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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5794: In Memoriam (36): Júlio Marques Tavares, o Madragoa (1945-1986), ex- Sold Cond Auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Marisa Tavares / Vitor Condeço / Fernando Graça)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/ BART 1913 (1967/69) > O Madragoa, o Sold Cond Auto Júlio Tavares, condutor de GMC... Nasceu em Lisboa em 1945 e morreu em 1986, no Canadá, para onde emigrara em 1975. Os seus pais eram de Pardilhó, Estarreja. Quando jovem, o Júlio viveu na Madragoa. Quando voltou da Guiné, fixou-se em Pardilhó, onde casou e teve o seu filho Pedro. A sua filha Marisa, que tinha 6 anos quando o pai faleceu, de doença prolonada, anda à procura de camaradas dele. Graças ao nosso blogue, já localizou alguns. Diz que tem muito orgulho no seu pai.

O seu gesto sensibilizou-nos a todos. Convidei a Marisa para integrar o nosso blogue, o que ela aceitou, embora não domine bem o português. O pai foi trabalhador da construção civil. Conseguiu dar, no entanto, uma educação de nível superior aos seus dois filhos. A Marisa diz que ele tem outro filho, que terá ficado em Catió. Recentemente lançou um blogue para procurar esse meio irmão perdido: Are You My Brother ? É meu irmão ? (Vamos também ajudá-la nesta procura do paradeiro do seu eventual mano guineense, de Catió, que a ser vivo e viver ainda na Guiné-Bissau deverá rondar os 42 anos).


Louvor averbado na caderneta, p. 12, do Sold Cond Auto Rodas Júlio Marques Tavares, nascido em 9 de Dezembro de 1945, em Lisboa, freguesia de São Sebastíão da Pedreira. Era mais conhecido pela alcunha do Madragoa (bairro de Lisbo onde viveu quando jovem). Ainda de acordo com a caderneta militar, era solteiro e tinha como profissão "ajudante de condutor auto sem prática" (sic). Tinha 4 anos de escolaridade ["exame de 4ª classe do E.P.E. (4º grupo)]".



Na caderneta do Júlio Tavares consta ainda, em "ocorrências extraordinárias" (p. 20), o seguinte: "1966. Apto no exame psicotécnico para condutor auto. Considerado refractário nos termos do atº 48º da Lei 1961, desde 19 de Agosto de 1966. (..) Ausente com licença definitiva para o Canadá desde 27/2/75". (Excertos)

Fotos: © Marisa Tavares (2010). Direitos reservados

Prémio, condecorações e louvores. 1968. Louvado pelo Comandante do BArt 1913 porque ao longo de 19 meses de comissão sempre se evidenciou como elemento trabalhador e disciplinado, sendo de salientar ser um condutor cuidadoso, e merecendo-lhe a viatura que lhe está distribuída constante cuidado. Nas colunas em que tomou parte nunca mostrou qualquer receio ou hesitação em que a sua viatura GMC fosse a 1ª da coluna. De espírito alegre e comunicativo, granjeou a simpatia e a amizade de todos (Ordem de Serviço, do BART 1913, nº 282). Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné. Legenda "Guiné 1967-68-69" (OS nº 26 do BART 1913. de 1969).


1. Mensagem do Vitor Condeço, de 6 do corrente, em resposta ao meu pedido para legendar algumas das fotos do álbum da Marisa:

Querida Marisa, meu caro Luis Graça:

Vamos ver o que consigo dizer sobre as fotografias que a Marisa, filha do Júlio Tavares nos presenteou.


Vê por favor o que consegues aproveitar, não estou certo de ter escolhido a melhor forma de as comentar. [A publicar oportunamente].


Antes e para começar, um pouco e história:


O Júlio Marques Tavares era Soldado Condutor Auto nº 06255566 da CCS do BART1913, que embarcou a 26 de Abril de 1967 no NM UIGE, tendo chegado à Guiné na manhã de 1 de Maio.


Desembarcados directamente do Uige para barcaças de transporte, seguimos até Bolama onde pernoitámos aguardando a maré, prosseguindo ao alvorecer o nosso destino para sul até Catió na região do Tombali, onde chegámos às 15H00 do dia 2 de Março, (este trajecto foi feito sem qualquer escolta e a única arma a bordo era uma pistola 6.75 do Cap. Botelho). Aqui ficámos até 17 de Fevereiro de 1969, data em que embarcados no cais do porto exterior de Catió no rio Cagopere a bordo da LDG 101 – Alfange, regressaram a Bissau.


Aqui, o BArt reagrupou com as restantes companhias e terminaríamos a comissão embarcando novamente no Uige na tarde de 2 de Março, levantando ferro com destino a Lisboa às 00H00 do dia 3 e onde chegamos a 9 do mesmo mês pela manhã, seguindo de comboio para V.N. de Gaia (RAP2), onde se chegou a princípio da tarde.


Depois de entrega do espólio, todos recebemos um passaporte de licença por 21 dias e uma requisição de transporte para o tão desejado regresso a casa.


Passámos à disponibilidade em 1 de Abril de 1969.

Dos registos na História do Batalhão consta que o Júlio Tavares foi louvado pelo comandante do batalhão em 25 de Novembro de 1968.


A resposta que esperava do camarada Fernado Graça, a quem pedi para falar sobre o Júlio, acabou por chegar só hoje, ao que parece andou perdida pela rede pois o endereço antes usado estava incorrecto e voltava à caixa dele. (...)


3. Aqui fica então o que o Fernando, há distância de mais de quarenta anos, consegue recordar sobre o Júlio:


Caro amigo Vítor Condeço,


A razão desta mensagem é para falar sobre o soldado condutor auto Júlio Tavares que fez parte da CCS do BART 1913 estacionada em Catió.


Este amigo era conhecido por Madragoa, era um homem bem disposto, reinadio e bom camarada.


A alguns condutores (tínhamos 24 na CCS) foram distribuídas as poucas viaturas existentes, o Madragoa conduzia uma GMC, outros camaradas tinham os Unimog 404 e o 411, a Mercedes Benz, e os Jeeps.


Quando havia coluna de reabastecimento de Catió para Cufar todos os carros de grande porte faziam o trajecto entre estes dois aquartelamentos, operação que durava todo dia. Os abastecimentos vindos de Bissau em barcos apoiados pela marinha, quando chegavam ao cais velho de Catió, (I) as viaturas eram carregadas e seguiam rumo a Cufar, o nosso amigo Madragoa assim como outros camaradas condutores lá alinhavam nos seus 'mustangues'.


Enquanto os sapadores picavam a estrada, outros camaradas montavam segurança, o dia era passado numa azafama por razões obvias, creio que a viatura do Madragoa ou a do Fontes, um camarada de Famalicão, tinham sobre os guarda-lamas, nos estribos e no próprio chão da cabine do condutor, sacos de areia para amortecer o impacto do rebentamento de alguma mina que não fosse detectada.


O nosso amigo Madragoa também fez umas comissões de serviço em Ganjola, um pequeno destacamento a uns quatro km de Catió, era obrigatório fazer um mês neste destacamento, mas havia quem ficasse por lá mais tempo do que o habitual.


O Madragoa, quase no fim da nossa comissão, talvez dois meses antes, escreveu umas milongas (II) aos seus familiares a pedir dinheiro. Foram dois meses a tirar a barriguinha da miséria, bifes com batatas fritas no bar Catió e no outro bar que ficava em frente ao quartel do qual não me recordo o nome. (III)


Foi um manjar de deuses e brutas pielas. Fez bem o nosso amigo, porque quase dois anos de feijão-frade com atum de salmoura em barrica, arroz com calhaus que quase nos partiam os dentes e outras mistelas já bastavam.


E por isso, houve mosquitos por cordas quando fizemos um levantamento de rancho!


Quando chovia torrencialmente o nosso amigo Madragoa não se fardava, metia a capa impermeável camuflada pela cabeça, as botas e lá andava ele na sua GMC.


Envio-te esta mensagem a contar estes pequenos nadas, mas muito significativos para nós, que os vivemos.


Faz chegar à filha do nosso camarada MADRAGOA este lembrar do que passamos há quarenta e três anos.


Com um grande abraço do


Fernando Graça
Ex-Sold. Cond.
CCS/BART 1913
Guiné - Catió 1967/69
____________

Notas do F. G.:

(I) - Porto Interior


(II) - Falsas histórias


(III) - Era a Cantina do Sr. Mota
__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

2 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5749: Álbum fotográfico de Júlio Marques Tavares, sold cond auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Parte I) (Marisa Tavares)

1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5742: Em busca de ... (115): Camaradas de meu pai, Júlio Marques Tavares, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Marisa Tavares)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6365: Tabanca Grande (217): Alcides Silva, ex-Sold Cond Auto, amigo do Madragoa (Júlio Tavares), CCS / BART 1913, Catió, 1967/69











Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/ BART 1913 (1967/69) > Três fotos, em que aparece o Madragoa, o Sold Cond Auto Júlio Tavares, condutor de GMC... Nasceu em Lisboa em 1945 e morreu em 1986, no Canadá, para onde emigrara em 1975. Os seus pais eram de Pardilhó, Estarreja. Quando jovem, o Júlio viveu na Madragoa, em Lisboa. Quando voltou da Guiné, fixou-se em Pardilhó, onde casou e teve o seu filho Pedro. A sua filha Marisa, que tinha 6 anos quando o pai faleceu, de doença prolongaada, anda à procura de camaradas dele. Graças ao nosso blogue, já localizou alguns. Diz que tem muito orgulho no seu pai.

O seu gesto sensibilizou-nos a todos. Convidei a Marisa para integrar o nosso blogue, o que ela aceitou, embora não domine bem o português. O pai foi trabalhador da construção civil. Conseguiu dar, no entanto, uma educação de nível superior aos seus dois filhos. A Marisa diz que ele tem outro filho, que terá ficado em Catió. Recentemente lançou um blogue para procurar esse meio irmão perdido: Are You My Brother ? É meu irmão ?( Estamos a ajudá-la nesta procura do paradeiro do seu eventual mano guineense, de Catió, que a ser vivo e viver ainda na Guiné-Bissau deverá rondar os 42 anos).



Recebemos hoje notícias de mais um camarada do Madragoa, o Alcides Silva que eu ainda não sei onde vive, e a quem convido para ingressar na nossa Tabanca Grande.

Fotos: © Alcides Silva (2010). Direitos reservados


1. Mensagem de Alcides Silva:

Data: 10 de Maio de 2010 18:27
Assunto: Madragoa

Luís Graça, só nesta altura tive conhecimento da vossa página na Internet e daí ficar a saber a triste notícia do falecimento do Júlio Marques Tavares, que para nós era conhecido por Madragoa.

Só agora é que fiquei a saber o nome próprio dele, se não fosse a fotografia a mim o nome de Júlio nada dizia.

Pois, quanto ao Júlio, foi um grande amigo, fazia parte do Pelotão de Manutenção como eu. A nota que consta na vossa página onde refere que, nas colunas para transporte de alimentos, a GMC levava no soalho da cabina sacos de areia para assim proteger o possível de qualquer mina. Devo dizer que essa GMC estava pedida a sua evacuação pelo Batalhão que fomos render, foi posta a trabalhar pelos nossos mecânicos e na carroçaria foi montada uma metralhadora, envolvida com sacos cheios de areia a fazer de parede, para proteger o colega que fazia de atirador e o municiador.

Era essa a GMC, que tinha o chão da cabina carregado com sacos de areia, a que o Madragoa conduzia nas referidas colunas, onde o pessoal da mecânica fazia parte.

Junto 3 imagens onde ele está:

(i) a n.º 1 e 2, sou eu o 1 e ele o 2; o outro que também está a ajudar o cozinhar o frango que tinha fugido aos oficiais e caiu na nossa panela, já não recordo o nome, creio que também era condutor;

(ii) na fotografia n.º 3, está o pessoal da oficina, onde eu sou o 1 e ele o 2, para assim o identificar.

Para mim foi uma grande surpresa saber que ele deixou lá um filho, éramos amigos, mas a vida particular de cada um não era conversada. Maior surpresa foi saber que ele faleceu por doença grave, é um pesadelo que se vive, mas nada se pode fazer. Estávamos em Catió há sete meses quando recebi a noticia da morte do meu pai por doença igual, aí ele foi um grande amigo que me ajudou a ultrapassar essa fase critica. Que Deus o tenha em Paz.

Por último pergunto, o Luís Graça é alguma coisa ao Fernando Graça? Se acaso tiver alguma proximidade solicito que lhe dê um abraço por mim, foi também um bom amigo, para melhor identificar eu era o estofador.
Um grande abraço para todos .

Alcides.

2. Comentário de L.G.:

Alcides, antes de mais, diz-me onde vives. Em segundo lugar, deixa-me agradecer a tua mensagem e as fotos que enviaste, em nome da Marisa Tavares e do resto da Tabanca Grande. Em terceiro lugar, ficas automaticamente convidado a entrar para o nosso lugar, como digno representante da CCS do BART 1913 e da malta que passou por Catió, entre 1967 e 1969. A família do Madragoa vai, por certo, ficar feliz com as tuas notícias. Acabei agora mesmo de reenviar a tua mensagem à Marisa. Manda-me duas fotos tipo passe, tuas, uma actual e outra do teu tempo de Catió, para completar as formalidades da tua entrada na Tabanca Grande (**).

Quanto à pergunta que me fazes, a resposta é não: não tenho qualquer relação de parentesco com o Fernando Graça, nem sequer o conheço pessoalmente. O contacto com ele é através do ex-Fur Mil Victor Condeço, que era mecânico de armamento, e que vive no Entroncamento.

_____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:





quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10438: Do Ninho D'Águia até África (12): O Madragoa (Tony Borié)

1. Continuação da narrativa "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177.


Do Ninho D'Águia até África (12)

O Madragoa

O Madragoa era um militar com quem todos simpatizavam. Nasceu na capital de Portugal, no bairro da Madragoa, e falava com um sotaque que todos tentavam imitar. Ao falar, quase que cantava, e mexia os lábios duma maneira que o tornava único. Sabia boxe, e ao caminhar, com um jeito gingão, balançando o corpo, cigarro “três vintes” na boca, sempre tinha uma maneira diferente de saudar os militares por quem passava. E os militares que por ele passavam, já diziam, tentando imitá-lo:
- Tásss booom, hó pááá.

Ele ria-se, e dizia, debaixo dum sorriso matreiro:
- Touuu porreiroooo, embora aqui não haja “garinas”, tááá.

“Garinas”, creio que era garotas. Bem, mas vamos à história.

Para os lados do norte, na região do Oio, para lá do rio Cacheu, depois de intensa floresta e de um pequeno rio afluente, que não era mais do que a continuação de alguns pântanos, havia uma aldeia considerada ponto estratégico, devido à sua localização. Ao norte da aldeia, por alguma extensão, não havia rios ou pântanos, era perto da fronteira com outro país africano, era uma área com um excelente potencial, para um futuro corredor de abastecimento das bases dos guerrilheiros, que entretanto se instalavam, com alguma agressividade, construindo “casas mato”, que era como disignavam as suas pequenas bases, na região do Oio.

O comando a que o Cifra pertencia, depois de trocar mensagem atrás de mensagem, durante bastante tempo, com o comando do território na capital da província, informando de que havia notícias de infiltração e passagem de guerrilheiros, assim como material de guerra, na área, ao fim de algum tempo recebe autorização para dessa aldeia fazer um posto avançado. E o Cifra, pensava:
- Quem serão os desgraçados dos militares que para lá vão ser mandados?

O comando, passado mais ou menos uma semana depois de receber autorização, destacou para essa área, primeiro, parte de uma companhia de infantaria que tinha chegado há pouco à província, portanto com pouca experiência no conflito, mas reforçada com uma secção de alguns militares de um pelotão de morteiros, já com alguma experiência em combate.

Para ajudar na instalação destes militares, colaborou a Armada com duas lanchas de patrulha dos rios e pântanos, que os transportou, assim como algum equipamento militar.

Depois de os militares se instalarem um pouco distantes da referida aldeia, num local onde o terreno era seco, que ficava um pouco ao norte mas quase encostados ao tal afluente de rio, que não era mais do que um pântano, que já aqui falámos, que quando a maré subia aumentava o volume do seu caudal, formando uma extenção de água que se estendia para sul, por bastante distância, e onde entenderam que era o lugar ideal, construiram um pequeno acampamento com paredes feitas com sacos de terra e cobertas com alguns troncos de palmeiras e folhas de zinco, onde por sua vez, também colocavam sacos de terra, para mais protecção; alguns abrigos, abertos no chão onde o terreno era mais seco, também cobertos com troncos de palmeiras, folhas de zinco e sacos de terra. Enfim, de pouco a pouco, construiram uma pequena fortaleza, onde se instalaram.

O único meio de transporte que tinham para se deslocar, e ter contacto, com qualquer unidade militar avançada na zona, era uma pequena lancha com motor fora de bordo, com capacidade para no máximo cinco pessoas, atravessarem o rio e pântanos, e virem de encontro a essa mesma unidade, que previamente avisada pelo serviço de transmissões, os esperavam em terra firme.

Era assim que eram abastecidos, semanalmente de alguns víveres e géneros de primeira necessidade, assim como o correio. Estavam praticamente isolados. A maior parte dos militares, para passarem o tempo, aprendiam algumas habilidades. Por exemplo, com uma simples bola de futebol, davam umas centenas de toques, sem deixarem a bola tocar no chão. Outros, depois de algum treino, bebiam líquidos com a boca aberta. Corriam, dando saltos mortais, como nos jogos olímpicos. Com a G3 davam tiros, com a arma no ombro, para trás, acertando no alvo com a ajuda de um espelho. Quase todos deixavam crescer a barba e grandes bigodes, competiam entre si, a ver qual apresentava o maior bigode.

Passado uns meses, alguns militares começaram a adoecer. A principal causa era uma espécie de paludismo. Febre, tonturas, vomitar, cor amarelada da pele do corpo, e logo lhe diziam:
- “Estás apanhado”.

Eles queriam água limpa, pura, para beber, mas não havia. Era a dos bidons que se tirava do rio, turva, e depois assentava no fundo, ao fim de umas horas, que se fervia alguma, outra não. Nessa altura, começou a funcionar o meio de transporte de emergência, que era o helicóptero, e começou a evacuá-los. Vinham dois e três de cada vez. Iam para o hospital da capital da província.

Como até aquela data não fora detectada qualquer presença, vestígios ou possível movimento de guerrilheiros na área, pelo menos não havia reportes nesse sentido, pelas forças militares que lá se encontravam, pois se os guerrilheiros se movimentassem na zona, não era durante o dia, mas sim de noite, e de noite, não havia patrulhas, e também não iam atacar a pequena fortaleza, pois com essa atitude iam denunciar a sua movimentação na referida zona, e com toda a certeza que depois disso acontecer, os militares iriam ser reforçados, iriam dificultar toda a sua movimentação, mas continuando com a narração, o comando, decide fazer regressar quase todos os militares.

No seu lugar, deslocou para lá, duas secções de combate, uma duma companhia de infantaria e outra dum pelotão de morteiros, de mais ou menos sete ou oito homens, cada uma, que seriam rendidos todas as semanas.

Aqui, começou a trabalhar o tráfico de influências.

Das secções de combate nomeadas, uns não queriam ir, davam baixa de doentes, outros queriam ir, porque era pura liberdade nessa semana. Levavam vinho, comida, ninguém lhes dava ordens, dormiam quando queriam, não tinham que sair, quase todos os dias, a bater as zonas nas matas próximas do aquartelamento. Enfim, o costume, nestas situações. Havia os que davam dez maços de cigarros, para não irem, e os que davam quinze, para irem no lugar de outros.

Já lá vão quase dois meses, não houve situação de perigo, a zona, afinal era sossegada, a semana passa rápido, já iam com muito mais prevenção, e não adoeciam como os primeiros. A população local, era mais ou menos conhecida, já havia alguns que iam duas vezes por mês, e tinham lá namorada, como era o caso do Madragoa.

(A história de acção, que se segue, o Cifra teve conhecimento pelos relatórios que lhe passavam pelas mãos, de informadores que os militares tinham em diversas zonas da província, pois muitas vezes era por essas informações que os militares movimentavam tropas no terreno)

Por volta das duas horas da manhã, uma coluna a pé, possivelmente vinda da fronteira com outro país, segue em fila indiana. Esta coluna é composta por guerrilheiros e transportadores de material de guerra. Na frente vão nove guerrilheiros, fardados, de metralhadora pronta a disparar e catana à cinta. O primeiro vai distanciado do segundo, aproximadamente vinte metros, o segundo do terceiro, mais ou menos dez metros, os restantes sete, mais ou menos dois metros uns dos outros. Seguem-se vinte e sete mulheres guerrilheiras, com a mesma distância, de aproximadamente os mesmos dois metros, umas das outras, transportando à cabeça, alguns pesados fardos, outras cestos e caixas de material de guerra, seguidas por outros nove guerrilheiros, fardados, de metralhadora pronta a disparar, e de catana à cinta, com a mesma distância de dois metros um do outro, excepto os dois últimos, que mantinham a coreografia do primeiro e do segundo.

O Madragoa, que já dormia com a namorada na palhota da aldeia, que ficava um pouco retirada do acampamento, ouvindo um pequeno barulho que lhe parecia passos constantes, vem cá fora espreitar.

Escuta, avança uns passos com curiosidade. Não viu mais nada. Foi golpeado, no lado esquerdo, pelo golpe de forte catanada que lhe atingiu o coração. Levou mais uns tantos golpes, mas deverá de ter morrido ao primeiro golpe.

Nesse momento, mais dois militares dormiam nas palhotas da aldeia, que regressaram ao acampamento, pela madrugada, com sempre faziam, sem suspeitarem de nada.

Ninguém sabe se foi a curiosidade do Madragoa que o matou, o que é certo é que pela manhã, a namorada tinha desaparecido da aldeia.

O Comando, quando recebeu o reporte da morte do Madragoa, mencionava que ele ia dormir com a sua namorada sem o comandante da secção ter conhecimento, pois ia para a aldeia, pela calada da noite, e regressava ao acampamento pela madrugada, pelo menos era esta a versão do reporte oficial. Nunca foi mencionado nada a respeito dos outros dois, que deviam ter aprendido a lição com o exemplo do companheiro morto à catanada. E era natural que o comandante da secção não soubesse, ou se sabia, colaborava, pois era natural entre companheiros facilitar a vida uns aos outros.

Mais tarde, pela rádio de uma emissora, que todos diziam, funcionava num país vizinho, que, com o seu programa patriótico, insentivava os naturais à luta e desmoralizava as tropas de Portugal, descreveu toda a história, dizendo entre outras coisas que: Mais uma mulher patriótica e corajosa, que depois de matar o invasor militar que a raptou, libertou-se, e com a ajuda dos nossos corajosos combatentes, que não dormem, para abastecer as nossas bases, e que estão sempre vigilantes nesta luta de libertação..., esta mulher patriótica, juntou-se, vindo reforçar o nosso movimento, blá, blá, blá.

Propaganda. Só Deus sabia.

O Cifra, ao ter conhecimento da morte do Madragoa, com quem confraternizava, e com quem algumas vezes treinava boxe, e sempre lhe dizia:
- Olha-me nos olhos. Os olhos é que comandam os meus movimentos.

Sim os seus olhos ficaram gravados para sempre na sua memória. O Cifra sofria, chorava sem lágrimas, perante todo este cenário, de morte e de guerra, em que estava envolvido, sem ter dado um passo, para que ela existisse.

E nas suas meditações, algumas vezes falava alto, dizendo: Por que razão me tiraram do meu vale do Ninho d’Aguia, onde ouvia todas as manhãs o meu comboio das seis e meia, o berrar das minhas ovelhas pedindo mais erva, da minha família, da minha represa no lameiro, do meu rio e da companhia das minhas amigas, que pelo menos mostravam que gostavam de mim.

E continuava, virando a cara para o céu: Se é que existe alguma divindade aí em cima, a que nós terrestres chamamos Deus, por favor liberta-me e tira-me deste sofrimento.
____________

Nota de CV:

Vd último poste da série de 22 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10419: Do Ninho D'Águia até África (11): Zarco, o combatente (Tony Borié)

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10682: Ficou um Palmeirim nas bolanhas da Guiné (5): Os cheiros de Lisboa, Parte III: As brumas fadistas de Alfama e Madragoa (J.L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)


Lisboa > Belém > Dezembro de 2007 > Lisboa ao anoitecer, com vista da ponte sobre o Rio Tejo e do Cristo Rei.

Foto: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados




A. Em 25 de setembro p.p., demos início à publicação desta nova série, Ficou um Palmeirim nas Bolanhas da Guiné, "parte de uma novela escrita em memória do nosso saudoso camarada [Mário] Sasso", da autoria do seu amigo e camarada de armas J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil inf da CCAÇ 728 (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) [, foto atual, à direita].

Até à data publicámos 5 postes, de acordo com o "plano da obra" e o material que nos foi enviado. Este, de hoje, é o último texto em carteira que temos disponível. Espero que o autor (, a viver na Alemanha,) vá alimentando a série... Para ele vai um especial Alfa Bravo. LG


Plano

1. A Origem do Nome – “Palmeirins”
2. A Cidade Moçambicana da Beira
3. A Barra do Tejo
4.  Os Cheiros de Lisboa
41. A Feira Popular
42. Uma sardinhada em Cacilhas
43. As Brumas (Ruelas) Fadistas de Alfama e Madragoa
44. As Palmeiras da Estufa Fria
45. As Vielas da Ameixoeira
46. A Feira da Ladra
47. A Baixa às ordens de Pombal
48. O Jardim do Campo Grande
49. A Estrela Real
410. Os Bosques de Monsanto (...)


B. Ficou um Palmeirim nas bolanhas da Guiné > 4. Os cheiros de Lisboa > 43 . As Brumas fadistas de Alfama e Madragoa

por J. L. Mendes Gomes

Naquela noite ninguém ia sair. O Benfica ia jogar com o Sporting de Portugal. No estádio do Benfica. Constava que o desafio ia ser transmitido pela televisão. Só no telejornal é que se iria saber a certeza. Sempre seria mais barato. E até se via melho,  adiantava o tio Diógenes, para se justificar. A rapaziada lá em casa era toda perdida pela bola. Até a tia Judite. Bilhetes para todos saía muito caro.

Era a altura dos famosos violinos do Benfica: o Eusébio. Ainda por cima o Eusébio também era de Moçambique. Um espanto a jogar; o Caiado....o....

A tia Judite, pelo sim pelo não, foi adiantando o jantar, para que pelas 21h toda a gente estivesse despachada e livre, para se seguir o desafio em família. Com certeza que seria dado pela TV. Já se sabia.

Uns amendoins nunca faltavam nestas alturas. E umas cervejinhas no frigorífico...Tudo bons costumes e recordações de Moçambique. Aí reinavam as ostras a rodos, o camarão, as cervejas às grades,...naqueles ares quentes dos trópicos.

Se não fosse o futebol, os primos já tinham desafiado o Mário para uma noitada de fado em Lisboa. Estava prometida desde há muito. Ficou para outra semana.

Depois do jantar, sempre animado, em família, os três primos estavam prontos e aperaltados para a noitada de Alfama e Madragoa.

Tinha chegado enfim, o grande dia, melhor a grande noite, de que tanto se falara nas férias passadas da Beira. Os tios tinham toda a confiança nos dois filhos e, por isso, contra o que era hábito daqueles tempos, não se importaram de que a Isabel fosse também.

O último eléctrico que saía do Terreiro do Paço para o Dafundo, era às duas da manhã. Calhava mesmo bem. Aí vão eles. O eléctrico amarelo ali vem. Traz pouca gente. À noite, não há muita gente que se disponha a ir para Lisboa. Só os boémios ou, então, por uma farra como esta dos três primos.

Em menos de meia hora, já estão a descer em pleno Terreiro do Paço. Frente ao Tejo , agora escuro e com umas luzitas tresmalhadas, pelos lados negros, de lá, desde Cacilhas e Almada ao Seixal, Barreiro...Montijo.

A iluminação da praça não é por aí além, mas dá para se andar à vontade. Não há perigo nenhum. A segurança pública é total.

As ruas da Baixa fervilham de gente a ver as montras. A Rua da Prata, o Chiado, o Rossio, os Restauradores e depois a Avenida da Liberdade, de arvoredo ─ via-se que era frondoso, até lá acima, ao Marquês de Pombal. Está um pouco deserta apesar dos cinemas e cafés que abundam de cada lado e as esplanadas elegantes, nos serenos passeios laterais. De dia, é mais interessante girar por ali. Há muito mais vida.
─ O 28 sobe por Alfama dentro, até à beirinha do Castelo, lá em cima, sobre o Tejo mas o melhor é irmos a pé ─  diz o Pedro. ─ Pela rua do eléctrico, vai-se até à encosta do Castelo, com vistas sobre o rio
─  De dia, deve ser muito giro─  adiantou o Mário. Não perdia pitada de tudo que estava a acontecer.
─  Sim, é uma maravilha ver o Tejo, daqui deste miradouro. Todo “o mar da palha”. Parece mesmo mar. Até ao Barreiro, Montijo, Moita, Alcochete e Vila Franca...É mesmo um mar. Cabem os barcos todos do mundo. Há sempre lugar para mais um. Mesmo daqueles petroleiros gigantes.

Os Cacilheiros lá andam nas suas voltas do costume. Duma para a outra margem. Os da Praça do Comércio só andam até à meia-noite....Depois, só os do Cais do Sodré.
─ O que é isso da Praça do Comércio?─  perguntou o Mário, surpreendido com o nome.
─ Ainda não ouvira falar dessa praça.
 ─ É a mesma, a do Terreiro do Paço. Tem os dois nomes. Não sei desde quando nem porquê. Deram-lhe esses dois nomes. Por mim, acho melhor o de Terreiro do Paço. ─ esclareceu o Pedro, com um ar de certo modo, exaltado. Para o justificar, acrescentou:
─  Onde está então a Praça da Indústria?...Ou a da Agricultura...Não há!....

Uma risada de todos.
─  Tens razão Pedro. ─  disse a Isabel. Até aí ainda não tinha aberto a boca. E continuou:
─ A gente habitua-se a ouvir e a chamar estes nomes e não liga ao sentido deles.
─ Já agora, outro nome que não concordo nada e até me revolta, é o do Parque Eduardo VII, lá em cima, a seguir ao Marquês.
─ Então porquê? ─ perguntou a Isabel, já sem esconder a natural curiosidade. Ela nunca vira mal nenhum nisso...
─ Então, achas bem que aquele jardim, tão grande e num sítio nobre da cidade capital tenha o nome dum rei inglês?...

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10586: Ficou um Palmeirim nas bolanhas da Guiné (5): Os cheiros de Lisboa, Parte II: uma sardinhada em Cacilhas (J.L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5837: Em busca de... (118): O meu meio-irmão, filho de Júlio Tavares, o Madragoa, nascido presumivelmente em Catió, e hoje com 42 anos, se for vivo (Marisa Tavares, Canadá)


O blogue da Marisa Tavares, filha do Júlio Tavares (1945-1986), Are you my brother ? (http://omadragoa.blogspot.com/ ). Foi criado muito recentemente, em 8 do corrente, com o objectivo de encontrar um filho que o seu pai terá tido em Catió, conforme confissão feita por ele na hora da morte, em 1986. Qualquer informação sobre o paradeiro do seu meio-irmão guineense pode ser enviada para o seu e-mail: mt_iphone@rogers.com

1. Mensagem da nossa amiga Marisa Tavares, constante do seu blogue,  em inglês (que é a sua primeira língua)


Are you my brohter ?

My name is Marisa Tavares and I live in Toronto, Ontario, Canada.

My father died when I was only 6 years old. I did not learn much about him until recently. He died in 1986 of cancer.

Recently I found a box filled with my fathers military information of his time in the Portuguese Military from 1967-1969. He served his time in Catio, Guinea-Bissau, Africa.

I have since discovered that during his time in Catio, he fathered a baby boy with one of the local women sometime between 1967-1969. He is my half brother and I am looking for him.

Thanks to technology and the iInternet in last month I was able to find out more information about my father's time in the military.

What we know…

• We know that he was in Catio, Guinea-Bissau, Africa, between 1967-1969.

• My father’s name was Julio Marques Tavares but was better known by his nickname Madragoa.

• My grandmother (my father’s mother) was aware of this child and up until her death (also in 1986) would send the baby’s mother money to help the babies’ mother raise her first grandchild.

Below is information that I have gathered from other comrades I have been able to find in my quest to find my lost half brother (In Portuguese) (...)

2. Tradução (livre) de L.G.:

Você é meu irmão?

OO meu nome é Marisa Tavares e eu vivo em Toronto, Ontário, Canadá.

O meu pai [,foto à esquerda,] morreu quando eu tinha apenas 6 anos de idade. Eu não sabia muito sobre ele até há pouco tempo. Ele morreu em 1986 de cancro.

Recentemente eu encontrei uma caixa cheia de documentos do meu pai,  do tempo em que ele esteve no Exército Português, de 1967 a 1969, em Catió, Guiné-Bissau, África.

Descobri então que, durante esse tempo em Catió, ele teve um filho de uma das mulheres locais, algures entre 1967-1969. Ele é meu meio-irmão e eu ando à procura dele.

Graças à tecnologia e à Internet, no mês passado consegui descobrir mais informações sobre o tempo de tropa do meu pai.

O que sabemos ...

- Sabemos que ele esteve em Catió, Guiné-Bissau, África entre 1967-1969 [m foi soldadado condutor auto-rodas, pertenceu à CCS / BART 1913, 1967/69] (*);

- O nome do meu pai era Júlio Marques Tavares, mais conhecido pelal sua alcunha, Madragoa ; [, nasceu e viveu em Lisboa até ir para a tropa; os pais eram de Pardilhó, Estarreja];

- A minha avó (a mãe de meu pai) tinha conhecimento da existência dessa criança e, até à sua morte (também em 1986), ela costumava mandar dinheiro para a mãe da criança a fim de ajudá-la a criar o seu primeiro neto.

Abaixo segue a informação que eu recolhi, de outros camaradas de meu pai, nas minhas buscas para encontrar o meu meio-irmão perdido (Em português) (...) (*)

A propósito, veja-se o slide-show, musicado, que a Marisa preparou, sobre vida do Júlio Marques Tavares (5 de Dezembro de 1945 - 15 de Outubro de1986)... As suas diversas facetas como soldado, como
marido, como pai, como amigo brincalhão... (Por razões de respeito pelos direitos de autor da banda sonora, não reproduzimos aqui directamente o vídeo, de cerca de 12'):

The Life of Julio Marques Tavares... @ Yahoo! Video

3. Comentário de L.G.:

3.1. Comentário enviado em 11 do corrente à nossa amiga luso-canadiana:

Dear Marisa:

In order to help you in our blog... Do you have some contact, name, adress, phone number, or photo concerning the African family of your brother ? I suppose no...

If he survives (one out of five children dies before age five, in Guinea-Bissau) and if he is still living in Guinea-Bissau, he sould be 42 years old...

If I have well understood you, until 1986 your grandmother, living in Portugal, 'would send some money to help her first grandchild's mother'... Is it correct ?

We are proud of you.

Best wishes / Saudações

Luis Graça & Camaradas da Guine

luis.graca.prof@gmail.com



3.2.  A Marisa tem um coração muito grande, e uma saudade enorme de um pai que morreu quando ela era pequena... Domina mal o português, a sua primeirea língua é o inglês. Sabemos que, com a morte do ppai e da avó paterna, ela deixa de ter razíes em Portugal (em bora a sua mãe ainda esteja viva, emigrada no Canadá). Tanto ela, Marisa, como o seu irmão mais velho, são canadianos, mas não têm filhos.

A Marisa quer, legitimamente, conhecer melhor o seu passado, as suas raízes, a história de vida do seu pai, e está muito determinada em descobrir o paradeiro do seu meio-irmão que terá ficado em Catió....A mãe do seu pai, que vivia em Pardilhó, Estarreja, e que morreu a seguir ao seu filho (único), sabia da existência desta criança... Na hora da morte, no Canadá, o Júlio terá confessado (, presumimos que à sua esposa), este seu derradeiro segredo... (Curiosamenet, no seu álbum fotográfico, de Catió, não há fotos de mulheres nem de crianças).

Agora a Marisa quer conhecer o seu irmão... Não será fácil descobri-lo, caso ainda esteja vivo, possivelmente já com 42 anos de idade... Da nossa parte, vamos fazer o nosso melhor para ajudá-la... Vamos desejar-lhe boa sorte nesta procura. Será que algum amigo e camarada do Júlio Tavares tem informações adicioniais sobre este caso que queira compartilhar com a nossa amiga Marisa (e, eventualmente, connosco ? Good luck, Marisa!

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de 17 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5832: Álbum fotográfico do Júlio Tavares, Sold Cond Auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Parte III) (Marisa Tavares / Victor Condeço)

sábado, 15 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6394: Tabanca Grande (219): Alcides Silva, ex-1º Cabo Estofador (e não ex-Sold Cond Auto...), CCS / BART 1913, Catió, 1967/69

Fotos: © Alcides Silva (2010). Direitos reservados

1. Mensagem de Alcides Silva,


Data: 14 de Maio de 2010 17:20
Assunto: Esclarecimento


 Amigo, é apenas para esclarecer que a minha especialidade  não foi a de  condutor Auto, não fui muito claro quando enviei as fotografias com o Júlio, o Madragoa. Eu fui 1º cabo estofador. 

O meu 1º trabalho quando chegamos a Catió,  foi reconstruir os bancos da viatura do nosso 1º comandante de Batalhão, Coronel Santiago Cardoso, que já faleceu, creio que em 2008. Os bancos foram reconstruídos com molas dos bancos das viaturas de que tinha sido pedida  a evacuação pelo Batalhão anterior. E as capas para os bancos foram feitas com o aproveitamento da lona das capotas das mesmas viaturas que aguardavam a evacuação para Bissau.

Depois de reparada a viatura do 1º comandant, e tive o trabalho igual para a do 2º comandante, este não me recordo o nome, sei que era major.

Um abraço.
Alcides Moreira da Silva

2. Mensagem anterior do Alcides, com data de 12 do corrente:



Luís Graça, junto três fotos minhas, a 1ª ainda não tinha sido mobilizado, a 2ª foi do Natal de 1967,  já em Catió, a 3ª é actual, já começo a estar um pouco enferrujado, já são 66 anos que os irei completar a 10 de próximo mês de Junho.

 Quanto à questão que coloquei sobre o Fernando, dizes que os contactos são com ex-Fur Mil Victor Condeço,  recordo-me perfeitamente dele pelo nome, estava com ele na secção de armamento um colega de Espinho,  o Camarinha,  que tenho estado algumas vezes com ele. 


A minha morada é: Rua das Mangas, 130, 
3720-509 SANTIAGO DE RIBA-UL. 

Eu ultimamente juntei algumas fotografias relativamente ao tempo de tropa, referente às localidades por onde passei que foram: Aveiro, Entroncamento, RI 6, Senhora da Hora, Porto, depois Viana do Castelo para formar Batalhão e Guiné. Fiz um pequeno filme com as mesmas, se tiveres interesse para as relíquias, manda-me a tua morada e eu envio uma cópia do DVD.

Um abraço.
Alcides

_________________

Nota de L.G.:

terça-feira, 11 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6372: (Ex)citações (70): Obrigado a todos os que me ajudaram a (re)conhecer o meu pai (Marisa Tavares, Toronto, Canadá)


1. A Marisa Tavares mandou-nos, por mail,  ontem o seguinte comentário ao poste sobre o Alcides Silva (*):

Não tive muitos anos com ele [, o meu pai, Júlio Tavares, ex-Sold Cond Auto, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69, aqui na foto, à esquerda]. Era muita  menina quando ele morreu [, em 1986, no Canadá, para onde emigrara em 1975].. Lentamente,  com a ajuda dos seus amigos, eu estou a descobrir o homem que ele era. Um grande amigo (?) às pessoas do mundo inteiro.

Agradeço  a todos os que me ajudaram a  (re)conhecer o meu pai.
Obrigada.

Marisa


2. Demos conhecimento ao Alcides Silva (bem como ao Victor Condeço, ambos da CCS / BART 1913, Catió, 1967/69, camaradas do Júlio Tavares, o Madragoa) (**)

Alcides: Estás a ver o "milagre" que provocaste ? É uma mensagem da filha do nosso camarada, que te agradece... Ela é enfermeira no Canadá. A sua língua principal é o inglês. Quando o pai morreu, era pequena [, tinha seis anos]. Se quiseres, escreve-lhe, na língua de todos nós que ela entende.

 Leste o nosso  poste (*)  ?

Um Alfa Bravo (ABraço). Luis.

PS - Não te esqueças das "tuas" fotos para a "montra" da Tabanca Grande

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Notas de L.G.

(*) 10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6365: Tabanca Grande (217): Alcides Silva, ex-Sold Cond Auto, amigo do Madragoa (Júlio Tavares), CCS / BART 1913, Catió, 1967/69

 (**) O Victor, infelizmente, não está a passar bem, enfrentando algumas problemas de saúde. Vamos fazer votos para que ele nos dê  boas notícias dentro em breve. Força, Victor!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5802: Álbum fotográfico do Júlio Tavares, Sold Cond Auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Parte II) (Marisa Tavares / Victor Condeço)

1. Continuação da publicação da mensagem do Victor Condeço, ex-Fur Mil Mec Armamento,  CCS/BART 1913 (Catió, 1967/69), membro da nossa Tabanca Grande, residente em Entroncamento [ foto à esquerda]:

E agora os comentários às fotos que seleccionei  [do álbum fotográfico da Marisa Tavares, filha do nosso camarada Júlio Tavares, 1945-1986, mais conhecido como o Madragoa: era Sold Cond Auto Rodas, estando-lhe distribuída uma GMC, que ia habitualmente à frente, nas colunas logísticas; foi para o Canadá, em 1975, como emigrante, lá nasceu a sua filha Marisa, em 1978; faleceu em 1986, devido a doença prolongada]: 

- A foto do grupo com o estandarte [, à direita,], era o estandarte particular (ronco) do pessoal da secção de transportes Os Desastrados e que tinham por divisa "SOB O PERIGO RODANDO". 

- As fotos (8 ao todo,  já minhas conhecidas), dos prisioneiros do PAIGC, das armas, do helicóptero, do C47 Dakota e dos T6, foram tiradas em Catió, em 25 de Fevereiro de 1968,  por ocasião da Operação Ciclone II que o BCP12/CCP121 e CCP122 realizaram a Cafal/Cafine, tendo por base de operação a pista de Catió e terrenos adjacentes a sul da mesma pista.

Nota, esta operação é profusamente descrita e documentada no livro da colecção Batalhas de Portugal, Guiné 1968 e 1973 Soldados uma vez soldados sempre!, da autoria  do Coronel Pára  Ref Nuno Mira Vaz. 


  
  

  


- Nas fotos da GMC que já foram publicadas , considerando o à-vontade do pessoal, serão com certeza numa qualquer estrada próximo de Catió, Areia, Sua, Quintáfine, Ganjola, Priame, Quibil, Ilhéu de Infanda, o Mário Fitas que me perdoe, mas não me inclino para a estrada de Cufar, a não ser numa zona muito próximo de Priame, que o pessoal não era louco para se aventurar a maior distância.

 








- A GMC carregada de lenha [ acima, à esquerda] está  a fazer descarga na zona da cozinha, nas traseiras do refeitório geral. A viatura Matador [, foto acima, à direita, ] pertencia à companhia de Cufar, mas foi fotografada em Catió onde terá vindo inserida numa coluna.  

- A LDG 101 pode muito bem ter sido (e com toda a certeza foi) fotografada junto do cais de madeira do Porto Exterior de Catió, no rio Cagopere, único sítio onde era costume a abicagem destas lanchas quando se deslocavam a Catió. 

 (Continua)

Fotos: © Marisa Tavares (2010). Direitos reservados

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Nota de L.G.: (*) Vd. postes anteriores:



1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5742: Em busca de ... (115): Camaradas de meu pai, Júlio Marques Tavares, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Marisa Tavares)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5832: Álbum fotográfico do Júlio Tavares, Sold Cond Auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Parte III) (Marisa Tavares / Victor Condeço)

Última parte da mensagem do Victor Condeço, ex-Fur Mil Mec Armamento, CCS/BART 1913 (Catió, 1967/69), membro da nossa Tabanca Grande, residente em Entroncamento  (foto à esquerda, quando jovem militar), com os comentários às fotos que ele selecionou do álbum fotográfico da Marisa Tavares, filha do nosso camarada Júlio Tavares (1945-1986), mais conhecido pelo seu nome de guerra,  Madragoa: era Sold Cond Auto Rodas, estando-lhe distribuída uma GMC, que ia habitualmente à frente, nas colunas logísticas; emigrou para o Canadá, em 1975, lá nasceu a sua filha Marisa, em 1978; faleceu em 1986, devido a doença prolongada) (foto à direita, quando jovem, em Catió):

 

- Fotos dos brincadeiras náuticas, terão sido tiradas no rio Cadime, Porto Interior de Catió, porto de abrigo da lancha LP2, a quem o bote insuflável pertencia. (a LP2 era a lancha que fazia o reabastecimento diário, de pão e água ao Cachil, na ilha do Como).



- Esta canoa transporta à proa o Sarg Dias e a seguir o Alf A. Garcia, ambos do SM, os outros não reconheço, mas a foto tem forte possibilidade de ter sido tirada na travessia do rio Ganjola para o destacamento do mesmo nome, único sítio onde era utilizado este tipo de transporte.




- Nesta foto já publicada, o pessoal está posando no local onde viria a ser construído o depósito de géneros, à esquerda de quem entrava pela porta de armas, por de trás é a parada e ao fundo o edifício do comando, erradamente colorido de rosa, pois sempre foi branco, como aliás tudo o resto à excepção da messe de sargentos antiga.



- As fotos seguintes são na esplanada e no interior do Bar Catió,  do libanês sr. José Saad. As fotos coloridas, tal como a anterior, são coloridas à mão por meio de pincel, hobby praticado pelo já falecido 1º Cabo Escriturário Vítor Santos, do Concelho Administrativo.




- Nas fotos em que o Júlio está escrevendo, por de trás dele vê-se uma estrutura de troncos de palmeira e cibes. Isto viria a ser o parque de viaturas e oficina auto, que pode ser vista já em funcionamento em outras fotos onde se vêm, a frente de um jeep, dois chassis de viaturas em cima de cepos e outra onde ainda sem cobertura se vê o Júlio na frente da GMC que conduzia.

Nesta oficina o pessoal do Serviço de Material, mecânicos, serralheiros, soldadores, electricistas, bate-chapas e pintores, a ferrugem,  como eram conhecidos, com o auxílio de alguns condutores, entre eles o Júlio, fizeram-se maravilhas na recuperação de viaturas que estavam na sucata, (já uma vez, P4253 falei destes trabalhos de reconstrução).




- Fotos de grupo, condutores e mecânicos, vendo-se na primeira ao centro o Sarg Dias e o Fur Mil Freitas, ambos mecânicos auto, nas outras duas só está o Freitas (o do bigode).



- O Júlio com dois camaradas no passeio central da avenida que ia da rotunda da Igreja à casa do administrador, aquela que se vê ao fundo com o Citroen 2CV em frente.



- O Júlio e o Fur Mil Viriato Dias, matando a malvada sede, nas traseiras do edifício do comando, próximo da messe de sargentos antiga.

Aproveito para pedir, se o Viriato nos ler que dê notícias, ou alguém que nos leia e saiba do seu paradeiro lhe transmita este meu pedido, pois foi um camarada a quem perdemos o rasto, e que muito gostaríamos de voltar a contactar.

- Estas fotos podem ter sido tiradas em Ganjola, assim como outras que estão no slid-show da Marisa e que são difíceis de identificar o local.





- Foto da exposição na Amura, [ em Bissau,] em Fevereiro de 1968, de armamento capturado e foto do helicóptero em Bissalanca- BA12, também capturado ao PAIGC, pelo menos era o que constava na altura.







- Fotos várias, no refeitório, no interior do aquartelamento, em frente da prisão e na aula de barbeiro, repousando algures na tabanca, e na bicicleta de vendedor de bebidas (ou gelados???, já não me recordo).



- E para concluir mais uma  foto (colorida), só com o Júlio, conhecido entre a rapaziada da CCS pelo Madragoa.

Comentário final:

Por último quero aqui deixar o meu apreço à sensibilidade e interesse da Marisa, em querer saber mais sobre o seu pai. É muito louvável esta sua atitude. Se ele fosse vivo,  teria imenso orgulho na filha a quem deu o ser. Se é possível haver algo que resta de nós para além da morte, esteja ele onde estiver decerto estará em paz e feliz com a filha que tem.

E como os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são, como usa dizer-se aqui na Tabanca, disponha sempre da amizade dos camaradas de se pai.

Em Maio costumamos realizar um almoço convívio do nosso Batalhão, em que costumam aparecer bastantes camaradas com seus familiares, esposas, filhos e até netos. Devemos estar a receber a convocatória por todo o mês de Fevereiro.

Porque poderá ficar entusiasmada com a ideia em poder participar, logo que eu tenha a convocatória, enviar-lhe-ei uma cópia.  Dar-nos-ia imenso gosto a sua presença.

Aceite os meus cumprimentos.
Victor Condeço

Fotos: © Marisa Tavares (2010). Direitos reservados (*`)
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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série: 11 de Fevereiro de 2010> Guiné 63/74 - P5802: Álbum fotográfico do Júlio Tavares, Sold Cond Auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Parte II) (Marisa Tavares / Victor Condeço)

Sobre Catió, há mais de 80 referências (vd. lista de Marcadores / Descritores, na coluna do lado esquerdo). Vd. por exemplo postes de:

28 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5366: Memória dos lugares (58): Fotos de Catió e Priame (Benito Neves)

5 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5411: Memória dos lugares (59): Fotos de Catió e Priame II (Benito Neves)

E ainda:

 24 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5006: O segredo de... (8): Joaquim Luís Mendes Gomes: Podia ter-me saído caro aquele pontapé no...

domingo, 14 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14745: Fotos à procura de... uma legenda (54): Marchas populares, marchas militares, tropa-fandanga, tropa-macaca... Qual a diferença ?




Vídeo  (1' 15''), alojado em You Tube > Luís Graça




Vídeo (1' 16''), alojado em You Tube > Luís Graça




Vídeo (0' 58''), alojado em You Tube > Luís Graça


Foto nº 1 


Foto nº 2


Foto nº 3
 

Foto nº 4





Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 10


Foto nº 11


Foto nº 12


Foto nº 13


Foto nº 14

Lisboa > Av da Liberdade > Noite de 12 para 13 de junho de 2015 > Desfile das marchas populares de Lisboa...


Fotos (e vídeos): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados


1. Confesso que, em 40 anos, a viver e a trabalhar em Lisboa, foi a primeira vez que tive ocasião de assistir, horas a fio, a um desfile destes... Para mais, sentado no chão... Fui acompanhar um casal de sobrinhos do norte, gente gaiteira...

Para não me aborrecer, levei a máquina fotográfica, fiz vídeos e fotos... E depois até me consegui divertir um pouco com as bocas brejeiras e "sexistas", sobretudo,  delas, as mulheres, da assistência, gente popular dos bairros populares de Lisboa que ainda teimam em sobreviver, em Lisboa: "Ai faneca, comia-te todo!"; "A sardinha é liiiiiinda!"; "A tua sardinha é boa, mas ainda melhor é o meu carapau";  "Ai, querido, que vais tão lindo"; "Alfama é que é!"; "Oh!, cameraman, vira o coiso pra cá que a gente também somos filhos de Deus!"...

De regresso a casa por volta da uma e tal da noite, depois de me ter perdido do meu  grupo (, que a confusão era muita, com manga de turistas à mistura!), e visionar as fotos, comecei a pensar na possível relação entre marchas (militares e populares) e expressões como "tropa-fandanga" e "tropa-macaca" (*)...

Os seres humanos "adoram" tanto a "festa" como a "guerra"... E sobretudo precisam da "festa" depois da "guerra"... Sei que a cerveja esgotou na avenida da Liberdade... À uma e tal, quando o exército dos "almeidas" (os "jagudis" de Lisboa), num ápice varreram e  limparam a avenida e as laterais,  de alto a baixo, tive que me contentar com um copo de sangria... E se eu já a merecia uma "bejeca"!

Fica aqui o desafio para o leitor para legendar as fotos, à escolha (**)... se tiver humor e pachorra! Aqui vai uma ajudinha, socorrendo-me da "sabedoria" dos provérbios populares:

"Folguemos enquanto podemos, que noutra hora choraremos" ou "Enchida a pança, vamos à dança"...Ou ainda: "Em mulher de Alfama, homem do mar e relógio das Chagas, pouco há que fiar",,, Ou mas eu adoro é aquele provérbio que garante: "Em Lisboa, nem sangria má nem purga boa"... Também gosto deste: "Se não é no baile que se emprenha, é lá que se engenha".. E deste: "O soldado paga com sangue a fama do capitão"... É verdade em todas as guerras, e foi verdade na Guiné...

E já que o Santo António de Lisboa dá para a brejeirice, tomem lá mais este (que também tem a ver com tropa): "Matrimónio, praça sitiada: os de fora querem entrar, os de dentro querem sair"... Mas não percamos o fio à meada: o mote é mesmo "marchas (populares e militares), tropa-fandanga e tropa-macaca... No meio de tudo isto, fica o povo, que é quem mais... ordenha! (porque ordenar, ordenar, ordena pouco ou nada!, hoje como ontem...). O povo que é que mais... ordenha!,,, E quem mais marcha!... (Sempre foi assim, não foi ?!).

2. Estamos a falar da 83.ª edição das Marchas Populares de Lisboa, que contou com 20 marchas em competição e duas fora de concurso (A Voz do Operário e a dos Mercados) a descerem, como é da tradição,  a Avenida da Liberdade. Vi, na Net, horas depois,  que o bairro do Alto da Pina foi a marcha vencedora... . O segundo e o terceiro lugares foram atribuídos às marchas de Alfama e de  Alcântara, respetivamente.

Coisa que eu não sabia:  as marchas populares de Lisboa são avaliadas numa escala de 0 a 20 pontos em dois momentos, no MEO Arena, e no desfile na Avenida da Liberdade, nas categorias de Coreografia, Cenografia, Figurino, Melhor Letra, Musicalidade, Melhor Composição Original e Desfile,

Por categorias, o Alto do Pina levou ainda para casa o título de melhor figurino e melhor desfile da Avenida. Já a marcha de Alfama venceu nas categorias de melhor musicalidade, melhor composição original, com "Marinheiro de Alfama", e melhor coreografia, neste caso ex-aequo com a marcha da Madragoa. Alcântara venceu na cenografia e a marcha de São Vicente conquistou o título de melhor letra. E para o ano há mais!...

Este ano, as marchas em concurso foram as seguintes: Bela Flor, Mouraria, Santa Engrácia, Marvila, Alfama, Graça, São Domingos de Benfica, Carnide, Madragoa, Benfica, Bica, Alcântara, Bairro Alto, São Vicente, Olivais, Baixa, Lumiar, Alto do Pina, Beato e Ajuda. Como convidados, desfilaram também, na  Avenida da Liberdade,   o Agrupamento de Macau, a Marcha Popular de Faro, a Marcha da Madeira e o Agrupamento CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (de que não tenho infelizmente fotos)... Desfilaram ainda os gloriosos 32 noivos de Santo António.

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Notas do editor:

(*) Origem da expressão "tropa-fandanga".... Recorro ao incontornável Ciberdúvidas da Língua Portuguesa ("espaço de esclarecimento, informação, reflexão e promoção do idioma oficial dos países integrantes da CPLP, via Internet"):

"O termo tropa-fandanga é formado de duas palavras: o substantivo tropa e o adjetivo fandanga.

"Tropa é um termo oriundo do francês troupe, redução de 'troupeau', «rebanho» (final do séc. XII), provavelmente do latim 'turba', «multidão em desordem ou movimento». Começou por designar um bando de animais e uma grande quantidade de pessoas juntas, uma multidão. No século XV, já a palavra era utilizada como designação de conjunto de homens de armas: este significado permanece, coexistindo, ao longo dos séculos, com o de grande quantidade de pessoas. No plural (as tropas), o termo passa a designar essencialmente os corpos militares que compõem o exército, o próprio exército, enquanto no singular tem várias acepções, da qual importa aqui a de «bando, multidão». Por curiosidade, refira-se que esta palavra é da família de trupe (tem a mesma etimologia), que significa conjunto de artistas, de comediantes, de pessoas que atuam em conjunto e, ainda, na gíria coimbrã, um grupo de estudantes trajados dispostos a exercer a praxe.

"A palavra fandanga é a forma feminina do adjetivo fandango, formado do substantivo que designa a conhecida dança popular sapateada, termo este que entra em Portugal, vindo de Espanha, apenas no século XVIII. Pela conjugação da vivacidade da música, do ritmo, do barulho provocado pela dança e dos que nela participavam, o substantivo fandango passa a ser usado, em sentido figurado, na acepção de «balbúrdia». Surge, então, o adjetivo fandango, com o significado de «ordinário», «desprezível», «caricato», registado em dicionários portugueses no início do século XX.

"Cria-se, assim, o termo tropa-fandanga, que significa gente desordenada, indisciplinada, grupo de pessoas que não merecem consideração, gente desprezível.

"Maria Regina Rocha 2 de julho de 2013". [Reproduzido com a devida vénia].



(**) Último poste da série > 3 de junho de  2015 > Guiné 63/74 - P14693: Fotos à procura de... uma legenda (53): Ou le(ge)ndas e narrativas.. à procura de fotos (Luís Graça)