Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2021
Guiné 61/74 - P21821: Parabéns a você (1926): Luís Graça, ex-Fur Mil AP Inf da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) e Virgílio Teixeira, ex-Alf Mil SAM da CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e S. Domingos, 1967/69)
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Nota do editor
Último poste da série de 25 de Janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P21804: Parabéns a você (1925): João Alberto Coelho, ex-Alf Mil Op Especiais da 1.ª Comp/BART 6522 (S. Domingos, 1972/74)
quinta-feira, 28 de janeiro de 2021
Guiné 61/74 - P21820: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis"(5): Contra a Covid-19 e a pérfida caixinha de Pandora que vem sempre associada às pandemias, a palavra de ordem é: Confinemo-nos, sim, camaradas!... Mas não nos (con)finemos, ámen! (Luís Graça)
Focha técnica:
Editora: Edições 70 [Grupo Almedina]
Coleção: História Narrativa
Ano: 2020
ISBN: 9789724423692
Número de páginas: 700
Capa: Brochado
Sinopse_ (...) O livro recomendado pelo The World Economic Forum no contexto do surto de coronavírus .
Que são poucos, são... e que às vezes parecem loucos, parecem!...
2. Em 1918/19, de "gripe espanhola" (!), morreram 120 mil dos tais portugueses poucos e loucos (, estimam os cronistas do reino...). Dois por cento da população (que na altura era de 6 milhões)...
Nota do editor:
Último poste da série > 21 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21791: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis": (4) A 'descoberta' da Índia
Guiné 61/74 - P21819: (In)citações (178): Até já, José Eduardo!... (Joaquim Mexia Alvez, régulo da Tabanca do Centro)
Leiria > Monte Real > V Encontro Nacional da Tabanca Grande > 26 de junho de 2010 > O José Eduardo [1940-2021] e o Joaquim Mexia Alves (, dois dos membros da comissão organizadora, juntamente com Belmiro Sardinha, Carlos Vinhal e Miguel Pessoa)
ATÉ JÁ, JOSÉ EDUARDO!
por Joaquim Mexia Alves
Não vou ouvir mais a frase que sempre te ouvia quando te ligava: "Meu amigo Joaquim!"
Sim, não havia um “alô”, um “está lá”, um “estou”, mas “apenas” uma frase com uma inflexão quase como um canto de alegria: "Meu amigo Joaquim!"
E eu respondia-te: "Meu amigo José Eduardo!"
E falavas de uma história, de um concerto, de uma exposição, do “teu” Mosteiro, da política, da amizade, de tudo enfim, para tudo embrulhares sempre no mesmo convite: "Tens que cá vir, para conversarmos, para matarmos saudades. Tenho tanta coisa para te dizer!"
E eu respondia que sim, que íamos marcar, assim que pudéssemos ambos, e tu respondias que também podias vir aqui, que tínhamos de acertar a data.
E fui tantas vezes e tu vieste tantas também!
Mas passear contigo por Alcobaça era “outra louça”!
Era assim como que um orgulho ir ao teu lado e ver que toda a gente te cumprimentava e que tu tinhas uma palavra para todos e todos te respondiam com um sorriso.
Desde que te conheci, por causa da “nossa” Guiné (*), que percebi de imediato o “homem grande” que tu eras, a bondade que em ti se sentia, a sinceridade das palavras, do coração, a preocupação com os outros e o amor inexprimível à família.
Os almoços da Tabanca do Centro assim o iam confirmando todos os meses e a amizade nasceu naturalmente forte.
Tínhamos tantas coisas que nos identificavam!
Uma noite tive um sonho, literalmente um sonho, meu amigo José Eduardo, que me dizia para te convidar para fazeres o Percurso Alpha connosco na paróquia da Marinha Grande.
Hesitei, pensei e repensei se não estaria a entrar na tua esfera mais íntima, mas decidi fazer o convite, pois um não da tua parte nada significava para a nossa amizade.
Mas não foi assim!
Ouvi um sim decidido, dizendo-me que era o tempo certo para fazer esse caminho.
E depois durante 10 semanas, esperava-te à entrada da Marinha Grande para te indicar o caminho para o local onde nos reuníamos.
E, claro, rapidamente fizeste amigos em todos os que ali estavam, como não podia deixar de ser, porque a tua maneira de ser era assim.
E foi um desencadear de coisas novas que descobriste e me foste ajudando a descobrir, uma ansiedade de paz e tranquilidade que me ias dizendo perceberes em ti.
Não me esqueço, meu amigo José Eduardo, no fim de semana do Espírito Santo, depois de eu ter feito a oração de invocação, o abraço que me vieste dar e como chorámos de paz e alegria nos braços um do outro.
E a tua amizade tão cheia de ternura pelo “nosso” Padre Patrício, como sempre o trataste entre nós, a quem ouviste com atenção e dedicação, “apesar” de ser um jovem perto de nós.
Tantas conversas, tantas confidências, tantas portas que abrimos das nossas memórias, tantos perdões, tanta paz, tantos conselhos recíprocos que trocámos!
Depois veio o ano terrível que “fechou” os nossos almoços, que “proibiu” os nossos abraços, que “escondeu” os nossos sorrisos, que quis “abafar” as nossas conversas.
Gente como tu, (e como eu, também), que vive de afectos e proximidade, sofre mais com estes tempos de distância forçada.
E como não paras, arranjaste maneira de editar um livro e pediste-me para escrever um posfácio, que tentei recusar por não me sentir capaz, mas tu convenceste-me como sempre.
Quando foi a apresentação do livro pediste-me para me sentar também na mesa e depois, com um sorriso desconcertante, disseste-me que eu teria de dizer umas palavras, também!!!
Respondi que não estava preparado para tal, mas a amizade falou mais alto.
Deixei-me levar pelo coração e foi nesse dia que disse publicamente que nunca mais te tratava por “Jero”, mas sim por José Eduardo.
“Jero” era um pseudónimo e a nossa amizade era muito real, pelo que, para mim, “apenas” podias ser José Eduardo.
E acho que a tua Helena gostou!
E não me esqueço também que te pedi pelo meu filho Pedro, para procurares um emprego, uma ocupação que ele tanto precisava e nesse mesmo dia já me estavas a responder e passado pouco tempo já o Pedro estava a estagiar em Alcobaça, no “teu” jornal, e tu o tomavas sobre os teus braços e o acompanhavas sempre.
Enchias-me de orgulho quando me dizias que o meu Pedro era um “rapaz” extraordinário e que gostavas imenso de falar com ele.
Marcaste-o com uma forte amizade que ele guarda dentro de si.
E a Dona Catarina, José Eduardo?
Sempre que te referias à minha mulher lá vinha o Dona Catarina e eu dizia-te: "Não digas isso José Eduardo, que ela afina!!!"
Lembro-me tão bem daquele almoço de frango na púcara, (tinha que ser, em Alcobaça), com a tua Helena, a minha Catarina e nós os dois.
E lá conseguimos acertar mais uma data e há cerca de um mês, lá fui com o Pedro ter contigo a Alcobaça para comermos um opíparo almoço que eu, (usando de chantagem), te obriguei a deixares-me pagar.
Nesse dia, meu amigo José Eduardo, quando nos despedimos, mandámos “às malvas” as regras e demos um abraço forte e sentido.
Esse abraço fica comigo, está em mim, e nunca mais deixarei de o sentir.
Repousa agora meu amigo, junto de Deus que ambos “redescobrimos” e que com certeza, (é tão bom ver as coisas assim humanamente), ouve deliciado as tuas histórias, com os Monges de Cister sentados à tua volta pedindo-te notícias do seu Mosteiro.
Não chegavam as resmas todas de papel para escrever sobre ti e sobre a nossa amizade, nem para tal tenho eu “engenho e arte”, mas mais importante do que isso é eu saber que estás nos braços de Deus e que vives no meu coração.
Espero um dia, pela graça de Deus, chegar ao Céu também e ouvir atrás de mim alguém dizer uma frase com uma inflexão quase como um canto de alegria: "Meu amigo Joaquim!"
Até já, José Eduardo! (**)
Marinha Grande 28 de Janeiro de 2021
Joaquim Mexia Alves
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Notas do editor:
(*) Vd. postes de:27 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6648: V Convívio da Tabanca Grande (8): Reportagem fotográfica
5 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6676: V Convívio da Tabanca Grande (15): Caras Novas (Parte IV ): O JERO, aquele rapaz de Alcobaça e de Binta, lembram-se dele ? (Luís Graça)
Natural de Alcobaça, bancário reformado, director adjunto do jornal local, ofereceu-se de imediato para organizar o V Encontro Nacional da Tabanca Grande. Acabámos por optar por Monte Real, e associá-lo à Comissão Organizadora (de que fizeram parte, além dele, o Carlos Vinhal, o Joaquim Mexia Alves, o Miguel Pessoa e o Belarmino Sardinha).
O JERO é daqueles camaradas que, uma vez apresentados, se tornam, ao fim de cinco minutos, velhos conhecidos, que a gente se apressa a pôr na lista dos amigos favoritos... Ele é a gentileza em pessoa, uma doçura como os licores e doces da abadia à sombra da qual nasceu e cresceu a sua terra. E tem uma qualidade que é rara entre os primatas: pratica a amizade, é gentil, é prestável, é leal, sem quaisquer pretensões de protagonismo, sem intriga, lisonja ou má-língua...
Cara nova ? Sim, é a primeira vez que ele vem a um Encontro Nacional da Tabanca Grande. Razão por que merece este destaque. (...)
Guiné 61/74 - P21818: In Memoriam (387): José Eduardo Oliveira (JERO) (1940-2021), que eu conheci em 2010, na Tabanca do Centro, em 27/1/2010... Na formatura do recolher de hoje, respondo "Presente!", com o meu poema "Reencontros" (José Belo, Suécia)
Leiria > Monte Real > 1º Convívio da Tabanca do Centro > 27 de janeiro de 2010 > Chegada do José Belo a terras de Monte Real. Da esquerda para a direita: José Teixeira, José Belo, Vasco Ferreira e Manuel Reis.
Leiria > Monte Real > 1º Convívio da Tabanca do Centro > 27 de janeiro de 2010 > À mesa, no topo, José Belo e Joaquim Mexia Alves.
Fotos (e legendas): © Joaquim Mexia Alves / Tabanca do Centro (201o). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem de José Belo, o nosso camarada que vive na Suécia há 40, tendo voltado à Pátria / Mátria / Fátria só em 2010, depois de 30 anos de autoexílio:
Date: quarta, 27/01/2021 à(s) 22:41
Subject: Reencontros.
O JERO, na sua maneira discreta e amiga, chamou-me “de lado” entregando-me uma coletânea de textos meus publicados em vários blogues.
De entre eles escolhera o texto “Reencontros” que separou em folha especial, informando-me ser este o seu favorito.
Até aí não o conhecia pessoalmente, tendo ficado sensibilizado por esta sua atitude, e não menos pela maneira discreta e sincera com que me entregou as cópias dos textos por ele encadernados.
Na triste “formatura do recolher” de hoje, o meu..."Presente" à chamada...é o tal texto, “Reencontros”
Um abraço do J.Belo
Algures no estuário do Tejo,
a montante,
em enseada perdida na vasa,
ouvem-se madeiras ranger,
bater de cordames,
espadanar de velas.
Algures no estuário do Tejo há vozes abafadas,
ordens secas,
passadas fortes em invisível convés.
Sombras furtivas vigiam da gávea...
Algures no estuário do Tejo,
a montante,
entre bancos de névoa há uma nau ancorada!
Algures, no estuário do Tejo, marinheiros de outrora...
aguardam!
Sol poente sobre a barra.
Ventos de limo e sal.
Silenciosa armada em regresso...
Naus, caravelas, galeões, vapores,
voltam de marés longínquos,
de naufrágios esquecidos,
de viagens de pesadelo...
Os mortos das descobertas,
de Ormuz, de Malaca, de Goa,
da China, das Capitanias
dos bandeirantes da Amazónia,
de Marracuene, Chaimite,
das trincheiras da Flandres,
dos desterrados na ilha maldita do Sal,
de Angola, das picadas dos Dembos,
do Rovuma,
de Gandembel, Madina do Boé e tantas outras guarnições mártires...
estão os que...ficaram!
Os que desesperando..., esperaram!
Mães, noivas, filhos, irmãos, amigos.
ALGURES NO ESTUÁRIO DO TEJO ARDE UMA NAU ANCORADA!
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 30 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5728: Convívios (181): 1.º Encontro da Tertúlia do Centro, aconteceu no dia 27 de Janeiro de 2010 em Monte Real
(**) Vd. poste de 27 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21814: In Memoriam (386): José Eduardo Reis Oliveira (JERO) (1940 - 2021), ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), escritor, jornalista, bloguista, grande camarada e amigo do peito (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça)
Guiné 61/74 - P21817: Fotos à procura de... uma legenda (140): Trata-se de uma canoa em tempos apreendida ao PAIGC... Os militares tomam banho no cais de Gampará (Virgílio Valente, régulo da Tabanca de Macau, ex-alf mil, CCAÇ 4142/72, Gampará, 1972/74)
Guiné > Região de Quinara > Gampará > Mapa de Fulacunda (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Porto Gole, Gampará, Ganjauará e Ponta do Inglês na Foz do Rio Corubal. (O PAIGC em 1972 conttrolava algumas posições no rio Corubal, como era o caso de Ponta do Inglês / Poindom (subsector do Xime).
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)
Guiné > Região de Quínara > Jabadá ou Gampará [?]> 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) > Canoa apreendida ao PAIGC, em dia de banho, na margem esquerda do Geba [?].
Caro Luís e caro Carlos Barros,
Estive em Gampará entre 1972 e 1974.
Aparecem caras na foto que me parecem conhecidas.
Mas quem pode dar dicas mais consistentes é o ex-alferes miliciano Eurico Dias, cujo endereço de email fica à disposição dos editores,
Abraços, camaradas
Virgílio Valente, ex-alferes miliciano da CCAÇ 4142, 1972/1974 em Gampará
Companhia de Caçadores nº 4142/72
Identificação: CCaç 4142/72
Unidade Mob: RI1 - Amadora
Crndt: Cap Mil Cav Fernando da Costa Duarte
Divisa: -
Partida: Embarque em 16Set72 | Regresso: Embarque em 25Ag074
Após realização da IAO, de 20Set72 a 170ut72 no ClM do Cumeré, seguiu em 180ut72 para Ganjauará, a fim de efectuar o treino operacional e a
sobreposição com a CArt 3417.
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pág.413
(*) Vd. poste de 27 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21813: Fotos à procura de...uma legenda (132): "Canoa turra" ?... Apreendida ao PAIGC ?... Em que sítio, Jabadá ou Gampará ?... (Carlos Barros, ex-fur mil, 2ª C/BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74)
quarta-feira, 27 de janeiro de 2021
Guiné 61/74 - P21816: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXXIV: Memórias de São Domingos, região do Cacheu
Foto nº 7 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > Fim de setembro de 1968 > Foto nº 7 – Na porta do meu quarto, a escrever para a família.
Companhia de Caçadores nº 622
Identificação: CCaç 622
Unidade Mob: RI 16 - Évora
Crndt: Cap Inf José Bento Guimarães Figueiral
Divisa: -
Partida: Embarque em 25Fev64; desembarque em 03Mar64 | Regresso: Embarque em 27Jan66
A partir de 8Mar64, substituindo dois pelotões da CCav 567, assumiu a
responsabilidade do subsector de Binar, então criado na zona de acção do
BCaç 507, e depois do BCav 790, com vista a impedir o alastramento da luta de
guerrilha para a região de Bula-Teixeira Pinto.
Em 7Dez64, iniciou a rendição, por troca, com a CCaç 618, no mesmo
sector, começando pelos destacamentos de Varela e Susana e assumindo a
responsabilidade total do subsector de S. Domingos, a partir de 30Jan65,
orientando o seu esforço para o patrulhamento e interdição da zona de fronteira
naquele subsector.
Em 18Jan66, foi completada a rendição, por troca, no subsector de S. Domingos pela CCav 1483 e seguiu para Bula, onde assumiu transitoriamente a função de subunidade de reserva do BCav 790.
Em 26Jan66, foi substituída pela CArt 1526 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.
Guiné 61/74 - P21815: Historiografia da presença portuguesa em África (249): Da Senegâmbia à Serra Leoa, pela mão de Suzanne Daveau (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Fevereiro de 2020:
Queridos amigos,
Do marido de Suzanne Daveau, Orlando Ribeiro, ficaram-nos os admiráveis cadernos de campo da sua viagem à Guiné em 1947, foi em missão de geografia, recolheu fotografias espantosas, reveladoras do seu humanismo, da sua capacidade de observação, desde a construção de taludes em arrozais, passando pela diversidade de habitações até imagens da integração do ser humano na paisagem.
Suzanne Daveau, dentro desta coletânea, procede a uma síntese das primeiras descrições geográficas portuguesas, é uma leitura estimulante para um melhor conhecimento da história da geografia tal como a praticaram os portugueses no longo e galvanizante processo de avanço para o Sul, com a importantíssima chegada aos rios Senegal e Gâmbia, abriam-se assim as portas para o comércio um pouco no Interior; as viagens continuavam impetuosas mais para o Sul, a Serra Leoa passou a ser um local de resgate fundamental, a tal ponto que naquele período do século XIX em que ninguém sabia quais as fronteiras e limites da Senegâmbia Portuguesa, se sonhava com a capital em Bolama, pois dali se chegava mais rapidamente à Serra Leoa, é esse um dos temas para estudar que a insigne geógrafa Suzanne Daveau põe à consideração dos investigadores.
Um abraço do
Mário
Da Senegâmbia à Serra Leoa, pela mão de Suzanne Daveau
Mário Beja Santos
A descoberta da África ocidental. Ambiente natural e sociedades, por Suzanne Daveau, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1999, é uma coletânea de escritos de uma geógrafa francesa que viveu na África ocidental e ensinou na Universidade de Dacar. Casada com o geógrafo Orlando Ribeiro, instalou-se em Portugal em 1965, foi professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Deixou obra vastíssima nos domínios da geomorfologia, climatologia e geografia histórica, entre outros. Esta obra recolhe estudos escritos entre 1963 e 1993. Um deles, intitulado “A organização do espaço de Arguim à Serra Leoa na segunda metade do século XV e a sua progressiva descoberta pelos portugueses”, datado de 1989, é uma síntese admirável e lança desafios a temas para estudar, alguns deles que continuam à procura de resposta.
Começa por recordar quais as relevantes descrições geográficas portuguesas do século XV: A Crónica da Guiné, de Zurara (escrita cerca de 1453-60, que cobre as viagens realizadas até 1448 e que já ultrapassava o Cabo Verde); as Viagens de Cá Da Mosto (e de Pedro de Sintra), acabadas de escrever depois de 1463 e outras referentes a viagens que se realizaram até 1462, à Serra Leoa. Há ainda que ter em conta o Manuscrito Valentim Fernandes, o Esmeraldo de Situ Orbis, de Duarte Pacheco Pereira e a Primeira Década da Ásia, de João de Barros, que insere a descrição dos rios Senegal e Gâmbia. A geógrafa recorda que o progressivo conhecimento do Litoral durante muitos anos se conhecia só o litoral baixo e arenoso do deserto do Sara (os Azenegues), que fugiam espavoridos quando as caravelas apareciam no mar. Viajando sempre para o Sul, chegou-se a um litoral coberto de árvores, verdes durante todo o ano, daí a designação do Cabo Verde, os homens mudam, tanto pela cor como pelo comportamento, já não fogem, tomam uma atitude defensiva ou até belicosa. Isto para significar que a África à medida que se torna de aparência mais fértil, vai repelindo com mais força a penetração dos navegadores cristãos. A chegada ao rio Senegal empolga os navegadores, há quem pense que se chegou ao Nilo ou a um braço dele. O rio Senegal, escreve Cá Da Mosto, separa os negros dos pardos, chamados Azenegues; e separa também a terra seca e árida, que é o sobredito deserto, da terra fértil, que é o país dos negros. Duarte Pacheco Pereira pensa que se chegou à Etiópia. E João de Barros revela entusiasmo: “Este rio Senegal pela divisão nossa é o que aparta a terra dos Mouros dos Negros, posto que ao longo de suas águas todos são mestiços, em cor, vida e costumes, por razão da cópula que segundo o costume dos Mouros, toda mulher aceitam. Pero quanto à qualidade da terra, parece que a natureza lançou aquele rio entre ambas, como marco de divisão […]. Por razão do qual rio a terra mais povoada é a que jaz ao longo dele, onde há algumas cidades”. Também o rio Gâmbia ganhara importância para os navegadores, mas unicamente no plano político. Escreve a geógrafa que irá fixar a fronteira entre as terras sujeitas ao Reino Jalofo e as que dependem do império do Mali. Valentim Fernandes dirá que é no rio Gâmbia (ou rio de Cantor) que começa o reino de Mandinga, por este rio entram muitos navios, resgatam-se cavalos, e há grandes diferenças entre os Mandingas e os Jalofos.
A geógrafa discreteia sobre as diferenças dos rios Senegal e Gâmbia e como ambos foram observados pelos primeiros navegadores. A penetração comercial que os portugueses e estrangeiros associados procuravam realizou-se ao longo dos itinerários comerciais então existentes. Mas havia razões fundamentadas para querer navegar para o interior até ao sertão, pretendia-se comercializar o ouro, pensando-se que havia uma ligação oeste-leste do Senegal com o sistema Níger/Nilo. E dá-nos um quadro da organização das redes fluviais.
Passando para os povos, para os seus usos e organização social, a autora não deixa de notar que a visão dos povos africanos que estes relatos inserem é unilateral, a despeito de um enorme esforço para entender as sociedades africanas, vêm ao de cima os preconceitos relativos às capacidades intelectuais dos negros. Estes relatos também falam da superioridade técnica dos europeus e da admiração que os negros sentiam pelas armas, bestas e bombardas, mas nunca se escondendo que os europeus sentiam pavor pelas flechas envenenadas. O reconhecimento do poderoso império do Mali foi-se precisando, sobretudo a partir do momento em que os contatos se estabeleceram através do rio Gâmbia. O Mali que os portugueses irão encontrar terá cada vez menos capacidade de organização comercial se bem que tenha conseguido ainda adaptar-se, em parte, às novas condições de exportação. Dado importante é de que todos estes relatos e a generalidade das relações comerciais se irão estabelecer na região da orla, o conhecimento do sertão ficará vago e pouco seguro. Vários autores irão repetindo a lenda da abundância do ouro, demorará muito tempo a perceber que esta produção artesanal de ouro era dispersa e não muito produtiva.
Veja-se agora o que a autora considerava temas para estudar (em 1989). Em primeiro lugar, reconhece a delicadeza do tema das expedições árabes, a partir do século XI e as do século XIV, mais pormenorizadas, pode-se pôr em dúvida a fiabilidade do traçado da rede hidrográfica, da demarcação da terra dos brancos e dos negros ou mesmo do comércio e do ouro. Há, evidentemente, de ter em conta os relatos dos navegadores europeus quanto às dimensões das embarcações africanas. Em segundo lugar, sabendo-se que no final do século XVI e no século XVII, será a Serra Leoa que irá concentrar as atenções dos portugueses, haverá que estudar qual terá sido a verdadeira dimensão da concorrência de outros europeus no litoral setentrional; em terceiro lugar, há que atender que nas últimas décadas do século XV, quando os portugueses entraram em contato com as riquezas do Oceano Índico, as “velhas navegações da África Ocidental inseriram-se em novos circuitos comerciais, sobretudo apoiados nos portos do litoral norte do golfo da Guiné, importa investigar para saber mais. E finaliza: “O ritmo da descoberta inicial de novas terras pelos europeus está muito longe de ser o único tema digno de interessar os historiadores. O ritmo e as sucessivas modalidades da implantação dos colonizadores nas sociedades locais e das recíprocas influências sofridas são temas que merecem também toda a atenção dos estudiosos”.
Mulheres em pirogas no Parque Natural dos Tarrafes no rio Cacheu. Foto retirada de Caderno dos Conhecimentos, com a devida vénia
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21786: Historiografia da presença portuguesa em África (248): "Senegâmbia Portuguesa ou Notas Descritivas das Diferentes Tribos que Habitam a Senegâmbia Meridional", por Luís Frederico de Barros; Tipografia Editora de Matos Moreira & C.ª, 1878 (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P21814: In Memoriam (386): José Eduardo Reis Oliveira (JERO) (1940 - 2021), ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), escritor, jornalista, bloguista, grande camarada e amigo do peito (Joaquim Mexia Alves / Luís Graça)
Caríssimos camarigos
Faleceu esta noite o nosso amigo José Eduardo Oliveira (JERO), em Alcobaça, a sua amada terra.
O José Eduardo estava doente, recentemente, tendo sido internado no Hospital de Alcobaça, mas nada fazia prever este terrível desfecho que nos deixa em estado de choque.
O José Eduardo era um amigo muito especial para mim, e para todos nós, pois era um homem bom, um contador de histórias, um exímio conversador, sobretudo um amigo do seu amigo, franco, leal e verdadeiro.
Gostava de poder escrever muito mais sobre o José Eduardo, mas neste momento faltam-me as palavras porque o choque é demasiado grande.
Rezo por ele e por toda a sua família, a quem a Tabanca do Centro, com todos os seus membros, acompanha nestes momentos de dor
Abraços fortes para todos.
Que Deus tenha o José Eduardo no seu eterno descanso.
Alcobaça > Setembro de 2011 > O jornalista, escritor e nosso camarada e amigo JERO (acrónimo de José Eduardo Reis de Oliveira), autor de "Alçobaça é Comigo", o seu terceiro livro.
Alguns de nós perguntarão, legitimamente: Mas o que é que este livro tem a ver com a Guiné e a nossa guerra ? E eu, à partida, não sei responder por que não conheço nenhuma das trintas histórias, contatas e recontadas pelo JERO, na tertúlia do barbeiro, entre duas barbas e um cabelo...
É verdade que podia pôr a notícia do lançamento do 3º livro do JERO noutra série, Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres... Mas achei que estava bem aqui, na nossa Agenda Cultural...
Em especial na província, o sítio onde os homens punham a conversa em dia e, noutros tempos, transpiravam e alguns conspiravam... Nela pontificava uma personagem, popular mas ao mesmo tempo estranha, mágica e poderosa, que era o barbeiro mas também o barbeiro-sangrador, o enfermeiro, o tiradentes, o confidente...
Enfim, estou curioso em ler as histórias do Jero, temperadas com o aço da navalha do seu barbeiro... Tanto mais que ele, além de grande, encantador e sedutor contador de histórias, ele, a sua figura, algo mística, arrancadada das esculturas do mosteiro de Alcobaça, faz-me sempre lembrar um aristocrático e medievo monge cistercense, daqueles a quem devemos quase tudo ou muito do que somos enquanto povo...
No meu caso, falo como português, estremeno, à beira mar plantado... O vinho, a pera rocha, a maçã reineta, os cereais, a doçaria, as bebidas espirituosas... mas também e sobretudo o "imaterial" das nossas sociedades, a que chamamos cultura, ou que é o outro lado da cultura: os livros, a língua, a música, as artes, a arquitetura, o ensino da medicina, e por aí fora...
Não se nasce impunemente em Alcobaça. E por isso o JERO com toda a humildade e autencidade pode vir, a terreiro, dizer, alto e bom som: É, camaradas, Alcobaça é comigo!... E eu estou com ele, meu camarada da Guiné. O lançamento de um livro é sempre um exercício de cultura e memória. Mas também de partilha e comunicação, ou seja, é um ato da aventura humana.
"Escrever um livro, plantar uma árvore e fazer um filho", não foi o Eça de Queirós quem o disse, foram os intelectuais da Alta Idade Média, os monges do Ora et labora (reza e trabalha), os únicos que sabiam ler e escrever, quando o Portugal, hoje milenário, ainda (ou já) era uma criança, o Condado Portucalense...
Um xicoração muito grande para o JERO, antecipado, para o caso de eu não poder estar amanhã em Alcobaça, a tempo e horas, na sua festa, no lançamento do seu livro. Saudações para a família, amigos e camaradas da Guiné que se quiserem e puderem associar a este festivo evento, que é também da nossa Tabanca Grande... LG
PS - Há mais cistercenses em Alcobaça, para além do Jero... Por exemplo, o nosso Amado Juvenal, mesmo que mais laico do que o Jero, mas não menos talentoso contador de histórias... (Isto, este talento, vem-lhes do ADN monacal, ou terá sido cultivado - ou no mínimo temperado - nos rios e bolanhas da Guiné ?)
Guiné 61/74 - P21813: Fotos à procura de... uma legenda (139): "Canoa turra"?... Apreendida ao PAIGC?... Em que sítio, Jabadá ou Gampará?... (Carlos Barros, ex-fur mil, 2ª C/BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74)
Guiné > Região de Quínara > Jabadá [?] > 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) > Canoa apreendida ao PAIGC, em dia de banho, na margem esquerda do Geba.
Foto (e legenda): © José Elias / Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]Assunto - Canoa apreendida ao PAIGC
Caro amigo,
Junto esta foto, que me enviou o meu amigo José Elias, ex-Furriel Auto, em que os militares, no Rio Geba, divertem-se com uma canoa apreendida ao PAIGC, penso que em 1973.
Um abraço, CMLB
Guiné > Mapa geral da Província (1961) > Escala 1/ 500 mil > Posição relativa de Tite, Nova Sintra, Fulacunda, Jabadá e Gampará, na região de Quínara
Guiné > Região de Quinara > Fulacunda > Mapa de Fulacunda (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Gampará e da Ponta do Inglês na Foz do Rio Corubal
Guiné > Região de Quínara > Mapa de Tite (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa da Ponta de Jabadá, na margem esquerda do Rio Geba, a meia distância entre Bissau e Porto Gole (situados na maregm direita). Dada a largura do rio, e as patrulhas da Marinha, não era o ponto mais indicado para as "cambanças", em canoa, dos guerrilheiros do PAIGC...
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)
(*) Vd. psote de 6 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21694: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (15): Os pobres pelicanos...