Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Guiné 61/74 - P26151: Parabéns a você (2328): César Dias, ex-Fur Mil Sapador de Infantaria da CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa e Mansabá, 1969/71); Jacinto Cristina, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 3546/BCAÇ 3883 (Piche e Camajabá, 1972/74) e Maria Arminda Santos, ex-Tenente Enfermeira Paraquedista (Angola, Guiné e Moçambique, 1961/1970)
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Nota do editor
Último post da série de 13 de Novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26147: Parabéns a você (2327): José Manuel Lopes, ex-Fur Mil da CART 6250/72 (Mampatá e Colibuia, 1972/74)
quarta-feira, 13 de novembro de 2024
Guiné 61/74 - P26150: Historiografia da presença portuguesa em África (452): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, continuamos na companhia de Damasceno Isaac da Costa, 1886 (10) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Impõe-se, antes demais, uma clarificação quanto a estas leituras que envolvem o médico Damasceno Isaac Costa. Tempos atrás, entrei na Biblioteca da Sociedade de Geografia e pedi à sua bibliotecária que verificasse na secção de Reservados se eu já tinha consultado algum documento envolvendo o nome de Damasceno Isaac Costa. E, de facto, descobri que o filho deste oferecera à Sociedade de Geografia documentação do pai, um conjunto de relatórios, começando por 1884. Fui verificar ao blogue e constatei que do relatório constante referente a 1884 fizera uma leitura um tanto abreviada. Ora, no Boletim Oficial, ano de 1886, inicia-se no mês de abril e prolonga-se até novembro, de forma intermitente, a publicação de extratos, perto do final do ano o médico começa a publicar o relatório de 1885. Tenho para mim que estas peças de Damasceno Isaac Costa, possuía o gosto da escrita, era observador com pendor para a etnografia e etnologia, que descreve minuciosamente localidades, neste caso Geba, é merecedor de uma publicação cultural, de fio a pavio de tudo quanto escreveu, é um cronista de mérito, não conheço nada de melhor referente a este período, há na sua arquitetura da escrita algo que lembra a literatura dos navegantes e viajantes que nos deixaram peças primorosas nos séculos XV, XVI e XVII. Dirijo-me a todos aqueles que têm responsabilidades nos estudos africanos de se encontrar uma forma de publicar Damasceno Isaac Costa, para que em Portugal e na Guiné-Bissau se conheça melhor o olhar clínico deste plumitivo tão arguto e entusiasta.
Um abraço do
Mário
A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, continuamos na companhia de Damasceno Isaac da Costa, 1886 (10)
Mário Beja Santos
Já se disse ao leitor, e com pesar, que se esperava que o Boletim Official deste ano desse informação quanto à atividade política que iria levar à Convenção Luso-Francesa de 12 de maio desse ano, nem uma só palavra. A grande surpresa passa pela publicação de um espantoso relatório assinado pelo médico Damasceno Isaac da Costa, aparentemente com referência ao ano de 1884 e que extravasa, do princípio ao fim os problemas de saúde pública. Fala sobre a história da Guiné, da importância do rio Geba, descreve a vila e fortaleza de Bissau, é minucioso a descrever o presídio de Geba, as edificações, não conheço outra exposição sobre o presídio de Geba como esta, veja-se a minucia a que chega o médico:
Próxima à residência do chefe do presídio acha-se situada uma casa térrea com dois compartimentos dos quais um funciona de secretaria do chefado e o outro serve para a arrecadação de géneros, cujas condições higiénicas são as mesmas que as das mencionadas casas.
Se em paragens longínquas se exige dos funcionários do Estado de serviços aturados, é também equitativo que lhes seja proporcionada uma habitação, que possua todos os requisitos exigidos pela lei higiénica. O cargo do chefe do presídio, que quase sempre é exercido por um alferes do Batalhão de Caçadores n.º 1, acumula os cargos de administrador, juiz, comandante militar e de destacamento, delegado fiscal e do correio, subdelegado e às vezes de professor do ensino primário, sendo obrigado no desempenho desses variados cargos a decidir questões de ordinário assaz complicadas. O cargo do juiz de povo, ao qual competiam as mesmas funções que ao de Bissau, foi aqui extinto, sendo o mesmo substituído pelo de regedor, desaparecendo desta forma para sempre os vexames e prepotências que os indivíduos investidos das funções deste cargo exerciam contra todos os habitantes do presídio, sem distinção.
A ambulância do Estado, a única que ali existe, funciona numa casa particular, que além de ser húmida não é ventilada, contribuindo muito a falta destes dois elementos para a deterioração dos medicamentos. Para escrituração, possui a ambulância três livros, destinados, um para o registo das faturas de medicamentos do depósito geral, um para a venda pública e outro para os medicamentos fornecidos às praças. Todos estes livros começaram a ser escriturados em 1880, não possuem nem termo de abertura, nem de encerramento, nem rubrica nas respetivas folhas. Por esses factos, e porque se acham escriturados irregularmente, não tem eles valor algum.
A escola régia de instrução primária funcionou ao princípio num compartimento da casa do negociante Manuel António de Barros, oferecido gratuitamente ao professor da escola, o pároco da freguesia, sendo mais tarde as rendas custeadas pelos habitantes do presídio. Atualmente a escola funciona na secretaria do chefado do presídio.
Durante a regência do pároco da freguesia, a escola foi frequentada por mais de 50 alunos, tendo sido publicamente examinados e aprovados na administração do concelho de Bissau dez alunos, ato este que raríssimas vezes tem tido lugar na Guiné.
Abastecem a povoação muitas fontes; há, porém, uma só água potável e esta mesma está situada fora do presídio, a uma légua de distância. Esta fonte denomina-se Estabeiro, e diz-se que na sua proximidade existe uma mina de ferro.
Para os usos culinários, os habitantes servem-se da água do rio, a qual é doce desde Fá no verão, e de todo o rio desde Bissau até Geba no inverno. É tradição oral, que nas proximidades do presídio existem minas de ouro e que em época em que foi abolida a escravatura foram enterradas dentro da praça e no bairro denominado S. Cruz, 40 arrobas de ouro bruto por um negociante português, que perseguido pela justiça por se entregar ao tráfico da escravatura, se internara nos sertões da Guiné para se pôr a coberto da espada da justiça.
Na povoação não há feira nem açougue, mas de tempos a tempos abate-se uma cabeça de gado vacum, que é dividida em quinhões de 8 libras, que se vendem pelo valor de 480 réis.
Acima de Geba e a dez léguas de distância está situada uma aldeia importante, já pelo seu comércio, já pela sua população, denominada Bafatá. É habitada pelos Fulas e negociantes cristãos.
O comércio interno de Geba consiste em cera, couro, marfim, amêndoa de palma, borracha, ouro e outros produtos, que todos os dias à porfia são comprados e transportados para as praças de Bissau e Bolama.
Geba, pelas suas riquíssimas produções, que lhe proporciona o seu ubérrimo solo, concorre mais que nenhum outro ponto da Guiné, para levar aos grandes centros comerciais da Europa as mesmas produções.
A prosperidade de Geba, dependendo, pois, em grande parte do presídio de Geba, convém por todos os meios elevá-lo à categoria a que tem jus, pela importância comercial e industrial.
Entre Geba e Farim existe fácil comunicação. Distanciado um presídio do outro em uma extensão de 20 léguas o trânsito de 8 é feito por terra, de Geba até o rio Tandegú e as restantes 12 em canoas, pelo rio de Farim até o mesmo rio Tandegú. Existe igualmente entre os dois presídios fácil comunicação por terra percorre-se esse trajeto em 48 horas, atravessando os territórios ocupados pelos Fulas e Biafadas. Para encurtar o trajeto fluvial de 60 léguas, que intermedeia entre Geba e Bissau, transita-se 20 por terra da praça de Geba até Fá, em 3 horas, as restantes 40 pelo rio, de Fá até Bissau, em 24 horas.
O alimento principal dos habitantes de Geba consiste em milho painço, arroz, fundo, baguexe e fruto de miséria. Os Grumetes de Geba, imitando os seus antepassados, amam a poligamia, pois a maioria deles casa-se com 7, 8 e 9 mulheres. Estas mulheres, como as dos Papéis de Bissau, são obrigadas a trabalhar incessantemente, não para sustentar, mas para auxiliar o homem e aumentar os seus haveres. É singular a forma que os Grumetes empregam nos seus casamentos. Quando um Grumete quer casar-se, pede em casamento a filha aos pais ou às mestras, e quando eles aceitam o pedido, o noivo envia-lhes 6 cabazes, contendo 60 garrafas de variadas bebidas alcoólicas, quase sempre ordinárias. Decorrido algum tempo, o noivo designa o dia em que deve ter lugar o casamento. O dia aprazado quase sempre ao obscurecer da noite, apresenta-se o noivo acompanhado de alguns convives nas proximidades da casa da noiva e aí pratica o rapto desta última auxiliado pelos ditos convives, que a conduzem para uma casa. Na ocasião em que tem lugar o rapto, o pai e os irmãos da noiva apresentam-se munidos de espingardas, espadas e cacetes para obstar ao rapto, e as mulheres e os demais parentes lamentam o facto em grandes alaridos e procuram a noiva por toda a parte com velas e archotes.
Os Fulas são destros em manejos bélicos e essa qualidade, tem-lhes feito conquistar extensos territórios, que dantes eram ocupados pelos Mandigas e Biafadas. Tanto o homem como mulheres amam excessivamente as bebidas alcoólicas. As mulheres amam tanto as moedas de prata, que longe de as trazerem ao mercado, guardam-nas em muitas dobras de pano, no fundo das suas caixas, que consistem em uns balaios de cana da Índia. As mulheres vestem panos pretos, que lhes cobrem desde a cintura até aos joelhos; trazem dependuradas nas orelhas argolas de latão ou cobre; em seus cabelos cuidadosamente entrançados trazem suspensos como um grande adorno moedas brasileiras ou francesas de 80, 120, 240, 480 e 900 réis; ainda com o mesmo fim, cingem a testa com missangas de variadas cores, e nas mãos e pés 8 a 10 manilhas de latão, e no pescoço enormes voltas de contas de âmbar.
"Para uma Fula casar-se é condição sine qua non provar pelo menos que já foi mãe três vezes, prova frisante de prodigiosa fecundidade, e por esta razão, à semelhança das raças Papel e Mandinga, a herança pela morte do pai passa aos sobrinhos maternos."
Contrato da Companhia de Cabo Verde e Cacheu pela venda de cento e quarenta e cinco escravos - documento do fundo documental do Conselho Ultramarino pertencente ao Arquivo Histórico Ultramarino.
Um pormenor de Bolama na atualidade, um passeio entre ruínas, fotografia de João Campos Rodrigues publicada no jornal Sol, em 2021, com a devida vénia
(continua)
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Notas do editor
Vd. post anterior de 6 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26121: Historiografia da presença portuguesa em África (450): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1886 (9) (Mário Beja Santos)
Último post da série de 8 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26126: Historiografia da presença portuguesa em África (451): o tecido económico da província em 1951, visto através dos anúncios publicados no suplemento, "dedicado ao Ultramar Português" (218 pp., no total), do "Diário Popular", de 20/10/1961
Guiné 61/74 - P26149: Agenda cultural (868): Por ti, Portugal, eu juro!: documentário, de Sofia Palma Rodrigues e Diogo Cardoso (Portugfal, 2024, 98 minuto), sobre o drama dos Comandos Africanos da Guiné... Estreia mundial no doclisboa 2024, e agora nos Cinemas
Público > Cinecartaz > Sinopse (... com um disparate de todo o tamanho: "Portugal recrutou 1,4 milhões de militares africanos...")
(i) Diogo Cardoso, Sofia da Palma Rodrigues e Luciana Maruta, jornalistas da revista digital Divergente, publicaram a reportagem Por ti, Portugal, Eu Juro!;
(v) a reportagem, que recebeu o primeiro prémio na categoria de Meios Audiovisuais da edição de 2022 do prémio da Comissão Nacional da UNESCO e da Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros, foi entretanto transposta para este documentário, realizado por Sofia de Palma Rodrigues e Diogo Cardoso.
Livro > Por Ti, Portugal, Eu Juro! A história dos comandos africanos da Guiné", de Sofia da Palma Rodrigues (Lisboa, Tinta da China, 2024, 104 pp.)"
Wook > Sinopse
(v) depois do 25 de Abril de 1974, estes homens foram abandonados por Portugal, o país que os obrigou a cumprir o serviço militar e pelo qual lutaram;
(viii) o filme homónimo estreou no dia 19 de outubro de 2024 no âmbito do DocLisboa - 22º Festival de Cinema Internacional.
Último poste da série > 13 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26148: Agenda cultural (867): Joaquim Costa lançou, em Gondomar, o seu livro "Crónicas de Paz e Guerra", no passado dia 9: uma casa cheia de amigos, colegas e camaradas
Guiné 61/74 - P26148: Agenda cultural (867): Joaquim Costa lançou, em Gondomar, o seu livro "Crónicas de Paz e Guerra", no passado dia 9: uma casa cheia de amigos, colegas e camaradas
* O "Tigre" Joaquim Costa |
(i) ex-fur mil at arm pes inf, CCAV 8351, "Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74);
(ii) membro da Tabanca Grande desde 30/1/2021, com mais de 7 dezenas de referências no blogue;
(iii) engenheiro técnico (ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto);
(iv) foi professor do ensino secundário, tendo-se reformado como diretor da escola secundária de Gondomar:
(v) minhoto, de Vila Nova de Famalicão, vive em Rio Tinto, Gondomar, e adora o Alentejo;
(vi) tem página no Facebook;
(vii) acabou de lançar o seu livro "Crónicas de Paz e Guerra", no passado dia 9, sábado, às 15:00 na Biblioteca Municipal de Gondomar (*)
Olá, Luís!
Aqui vai uma pequena reportagem sobre a apresentação do meu livro, "CRónicas da Paz e Guerra",- que teve lugar na Biblioteca Municipal de Gondomar.
Estamos habituados a ver na apresentação de livros de ex combatentes uma plateia de camaradas que participaram na guerra colonial, nas três frentes, todos com aparelhos auditivos e com auxiliares de locomoção. Fico feliz, como se pode ver nas fotos, por, para além de um ou outro combatente, esta estar repleta de muita juventude.
Contudo foi uma honra ter na plateia, como se vê na foto, o nosso grande amigo Carvalho de Mampatá e a sua esposa; os tigres Gouveia, Mendes e Melo e suas esposas; o nosso grande amigo Francisco Batista, bem como um camarada periquito do BCAÇ 4513. Sei que estou a correr o risco de me esquecer de alguém, pelo facto peço desculpa.
Constituição da mesa:
- Dr. Manuel Maria – professor, escritor (publicou um romance: “Checa Pior que Turra" sobre a sua comissão na então província de Moçambique);
- Dr. João Carlos Brito – Professor, escritor e editor.
- Dr.ª Teresa Couceiro – Responsável pela Biblioteca Municipal de Gondomar.
- João Melo – Cripto da Companhia dos Tígres do Cumbijão. Homem bom, já com várias viagens solidárias ao Cumbijã, fazendo-se acompanhar com contentores de materiais escolares e outros.
- Joaquim Costa – O autor, também conhecido pelo "Furriel Pequenina de Cumbijã"
2. Mensagem do António Carvalho, o "Carvalho de Mampatá" (ex-fur mil enf CART 6250/72, Mampatá, 1972/74),
Data - sábado, 9/11/2024, 21:41
Meu caro Luís
Estive hoje na Biblioteca Municipal de Gondomar para assistir à apresentação do livro "Crónicas de Paz e de Guerra" de autoria do nosso Joaquim Costa, Furriel Pequenina de Cumbijã.
Voltando ao livro, apresentado numa sala cheia, sobretudo de colegas professores, foi lida a tua excelente mensagem que mereceu o apreço dos presentes expresso numa grande ovação.
Saúde para ti e obrigado pela tua dedicação a todos os combatentes.
Um grande abraço
Carvalho de Mampatá
3. Mensagem do nosso editor LG, para ser lido na sala como "Saudação ao antigo combatente, 'tigre do Cumbijã', professor, escritor e grão-tabanqueiro Joaquim Costa":
O Joaquim pertence a uma geração que não pode dizer: "Cheguei, vi e venci"...
Tudo o que conquistou (tudo o que conquistámos) foi com "sangue suor e lágrimas"... A expressão pode estar estafada e conotada. Mas continua a ser apropriada para caracterizar a nossa geração.
O Joaquim é uma rapaz da nossa colheita e a sua história de vida exemplifica muito bem o que foi o trajeto de todos nós: a paz, a liberdade, a democracia, a equidade ou igualdade de oportunidades,o direto à saúde, à educação, à cultura, ao trabalho decente, seguro e saudável, etc., etc,...Tudo isso foi tirado a pulso, foi conquistado com inteligência emocional, luta, coragem, paixão, resiliência, amor e... humor!
Acho que esta é também a chave para a leitura deste seu belo livro (agora revisto, melhorado e aumentado), "Crónicas de paz e guerra".
A nossa Tabanca Grande tem muito orgulho por ele se sentar, connosco, à sombra do nosso simbólico poilão, acolhedor e fraterno. E por partilhar connosco, em livro, no blogue, no facebook, o melhor das suas histórias e memórias da guerra e da paz.
Neste dia de festa, tenho a pena de não poder estar covosco, mas saúdo todos os que, familiares, vizinhos, amigos, colegas, camaradas, quiseram ajudar o Joaquim a ter uma tarde mais luminosa, na terra, Gondomar, que ele, minhoto, também adotou como sua. E, da minha parte, desejo-lhe tudo de bom, a começar pela saúde... Porque ele merece tudo.
Obrigado, Joaquim, e até ao próximo... livro! (**)
Luís Graça.
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(*) Vd. postes de:
31 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26098: Lembrete (48): Biblioteca Municipal de Gondomar, sábado, dia 9 de novembro de 2024, lançamento do livro "Crónicas de Paz e Guerra" (2014, 221 pp.; posfácio de Mário Beja Santos)
(**) Último poste da série > 10 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26136: Agenda cultural (866): Convite para o lançamento do livro "Viagem de um Capitão de Abril", da autoria de Aniceto Afonso, a levar a efeito no próximo dia 12 de Novembro de 2024, pelas 18h00, na Associação 25 de Abril, Rua da Misericórdia, 95 - Lisboa. Apresentação a cargo de Lídia Jorge
Guiné 61/74 - P26147: Parabéns a você (2327): José Manuel Lopes, ex-Fur Mil da CART 6250/72 (Mampatá e Colibuia, 1972/74)
Nota do editor
Último post da série de 10 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26134: Parabéns a você (2326): Jorge Araújo, ex-Fur Mil Operações Especiais da CART 3494/BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/74)
terça-feira, 12 de novembro de 2024
Guiné 61/74 – P26146: (Ex)citações (430): Habitações palacianas de Gabu (José Saúde)
1.
O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova
Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.
Camaradas,
Tenho
lido textos no nosso blogue – Luís Graça & Camaradas da Guiné - de
camaradas que visam literalmente a antiga Nova Lamego, atual Gabu. Digo-o, sem
o mínimo de uma dúvida que porventura me suscitava hesitações, pois eles são
tão claros que não retiro uma vírgula aos escritos aqui lançados pelos seus
signatários, que Gabu tem, naturalmente, a sua própria história existencial.
Quando
lancei o livro – “UM RANGER NA GUERRA COLONIAL – GUINÉ-BISSAU 2973/1974 –
MEMÓRIAS DE GABU” – ocorreu-me em procurar a razão de como tudo terá
acontecido. Ou seja, a razão da sua existência e de que como tudo terá evoluído
até ao presente.
É óbvio que pelo meio ficou a nossa presença aquando da guerra colonial, mas ficarão também imagens que jamais esqueceremos. Por isso, aqui vos deixo a história de Gabu e dos então peiriquitos que ousaram explorar os recantos da então Nova Lamego.
Habitações
palacianas de Gabu
Denominada
como Nova Lamego, sobretudo ao longo da guerra colonial, Gabu é uma região
cujas fronteiras confinam a norte com o Senegal, a Leste e a Sul com as regiões
de Tombali e a Oeste com Bafatá.
Recorrendo
a dados históricos contemplados na Wikipédia, enciclopédia livre, Gabu foi a
capital do Império Kaabu, um reino Mandinga que existiu entre os anos de 1537 e
1867 e que se chamava Senegâmbia. Antes, tinha sido uma província do Império
Mali. No século XIX a etnia fula impôs a sua supremacia na região e colocou
ponto final no domínio de Kaabu.
Gabu
é, igualmente, a pátria do chão fula (79,6%), existindo ainda a etnia mandiga
(14,2%) que se espalha por toda a zona, mas numa menor escala. Foi-me dado a
oportunidade em conhecer alguns dos princípios éticos de uma população que
prima pela honra de uma herança que assumem como um indeclinável direito.
No
plano territorial Gabu possui uma área de 9.150 kms2 e tinha no ano de 2004 uma
população que se estimava em 178.318 almas, sendo, por isso, considerada uma
das maiores, senão a maior, das regiões do país.
Introduzo
como credível uma nota de rodapé que após a independência do país Gabu
recuperou o seu nome tradicional existindo, atualmente, um pequeno núcleo
urbano de inspiração colonial.
Detentora
de clima tropical, quente e húmido, a região de Gabu é composta por uma
população em que a doutrina praticada aponta como alvo principal a religião
muçulmana (77,1%).
As
temperaturas rondam, normalmente, os 30/33 graus durante o dia e os 18/23 à
noite. As estações anuais definem-se como as das chuvas que vai de maio a
novembro e a de seca de dezembro a abril. Dezembro e janeiro são considerados
os mais frescos. Por outro lado, a economia assenta no comércio, agricultura e
pecuária.
Os
usos e costumes das gentes de Gabu derrapam para primórdios éticos onde é
visível uma hierarquia humana que não abdica do erário tribal transmitido de
gerações para gerações.
Redijo
este tema sobre um “estágio” obrigatório nessa zona e na qual me foi
proporcionado observar algo mais ao longo da minha comissão em solo guineense,
embora encurtada devido à Revolução de Abril de 1974, uma vez que fui um dos
cerca de 45 mil militares dos três ramos das Forças Armadas – Exército, Força
Aérea e Marinha – quando por lá prestava serviço. Conheci, portanto, a guerra e
a paz e um pouco das vivências tradicionais das suas gentes.
Uma
rua
Aliás,
num trivial conhecimento com os nativos que muito me estimulou, pessoas simples
que viviam no interior de um adensado mato e entre as duas frentes da guerra,
usufrui da possibilidade em conhecer alguns dos seus expeditos hábitos, assim
como as memórias que nós combatentes incessantemente recordaremos.
Vamos,
pois, ao encontro de conteúdos passados em pleno palco da guerrilha.
A
população em movimento
Passeio
na “5.ª Avenida”
Suavizavam
o ar com o odor de uma “penugem” que os então pe9riquitos, nome usado pela tropa
mais velha para identificar os recém-chegados a solo guineense, lançavam para o
infinito de um horizonte inimaginável e onde surgiam quadros pesarosos pintados
pelo negro de uma incerteza. Porém, a incubação nos ovos chegava ao fim.
Tínhamos avezinhas. Um esticão de asas, um apalpar no escuro, uma vertigem dos
mais fracos, o vociferar dos conteúdos da guerra, o trocar opiniões sobre os
estratagemas do inimigo, as emboscadas, as minas, os ataques noturnos aos
quartéis, entre tantos outros motes aflorados, davam azo a uma conversa sempre
indeterminada entre o grupo acabado de chegar ao Leste da Guiné.
Cenário:
a “5.ª Avenida” de Nova Lamego, quais turistas a passearem-se pelas ruas chiques
das grandes metrópoles americanas! Ao fundo da dita cuja (“5ª Avenida”), eis o
grupo a abancar no bar da Pensão Mar e a refrescar-se com as aprazíveis sagres.
Era o princípio de uma jornada por terras de além-mar. Outras fainas se
seguiriam!
A Guiné parecia apenas um sonho. Aliás, jamais
me tinha ocorrido à ideia de que o meu futuro militar me reservasse, como
virtual conjetura, conhecer um dia a realidade da guerrilha no terreno
guineense e as suas famosas bolanhas.
Falava-se
da Guiné como o diabo foge da cruz. A guerra naquela província do Ultramar era
terrível. Traçavam-se cenários mórbidos. A rapaziada comentava e a mensagem
passava de boca em boca. Mas o destino contemplou-me e eu, tal como grande
parte dos rapazes desses tempos, não fugi a esse fim. Fui e voltei tal como
parti, restando resquícios de histórias que contemporizam o meu calendário de
vida.
Camaradas
houve, e foram muitos, que já não usufruem, infelizmente, do prazer de
partilhar momentos de convívio e narrar as suas histórias de vida. Uns,
morreram em combate na densidade de um mato cerrado; outros, faleceram numa
emboscada; outros, encontraram a morte em ataques aos quartéis; outros,
fecharam definitivamente os olhos em famigerados rebentamentos de minas
anticarro e antipessoal e, ainda, há aqueles que morreram em momentos de pura
infelicidade. Desastres com viaturas militares ou armas de fogo, carimbaram o
seu derradeiro fim.
Convivi
com situações que me deixavam apreensivo quando em causa esteve a razão do
último adeus. Momentos fatídicos, mórbidos, de camaradas que ousaram abusar do
facilitismo e se deixaram cair, inadvertidamente, em fatídicos fins proibidos.
Exemplifico o infeliz que encontrou a morte a limpar a arma esquecendo,
entretanto, que tinha deixado uma bala na câmara e outros em estúpidos
acidentes com viaturas militares, todos, ou quase todos, temos histórias desta
estirpe para contar.
Olho,
atentamente, para duas fotos do meu álbum – Guiné - e revejo um passeio pela
“avenida” principal de Nova Lamego, nos primeiros dias em que ali “ancorámos”.
O clique foi justamente dado em frente a uma casa onde residiam duas irmãs
cabo-verdianas que eram professoras primárias na escola local.
Vivendo
momentos de uma juventude no seu auge, alguns furriéis e alferes, andavam
doidos com as meninas que, por sinal, eram boas como o milho. Recordo que a
malta andava mesmo vidrada com aquele duo de airosas donzelas mestiças.
Parceiros? Não lhes conheci. Passemos à frente…
O
grupo de turistas, todos janotas, embevecidos com a beleza natural que os
rodeava e o cheiro a África a inalar as nossas narinas, eis o grupo de
periquitos, à civil, sentados a uma mesa do bar da Pensão Mar. Um nome que nada
tinha a ver com a realidade deparada. O mais indicado, na nossa conceção, seria
substituir Mar por Bolanha. O mar, lá longe, nem vê-lo. A bolanha era, isso
sim, o afrodisíaco mosaico constatado em terrenos circundantes, bem como em
quase todo o território guineense. Mas aceitava-se a decisão do seu mentor.
África
é sumptuosa no consumo de bebidas, principalmente cerveja. O calor afirma-se
como um aditivo determinante pelo prazer de consulares gargantas ressarcidas.
Num convívio saudável ficou uma tarde de passeio na apelidada “5ª Avenida”, o
alforge recheado de cervejas bebidas e um conhecimento mais profícuo de uma
urbe onde as bajudas passeavam os seus corpos embrulhados em pedaços de panos
garridos que torneavam a preceito os seus joviais e esbeltos físicos. O militar
– periquito – apreciava e… imaginava cenários quiçá inexequíveis de alcançar.
Coisas de uma juventude irreverente.
Refastelados
à volta de uma mesa o grupo de furriéis ressarciam-se com as cervejolas
fresquinhas
Periquitos desbravavam o ambiente da “avenida”. Da esquerda para a direita: o Cardoso, Operações Especiais/Ranger, Eu, o Santos, Minas e Armadilhas, Freitas e o Rui, Operações Especiais/Ranger
Abraços camaradas e um até breve.
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de
M.R.:
Vd.
últimos postes desta série em:
20 de
abril de 2024 > Guiné
61/74 – P25415: Os 50 anos do 25 de Abril (10): Até sempre, Nova Lamego! (José
Saúde, ex-fur mil op esp/ranger, CCS / BART 6523, 1973/74)
Guiné 61/74 - P26145: Fauna e flora (24): O "catchu-caldeirão", uma espécie de tecelão muito abundante na Guiné, faz os ninhos em colónas barulhentas, em geral em árvores de grande porte e em arbustos junbtio aos cursos de água
Acrescente-se que este é um notável trabalho, financiada pela União Europeia e pelo Camões, Instituto da Cooperação e da Língua através do projecto Gestão Sustentável dos Recursos Florestais no Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu.
Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel >Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > "Música, e cantares dos donos do lugar, os 'catchus'. Que também já foram em outro tempos servidos à mesa"...
Nome científico: Ploceus cucullatus
Outras designações:
- Cacho-caldeirão (português),
- Unke (balanta),
- Djatchiquidau (fula)
Descrição:
(i) comprimento: 17 cm (O da imagem acima é um macho reprodutor):
(ii) muito comum na maior parte dos habitats terrestres, incluindo tabancas e cidades;
(v) as fêmeas (e os machos em plumagem não reprodutora) são castanho-esverdeadas e amareladas na barriga e no peito;
(vi) limenta-se de sementes (incluindo do arroz de pampam e de bolanha) e de insetos.
Fonte: Guia das Aves Comuns da Guiné (s/l, Monte - Desenvolvimento Alentejo Central, ACE e Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau, 2017), pág. 61.
Para saber mais: vd. Ebird > Cacho-caldeirão (collaris) / Ploceus cucullatus collaris (em português)
2, Diz o Valdemar Queiroz, em comentário ao poste P26140 (*)
Em crioulo da Guiné não há palavras começadas com a letra "C" e todas as vogais são ditas como vogais abertas._____________
(*) Vd. poste de 11 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26140: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (40): No porto-cais de Quinhamel, comendo umas ostras de tarrafe (entrada) e uma bentana grelhada (prato de peixe) no restaurante do Ti Aníbal, ao som da música dos "catchos" e na companhia de um camarada "jadudi"...
(**) Último poste da série > 5 de setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24623: Fauna e flora (23): o hipopótamo-comum, pis-cabalo em crioulo (Hippopotamus amphibius) apanhado nas bolanhas de Farim (Carlos Silva, ex-fur mil arm pes inf, CCaç 2548 / BCaç 2879, Jumbembem, 1969/71)
Guiné 61/74 - P26144: Facebook...ando (66): Sessão de apresentação do livro de poesia "NA PENUMBRA DA MEMÓRIA, VIVÊNCIAS NA GUERRA COLONIAL", da autoria de José Luís Loureiro, levada a efeito no passado dia 9 de Novembro de 2024, no Casino da Figueira da Foz (Antero Santos, ex-Fur Mil Inf)
Obras sobre a Guerra do Ultramar
NA PENUMBRA DA MEMÓRIA, VIVÊNCIAS NA GUERRA COLONIAL
Poesia
Autor - José Luís Loureiro
Ontem, num dos salões do Casino da Figueira da Foz, decorreu a sessão de apresentação do livro de poesia do Combatente José Luís Loureiro, "NA PENUMBRA DA MEMÓRIA, VIVÊNCIAS NA GUERRA COLONIAL".
Foi uma cerimónia que contou com a presença na mesa da Sra. D. Isabel Tavares, escritora, poetisa e declamadora, além de ser Deputada Municipal na Assembleia Municipal da Figueira da Foz; de Antero Santos, autor do prefácio; de Vitor Carriço da Silva, autor do texto da badana e também do autor da obra, José Loureiro, que foram Combatentes na Guiné, em Moçambique e em Angola, respectivamente.
Na assistência estavam o Dr. Fernando Matos, administrador do Casino e esposa, o Dr. Jorge Lê, vários Combatentes de entre os quais destaco o Dr. Vasco Gama, residente em Buarcos, que foi comandante da CCAV 8351, Os Tigres do Cumbijã - 1972/74.
Abriu a sessão a D. Isabel Tavares. Depois dos convidados terem feito as suas considerações sobre a obra e de a D. Isabel Tavares ter declamado vários poemas, foi a vez do autor falar da mesma e dos seus estados de alma. Então a D. Isabel Tavares propôs um espaço de perguntas e respostas e aconteceu uma tertúlia entre todos os presentes sobre várias facetas da guerra no Teatro de Operações, sobre a forma como os Combatentes continuam a ser "destratados" pelos sucessivos governos e também sobre a regalia que foi decretada em 2021 sobre direito ao uso da bandeira nacional no velório e funeral dos Combatentes e que, tristemente, não é respeitada pela maioria das autarquias a quem compete a execução da medida. Foi muito positiva esta pequena tertúlia.
Quase a terminar, o José Loureiro agradeceu a presença de todos. Agradeceu também à Administração e Direcção do Casino, nas pessoas do Dr. Fernando Matos e Dr. Jorge Lê
Para finalizar a cerimónia, a administração do Casino presenteou-nos com um Porto de Honra e foi tempo de um animado convívio.
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Fotos: José António Silva Teixeira
Fixação do texto e edição das fotos: Carlos Vinhal
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Nota do editor
Último post da série de 11 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26033: Facebook...ando (65): Valter Santos, em Cucujães, relembrando coisas e gente do seu tempo, em Bissau, no HM 241 (1969/71)