Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 30 de novembro de 2006
Guiné 63/74 - P1328: Blogoterapia (8): É hora de pensar no nosso primeiro... blook (Leopoldo Amado)
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 > 1964/65 > Aspectos dos trabalhos de fortificação do aquartelamento e tabanca de Guileje. Foto do Teco, que chegou às mãos do Nuno Rubim, via Guedes, militares da CCAÇ 726...
É a hora de pensar no primeiro livro do nosso blogue - o nosso primeiro blook (1)- que mostre fotos como estas, os nossos camaradas que, em Guileje ou em Mansambo, trocavam a espingarda pela pá-e-pica; ou que ponha em letra de forma palavras que calam fundo, como as do Torcato; ou que divulgue documentos dos arquivos do PAIGC a que teve acesso o historiador Leopoldo Amado... A sugestão é do Leopoldo, secundando opiniões já aqui divulgadas por outros amigos e camaradas de tertúlia... Mas editor, precisa-se! (LG).
Foto: © Nuno Rubim (2006) . Direitos reservados
Mensagem do Leopoldo Amado, membro da nossa tertúlia, luso-guineense, doutorando em História pela Universidade de Lisboa (2).
Caro Torcato,
Mesmo não tendo participado nesta guerra, se me permitires, faço minhas as tuas palavras (3). Elas tocaram-me lá bem no fundo da alma, eu que ainda puto, da varanda dos Correios de Catió (4) e Fulacunda (5), assistia impávido, sem todavia perceber as razões, o vai-e-vem da tropa portuguesa. É uma pena que valores tão nobres, tão nobres e verdadeiros como a prosa que agora nos destes, sejam hoje desbaratados neste cantinho à beira-mar plantado.
Pois bem, concordo com a ideia de que já é hora de se pensar num primeiro volume e de ir pondo as coisas lá fora - quiçá, única maneira de se dar razão a Pedro Lauret e João Tunes (que muito estimo), assim como aos outros colegas da tertúlia.
Penso também que é hora de irmos pensando na possibilidade de realizarmos uma Assembleia constituitiva para se deliberar sobre a pertinência ou não de transformar esta Tertúlia numa ONG [Organização Não-Governamental], dotando-a de direito de interceder junto a organismos públicos e estatais, doadores, para financiar suas acções (conferências, colóquios, encontros períódicos), mas mais importante ainda, a sua acção editorial (livros, boletins, sites, etc)
Faz-me um favor, caro Torcato: pega novamente na tua pena brilhante e põe cá para fora a tua/nossa experiência, pois, apesar de ser africano, partilho igualmente dessa mística exaltante que assisti apenas marginalmente, mas que muito honra os homens de bom senso, de qualquer latitude ou credo.
Bem hajas.
Leopoldo Amado
____________
Notas de L.G.:
(1) Segundo a Wipédia, a enciclopédia da Net, livre, o primeior blook terá sido escrito por Tony Pierce in 2002, um bloguista de Hollywood, quando ele seleccionou e compilou uma série de posts de um dos seus muitos blogues, e editou-os sob a forma de livro a que chamou Blook. O termo é da autoria de um jornalista, Jeff Jarvis, que participou num concurso aberto do Tony Pierce.
Uma outra definição de book pode ser um livro que aparece, em primeiro lugar, num blogue, organizado por capítulos. Cada capítulo vai sendo inserido como um post. Tom Evslin popularizoueste tipo de blook ao lançar, em Setembro de 2005, hackoff.com, uma estória de assassínio que pode ser lida ou ouvida na Net, mediante subscrição... É um novo conceito de livro, só possível graças à Galáxia da Internet que veio destronar a Galáxia de Gutemberg...
(2) O nosso amigo Leopoldo, de vez em quuando, dá-nos o prazer da sua visita... Há diversos posts da sua autoria, já publicados no nosso blogue, e alguns de grande interesse para a história dos nossos dois povos... Para já vejam-se os posts, com notas autobiográficas, de:
7 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXIX: Leopoldo Amado, guinense, historiador, novo membro da nossa tertúlia (Leopoldo Amado / Luís Graça)
(...) "Caro Luís Graça: Gostaria de louvá-lo vivamente pelo trabalho que vem desenvolvendo de há um tempo a esta parte sobre a guerra colonial: Guiné. Não o conheço pessoalmente, mas algo diz-me que que também é meu compatriota, ou seja, que é guineense de alguma forma, como aliás todos os guineenses.
"Sou historiador guineense, vivo em Lisboa e estou justamente a fechar uma tese sobre a guerra colonial versus guerra de libertação (o caso da Guiné), ou seja, a mesma realidade vista dos dois lados: do Exército português e Portugal, por um lado, e doutro, as FARP e o PAIGC" (...).
22 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCIV: Lamparam, o blogue do Leopoldo Amado
17 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXLXIX: os periquitos e a prostituta de Bolama (Leopoldo Amado)
4 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P840: Curriculum Vitae do nosso doutorando Leopoldo Amado
5 Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1250: Os amigos são mesmo para as ocasiões, Leopoldo Amado!
(3) Vd. post de 23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1206: O passado não me pertence só a mim, é colectivo (Torcato Mendonça)
(...) "Chove lá fora, Luís Graça. O frio que sinto não é da chuva, nem do vento. É cá de dentro, um frio e um aperto, uma revolta que não a queria sentir. Mas sinto a revolta, a vontade de vingança, um sentimento diferente e há muito esquecido. Li o que o Mendes, da 38ª de Comandos, escreveu. Não é um relato onírico. Aconteceu mesmo. Ele fez aquela picada. O Pedro Lauret estava no rio. Guidaje a norte , Gileje e Gadamael a sul, são sítios de morte, de sofrimento na recordação. São bocados da nossa história recente, da nossa vida colectiva que muitos desconhecem. Pior, muitos querem apagar" (...)
(4) Vd. post de 4 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1245: Quarenta anos sobre Catió (João Tunes)
(5) Vd. post de 17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)
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