sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1332: Antologia (55): Bambadinca, a guerra aqui tão a sério, tão cruel - Embaixador António Pinto da França (Luís Graça)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá> Bambadinca > 1997 > Antigas instalações dos oficiais (à direita) e dos sargentos (à esquerda). A messe de sargentos ao fundo, do lado esquerdo. Eram excelentes instalações hoteleiras, para a época e por comparações com outros outros aquartelamentos. Criadas de raíz, faziam inveja aos desgraçados dos nossos camaradas das undiades de quadrícula do Sector L1 que viviam em bunkers (Xime, Mansambo, Xitole...). Com a independência, foram ocupadas pelas Forças Armadas da Rpública da Guiné-Bissau. Esta foto de 1997 documenta a sua degradação. Bambadinca, por outro lado, foi palco de alguns sangrentos e cruéis desvarios pós-revolucionários: julgamentos em tribunais populares e execuções sumárias dos colaboracionistas...

Foto: © Humberto Reis (2005) (com a colaboração do Braima Samá, professor primário de Bambadinca). Direitos reservados.


Bambadinca, a guerra aqui tão a sério, tão cruel

Excertos do livro Em tempos de Inocência – Um Diário da Guiné-Bissau, de António Pinto da França. Lisboa: Prefácio, 2005. 102-103. Já aqui foi feita a sua recensão pelo nosso camarada Beja Santos (1)

Bissau, 8 a 15 de Abril de 1978

(…) De Bafatá à cidadezinha de Bambadinca viajámos em autocarros. À entrada de cada aldeia aguardavam-nos grupos de homens com cartazes de boas vindas ao Ministro [dos Transportes].

Ao entrar na parada abandonada do quartel de Bambadinca, daquilo que foi um dos principais centros das Forças Armadas Portuguesas na Guiné durante a guerra, deparámos com uma multidão que nos acolheu com vivas, se acotovelou, para com a funda cortesia africana apertar a mão do Ministro.

(…) O discurso, em crioulo, do Governador de Bafatá, influente figura do PAIGC, era traduzida para fula por um intérprete (…) [que] cantava, na saborosa língua fula, que a guerra acabou, os portugueses são e foram sempre irmãos, que estão a ajudar muito a Guiné-Bssau (…).

No final, muitas vivas a Portugal, ao Presidente Eanes, ao Dr. Mário Soares, à amizade de Portugal e da Guiné BIsssau.

E não é milagre passar-se tudo isto naquela povoação tão recentemente castigada, quando ainda só quatro anos decorreram desde o fim da guerra, aqui tão a sério, tão cruel?” (França, 2006. 102-103) (2).

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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 25 Setembro 2006 > Guiné 63/74 - P1113: Dez razões para ler 'Em tempos de inocência', diário do Embaixador A. Pinto da França (Beja Santos)

(...) "De 1977 a 1979, António Pinto da França foi embaixador de Portugal acreditado na Guiné-Bissau. Ele regista em forma de diário estes primeiros anos da independência, descrevendo com simplicidade e por vezes uma atmosfera quase mágica a vida da Embaixada, os membros do corpo diplomático, as compras, os passeios, os encontros, os ambientes múltiplos, alguns momentos históricos. Há pitoresco, desabafo íntimo, melancolia, registo meticuloso daquilo que não mudou no tempo africano" (...)

(2) Na série Antologia, divulgam-se textos - incluindo, excertos, partes de texto - de autores que, em princípio, não fazem parte da nossa tertúlia, mas que escreveram coisas, publicadas algures (sob a forma de livro ou de artigo em revista ou jornal), que nos interessam. Vd. o último post da série > 21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1299: Antologia (54): Transporte de tropas, por via marítima e aérea (CD25A / UC)

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