Mensagem do Paulo Santiago, ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 53 (Saltinho , 1970/72)
Luís:
Não estava à espera de uma tal notícia: o assassinato do Rainha (1),que conheci no Saltinho: vê post P986 (2). Despedi-me dele no Xitole. Ele regressava de uma consulta e eu vinha para Bissau com a comissão acabada.
Paulo
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 10 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1265: Recordações do ex-Alf Rainha (Xaneco, para os amigos), da CCAÇ 3490 (Saltinho), morto há 20 anos (Maurício Vieira, CCS/3884)
(2) Vd. post de 25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P986: A tragédia do Quirafo (Parte II): a ida premonitória à foz do Rio Cantoro (Paulo Santiago)
(...) O meu primeiro contacto com o capitão-proveta Lourenço deixou-me uma péssima impressão, mas não havia outra solução, caso o Pel Caç Nat 53 continuasse no Saltinho, senão aguentar, resistindo e discutindo, quando fosse necessário.
Quanto aos Alferes Milicianos, só me lembro do nome de três: o Armandino (2), o Rainha e o Garcia. O Armandino e eu, infelizmente, convivemos durante poucos dias. Era uma pessoa excepcional, com uma cultura acima da média, membro do Orfeão Académico de Coimbra, com o qual tinha ido à Expo de Osaca em 70, salvo erro.
Segundo me disse, ele representava a oposição ao Ganho (conhecido defensor do regime) dentro do Orfeão, daí a sua chamada prematura para a tropa.Tirara o curso de Operações Especiais em Lamego. Foi ele quem me convenceu a ficar no quartel, não indo de imediato para Contabane, onde tinha alguns homens, e de onde vinha uma viatura ao quartel buscar as refeições para o pessoal branco do 53, que lá se encontrava.
O Rainha era bom tipo, tinha uma saúde frágil, nunca deveria ter ido para o mato e muito menos para atirador. Mas influências da PIDE levaram-no, também prematuramente, às fileiras da tropa e àquela especialidade.
O Garcia era uma merda, queria apanhar uma hepatite para ser evacuado, então bebia
uma bazooka [garrafa de cerveja de 0,6 l], acompanhada por uma banana ao pequeno- almoço. Era um irresponsável, estava-se cagando para os soldados, estes por sua vez não lhe ligavam puto, a sorte era o grupo de combate ter bons Furriéis.
O Alf Armandino conseguiu desanuviar, em parte, a tensão inicial que nascera entre mim e o Lourenço. Eu tinha férias marcadas com início em 2 de Abril [de 1972]... A 30 de Março apanharia a avioneta no Xitole, e, assim faltavam meia dúzia de dias para largar o camuflado durante um mês. Já imaginava os copos que iria beber na aldeia, dia 3 de Abril, 2ª feira de Páscoa" (...)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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