A TECNIL tinha a sua sede e Oficinas perto do cruzamento da estrada de Santa Luzia (Pansau Na Isna) com a avenida que vem da 1ª esquadra que ficou com o nome Unidade Africana.
Iniciou a actividade nas colónias em Angola nos anos 50, sendo já pelo ano de 1959 que iniciou na Guiné.
Estava também em São Tomé e nos Açores. O seu principal sócio (administrador, patrão) era o engº Ramiro Sobral (RS), com empresas em Viseu, baptizando a TECNIL apenas para as colónias.
Disto tudo apenas sei a partir de 1980, quando conheci o patrão RS, 75 anos, e outros funcionários, quase tudo gente desaparecida. Tenho ainda o contacto com um amigo desses, já no lar da 3ª idade. Quando quero saber coisas antigas, recorro à memória desse amigo.
Ao falar da TECNIL e de RS, estamos falando de uma empresa com 3 ou 4 sócios engenheiros civis e/ou técnicos que eram muito respeitados por Spínola e outros, e pelo Luís Cabral e governos respectivos e mesmo depois com Nino. (Às vezes, muita gente que passa pouco tempo em África, não entende muito bem que haja um relacionamento óptimo entre aqueles que se podem dizer que serviram o colonialismo e os que foram as 'vítimas' dessa colonização: ex. a reacção dos cooperantes portugueses, suecos, cubanos , etc. mas mesmo muitos portugueses que passaram por lá, os 20 e tal meses e não tiveram qualquer integração; da parte dos africanos custa mais a compreender essa 'certa intimidade do cólon' quando se trata de jovens, já doutrinados no nacionalismo dos seus países).
Alem de estradas e pontes a TECNIL construía edifícios e obras marítimas. O dinamismo leva o RS a ser representante dos camiões Magirus basculantes e viaturas Peugeot e outros tipos de equipamento.
Ao falar da TECNIL e de RS, estamos falando de uma empresa com 3 ou 4 sócios engenheiros civis e/ou técnicos que eram muito respeitados por Spínola e outros, e pelo Luís Cabral e governos respectivos e mesmo depois com Nino. (Às vezes, muita gente que passa pouco tempo em África, não entende muito bem que haja um relacionamento óptimo entre aqueles que se podem dizer que serviram o colonialismo e os que foram as 'vítimas' dessa colonização: ex. a reacção dos cooperantes portugueses, suecos, cubanos , etc. mas mesmo muitos portugueses que passaram por lá, os 20 e tal meses e não tiveram qualquer integração; da parte dos africanos custa mais a compreender essa 'certa intimidade do cólon' quando se trata de jovens, já doutrinados no nacionalismo dos seus países).
Alem de estradas e pontes a TECNIL construía edifícios e obras marítimas. O dinamismo leva o RS a ser representante dos camiões Magirus basculantes e viaturas Peugeot e outros tipos de equipamento.
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto nº 2: "As máquinas da TECNIL destruídas por ataque do PAIGC... Esta empresa estava empenhada na construção da nova estrada Piche-Buruntuma"...
Fotos: © Carlos Alexandre (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Em Angola era das maiores empresas, tipo Motas, que hoje são a MOTA-ENGIL. Mas perderam tudo, ao contrário dos Motas, cujos administradores estavam numa idade que lhe permitiu "ter jogo" para aguentar os trinta anos de guerra que se seguiu.
Já numa idade bastante avançada desistiram de lutar em Angola, São Tomé e Açores.
As estradas de Bafatá- Gabu, Bambadinca –Xime e Gabu-Piche-Ponte Caium foram obras da TECNIL durante a luta.
Ainda fui encontrar operadores de máquinas, motoristas e pedreiros guineenses e sãotomenses que trabalharam durante a luta nessas obras. Descreviam a destruição de um camião e morte do motorista mais 9 operários, já em finais de 1973 (?) que ao fim do dia de trabalho Gabu-Piche, os turras pediram boleia para Gabu mas o motorista não parou e daí a mortandade.
Contava a "assistência", pois vinha outro camião atrás, que os turras tinham intenção de entrar no Gabu naquele camião, onde não eram vistoriados à entrada de Gabu, e à noite fazerem um ataque ao Quartel de Gabu.
Ainda no fim da guerra construíram aquela ponte cais que fica junto da Marinha, ao fundo da av Amílcar Cabral, e já terminaram depois do 25 de Abril.
Empresas como esta procuravam usar o máximo operários africanos, desde o servente até ao pedreiro e operador de máquinas. Só que em geral encarregados tinham que ir cá das nossas berças, nem que fossem analfabetos. Claro que melhor era se fossem já filhos ou netos de velhos colonos, que falasse« idiomas étnicos. Mas isso era difícil, porque essa malta vinha em geral, para a Universidade, em Lisboa Porto e Coimbra.
Mas não era imposição salazarista, nem colonialista, nem economicista, ter um "capataz" tuga, nas empresas, e a estas só lhe interessa produção, e produção só se consegue com boa chefia ou "liderança", como se diz hoje. Era em casos deste género que os movimentos acusavam o cólon que preteria o africano mesmo mais evoluído, por uma tuga, mesmo analfabeto.
Claro que tenho as minhas ideias sobre isto, mas apenas digo que é mais fácil encontrar um bom médico num Africano do que um bom "capataz", encarregado ou chefe ou o nome que se queira chamar. Dizer isto é fácil explicar já é mais difícil. Do sucesso desse encarregado com o pessoal africano, ou europeu, evidentemente, dependia qualquer obra. Mas se o relacionamento com os africanos falhasse, podia fazer as malas e dedicar-se a outra coisa. O mesmo acontecia com os comerciantes do interior, podiam desistir se fossem tomados de ponta pelos africanos porque falia com certeza.
Os africanos baptizam todos com uma alcunha em língua étnica. Em Caboverde ou Guiné poderá ser em crioulo também. Eu nunca soube a minha alcunha. Se for chefe, preto ou branco, tem alcunha, se esta for para deitar a baixo estás lixado. Até as empresas chegam a ter alcunha.
Não me lembro como o povo chamava à TECNIL. Em estradas a máquina mais preciosa chama-se motoniveladora, e fui encontrar o melhor operador desta máquina na Guiné e era guineense, chamava-se Herberto, a Soares da Costa "herdou-o"com o que mais tarde sobrou da TECNIL, e levou-o para Portugal e Angola.
E como conheci e trabalhei em estradas em Angola, Brasil, Madeira (aqui foi mais túneis mas também entra a niveladora) e estradas de acesso à Expo-98, nunca vi como esse Herberto.
Luís Graça, como disseste para escrever algo sobre a TECNIL, de antes e depois da independência, publica se entenderes esta parte colonial da TECNIL, porque a outra já da minha convivência seria uma segunda parte. E aí poderá dar mais que um poste.
Há, penso que no blogue, uma foto do tal camião de Piche onde morreram uns tantos. Não sei tirar do Google Earth a localização das instalações da TECNIL que estão com uma boa definição.
Um abraço,
Antº Rosinha
_____________
Nota do editor:
As estradas de Bafatá- Gabu, Bambadinca –Xime e Gabu-Piche-Ponte Caium foram obras da TECNIL durante a luta.
Ainda fui encontrar operadores de máquinas, motoristas e pedreiros guineenses e sãotomenses que trabalharam durante a luta nessas obras. Descreviam a destruição de um camião e morte do motorista mais 9 operários, já em finais de 1973 (?) que ao fim do dia de trabalho Gabu-Piche, os turras pediram boleia para Gabu mas o motorista não parou e daí a mortandade.
Contava a "assistência", pois vinha outro camião atrás, que os turras tinham intenção de entrar no Gabu naquele camião, onde não eram vistoriados à entrada de Gabu, e à noite fazerem um ataque ao Quartel de Gabu.
Ainda no fim da guerra construíram aquela ponte cais que fica junto da Marinha, ao fundo da av Amílcar Cabral, e já terminaram depois do 25 de Abril.
Empresas como esta procuravam usar o máximo operários africanos, desde o servente até ao pedreiro e operador de máquinas. Só que em geral encarregados tinham que ir cá das nossas berças, nem que fossem analfabetos. Claro que melhor era se fossem já filhos ou netos de velhos colonos, que falasse« idiomas étnicos. Mas isso era difícil, porque essa malta vinha em geral, para a Universidade, em Lisboa Porto e Coimbra.
Mas não era imposição salazarista, nem colonialista, nem economicista, ter um "capataz" tuga, nas empresas, e a estas só lhe interessa produção, e produção só se consegue com boa chefia ou "liderança", como se diz hoje. Era em casos deste género que os movimentos acusavam o cólon que preteria o africano mesmo mais evoluído, por uma tuga, mesmo analfabeto.
Claro que tenho as minhas ideias sobre isto, mas apenas digo que é mais fácil encontrar um bom médico num Africano do que um bom "capataz", encarregado ou chefe ou o nome que se queira chamar. Dizer isto é fácil explicar já é mais difícil. Do sucesso desse encarregado com o pessoal africano, ou europeu, evidentemente, dependia qualquer obra. Mas se o relacionamento com os africanos falhasse, podia fazer as malas e dedicar-se a outra coisa. O mesmo acontecia com os comerciantes do interior, podiam desistir se fossem tomados de ponta pelos africanos porque falia com certeza.
Os africanos baptizam todos com uma alcunha em língua étnica. Em Caboverde ou Guiné poderá ser em crioulo também. Eu nunca soube a minha alcunha. Se for chefe, preto ou branco, tem alcunha, se esta for para deitar a baixo estás lixado. Até as empresas chegam a ter alcunha.
Não me lembro como o povo chamava à TECNIL. Em estradas a máquina mais preciosa chama-se motoniveladora, e fui encontrar o melhor operador desta máquina na Guiné e era guineense, chamava-se Herberto, a Soares da Costa "herdou-o"com o que mais tarde sobrou da TECNIL, e levou-o para Portugal e Angola.
E como conheci e trabalhei em estradas em Angola, Brasil, Madeira (aqui foi mais túneis mas também entra a niveladora) e estradas de acesso à Expo-98, nunca vi como esse Herberto.
Luís Graça, como disseste para escrever algo sobre a TECNIL, de antes e depois da independência, publica se entenderes esta parte colonial da TECNIL, porque a outra já da minha convivência seria uma segunda parte. E aí poderá dar mais que um poste.
Há, penso que no blogue, uma foto do tal camião de Piche onde morreram uns tantos. Não sei tirar do Google Earth a localização das instalações da TECNIL que estão com uma boa definição.
Um abraço,
Antº Rosinha
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Nota do editor:
7 comentários:
Curiosidades :
Da presenca da Tecnil na Guine, ficou uma popular frase em criolo...
"Trabadju abri na Tecnil !!!
..exclamacao usada sempre e quando uma tarefa ou missao se assemelhava, inexiquivel...ou de dificil materializacao..
(propor ao chefe o aumento do seu salario, por exemplo)
Calculo, expressao que tera resultado da dureza da tarefa incumbida aquela empresa de construcao !
Mantenhas
Nelson Herbert
Caro Rosinha
Andei a fazer segurança com o meu Grupo de Combate, à malta da Tecnil, na estrada Piche - Buruntuma, em 1973. Havia uma canção sobre a Tecnil, da qual só me lembro esta estrofe:
Tecnil, Tecnil
Eu passei lá muitas noites
Certamente mais de mil
Tecnil, Tecnil
Quando aparecem macacos
Vira jardim infantil.
Um abraço.
Luís Dias
Olá Rosinha
No meu tempo -68/69 - tive contactos com a TECNIL.Recordo dois:
- os abrigos que construímos levaram em cima cimento. Com as amplitudes térmicas e etc abriram fissuras.Fui falar com um responsável da TECNIL a pedir um pouco de betume asfáltico (alcatrão) que eles usavam.Foi simpático e ofereceu, creio eu, dois bidões. Resultou!
-fiz uma coluna ao Saltinho/Xitole onde ia uma moto-niveladora da TECNIL. Saiu do trilho e embateu numa árvore...uma bronca. Espero que a tenham recuperado...
Ab T.
Mansoa, 1973, a construção da estrada Jugudul-Bambadinca. A Guerra dura, a TECNIL. Eu estava ao lado, CAOP 1.
Eu, sempre a aprender com o António Rosinha.
Que escreve com a naturalidade de quem diz que não sabe quase nada e sabe quase tudo tudo.
Estes são os homens do meu blogue, Luís Graça e Camaradas da Guiné.
Abraço a todos,
António Graça de Abreu
OLA SOU SÓNIA,
PRECISO DA SUA AJUDA PARA LOCALIZAR UMA PESSOA, OU SEJA, O MEU AVÔ que trabalhou na Tecnil
Chamava-se LUIS DA SILVA, de alcunha AVO, era de VISEU antes de ir para S. Tomé deixou uma filha em Portugal chamada Dulce (DULCE SILVA). Teve duas filha em S.tomé com mães diferentes. Ele foi a S.TOME em 1953, trabalhou na empresa de construcão civil\canalizacão de nome TECNIL na época que construiram estrada de Cidade Capital Àgua Grande a Cidade de Neves em São Tomé, em JUNHO de 1962 foi trabalhar para ANGOLA e regressou para S.TOME em 1967\1969, não sei bem, regressando em seguida para Portugal.
Tecnil, que garantia a construção e manutenção das estradas do país (S.TOMÉ)
Actualmente, nao sei o seu paradeiro não sei se ficou em Angola ou se regressou a Portugal.
A minha avo chamava-se Eugenia e tiveram um filha que actualmente é enfermeira e chama-se Antónia.
Espero contar com a vossa colaboração.
Sónia, apenas uma pessoa bastante idosa, e já num lar de idosos, desse tempo da Tecnil.
Essa pessoa, que já não vejo há bastante tempo, vou tentar contactar, porque ele também esteve em São Tomé, em Angola e na Guiné, que aqui eu conheci, a única pessoa que poderá ter memória do seu avô.
Os administradores dessa Tecnil, que já não existe há mais de 30 anos, se ainda algum fôr vivo, andará pelos 100 anos, era já gente muito idosa.
Vai ser dífícil
Já passaram muitos anos deste artigo mas meu pai seria um dos sócios da Tecnil, Mário Galvão. Esteve em Angola, São Tomé (nasci lá) e Guiné-Bissau. Mário Galvão- 1927-1999.
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