição ou deterioração de elementos preciosos para a administração.

Assim, o gerente evitou que as instalações do Banco fossem ocupadas pela tropa e o Dr. Tarroso salvou o essencial para o funcionamento dos Serviços de Fazenda que conseguiu manter em Díli, algum tempo, numa casa particular.

Do saque a Díli, conseguiram os fiéis timorenses, funcionários da administração do concelho, chefiados pelo aspirante Santa, salvar e transportar para Lahane, sendo armazenados no hospital e em várias casas, o arroz, feijão e parte do café que estavam nos armazéns da FOAGE (Fábricas, Oficinas e Armazéns Gerais do Estado), cujas instalações foram ocupadas pelos japoneses e que de lá se conseguiram tirar antes de desaparecer, tudo, e a gasolina e petróleo da reserva do Estado que estava num armazém junto ao farol, e que, também, foi possível salvar em grande parte.

Papel brilhantíssimo coube a todos os funcionários dos Serviços de Saúde, desde o director até ao mais humilde servente !

Apesar da fuga desordenada perante a fúria e desvastações do invasor, nem um só abandonou o seu posto pelo que o hospital Dr. Carvalho foi o único organismo do Estado que pôde continuar e exercer todas as suas funções com regularidade e a mais completa calma e eficiência, passando aí a funcionar a Farmácia do Estado.

 



(ii) a violação da soberania portuguesa, desta vez pelos japoneses, não teve a mesma denúncia veemente, por parte de Salazar, que tinha tido a invasão dos Aliados; 
o Estado Novo tratou o caso de Timor (e de Macau) com pinças e luvas de veludo;  
a censura não deixou que se publicassem notícias das atrocidades cometidas pelos japoneses e pelas "colunas negras" por eles armadas e alimentadas...
Os portugueses, na metrópole, só souberam dos "detalhes" sangrentos no final da guerra; a recuperação da soberania de Timor foi duramente negociada com os Aliados.


(...) Em princípios de março  [de 1942] os japoneses distribuíram prospetos, em inglês, pelos quais impuseram a sua moeda, o «yen» com paridade com a pataca. Logo surgiram as notas de «gulden», moeda de guerra dos japoneses, emitida especialmente para circular nas Índias Neerlandesas.

 Aviões japoneses que sobrevoaram vários pontos da colónia, entre os quais a vila de Baucau, lançaram a seguinte proclamação, impressa em inglês:

 PROCLAMATION

 Imperial Empire of Great Japan is now in war with Netherland and also with Australia wich is a component of the United Kingdom.

 Imperial Japanese Forces are obliged to take necessary measures and means in Timor so far as forces of Netherland and Austrália are stationing in that neutral territory.

 I. Commanding Officer of Imperial Japanese Forces, hereby demand and declare as follows:

(1) Imperial Japanese Forces will be stationed in Portuguese Timor, for self -defense in connection with their operations.

(2) Portuguese forces and non-combatents are requested strictly not to obstruct or disturb any operation of the Imperial Japanese Forces.

 Commanding Officer Imperial Japanese Forces. (...)


(iii) Tradução para português da proclamação de guerra, assinada peloComandante das Forças Imperiais Japonesas. (Google Translate / LG):

"O Império Imperial do Grande Japão está agora em guerra com a Holanda e também com a Austrália, que é parte do Reino Unido. 

 As Forças Imperiais Japonesas são obrigadas a tomar as medidas e os meios necessários em Timor, na medida em que forças neerlandesas e australianos  estão  estacionadas em território neutro como este. 

Eu,  Comandante das Forças Imperiais Japonesas, por este meio, aqui decalro e exijo  o seguinte: 

 (1) As Forças Imperiais Japonesas ficarão estacionadas no território de Timor Português, para autodefesa no âmbito das suas operações. 

 (2) Aos militares e aos civis portugueses  requer-se estritamente  que não obstruam ou perturbem qualquer operação das Forças Imperiais Japonesas. 

O  Comandante das Forças Imperiais Japonesas."

 

(iv) O autor dá-nos conta das primeiras escaramuças entre os japoneses e os autralianos, refugiados nas montanhas e organizados em grupos de guerrilha, a que se juntam timorenses e alguns portugueses (deportados); os primeiros portugueses abatidos selvaticamente são os deportados Ramos Graça e Fernando Martins.


(...) Pouco depois da sua chegada a Díli, os japoneses lançaram-se à conquista do acampamento dos australianos em Nai-Suta, tendo sofrido grandes desaires, caindo como tordos (1) sob os golpes dos soldados australianos que actuavam em guerrilhas.

 No mês de Março, uma secção australiana que operava no Remexio lançou vários raids ao centro de Díli (1) . Os japoneses, despediram, montanha acima, em perseguição dos importunos. O caminho tortuoso, áspero e apertado, ficou bem demarcado com cadáveres amarelos (1) .

 «Enraivecidos, quando chegaram ao alto, entram na primeira palhota que se lhes depara. Era a humilde moradia, a quase miserável residência de Ramos Graça, que deportado em Timor desde 1927, onde levara uma vida de trabalho honrado, ali vivia rodeado dum grupo de crianças que eram seus filhos. 

Surprendido, mas sem receio, respondeu serenamente, e com verdade, que desconhecia o paradeiro dos guerrilheiros australianos. Sairam; um pouco adiante porém, nova rajada de metralhadora leva mais uns tantos a morder o pó daquela terra ultrajada. Retrocedem cegos de despeito e ódio, entram de roldão na palhota, avançam as baionetas em golpes repetidos até saciarem seus selváticos e sanguinolentos instintos. 

Passam uma corda ao pescoço do cadáver esquartejado, arrastam-no para uma ravina distante, onde o despenham e é encontrado poucos dias depois. Assim morreu Ramos Graça, o primeiro português-europeu a cair indefesa e ingloriamente» (1).

Combatendo ao lado dos australianos, apesar de ser coxo, encontraram e aprisionaram os japoneses, no Remexio, o deportado sr. Fernando Martins. Levaram-no para Díli, onde foi morto a golpes de catana no campo de aviação, segundo mais tarde me informou o sargento António Joaquim Vicente que, no tempo de paz, era o chefe da polícia de Díli.

 Após as escaramuças na estrada de Nai-Suta, os aviões japoneses bombardearam as suas matas laterais (1).

 Dias depois os japoneses avançaram, em três colunas, para a Ermera. Uma grande coluna, cerca de oitocentos homens, abriu caminho, pela estrada; a segunda, foi por Liquiçá, atravessando em seguida Fatubéssi; e a terceira, que tinha tentado avançar, foi repelida em Bazar-Tete, onde morreram vinte ecinco japoneses (1).

 Furiosos com esta derrota, prenderam o chefe de posto de Bazar-Tete, sr. César Moreira Rato e levaram-no para Díli, no dia 12 de Março, acusando-o de ser o causador daquele desastre (1), por não os ter avisado, quando estavam em sua casa, de que havia australianos perto e, depois, serem atacados por eles (3) . Levaram-no para Díli, para o quartel-general, onde dois dias o tiveram preso por uma corda a uma das árvores do quintal; como alimento deram-lhe alguns grãos de arroz e águaquente (1). Foi libertado, devido a pronta e decidida reclamação do Governador Ferreira de Carvalho.

 Na Ermera, as tropas nipónicas estabeleceram-se na casa do Posto, prendendo num dos quartos o respectivo chefe, sargento Relvas,  o enfermeiro e o guarda-fios, e fazendo outras tropelias porém, no dia seguinte, levantaram quartéis e regressaram a Díli (1) .

 Foram-se inesperadamente, como inesperadamente tinham ido, mas dias depois, os seus aviões de ronda, até então inofensivos, bombardearam todas as vilas daquela região. A Ermera foi a mais castigada, registando-se onze mortos, entre os quais duas crianças de colo (1).

 Um mês depois, voltou a infantaria em formação cerrada, batendo o  caminho cuidadosamente,  carros de assalto à frente, metralhadoras a cantar, em serviço de varrer as bermas da estrada. Como guarda-avançada tinham enviado dois oficiais à paisana, disfarçados em chineses, que o Júlio Madeira (3) prendeu e entregou aos australianos (1).

 «Vinham para ficar, para castigar aqueles impertinentes australianos, que nesses dias negros, perdidos em Díli os aparelhos de TSF sem ligação com a Austrália, exaustos os seus recursos, se tinham recolhido à Fronteira, onde a assistência dada pelo administrador Sousa Santos, e os demais funeionários que ali prestavam serviço, os ia aguentando na esperança de melhores dias. Apenas duas ou três patrulhas, deixadas à retaguarda, iam tornando caro o avanço do Grande ExércitoImperial do Grande Império Nipon. Ao chegar à Hátu-Lia, onde se demoraram dois dias, tinham perdido quatrocentos homens.

"Estiveram pois em descanso na Ermera todo um mês, de 13 de abril a meados de maio, que aproveitaram para fazer intensa propaganda no seio dos indígenas» (1).

 Na Hátu-Lia prenderam os japoneses o respectivo chefe de posto, sargento Mortágua, juntamente com o missionário Padre Madeira e o feitor da Granja Eduardo Marques, sr. Carrascalão, que foram libertados somente quatro dias depois, mercê de enérgico protesto do Governador Ferreira de Carvalho.

 Por esses tempos, alguns deportados se foram juntar às guerrilhas onde encontraram já o Júlio Madeira, e de combinação com vários amigos, ainda fixados nos arredores da cidade de Díli, apoderaram-se dum aparelho de rádio, com o qual os australianos estabeleceram o primeiro contacto com Darwin.


(v) Díli e outras posições dos japoneses começam a ser bombardeadas com regularidade pelos Aliados (primeiro, os australianos, e depois os americanos); a resistência recrudesce e aguenta-se, pelo menos até meados de 1943; mas o número de baixas entre os japoneses, reportada por Cal-Brandão, tem de ser aceite com reservas, a ausência de outras fontes independentes.


(...) A Austrália, que considerava perdida toda aquela gente, fez um apertado reconhecimento e mandou os primeiros socorros bem necessários. Pela primeira vez, então, um avião aliado apareceu a fotografar as posições inimigas. Criaram-se novas esperanças com o reaparecimento das guerrilhas bem armadas e municiadas pelos reabastecimentos recebidos em paraquedas. Ouviu-se de novo o estrondear das granadas de mão e as sinistras gargalhadas das metralhadoras. Os japoneses atacados nas suas posições avançadas e na própria linha de comunicações, lançavam patrulhas que iam sendo dizimadas impiedosamente.

Numa luta sem quartel os guerrilheiros atacavam por toda a parte e a toda a hora, de noite e de dia. Batidos, quase escorraçados, os japoneses confinam-se em Díli, que começa a ser bombardeada regularmente (1).

Assim, apareceram pela primeira vez sobre a cidade, lançando bombas, quatro aviões australianos, no dia 20 de maio.


(vi) O administrador do concelho de Díli é substituído pelo engenheiro Artur do Canto, da Missão Geográfica, ao que parece por pressão dos japoneses; o autor, José dos Santos Carvalho,  irá elogiar a sua ação, na ligação com o ocupante; por sua vez, os portugueses perdem todas as ligações com o exterior,  quando em 31 de maio de 1942 os japoneses ocuparam a  estação radiotelegráfica de Taibéssi.

 

(...) Os japoneses organizaram então a sua defesa antiaérea, eriçando de canhões e metralhadoras os pontos estratégicos, entre os quais as muito próximas vizinhanças da residência do Governador e do hospital Dr. Carvalho, os quais, sempre que havia um ataque, desentranhavam um muito nutrido e ensurdecedor fogo de barragem.

«Impotentes para resistir aos violentos ataques dos aliados, fazem recair suas iras sobre os indefesos funcionários que, na capital, junto do Governador, procuram manter em funcionamento um arremedo de serviços públicos. Incompatibilizados com o administrador do concelho, fazem pressão para que seja castigado, conseguindo que seja suspenso do exercício das suas funções, afastado do seu posto e substituído pelo engenheiro-geógrafo Artur do Canto, da Missão Geográfica, que, naquele momento difícil e num gesto simpático, voluntariou para tão espinhoso como ingrato cargo» (1).

No dia 31 de maio os japoneses ocuparam a nossa estação radiotelegráfica de Taibéssi pelo que, daí em diante, ficámos sem qualquer possibilidade de comunicação com o exterior.

 A nomeação do engenheiro Canto para exercer as funções de administrador do concelho de Díli saiu em 4 de junho, seguindo o administrador Aguilar para Baucau (onde o encontrei no dia 6) e daí para Venilale, residência em que se fixou.

 Aconteceu no dia 6 de junho um facto absolutamente inesperado e inexplicável que a todos deixou confusos. Aviões australianos bombardearam e metralharam Aileu, onde somente se encontravam portugueses!

 Fortemente intimidadas pelo bombardeamento, as famílias que aí se achavam refugiadas procuraram novos poisos e seguiram para diversos pontos, especialmente para Manatuto, Baucau e Soibada onde encontraram o melhor acolhimento. 

O administrador de Manatuto, Dr. Mendes de Almeida e a sua esposa, D. Elzira, receberam na sua residência de Saututo, as famílias do Governador, do capitão Vieira e do tenente Alves. O capitão dos portos de Timor, comandante César Gomes Barbosa, seguiu para Baucau onde se instalou numa casa próxima domoinho que aí existia.

 No dia 10 de junho, Díli foi fortemente bombardeada por aviões australianos o que obrigou o Governador a ordenar que os serviços que ainda estavam em Díli fossem transferidos para Lahane. Assim, a administração do concelho passou a funcionar na Missão Geográfica e os serviços de fazenda numa das casas do Estado.

 A 28 do mesmo mês, registou-se um novo bombardeamento da cidade de Díli.

 Na noite de 1 de Julho deu-se a fuga do hospital Dr. Carvalho do cônsul da Holanda, Engenheiro Brower, e de sua esposa, o que causou sérios dissabores ao Dr. Correia Teles, diretor do hospital, que foi fortemente incomodado no inquérito a que a polícia japonesa (4) procedeu após o acontecimento.

 No dia 9 de julho, Lahane foi bombardeado por aviões, agora americanos, sendo atingida a casa do quartel da polícia portuguesa instalado no lugar de China Rate. Morreram quatro guardas e treze moradores auxiliares da polícia e foram feridos outros, todos timorenses.

 Os sucessivos e mortíferos bombardeamentos forçaram o Governador a transferir a sede do Governo e os Serviços Públicos para outros locais onde ainda não tinha chegado a guerra.


(vii) por razões de segurança, os escassos serviços e funcionário públicos (e respetivas famílias) são dispersos pelo território, por ordem do governador;  em 12 de agosto, o médico  desloca-se de Baucau para Lahane,  numa ação de voluntarismo e solidardade.


(...) Por uma portaria publicada em 11 de julho [de 1942], ordenou que a sede do Governo e os Serviços de Administração Civil e os de Fazenda passassem a funcionar em Baucau, os Serviços dos Correios em Laga e a Repartição de Saúde, o Hospital Dr. Carvalho e a Farmácia do Estado, em Quelicai.

A mudança dos serviços e o transporte dos funcionários e do mobiliário e dos arquivos que ainda nos restavam, foram feitos com febril mas perfeitamente ordenada organização que logo demonstrou as excecionais qualidades de dirigente e administrador do Engenheiro Canto.

Em poucos dias se conseguiu dar execução à portaria governamental, porém, quando o Governador, com o seu ajudante e secretário, saíam no seu automóvel do recinto da residência para seguirem para Baucau, no dia 22 de julho, uma simples sentinela japonesa barrou-lhes o caminho, sem dar quaisquer explicação do seu ato.

Não tiveram outro recurso senão regressar ao ponto de partida e resignar-se à situação, pois o cônsul japonês, sr. Sayta, assediado pelo engenheiro Canto,(atuando qual consumado diplomata) , afirmava que, como simples civil, nada podia fazer perante o omnipotente comando militar.

 Deste modo, o Governador com os seus dois diretos colaboradores ficou retido em Lahane ao passo que os Serviços estavam instalados, na zona leste. Prevendo o pior, combinou, pelo telefone, com o Dr. Taborda, director da administração civil, que assumisse as funções de governador, se se passassem 48 horas de interrupção de comunicações entre Baucau e a residência de Lahane.

 No edifício do Hospital Dr. Carvalho funcionava agora somente uma ambulância dirigida pelo Dr. Rodrigues que nele habitava com sua esposa D. Rufina, e aí estavam instalados o administrador do concelho de Díli e seus directos colaboradores, o gerente do Banco Nacional Ultramarino com dois seus funcionários, o sargento-artífice Alberto Pinto e os estrangeiros Max Sander e Arthur Brian.

Ao passar em Baucau, caminho de Kelikai, o chefe da Repartição de Saúde, Dr. Correia Teles, contou-me que a senhora D. Rufina Rodrigues andava seriamente assustada e preocupada com os bombardeamentos de Díli e Lahane que muito a emocionavam. Redigi e assinei, então, uma nota a ele dirigida, oferecendo-me para ir substituir aquele nosso colega em Lahane, durante um mês.

Instalaram-se os vários funcionários que agora prestavam serviço em Baueau, nas diferentes casas que ficaram superlotadas com várias famílias.

 Na minha residência tive o prazer de receber o sargento Ribeiro e sua família e o Dr. Tarroso Gomes que exercia as funções de director dos Serviços de Fazenda.

 O meu oferecimento para substituir o Dr. Francisco Rodrigues durante um mês foi aceite pelo Governador, pelo que eu segui no automóvel da circunscrição de Baucau para Lahane onde cheguei no dia 12 de agosto, tendo o Dr. Rodrigues e sua esposa ido para Baucau, imediatamente, no mesmo carro que me levara.

No pavilhão principal do edifício do Hospital Dr. Carvalho encontrei : o engenheiro Canto, o sargento Vicente, o secretário administrativo João Gamboa, o chefe de posto de Laulara, Francisco Torrezão, os aspirantes administrativos, José Santa e Domingos Ribeiro, o secretário da Câmara Municipal de Díli, Rosário Roque da Piedade Rodrigues, o sargento-artífice Alberto Pinto, o enfermeiro  Victor Madeira, o gerente do Banco Nacional Ultramarino, João Jorge Duarte, os funcionários do mesmo banco, Anselmo Bartolomeu de Almeida e Fausto Amaral, e os estrangeiros Max Sander e Arthur Brian.

 (Continua)



Carlos Cal Brandão: "Funo: guerrra em Timor". 
 Porto, edições "AOV", 1946, 200 pp.


Capa do livro de José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, 208 pp. Cortesia de Internet Archive.

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Notas do autor:

(1) Vide Carlos Cal Brandão, Funo. Porto, 1946.

(2)  Informação a mim prestada, directamente, pelo senhor Moreira Rato.

(3)  O senhor Júlio Madeira, natural da Ermera, tinha sido soldado da Companhia de Caçadores e havia constituído com timorenses uma guerrilha que fez grandes estragos entre os japoneses devido ao conhecimento perfeito que o seu chefe tinha da região onde nascera e à sua perfeita mobilidade e perícia no manejo das armas.

(4) Os japoneses tinham uma polícia no género da Gestapo, por eles denominada Kempy [ou Kempeitai

Fonte: José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, pp. 34-43.
 
(Seleção, revisão / fixação de texto, título, notas introdutórias, parênteses retos, itálicos e negritos: LG)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 22 de julho de  2024  > Guine 61/74 - P25769: Timor Leste: passado e presente (13): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte V: a invasão de tropas australiano-holandesas, em 17 de dezembro de 1941