quinta-feira, 26 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1700: Bambadinca: Quando a cantiga... era uma arma (Gabriel Gonçalves)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1971 > O memorial da CCAÇ 2590, erguido na parada do quartel de Bambadinca, no final da comissão dos quadros e especialistas da CCAÇ 2590 (Maio de 1969/Março de 1971) que deram origem à CCAÇ 12, constituída por praças do recrutamento local.

Foto: © Gabriel Gonçalves (2006). Direitos reservados.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Nhabijões > 1970 > Pessoal da CCAÇ 12, destacada no reordenamento de Nhabijões. Em todas as unidades havia gente que sabia tocar e/ou cantar. E fazia-se jus ao ditado popular: "Quem canta, seu mal espanta"... Na CCAÇ 12, lembro-me do Gabriel Conçalves, o Zé Soua, e o Tavares (o nosso escriturário). Na foto, o furriel José Sousa, madeirense, é o primeiro da direita, seguido dos furriéis Reis e Henriques. O tocador de acordeão era o nosso 1º cabo escriturário, o Tavares, se não me engano. Baladeiros e tocadores de viola de outras unidades, lembro-me muito bem do ex-Alf Mil Cav Vacas de Carvalho, do Pelotão de Reconhecimento Daimler 2206 (1969/71), e do ex-Alf Mil da CCS do BART 2917 (1970/72)... Outro tocador de viola, soube-o há dois anos, era o nosso David Guimarães (CART 2716, Xitole, 1970/72). (LG)

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.

Mensagem do GG (Gabriel Gonçalves), o viola e o baladeiro da CCAÇ 12 que, por sinal, também era, na tropa 1º Cabo Operador Cripto (1), o que na prática o impedia de sair do arame farpado, fazendo dele uma espécie de refém da grande caserna de Bambadinca...
Curiosamente, não me lembro de alguma vez o ter visto de G3 em punho; em contrapartida da, lembro-me bem dele a entrar, amiudadas vezes, no nosso bar e messe de sargentos com a viola debaixo do braço... Hoje sei que uma das suas grandes paixões é a pesca... Infelizmente, também nunca o vi a pescar num rio da Guiné, ali por perto: o Udunduma, o Geba... Ele, de facto, vivia - ele e os outros criptos - numa espécie de prisão que tinha muito pouco de dourada: é um facto que nunca teve um ataque a Bambadinca, que nunca saiu para o mato... Mas imagino como é que um gajo pode ficar apanhado dentro do arame farpado.... Como uma desgraça nunca vem só, o GG terá o último de nós a ter direito a um periquito, ou mesmo é dizer, passaporte para poder voltar a casa... Ele já contou essas peripécias aqui, no nosso blogue (2) (LG)

Henriques:

A pouco e pouco as recordações vão chegando, apoderando-se de mim uma certa nostalgia, pois na verdade passámos bons momentos lá em Bambadinca.

Recordo que uma ocasião, estava eu na cantina das praças, entrou a ordenança do comandante e dirigindo-se a mim, intimou-me por ordem do comandante a comparecer na messe dos oficiais e que levasse a viola; claro que tive que obedecer à ordem, mas bastante contrariado, pois eu gostava de cantar, como sabes, mas na companhia da malta porreira.

Quando lá cheguei, ao passar o guarda-vento, pus-me em sentido com a viola do meu lado direito, qual G3, e bradei:
- O meu comandante dá licença?
- Está à vontade, disse ele, podes entrar e começa lá a cantar!

Adivinha tu qual foi a primeira canção que eu cantei? Pois claro "ISTO É TÃO BERA" (3). Foi a forma que arranjei para me vingar. Resta-me acrescentar que no refrão fui secundado brilhantemente por alguns oficiais milicianos, como por exemplo: Machado, Abel, Rodrigues (este último, que Deus o tenha, de tanto berrar até ficou vermelho).

Resta-me acrescentar que o major BB [, da CART 2917], ficou fulo da vida e ameaçou-me que se eu não cantasse outra coisa de jeito, mandava-me cortar o bigode!

Um abraço, GG

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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

18 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1377: CCAÇ 2590/CCAÇ 12: Apresenta-se o 1º Cabo Operador Cripto Gabriel Gonçalves
26 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1464: Oficiais, sargentos e praças: tropa é tropa, uísque é uísque (Gabriel Gonçalves / Luís Graça)
(2) Vd. post de 2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1485: Bambadinca revisitada... ou os azares de um operador cripto em fim de carreira (Gabriel Gonçalves, CCAÇ 12)
(...) "Como tu dizes, realmente eu estive trancado no quartel, mas foi durante 22 meses, porque o meu periquito não chegou e, segundo me constou, o rapaz era sobrinho de um tenente-coronel e deu baixa ao hospital. Quando deram nota da ocorrência para a repartição de sargentos e praças, o responsável que recepcionou a nota esqueceu-se de nomear um substituto e lá fiquei eu a ver-vos partir e a gramar mais dois meses daquela merda.
"Aqueles dois meses foram os piores da minha vida... de tal maneira que em dada altura resolvi deixar de alinhar na escala de serviço, com a anuência dos meus superiores, passando apenas a dar apoio aos periquitos. Como tinha mais tempo disponível passei estupidamente a dedicar-me às bazucas [, garrafas de cerveja de 0,6 ], e dessa forma andava anestesiado o que me trouxe alguns dissabores" (...).
(3) Vd. post de 24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1695: Cancioneiro de Bambadinca: Isto é tão bera (Gabriel Gonçalves)

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