Pesquisar neste blogue

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27446: Memórias dos últimos soldados do império (9): os "últimos moicanos" - Parte VI: A Retirada Final, em 14 e 15 de outubro de 1974 (Luís Gonçalves Vaz / Manuel Beleza Ferraz)


Guiné > Bissau >  c. out 1974 > Lancha de Fiscalização Grande (LFG) Lira, atracada na ponte cais, poucos dias antes da “retirada final” em 14 de Outubro de 1974. Foto do álbum do marinheiro radiotelegrafista  812/70 Manuel Beleza Ferraz.


Guiné > Bissau >  c. out 1974 >  4 Lanchas de Fiscalização Grandes (LFG), uma pequena, e uma LDM na Ponte Cais em Bissau, npoucos dias antes da “retirada final” do dia 14 de outubro de 1974. É visível o N/M Uíge ao fundo, preparado para transportar os últimos militares portugueses da Guiné.  Foto do álbum do marinheiro radiotelegrafista  812/70 Manuel Beleza Ferraz.


Guiné > Bissau >  Setembro de 1974 > Ponte cais de Bissau com duas Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP) e uma de desembarque ( LDM ) ao fundo do lado direito.. Algumas destas lanchas foram deixadas na Guiné-Bissau.  Foto do álbum do marinheiro radiotelegrafista  812/70 Manuel Beleza Ferraz.


Guiné-Bissau > 14 de outubro de 1974 > A LFG Lira, depois de abandonar o Rio Geba na Guiné, a escoltar os T/T Uíge e Niassa até águas internacionais. Foto do álbum do marinheiro radiotelegrafista  812/70 Manuel Beleza Ferraz.
 
Fotos (e legendas): © Manuel Beleza Ferraz  (2012). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)
 


 Luís Gonçalves Vaz e  Manuel Beleza Ferraz


A Retirada Final: Os  Últimos Militares Portugueses a Abandonar a Guiné (14 e 15 de Outubro de 1974)  
 
por Luís Gonçalves Vaz / Manuel Beleza Ferraz (*)


Os últimos aquartelamentos a serem entregues ao PAIGC foram:

  • o Complexo Militar de Santa Luzia, onde se encontrava o QG/CTIG (Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné);
  •  e o QG/CCFAG (Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné) instalado no histórico Forte da Amura,  que se localizava mesmo em frente à ponte-cais em Bissau. (#)
A entrega destes dois últimos redutos das Forças Armadas Portuguesas na Guiné foram “negociados” em 11 de outubro (apenas 3 dias antes da saída dos últimos militares portugueses deste território), numa reunião no Forte da Amura com os comandantes do PAIGC, Gazela, Bobo Keita e o comandante Correia, sob a coordenação do então CEM/CTIG (Chefe do Estado-Maior do CTIG), coronel cav CEM Henrique Gonçalves Vaz.

Os “Planos de Entrega destes Aquartelamentos” foram realizados pelo  cor Henrique G. Vaz com a colaboração do  major Mourão, e entregues ao brigadeiro graduado Carlos Fabião no dia 10 de outubro de 1974, um dia antes da reunião com os comandantes do PAIGC. 

A entrega do Complexo Militar de Santa Luzia foi efectuada no dia 13 de outubro, pelas 15 horas, enquanto o Forte da Amura, o último “reduto militar português”,  foi entregue apenas no dia 14 de outubro, o dia previsto para a “retirada final”, e reservado para o embarque do que restava das tropas portuguesas na Guiné.



Guiné > Bissau > Forte da Amura > Entrada do lado sul (frente à ponte-cais). Era aqui que estva instalado o QG/CCFAG (Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné), o último reduto militar portuguès a ser entregue ao PAIG, em  14 de outubro de 1974.

Foto: © Manuel Coelho (2011). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

Como tal foi concentrado aí, na véspera da partida, o último contingente do Exército Português . No entanto a cerimónia oficial da transição da soberania nacional na Guiné, para o PAIGC, já tinha decorrido em Mansoa, em 9 de setembro. Estiveram presentes nesta cerimónia:

(i) a CCS / BCAC  4612/74, comandada pelo major Ramos de Campos:

(ii) o comandante do batalhão, tenente coronel Américo Costa Varino;

(iii) um bigrupo de combate do PAIGC;

(iv) um grupo de pioneiros do mesmo partido;

(v) Ana Maria Cabral (viúva de Amílcar Cabral) e seu filho;

(vi) o comissário político do PAIGC, Manuel Ndinga;

(vii) e, em representação do chefe do Estado-Maior do Comando Territorial Independente da Guiné (CEM do CTIG),  o tenente-coronel Fonseca Cabrinha (informações dadas pelo próprio militar que arriou a nossa bandeira em Mansoa, o nosso coeditor Eduardo José Magalhães Ribeiro, fur mil Op Esap / Ranger, CCS/BCAÇ 4612/74 ).


Guiné > Região do Oio > Mansoa >9 de setembro de 1974   > Uma foto para a história: o ex-fur mil OE/Ranger Eduardo Magalhães Ribeiro,. hoje nosso coeditor, CCS/BCAÇ 4612/74 (Mansoa, abr - out 1974), a arriar a bandeira verde-rubra, na presença de representantes do PAIGC (incluindo a viúva de Amílcar Cabral) e de autoridades militares do CTIG.




Guiné > Região do Oio > Mansoa >9 de setembro de 1974   > Cerimónia da transição da soberania nacional na Guiné, que decorreu em 9 de setembro de 1974, aquando da entrega do aquartelamento de Mansoa ao PAIGC, e troca de cumprimentos entre o Comandante do BCAÇ 4612/74, tenente coronel Américo da Costa Varino e os comandantes do PAIGC presentes na cerimónia.

Fotos do álbum do Eduardo José Magalhães Ribeiro,  fir mil OE/Ranger, CCS/BCAÇ 4612/74, (Cumeré,. Mansoa e Brá, 1974)

Fotos (e legendas): © Eduardo Magalhães Ribeiro (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

O que vos vou passar a relatar será uma pequena narrativa, dos últimos momentos da nossa “retracção do dispositivo militar”, deste último reduto de militares portugueses, para os navios da Armada Portuguesa e para o navio Uíge (o navio Niassa já se encontrava ao largo de Bissau) , que se encontravam frente à ponteis, mas a alguns metros do cais, com os motores ligados (pairavam todos os navios).

Esta descrição foi-me feita pelo meu primo e ex-Marinheiro Radiotelegrafista da Armada Portuguesa, Manuel Aurélio de Araújo Beleza Ferraz, que fazia parte da guarnição da LFG (Lancha de Fiscalização Grande) Lira, um dos navios que fez a segurança de retaguarda, durante o embarque dos últimos militares portugueses na Guiné.


Guiné > Bissau >  c. out 1974 > O Manuel Beleza Ferraz. LFG  Lira, atracada na ponte cais, poucos dias antes da “retirada final” em 14 de Outubro de 1974. Uma testemunha-.chave, um dos "últimos moicanos". 


Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine >  s/d  > Evacuação de pessoal civil  (cuja origem se desconhece, náo devendo ser de Gadamael nem de Jemberé,m), passagem dos civis de uma Lancha de Desembarque, para a LFG Lira, em pleno Rio Cacine, muito abaixo da “marca lira”.


Guiné >  LFG Lira > s/l > c. out 1974 :> O marinheiro radiotelegrafista Manuel Beleza Ferraz, no  seu navio navio, à espera da missão da “Retirada Final"


Guiné > LFG Lira > c. ou 1974 _ Elementos da guarnição do NRP Lira, em convívio na sala comum/refeitório. Foram estes os marinheiros que no dia 14 de outubro de 1974, nos seus lugares de combate e outros, asseguraram a operacionalidade da NRP Lira, no que diz respeito ao apoio e segurança na evacuação do último contingente militar do território da Guiné.

Estima-se que seriam algumas centenas de militares dos três Ramos das Forças Armadas Portuguesas. Neste grupo estavam representadas as várias Especialidades do navio, nomeadamente, Artilheiros, Eletricistas, Telegrafistas e Manobras. Este navio, o NRP Lira, sob o comando do 1º tenente Martins Soares, teve um papel importante na missão de “Retirada Final”, já que era o navio de apoio de retaguarda que se encontrava mesmo em frente à Ponte cais de Bissau, como tal o navio mais próximo do Forte da Amura. O Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz é o que está a olhar para o fotógrafo.

Fotos do álbum do marinheiro radiotelegrafista 812/70 Manuel Beleza Ferraz.
 
Fotos (e legendas): © Manuel Beleza Ferraz  (2012). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)

No dia 14 de outubro, decorreu a última cerimónia de “Arriar da Bandeira Portuguesa”, ao qual se seguiu o “Hastear de Bandeira da República da Guiné-Bissau” (a última bandeira nacional em Bissau só foi retirada 4 ou 5 semanas depois de 14 de Outubro de 1974, sem cerimónia oficial) como tal nesse mesmo momento, todo o que restava do contingente militar português (à excepção de dois pequenos destacamentos de tropa portuguesa, da Marinha e da Força Aérea, esta na já ex-BA 12, em Bissalanca, mas ainda com helicópteros AL-III, e o destacamento 
da Marinha nas suas antigas instalações, para colaborarem na transição e transmissão de técnicas/procedimentos, conhecimentos e experiências de navegação aérea e marítima, com elementos do PAIGC), encontrava-se agora em território estrangeiro.

Nessa cerimónia encontrar-se-iam o Governador (brigadeiro graduado Carlos Fabião), o Comandante Militar (brigadeiro Galvão de Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (coronel Henrique Gonçalves Vaz), outros oficiais, alguns sargentos e praças. Os primeiros depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios que se encontravam ao largo no estuário do Rio Geba, seguiram para o Aeroporto, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança.

Mal acabou a cerimónia referida anteriormente, e segundo testemunho do ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Aurélio A. Beleza Ferraz, que se encontrava nesta altura na LFG Lira, todas as guarnições dos nossos navios que se encontravam na zona, estavam por ordens superiores, em posição de combate (para qualquer eventualidade), estando todos os operacionais equipados com coletes salva-vidas, capacetes metálicos e as Bofors (peças de artilharia antiaéreas de 40 mm) sem capa e municiadas, prontas a realizar fogo de protecção à retirada das nossas tropas, que ainda se encontravam em terra.

Segundo o ex-marinheiro radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, os navios que se encontravam a realizar a “segurança de rectaguarda” mais próxima às tropas que iriam retirar-se para os navios ao largo no Rio Geba, eram a LFG Órion e a LFG Lira.

Encontravam-se também ao largo em missão de Segurança um patrulha (NRP Cuanza) e o navio NRP Comandante Roberto Ivens, este último a comandar as operações navais desta missão de “Retirada Final”. No próprio navio Uíge estava montado discretamente um dispositivo de segurança pronto a abrir fogo, caso o PAIGC se lembrasse de abrir alguma hostilidade contra o último pessoal militar a abandonar a Guiné, com algumas metralhadoras HK-21, além de todos os militares estarem armados com as suas G-3 e as respectivas munições.

 Após o “Arriar da Bandeira Portuguesa”, as tropas portuguesas dos três Ramos das Forças Armadas, presentes na referida cerimónia, logo de seguida, foram transportadas em zebros e LDM (lanchas de desembarque médias) para o navio Uíge, que os aguardava no meio do Rio Geba, a cerca de 400 metros afastados do cais, onde se encontrava já com as máquinas em pleno funcionamento (pairavam) por razões de segurança.

O ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, fonte destes testemunhos históricos, aqui relatados, informou-me ainda de que as ordens vindas do Comando Naval, com apenas 24 horas de antecedência, foram entregues em mão aos comandantes das duas LFG (Orion e Lira) e do patrulha Cuanza, presentes ao largo do cais, no caso do seu navio, o patrulha Lira, recebeu directamente o seu Comandante, 1º tenente Martins Soares.

Como tal, os comandantes destes três navios que constituíam nesse dia, a “força naval” em frente ao cais de Bissau, receberam ordens expressas “para se posicionarem em postos de combate”, com todas as peças Bofors de 40mm, devidamente municiadas e preparadas para realizarem fogo, como apoio de retaguarda à retirada das nossas tropas, de terra para os navios, nomeadamente o Uíge.

Felizmente tudo correu bem, não sendo preciso fazer fogo nenhum, já que a retirada se desenrolou como o previsto, sem altercação de qualquer natureza. 

De seguida, no final dos transbordos, os zebros e as lanchas (LDM) foram presas numa boia em frente ao cais (abandonadas), e imediatamente a flotilha portuguesa escoltou os navios Uíge e Niassa (este já navegava mais à frente) até águas internacionais, seguindo a maioria dos navios da Armada para Cabo-Verde, de onde alguns deles partiriam pouco depois, em direcção a Angola.

O Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, ainda informou que a flotilha que rumou em direção a Cabo-Verde, além dos navios já referidos (NRP Comandante Roberto Ivens, LFGs Orion e Lira e patrulha Cuanza) faziam parte também as LDG Ariete, Alfange e Bombarda, tendo estes navios da Armada atracado em 20 de outubro no porto de Mindelo na ilha de S. Vicente, Cabo Verde

A comitiva constituída pelo Governador (Brigadeiro Carlos Fabião), o Comandante Militar (Brigadeiro Figueiredo), o Chefe do Estado-Maior do CTIG (Coronel Henrique Gonçalves Vaz), bem como alguns outros oficiais do Estado-Maior, sargentos e praças, depois de assistirem ao embarque de todos os militares nos navios, que se encontravam ao largo do estuário do Rio Geba, e assegurando-se que tudo tinha corrido sem problemas e de acordo com o previsto nos “Planos de Retirada”, elaborados pelo CTIG/CCFAG que nesta altura se afirmava como o único Comando das Forças Armadas Portuguesas neste TO da Guiné, seguiram directamente para o Aeroporto de Bissalanca, onde mantínhamos ainda um dispositivo de segurança.

Às 2h30m do dia 14 de Outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné (por via aérea). Nesse momento estiveram presentes alguns Comandantes do PAIGC, que quiseram despedir-se dos “seus antigos inimigos”, e assim foi o fim da colonização da Guiné com cerca de 500 anos.

Mas antes de finalizar este artigo, gostaria aqui de referir o árduo trabalho atribuído ao último CEM/CTIG, coronel Henrique Manuel Gonçalves Vaz, já que foi o responsável, por “despacho escrito do Brigadeiro/Governador”, Carlos Fabião, pela elaboração dos “Planos de Retirada do nosso Exército”, da “Carta sobre a Redução de Efectivos e Comissões Liquidatárias”, dos “Planos de entrega dos Aquartelamentos da Ilha de Bissau”, do “Estudo da Comissão Liquidatária do QG/CTIG em Lisboa”, das "Cargas dos aviões", entre outras responsabilidades.


Enfim o brigadeiro Carlos Fabião determinou que este oficial do Corpo do Estado-Maior e Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG, coronel Henrique Gonçalves Vaz, se responsabilizasse por todos estes assuntos, como tal fica aqui a minha homenagem a ele, bem como a todos os oficiais, sargentos e praças, que sob o seu comando, o ajudaram a realizar essa importante tarefa, nomeadamente o senhor tenente-coronel de artilhgaria Joaquim José Esteves Virtuoso, o senhor major Mourão, o senhor capitão Lomba, e outros oficiais, sargentos e praças, que colaboraram nesta última missão militar no TO da Guiné, a “Retirada Final”, a todos eles, a minha homenagem, o meu respeito e uma grande admiração, pois ficaram neste episódio da longa história portuguesa.

20 de Fevereiro de 2012
Luís Filipe Beleza Gonçalves Vaz
(Tabanqueiro nº 530 e filho do último CEM/CTIG)

(Uma primeira versão deste texto já tinha sido pubpicada sob o poste P9535, de 26/2/2012. Nova versão, com revisão / fixação de texto, edição de imagem e negritos: LG)


2. Comentário de  Albano Mendes Matos:

Caro Amigo Luís Gonçalves Vaz,

Só agora li o seu comentário ao meu escrito sobre o último a sair da Guiné.

Vou confirmar a data do último avião a sair da Guiné. No meu registo, consta saída em 14 de outubro pela 01h00. Pelas 13h00, do dia 13 ou 14, já não havia portugueses no QG, quando um comandante do PAIGC me deu boleia para Bissau. Julgo que fui o último a sair do QG. Nas ruas de Bissau, fui a andar. Estavam, ao largo, navios, com tropas, para zarparem para Portugal, logo que o último avião, onde eu vim, levantasse do aeroporto de Bissalanca.

Eu dependia do seu falecido pai. O seu pai saiu, pela manhã, para o Palácio do Governo ou para a Base Aérea da Bissalanca. Quando cheguei ao aeroporto, pelas 23h15, já todos os militares lá estavam.
Tenho jornal que tem a notícia da chegada do avião com os últimos militares da Guiné, que vou procurar, para confirmar a data. Tem a foto do general Galvão de Figueiredo.
´
Pelos vistos, o meu registo deve estar errado.
Os meus cumprimentos.
Albano Mendes de Matos
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014 às 21:21:18 WET

3. Resposta do Luís Gonçalves Vaz:

Caro sr tenente-coronel Mendes Matos:

(...) Agradeço-lhe se ter dignado vir aqui repor a verdade da data/hora (já vi que troquei a data/hora do último embarque no cais marítimo com o grupo data/hora do último voo), que julga ser a correta. Não vou nem quero opor-me à sua data de 13 ou 14 de outubro,quando refere no seu artigo, afinal trata-se do depoimento de um dos "protagonistas deste momento histórico", que como tal merece toda a minha credibilidade. 

Mas gostaria de o informar que "oficialmente" no Relatório que possuo,elaborado pela 2ª Rep do QG e autenticado pelo sr. major Tito Capela, na página 46, apresenta para o último embarque aéreo das nossas tropas, o grupo "Data/Hora" de 140230Out, como o embarque do Cmdt Chefe e elementos do QG. 

"Informa também" que foi no dia 13 de outubro que o QG/CTIG (Santa Luzia)  foi entregue, logo o seu artigo está de acordo com este Relatório "Secreto", de que já dei aqui visibilidade. Agora apercebo-me que "troquei" o grupo Data/Hora e, além de pedir desculpa a todos pela minha incorreção, quero também aqui corrigir esta hora, como tal onde digo "Às 23 horas do dia 14 de outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné...",  quero emendar para: "Às 2h30min do dia 14 de outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné (por via aérea ...)

Estive a reler o Relatório, e no mesmo o que parece uma "incoerência", pois o grupo Data/hora do último embarque (aéreo) é 140230Out, e o grupo data/hora da entrega do QG/CCFAG (Fortaleza da Amura), é 142300OutT, não o será, pois o último embarque de tropas portuguesas, foi por via marítima em LDG (no cais de embarque) pelas 23h00 (142300Out), executado diretamente da fortaleza da Amura para os navio Uíge e Niassa e, como tal,  devem ter sido estes os militares que entregaram o QG da AMURA (??). 

No entanto, e segundo este mesmo Relatório, estes navios só saíram da zona em 151000Out, em suma terão sido estes os últimos a abandonar este TO. Agora se assim não foi, então será esta minha fonte que não foi fiel no que concerne às datas (terá alguma gralha ou mesmo erro nestes grupos Data/Hora ?). 

Relativamente aos registos do meu pai, só encontrei a referência que seria no dia 14, a saber:

Bissau, 5 de Outubro de 1974

"... Dia de trabalho derivado da antecipação da nossa saída em 15 deste mês (pois passou para 14 de Outubro) ...

Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Entretanto, também registou na sua agenda de CEM, a antecipação de vários voos de cargas .... A pressão era "muito grande" para que abandonássemos aquele TO.

Grande Abraço
Luís Gonçalves Vaz
domingo, 2 de março de 2014 às 15:14:43 WET
_________________

Notas do LGV:

(#) Mensagem do nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), com data de 21 de fevereiro de 2012:

Caros Editores:

Conforme o prometido, segue em anexo finalmente, o meu artigo sobre "A Retirada Final: Os Últimos Militares Portugueses a Retirar da Guiné   (Dia 14 de Outubro de 1974)".

Para este artigo, além de consultar as notas pessoais do meu falecido pai, também entrevistei um primo meu,  que era na altura Marinheiro Radiotelegrafista da Guarnição do Patrulha Lira (LFG Lira), com quem estive ainda na Guiné, mas que ficou lá até ao último dia, o dia 14 de outubro de 1974, juntamente com muitos outros militares, um deles, o meu falecido pai, o último CEM/CTIG.

Este meu primo, Manuel Aurélio de Araújo Beleza Ferraz, relatou-me na primeira pessoa as últimas horas da retirada para o navio Uíge, dos militares portugueses ainda presentes nesse dia em terra, para assegurarem a última cerimónia, o "Arrear da Bandeira Portuguesa", bem como me forneceu um conjunto de fotografias, que ilustram o poste (...)

Espero que não tenha "distorcido muito" estas últimas horas da nossa "Retirada Final" da Guiné, se o fiz, foi sem intenção. Por outro lado, peço desculpa não "elencar o nome" de todos aqueles militares que nesse mesmo dia, "deram o seu máximo" para não manchar o Bom Nome da Nação, numa altura difícil da nossa longa história... se um de vós lá estava, então deixe aqui "o seu depoimento", pois assim enriquecerá este relato de mais um dos "episódios históricos da descolonização portuguesa".

Grande Abraço
Luís Gonçalves Vaz

 
PS - Como recebi mais informações do camarigo Magalhães Ribeiro, sobre este dia histórico e também do dia 9 de setembro de 1974, aquando da cerimónia oficial da transição da soberania nacional na Guiné, para o PAIGC, em Mansoa, onde fiquei a saber que o meu falecido pai não esteve, pois em representação do chefe do Estado-Maior do Comando Territorial Independente da Guiné (CEM do CTIG), esteve o tenente-coronel Fonseca Cabrinha, como tal fui naturalmente compelido, a corrigir e complementar este artigo, que almejo que se transforme num "agregar de vários testemunhos, daquele dia 14 de Outubro de 1974", dia histórico para os portugueses, e que representa simultaneamente o fim do Império Português nestas paragens.

(##) Um agradecimento especial:

(i) ao meu primo e ex-Marinheiro Radiotelegrafista, Manuel Beleza Ferraz, marinheiro da guarnição de um dos últimos navios a abandonar as águas da Guiné, o Patrulha Lira;
e também

(ii) ao Eduardo José Magalhães Ribeiro, Furriel Miliciano de Operações Especiais/Ranger da CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré/Mansoa/Brá – 1974, pois sem os seus testemunhos, não poderia ter dado parte importante das informações, relatadas nesta minha pequena narrativa sobre a “retirada final da Guiné”.

Aos dois, que foram testemunhas deste momento histórico, o meu muito obrigado.
____________

Nota do editor LG:



quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27445: A nossa guerra em números (45): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN), foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974; cerca de mil oficiais RN foram mobilizados para o ultramar - Parte II



Capa do livro de Manuel Lema Santos, "Anuário da Resreva Naval: 1976-1992" (LIsboa, AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval, 2011, 116 pp.)  (Depósito Legal: 323356/11, ISBN 978-989-20-2321-2).



Em 25 de Julho de 2005, com a presença do Chefe do Estado-Maior da Armada, o Presidente da Assembleia Geral da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval e várias outras individualidades, foi descerrada na Casa da Balança - Instalações Centrais de Marinha (ICM), junto da "Doca da Caldeira", em Lisboa, uma placa evocativa do cinquentenário da criação da Reserva Naval. Fonte: Blogue "Reserva Naval" (com a devida vénia...)

Foto (e legenda): © Manuel Lema Santos (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Segundo as "contas" do Manuel Lema Santos (MLS)  (oficial da Reserva Naval, entre 1965 e 1972, 1º ten  licenciado, como ele gostava de frisar, detestando que lhe chamassem ex-1º ten);

  • "foram  1.712 admitidos pela Briosa entre 1958 e 1975;
  •  a que se adicionaram mais 1.886 entre 1976 e 1992". 

Em 1975 não re realizou nenhum CFORN. O MLS é o autor de  "Anuário da Reserva Naval: 1976-1992"(Lisboa, AORN, 2011, 116 pp.).

"Dos primeiros que desfilaram enquanto esteve no palco a Guerra do Ultramar, cerca de 1.000 daqueles camaradas estiveram nos vários teatros de guerra, especialmente em Angola, Moçambique e Guiné. Vou mesmo mais longe nos meus considerandos já que, mesmo em Macau, esteve um oficial RN e, em Timor, outros dois camaradas completamente ignorados. 

A LFG «Orion», 1966-1968, num teatro difícil, complementou a minha formação social e humana, pouco atractivo para jovens recém-saídos da Casa Paterna, universitário IST  [Instituto Superior Técnico] e com 24 anos de percurso na vida"..

E acrescenta:  "(...) repetiria aquela rota tendo em conta o caminho que me foi permitido percorrer, com as opções que tive de fazer como qualquer comum mortal." (*)

Ora desses cerca de mil Oficiais da Reserva Naval, mobilizados para a guerra colonial / guerra do uktranara (não sabemos quantos estiveram  no CTIG)l, só temos 3 membro registados, formalmente, n nossa Tabanca Grande. Infelizmente dois deles já faleceram:

  • Fernando Tabanez Ribeiro  (n. 1946) (18º CFORN, 1971)(**)
  • João  [Frederico de Saldanha de ] Carvalho  [e ] Meneses (1948-2020) (19º CFORN, 1971; classe Fuzileiros, 2º ten fuz, RN, 21º DEF, ) (***)
  • José   [ Joaquim  Caldeira Marques Monteiro de ]   Macedo (n. 1950) (21º CFORN, 1972; classe Fuzieiros (****)
  • Manuel Lema [Pires dos ] Santos (1942 - 2025) (8º CEORN, 1965; classe Marinha) (*****)
2. No perído pós-guerra colonial (1976-1992),  a Marinha incorporou 1885 oficiais cuja formação (n=78 cursos)  decorreu na Escola Naval (n=41 cursos)  ou na Escola de Fuzileiros (n=37 cursos).    É de salientar que desse total de 1885 oficiais da RN (******):

  • 666 se destinaram à classe de Fuzileiros (35,3%);
  • 484 à classe da Especialistas (25,7%);
  • 414 à classe de Marinha (22,0%);
  • 249 à classe de Médicos Navais (13,2%):
  • 50 à classe de Técnicos (2,6,%)
  • 11 à classe de Engenheiros Construtores Navais (0,6%)
  • e 11 à classe de Farmacêuticos Navais (0,6%)
Observ - A classe de Especialistas inclui engenheiros eletrónicos, químicos, mecânicos; juristas e outros)

(Continua)
_________________

Notas do editor LG:

(*) Vd, poste de 11 de fevereiro de 2021 > Guiné 6/74 - P21885: A Nossa Marinha (2): Em louvor dos bravos da Reserva Naval (1961/74) (Luís Graça / Manuel Lema Santos)

(**) Vd.poste de 5 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18489: Tabanca Grande (461): Fernando Tabanez Ribeiro, ex-2.º Tenente da Reserva Naval (LFG "Lira" e "Cassiopeia", CTIG, 1972/73), 770.º tertuliano do nosso Blogue


(******) Último poste da série > 19 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27443: A nossa guerra em números (44): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN) e foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974 - Parte I

Guiné 61/74 - P27444: Mi querido blog, por qué no te callas ?! (11): o que seria do amarelo se todos gostassem do azul? Aqui na minha terra, Cabo Verde, diz-se nestes casos: se não gostas… chupa limão! (Carlos Filipe Gonçalves, Praia, Santiago)


1. Mensagem de Carlos Filipe Gonçalves, Praia, Cabo Verde:


data 19/11/2025 14:00  

Caro, amigo e companheiro:


Parabéns, pela atribuição da «Medalha de Ouro ao Mérito, Grau Ouro, da Liga dos Combatentes» pelo trabalho desenvolvido no Blogue [Luís Graça & Camaradas da Guiné].

 Recompensa merecida, pela dedicação e trabalho de anos. Eu pessoalmente, encontrei no Blog amigos e recordações dos anos que passei na Guiné. Os depoimentos e debates publicados me ajudaram a compreender melhor e ter uma noção mais ampla do que realmente aconteceu e sobretudo, consegui vislumbrar horizontes, para além do pequeníssimo espaço em que vivia confinado na Chefia de Intendência, em Santa Luzia, Quartel-General, onde trabalhava e estava colocado. 

 Este Blog, conseguiu fixar para a posteridade, relatos/testemunhos na primeira pessoa, desde o soldado a oficiais de alta patente, de acontecimentos reais…, que constituem agora documentos preciosos para os nossos filhos, conhecerem o que passamos, mas também para a história. Os depoimentos, acredito, poderão até complementar ou desmentir muitos documentos oficiais…

Fica, pois, aqui, o meu preito de homenagem à tua pessoa e todos os camaradas que serviram na Guiné. Há quem, não goste e se sinta incomodado com a verdade, mas, o que seria do amarelo se todos gostassem do azul? Aqui na minha terra, Cabo Verde, diz-se nestes casos: se não gostas… chupa limão!

Desejos sinceros de vida e saúde para nós todos, na Graça de Deus.

Forte Abraço

Carlos Filipe Gonçalves

Jornalista Aposentado

Ex-Furriel Miliciano 800 048/71
Comissão na Guiné 03 de Março de 1973 a Setembro de 1974

________________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 1 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26635: Mi querido blog, por qué no te callas ?! (10): Vinte anos a blogar, o fim da picada...

Guiné 61/74 - P27443: A nossa guerra em números (44): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN), foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974; cerca de mil oficiais RN foram mobilizados para o ultramar - Parte I




Capa de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992. 143 pp.)



Gráfico nº 1 > Distribuição por anos (1958-1974) das incorporações de cadetes da Reserva Naval 

Fonte: Adapt de  "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992), pág.26



1. Com a morte do Manuel Lema Santos (MLS) (Barrancos, 1942 - Cascais, 2025) (*),  fomos redescobrir nas nossas estantes este livro, que ele havia oferecido ao blogue, em 21 dce abril de 2012, em Monte Real, por ocasião do VII Encontro da Tabanca Grande.

O MLS era do 8º CEORN (Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval) (data de alistamento: 9/10/65). Sendo um "filho da Escola", sempre manifestou um especial carinho pela Reserva Naval e criou inclusivamente um blogue, com esse nome, "Reserva Naval". 

https://reservanaval.blogspot.com/ 

Também fez parte, se não erro, dos corpos sociais da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval.

A Reserva Naval foi criada ou reformulada pelo Decreto-Lei nº  41399, de 27 de novembro de 1957. (Neste diploma foram definidos os diferentes quadros das reservas da Marinha, designadamente a: 
  • RA - Reserva da Armada, 
  • RN - Reserva Naval, 
  • RM -  Reserva Marítima; e 
  • RL - Reserva Legionária.)

No que respeita à RN, era estabelecido que os indivíduos a ela destinados seriam alistados provisoriamente, na idade militar, em contingentes a solicitar ao Ministério do Exército e fixados anualmente pelo Ministério da Marinha para as diferentes especialidades.

Esses contingentes eram constituídos por indivíduos que frequentassem ou tivessem frequentado as seguintes escolas (ou cursos):

  • Faculdade de Ciências;
  • Faculdade de Engenharia e Instituto Superior Técnico /cursos de Engenharia Civil,  Mecânica, Eletrónica, Química Industrial e Máquinas);
  • Faculdades de Medicina;
  • Escolas de Farmácia;
  • Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (cursos de  Ciências Económicas e Financeiras, Economia e Finanças);
  • Faculdade de Economia;
  • Instituto Superior de Agronomia.

Era dada preferência aos "voluntários e oferecidos" (sic) e  aos que possuíssem conhecimentos náuticos (titulares de carta de Patrão de Costa ou de Patrão de Alto Mar),

Finalmente, o referido Decreto-Lei remetia para o Ministro da Marinha a responsabilidade pela expedição das instruções necessárias à sua execução. Era então ministro da Marinha (havia um ministério da Marinha em 1957! ) o futuro presidente da República (e último do Estado Novo), o vice-almirante Américo Tomás (1894-1987).

Em 27 de Maio de 1958, através da Portaria no. 16.714 foram estabelecidas as condições de recrutamento e de prestação de serviço dos reservistas da Reserva Naval.

Esta Portaria, sucessivamente adaptada às realidades e necessidades da Marinha, constitui o instrumento regulador mais relevante da atividade da Reserva Naval. 

O livro em apreço  faz um breve historial da Reserva Naval e passa em revista os 25 CEORN / CFORN (Cursos de Especiais, até ao 8º, e depois Cursos de Formação de Oficiais da Reserva Naval, do 9º ao 25º).

Os CFORN foram interrompidos em 1975 e retomados em 1976. 

 Neste poste queremos destacar  que entre 1958 e 1974 foram realizados 25 CEORN/ CFORN e formaram-se 1712 oficiais RN, com destaque para;
  • a classe de Marinha (M) (n=612) (35,7%), 
  • seguida da classe Fuzileiro (FZ) (n=465) (27,2%), 
  • Técnicos Especiais (TE) (n=246) (14,4%) 
  • e Administração Naval (AN) (n=243) (14,2%);
  • estas quatro classes  representavam mais de 90 % do total (Quadro nº 1).

 


Quadro nº 1 - CEORN / CFORN, data de alistamento, total de cadetes. e quantitativos por classes, de 1958 a 1974

Legenda: M=Marinha; MN = Médicos Navais; EMQ = Engenheiros Maquinistas Navais; AN= Administração Naval; FZ = Fuzileiros; ECN = Engenheiros Construtores Navais; TE = Técnicos Especialistas; FN = Farmacêuticos Navais.


Fonte: Adapt de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992), pág.25.


O gráfico acima, nº 1, pode ter vária leituras: até 1966 (9º CFORN) (1966), a incorporação anual de cadetes da RN (n=459) representou apenas 26,3% do total. A partir de 1967 e até 1974  disparou (n=1262)( 73,7%)

Houve um aumento da oferta e da procura a partir de 1966:


(vd. Gráfico nº 1)

Fonte: Adapt de "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992). pág.25.


(Cintinua)

___________________

Notas do editor LG:

Guiné 61/74 - P27442: Fotos à procura de...uma legenda (196): Homenagem aos nossos camaradas da "Reserva Naval", em geral, e ao Manuel Lema Santos (Barrancos, 1942- Cascais, 2025), em particular


Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu >  Mensagem de Natal da LFG «Sagitário» P 1131 > "NRP Sagitário. 20-12-71. Feliz Natal" 

09 dezembro 2023


Fonte: Blogue Reserva Naval > 9 de ezembro de 2023 >  Guiné, 1971 - Mensagem de Natal da LFG «Sagitário» (I)

 
(...) Mesmo na Guiné e também no rio Cacheu onde, a guarnição da LFG «Sagitário», em 1971, em missão de patrulha e fiscalização na zona de Ganturé-Bigene, numa expressão primorosa de esperança, boa disposição e humor, encontrou numa pernada de tarrafo, reverencialmente inclinada para o efeito, a melhor estação dos CTT para afixar a universal mensagem.

Para que muitos iutros pudessem ter Natal!" (...)

Fontes:
Texto do autor do blogue, Manuel Lema Santos, com imagem de arquivo gentilmente cedida pelo então comandante da LFG «Sagitário», 1º  ten  Adelino Rodrigues da Costa, Foto reeditada por LG (2025) (*)




1. Caros leitores, amigos e camaradas: podem deixar aqui uma nota de apreço, homenagem e camaradagem aos antigos combatentes da "Res4reva Naval", em em geral, e ao nosso Manuel Lema Santos (Barrancos, 1954 - Cascais, 2025), em particular... (**)

Ele foi um dos  representantes da Marinha que integrou também, ao lado da malta do Exército e da Força Aérea, a pequena grande aventura, pelas terras, mares e ares da memória, do nosso blogue...  

Tem 64 referèncias no nosso blogue, e deixa-nos, em herança, o seu próprio blogue, "Reserva Naval", referència incontornável para quem quiser conhecer melhor o papel da marinha e dos nossos bravos marinheiros nos rios e mares da Guiné. Ele tinha a paixão (e o talento) da escrita. (***)



Sobre o nosso próprio blogue nunca é demais lembrar que já é uma peça de museu da Net, uma velharia:  já tem mais de 20 anos e não pode ter a veleidade de cumprir  outros tantos  20 anos...

 A geeração que fez a guerra colonial / guerra do ultramar está a despedir.se da Terra da Alegria.  Mais de um terço terá já morrido. Os outros dois terços vão  lutando, árdua e corajosamemnte, contra as mazelas da ususura física e mental da vida, as doenças do foro músculo-esquelético, e do sistema cardio-vascular, as neoplasias (próstata, pulmões, intestinos...), as doenças do foro neurológico e psiquiátrico  (Parkinson, Alzheimer, outras demências e condições, como a depressão, etc.)....Tudo maleitas "de que Dues Nos Livre, ámem!".


_______________

Notas do editor LG:

(*) Esta icónica foto também vem reproduzida no livro "O Anuário da Reserva Naval: 1958-1975", da autoria dos comandantes A. B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (edição de autor, Lisboa, 1992),  pág. 55, com a seguinte legenda: "Rio Cacheu, Guiné: a actividade de interceçãpo das 'camabanças', deproteçãos aos 'comboios' e de apoio às forças de fuzileiros, ainda permite alguma descontraçáo, designadamenmte na quadra natalícia".


Guiné 61/74 - P27441: Historiografia da presença portuguesa em África (504): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, 1949 (62) (Mário Beja Santos)

Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf
CMDT Pel Caç Nat 52

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Maio de 2025:

Queridos amigos,
O capitão de fragata Manuel Maria Sarmento Rodrigues já partiu para outros desígnios, está agora a construir-se a sua lenda, a sua memória indissolúvel. O encarregado do Governo propõe o seu nome para a ponte de Ensalmá, destinada a unir a ilha ao continente. Ponte que acabou num desastre ecológico, veio a independência e esqueceu-se a manutenção. O Boletim Oficial traz boas notícias, a produção de arroz é exuberante, a cidade está convertida num estaleiro. Na circunstância, aproveitei para fazer uma larga referência ao discurso de Sarmento Rodrigues no mesmo dia em que assistiu ao início da construção da ponte-cais de Bissau e em que também rejubilou com o início dos trabalhos da ponte de Ensalmá, hoje substituída por uma construção bastante sólida e que se espera que não tenha o triste fim que teve aquela construção em ferro que a incúria transformou em sucata.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial da Colónia da Guiné, inícios de 1949 (62)


Mário Beja Santos

1949 ainda guarda a sombra tutelar de Sarmento Rodrigues. O encarregado do Governo, até chegar o Governador Raimundo Serrão, será o Tenente-coronel Pedro Joaquim da Cunha e Menezes Pinto Cardoso, o Chefe de Gabinete é o 1.º Tenente António Augusto Peixoto Correia, que um dia será governador da Guiné e depois Ministro do Ultramar.

Antes de voltar a essa sombra tutelar que foi Sarmento Rodrigues, importa dizer que a produção de arroz se revelou excecional neste ano. Foi criada a povoação de Cantonez, na Circunscrição Civil de Catió, deu-se como justificação a necessidade de se exercer uma mais ativa e eficiente fiscalização sobre o comércio de arroz, era público e notório que a produção ia sendo drenada clandestinamente para território estrangeiro. Tomaram-se medidas em prol dos interesses económico das praças indígenas, definindo que estas quando em serviço público superiormente autorizado, ao deslocarem-se a mais de dez quilómetros da área do aquartelamento e desde que a deslocação demorasse 24 horas ou mais, seriam abonados de ajuda de custo diária de cinco escudos.

No Boletim Oficial n.º 18, de 2 de maio, consta o diploma legislativo 1:444:
“Interpretando o sentir da população da Guiné que com a maior grandiosidade e brilho tem homenageado o ex-governador desta colónia, Capitão de Fragata Manuel Maria Sarmento Rodrigues;
Indo ao encontro das intenções dos membros do Conselho de Governo;
Considerando a obra verdadeiramente notável que realizou durante o período do seu governo;
Considerando ainda o especial e persistente interesse que dedicou à velha aspiração da Guiné, a construção de uma ponte ligando a ilha de Bissau ao Continente, cujos trabalhos inaugurou oficialmente em 10 de julho de 1948;

Com a aprovação do Governo, o encarregado do Governo manda o seguinte: a Ponte de Ensalmá será designada Ponte Governador Sarmento Rodrigues, o que nos remete para um discurso do ex-governador no início oficial da construção da ponte-cais, em Bissau, igualmente em 10 de julho de 1948, é uma bela peça, não só de recorte literário, espelha o que o tinha trazido à Guiné naquela vertigem desenvolvimentista:
Nós por cá não somos muitos, não somos demais. Estamos absorvidos por um programa vasto que não nos deixa livres nem mãos nem meios. Precisamos de quem a nós se junte e nos ajude a levar por diante todas as obras, a remover todos os obstáculos.

A construção de uma ponte-cais, como esta de Bissau, levou-nos primeiro a solicitar a intervenção do Ministério, não só para a orientação técnica, como para a concessão do crédito que saía fora dos limites do orçamento ordinário. E acabou por trazer para a Guiné o concurso de uma empresa até estranha à Colónia, dispondo de meios financeiros, materiais e técnicos, apta a realizar esta e outras obras importantes.
Começamos hoje oficialmente os trabalhos de construção do maior benefício que ao comércio, e, portanto, à economia da Guiné poderia ser dado. Para se chegar a este dia de regozijo, foi preciso durante longos anos preparar os estudos, os projetos, e os meios. Nesta obscura campanha de tenacidade, tomaram parte principal o Governo da República e o Governo da Colónia, desde vários anos a esta parte. Os ministros Vieira Machado, Marcello Caetano e Teófilo Duarte e o Governador Vaz Monteiro. No Governo Central esteve sempre presente, a manter a continuidade e a assistir com a sua extraordinária competência e infatigável atenção para com a Guiné, o ilustre Subsecretário Sá Carneiro.

Coube-nos, apenas, a rara sorte de poder acompanhar a aceleração do projeto e a sua aprovação e de conseguir rapidamente os meios para a execução. Chegámos, porém, ao fim do processo. E digo-o confiadamente, porque hoje nada falta, nem projeto, nem fórmulas, nem dotações, nem materiais… nem empresa capaz de levar até ao fim esta obra.
Não é esta obra original entre nós. Desde 1870 que o Governo pensava a sério na edificação de uma ponte-cais em Bissau, e algumas pontes de madeira serviram por vezes a empresas particulares. Mas só em 1889 o Estado começou solenemente a construção da primeira ponte para atracação de navios, em parte de alvenaria e em parte de madeira, a que foi dado o nome de Correia e Lança, o governador de então.

E aqui bem perto estão as ruínas de realização semelhante à atual, levada a cabo mercê da inteligência e capacidade do ilustre governador Carlos Pereira, a quem os destinos desta colónia estiveram tão bem empregues durante os três primeiros anos da República.
Aquela ponte, que foi criação sua, era uma perfeita obra de engenharia e excedeu a duração de garantia, apesar das brutalidades que posteriormente lhe foram feitas, fruto da ignorância – ia a dizer da esperteza – de quem mais tarde a utilizou para fins diferentes para que foi projetada. Todas as violências se fizeram. Em vez de apenas os encostar, amarraram-lhe os navios, que a faziam continuamente oscilar perante o esforço das correntes fortíssimas; como não havia cabeços, abriram-lhe buracos, por onde passavam os cabos;
e por último, para que, em vez das vagonetas previstas, pudessem no seu leito transitar os mais pesados camiões, tiraram-lhe o ligeiro empedrado e pavimentaram-na solidamente com betão!

Eis por que, na presença de tão bárbaro procedimento, eu não oculto as minhas dúvidas sobre o futuro desta nova obra, sobre o destino de tantas energias já gastas, de tantos sacrifícios que se fizeram e que ainda se hão de fazer para chegar com a empresa até ao fim.
Por isso eu pretendi que esta construção tivesse aquela característica que tanto me tem preocupado aqui na Guiné e que desejaria sempre imprimir em todas as obras: a duração indefinida; resistência capaz de sofrer todos os maus-tratos, de dispensar os menores cuidados.

O velho cais do Pidjiquiti, ao qualquer nos últimos anos pudemos acrescentar o seu troço mais importante, nem assim tem podido evitar as grandes aglomerações que ultimamente se têm verificado, mercê de uma extraordinária atividade que é um seguro índice do progresso e da vontade de trabalhar e construir que por toda a parte se observa.
Espero que antes de dois anos e meio possa o primeiro navio atracar à ponte, resolvendo de vez o problema de maior acuidade que à economia da Guiné se põe. Ficarão assim mais livres os navios, mais disponíveis as lanchas, mais seguras as mercadorias, mais favorecidos os passageiros. Não mais veremos o pouco edificante, embora pitoresco, espetáculo da balburdia das lanchas atulhadas, acotovelando-se no único desembarcadouro; das mercadorias sofrendo tratos nas cargas e descargas; dos navios ao largo esperando da sua vez de carregar!
E teremos engrandecido a cidade de Bissau, capital da mais encantadora e rica parcela do Ultramar português.”

Único número publicado, vê-se a sua ligação à Mocidade Portuguesa e fala-se muito no colégio-liceu de Bissau, terá funcionado junto do Museu e Centro de Estudos da Guiné Portuguesa
Outra ilustração do jornal Voz Académica
Uma referência a Amílcar Cabral, no jornal de 1953
A ponte-cais do Pidjiquiti, 1950, fotografia Foto Serra

(continua)
_____________

Nota do editor

Último post da série de 12 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27413: Historiografia da presença portuguesa em África (503): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, 1948 (61) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27440: Parabéns a você (2435): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Reconhecimento e Informação da CCS/QG/CTIG (Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72)

_____________

Nota do editor

Último post da série de 16 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27432: Parabéns a você (2434): José António Viegas, ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1972/74) e TCoronel Art Ref José Francisco Robalo Borrego, ex-Fur Art do 9.º Pel Art (Bissau e Bajocunda, 1972/74)

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27439: (Ex)citações (441): Regressei ao Canadá em 11 de Março de 2011, depois de reconhecer que pouco poderia fazer em benefício dos outros (João Bonifácio, ex-Fur Mil SAM)

Créditos: nomadglobal.com

1. Comentário do nosso camarada João Bonifácio, Ex-Fur Mil do SAM da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851 (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70), deixado hoje no Poste Guiné 63/74 - P7506: Tabanca Grande (256): João Bonifácio de volta ao Canadá, desiludido com Portugal:

Estamos em Novembro de 2025 e ao tentar recordar o que importante existe em Portugal, eis que estou a ler a resposta do José Câmara, e como estou aqui tão perto, envio os meus melhores cumprimentos e saudações a todos os que andam e participam nesta Tabanca chefiada pelo Luís Graça. O Jose escreveu em 27 de Dezembro de 2010 e eu só hoje dei conta desta resposta.

Para os que acompanham o blogue, eu regressei ao Canadá em 11 de Março de 2011, depois de reconhecer que pouco poderia fazer para evitar que outros sofressem mais. É verdade que poderia esperar por uma melhor adaptação. Eu até tentei ajudar a Junta de freguesia da Sobreda. Eu aprendi a lidar com as políticas da Câmara de Almada. Eu até os informava onde poderiam ajudar a limpar certos locais, onde se viam vidros partidos que eram zonas onde as crianças brincavam. Eu não podia aceitar que uma viatura carregada de lixo de obras da construção civil, despejasse a carga na estrada criando constrangimentos no tráfego local. Eu até os avisava de possíveis rebentamentos dos sistemas de drenagem de água subterrâneos. Mas, as respostas demoraram demoravam muito tempo.

O amigo José veja só esta resposta dos serviços de regas das árvores que são vistas nas ruas das cidades. Uma vez o carro/tanque passou na rua, regou as árvores 1, 2 , 3 e 4 mas não regou a 5 e foi para a 6. Quando perguntei o que se passava, os cantoneiros apenas disseram que não podiam regar porque não lhes pertencia. Percebem isto?

Mas a outra anedota que encontrei foi nas Finanças da Costa da Caparica. Fui atendido por uma funcionária que me disse que não poderia requerer a isenção do IMI. No dia seguinte voltei e fui atendido por outra funcionária, curiosamente ao lado da anterior, e os papeis foram submetidos, sem problema e bem depressa o assunto foi resolvido, já que eu tinha direito a 8 anos de insenção. Portanto, quero pedir desculpa a todos os amigos que por aqui passam, porque desapareci em 2011.

Estou aqui para dizer a todos que já não tenho 65 e nem 66, mas estou a caminhar para uma aterragem calma na pista 81. Desde o meu regresso, Portugal já sofreu muitas transformações, e o Canadá também. Ambos os países melhoraram, mas o meu país é pequeno, pobre e corrupto. Ninguém consegue resolver os fogos e as cheias. A Justiça não existe. Antes eram agulhas infetadas, agora são facas no pescoço.

Tivemos o covid e eu alterei os meus planos, mas quero dizer que gosto de visitar o meu país, mas por pouco tempo, porque as famílias estão cada vez mais reduzidas. Antes de ir para outro lado, quero dizer ao amigo José que hoje já não há paraísos na Terra. Estou conformado. Tenho 4 meses de inverno e os resto ate e muito aceitável. O Canadá tem um clima próprio, mas não é mau pois temos conforto. O Verão até é quente. Em breve iremos ter fartura de neve e fica tudo branco. Mais tarde vem a maravilha da primavera e do verão.

Bem, tenham umas festas felizes, muita saúde e um ano NOVO com o melhor que houver.
Obrigado a todos. Estou de volta após a ausência de 2011 a 2025.

João Bonifácio, Ex-Fur Mil do SAM
CCAÇ 2402/BCAÇ 2851
Có, Mansabá e Olossato, 1968/1970

_____________

Nota do editor

Último post da série de 16 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27430: (Ex)citações (440): Estar com o amok, passar-se dos carretos, perder as estribeiras, estar f*dido dos c*rnos, estar apanhado do clima ou cacimbado... serão expressões equivalentes?