quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21819: (In)citações (178): Até já, José Eduardo!... (Joaquim Mexia Alvez, régulo da Tabanca do Centro)

 

Leiria > Monte Real > V Encontro Nacional da Tabanca Grande > 26 de junho de 2010 > O José Eduardo [1940-2021] e o Joaquim Mexia Alves (, dois dos membros da comissão organizadora, juntamente com Belmiro Sardinha, Carlos Vinhal e Miguel Pessoa)

Foto (e legenda): © Eduardo Magalhães Ribeiro   (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


ATÉ JÁ, JOSÉ EDUARDO!

por Joaquim Mexia Alves

Não vou ouvir mais a frase que sempre te ouvia quando te ligava: "Meu amigo Joaquim!"

Sim, não havia um “alô”, um “está lá”, um “estou”, mas “apenas” uma frase com uma inflexão quase como um canto de alegria: "Meu amigo Joaquim!"

E eu respondia-te: "Meu amigo José Eduardo!"

E falavas de uma história, de um concerto, de uma exposição, do “teu” Mosteiro, da política, da amizade, de tudo enfim, para tudo embrulhares sempre no mesmo convite: "Tens que cá vir, para conversarmos, para matarmos saudades. Tenho tanta coisa para te dizer!"

E eu respondia que sim, que íamos marcar, assim que pudéssemos ambos, e tu respondias que também podias vir aqui, que tínhamos de acertar a data.

E fui tantas vezes e tu vieste tantas também!

Mas passear contigo por Alcobaça era “outra louça”!

Era assim como que um orgulho ir ao teu lado e ver que toda a gente te cumprimentava e que tu tinhas uma palavra para todos e todos te respondiam com um sorriso.

Desde que te conheci, por causa da “nossa” Guiné (*), que percebi de imediato o “homem grande” que tu eras, a bondade que em ti se sentia, a sinceridade das palavras, do coração, a preocupação com os outros e o amor inexprimível à família.

Os almoços da Tabanca do Centro assim o iam confirmando todos os meses e a amizade nasceu naturalmente forte.

Tínhamos tantas coisas que nos identificavam!

Uma noite tive um sonho, literalmente um sonho, meu amigo José Eduardo, que me dizia para te convidar para fazeres o Percurso Alpha connosco na paróquia da Marinha Grande.

Hesitei, pensei e repensei se não estaria a entrar na tua esfera mais íntima, mas decidi fazer o convite, pois um não da tua parte nada significava para a nossa amizade.

Mas não foi assim!

Ouvi um sim decidido, dizendo-me que era o tempo certo para fazer esse caminho.

E depois durante 10 semanas, esperava-te à entrada da Marinha Grande para te indicar o caminho para o local onde nos reuníamos.

E, claro, rapidamente fizeste amigos em todos os que ali estavam, como não podia deixar de ser, porque a tua maneira de ser era assim.

E foi um desencadear de coisas novas que descobriste e me foste ajudando a descobrir, uma ansiedade de paz e tranquilidade que me ias dizendo perceberes em ti.

Não me esqueço, meu amigo José Eduardo, no fim de semana do Espírito Santo, depois de eu ter feito a oração de invocação, o abraço que me vieste dar e como chorámos de paz e alegria nos braços um do outro.

E a tua amizade tão cheia de ternura pelo “nosso” Padre Patrício, como sempre o trataste entre nós, a quem ouviste com atenção e dedicação, “apesar” de ser um jovem perto de nós.

Tantas conversas, tantas confidências, tantas portas que abrimos das nossas memórias, tantos perdões, tanta paz, tantos conselhos recíprocos que trocámos!

Depois veio o ano terrível que “fechou” os nossos almoços, que “proibiu” os nossos abraços, que “escondeu” os nossos sorrisos, que quis “abafar” as nossas conversas.

Gente como tu, (e como eu, também), que vive de afectos e proximidade, sofre mais com estes tempos de distância forçada.

E como não paras, arranjaste maneira de editar um livro e pediste-me para escrever um posfácio, que tentei recusar por não me sentir capaz, mas tu convenceste-me como sempre.

Quando foi a apresentação do livro pediste-me para me sentar também na mesa e depois, com um sorriso desconcertante, disseste-me que eu teria de dizer umas palavras, também!!!

Respondi que não estava preparado para tal, mas a amizade falou mais alto.

Deixei-me levar pelo coração e foi nesse dia que disse publicamente que nunca mais te tratava por “Jero”, mas sim por José Eduardo.

“Jero” era um pseudónimo e a nossa amizade era muito real, pelo que, para mim, “apenas” podias ser José Eduardo.

E acho que a tua Helena gostou!

E não me esqueço também que te pedi pelo meu filho Pedro, para procurares um emprego, uma ocupação que ele tanto precisava e nesse mesmo dia já me estavas a responder e passado pouco tempo já o Pedro estava a estagiar em Alcobaça, no “teu” jornal, e tu o tomavas sobre os teus braços e o acompanhavas sempre.

Enchias-me de orgulho quando me dizias que o meu Pedro era um “rapaz” extraordinário e que gostavas imenso de falar com ele.

Marcaste-o com uma forte amizade que ele guarda dentro de si.

E a Dona Catarina, José Eduardo?

Sempre que te referias à minha mulher lá vinha o Dona Catarina e eu dizia-te: "Não digas isso José Eduardo, que ela afina!!!"

Lembro-me tão bem daquele almoço de frango na púcara, (tinha que ser, em Alcobaça), com a tua Helena, a minha Catarina e nós os dois.

E lá conseguimos acertar mais uma data e há cerca de um mês, lá fui com o Pedro ter contigo a Alcobaça para comermos um opíparo almoço que eu, (usando de chantagem), te obriguei a deixares-me pagar.

Nesse dia, meu amigo José Eduardo, quando nos despedimos, mandámos “às malvas” as regras e demos um abraço forte e sentido.

Esse abraço fica comigo, está em mim, e nunca mais deixarei de o sentir.

Repousa agora meu amigo, junto de Deus que ambos “redescobrimos” e que com certeza, (é tão bom ver as coisas assim humanamente), ouve deliciado as tuas histórias, com os Monges de Cister sentados à tua volta pedindo-te notícias do seu Mosteiro.

Não chegavam as resmas todas de papel para escrever sobre ti e sobre a nossa amizade, nem para tal tenho eu “engenho e arte”, mas mais importante do que isso é eu saber que estás nos braços de Deus e que vives no meu coração.

Espero um dia, pela graça de Deus, chegar ao Céu também e ouvir atrás de mim alguém dizer uma frase com uma inflexão quase como um canto de alegria: "Meu amigo Joaquim!"

Até já, José Eduardo! (**)

Marinha Grande 28 de Janeiro de 2021

Joaquim Mexia Alves
______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

5 de julho de  2010 > Guiné 63/74 - P6676: V Convívio da Tabanca Grande (15): Caras Novas (Parte IV ): O JERO, aquele rapaz de Alcobaça e de Binta, lembram-se dele ? (Luís Graça)

(...) O JERO ou José Eduardo Oliveira é um dos mais produtivos membros do nosso blogue (já com mais de 60 referências ou marcadores), para o qual entrou há menos de um ano...

Natural de Alcobaça, bancário reformado, director adjunto do jornal local, ofereceu-se de imediato para organizar o V Encontro Nacional da Tabanca Grande. Acabámos por optar por Monte Real, e associá-lo à Comissão Organizadora (de que fizeram parte, além dele, o Carlos Vinhal, o Joaquim Mexia Alves, o Miguel Pessoa e o Belarmino Sardinha).

O JERO é daqueles camaradas que, uma vez apresentados, se tornam, ao fim de cinco minutos, velhos conhecidos, que a gente se apressa a pôr na lista dos amigos favoritos... Ele é a gentileza em pessoa, uma doçura como os licores e doces da abadia à sombra da qual nasceu e cresceu a sua terra. E tem uma qualidade que é rara entre os primatas: pratica a amizade, é gentil, é prestável, é leal, sem quaisquer pretensões de protagonismo, sem intriga, lisonja ou má-língua...

Cara nova ? Sim, é a primeira vez que ele vem a um Encontro Nacional da Tabanca Grande. Razão por que merece este destaque. (...)

(**) Último poste da série > 12 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21762: (In)citações (177): Contra os canhões marchar, marchar... (António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro)

1 comentário:

antonio graça de abreu disse...

Grande texto do Joaquim Mexia Alves! O Jero, José Eduardo permanecerá sempre connosco.

António Graça de Abreu