Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 22 de maio de 2007
Guiné 63/74 - P1776: Convívios (9): CCAÇ 3 (Barro, Binta, Guidaje, 1967/74) (A. Marques Lopes)
Texto: A. Marques Lopes / Fotos: Xico Allen (2007). Direitos reservados
O nosso camarada A. Marques Lopes, coronel (DFA) na situação de reforma, vive hoje em Matosinhos. Foi alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968). O Xico Allen, por sua vez, pertenceu à CCAÇ 3566 - Os Metralhas (1972/74) e é um competente conhecedor da Guiné-Bissau, organizando viagens até lá (Vive em Canidelo, Vila Nova de Gaia; telemóvel 938459828; não tem e-mail) (1) .
Texto do A. Marques Lopes:
Juntámo-nos no passado dia 12 de Maio no Restaurante Arte Xávega, da Nazaré, alguns dos que passaram pela CCAÇ 3. A maior parte não se conhecia entre si, dado tratar-se de uma companhia de "recrutamento da Província", com a maior parte dos quadros de passagem em rendição individual. Esta companhia teve um historial longo. Começou por se chamar CCAÇ 1. Dados colhidos do livro da CECA (Comissão para o Estudo das Campanhas de África), editado em 2001 pelo Estado-Maior do Exército (Tomo II, Guiné, 7º Volume -Fichas das Unidades).
História da CCAÇ 3 (1961-1974)
A CCAÇ 1 era uma unidade da guarnição normal, com existência anterior a 1 de Janeiro de 1961 e foi constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local (2), estando enquadrada nas forças do CTIG então existentes.
Em 1 de Janeiro de 1961 estava colocada em Bissau, com um pelotão destacado em Nova Lamego, onde foi transitoriamente instalada, na totalidade, em 3 de Abril de 1961, com pelotões destacados em Sedengal e Cacheu e depois em S. Domingos. Após a reorganização do dispositivo de 23 de Agosto de 1961, foi substituída em Nova Lamego, por troca, pela 3ª CCAÇ, regressando a Bissau, tendo destacado efectivos para várias localidades da zona Oeste, nomeadamente em Ingoré, Enxalé, Susana, Mansabá e Bigene e também, na zona Sul, em Cabedú.
A partir de 1 de Julho de 1963, foi colocada em Farim, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 239, com pelotões destacados em S. Domingos e Ingoré e secções em Susana, Mansoa, Mansabá, Bigene e Barro, tendo depois ainda deslocado efectivos para Bissorã, Cuntima, Olossato, Binta, Guidaje, Canjambari, Porto Gole e Enxalé, sucessivamente integrada no dispositivo e manobra dos batalhões que assumiram a responsabilidade do sector de Farim.
Em 27 de 0utubro de 1966, foi colocada em Barro, onde assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, então criado na área do BCAÇ 1887 e transferido, em 3 de Novembro de 1966, para a zona de acção do BCAÇ 1894, mantendo, no entanto, dois pelotões destacados no anterior sector, em Binta e Canjambari, este último deslocado para Jumbembem, a partir de meados de Janeiro de 1967.
Em 1 de Abril de 1967, passou a designar-se CCAÇ 3.
E a CCAÇ3 foi assim (segundo a mesma fonte, que temos vindo a citar):
Em 1 de Abril de 1967, foi criada por alteração da anterior designação de 1ª CCAÇ. Era de praças indígenas do recrutamento local. Continuou uma companhia da guarnição normal do CTIG, constituída por quadros metropolitanos instalada em Barro, mantendo-se então integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1894, com dois pelotões destacados em reforço do BCAÇ 1887 e estacionados em Binta e Jumbembem, este depois em Canjambari a partir de finais de Setembro de 1967. Ficou sucessivamente integrada no dispositivo e manobra dos batalhões e comandos que assumiram a responsabilidade da zona de acção do subsector de Barro.
Após recolha dos pelotões instalados em Binta e Canjambari em 20 de Julho de 1968, destacou, em meados de Outubro de 1968, um pelotão para Guidaje, tendo assumido, em 9 de Março de 1969, a responsabilidade do subsector de Guidaje por troca com a CART 2412 e destacando então dois pelotões para Binta, sendo especialmente orientada para a contrapenetração no corredor de Sambuiá, onde em 21 e 22 de Janeiro de 1969 tomou parte na operação Grande Colheita, realizada pelo COP 3.
Em 22 de Fevererio de 1972, rendida em Guidaje pela CCAÇ 19, assumiu a responsabilidade do subsector de Saliquinhedim, onde substituiu a CCAÇ 2753 e ficou integrada no dispositivo e manobra do COP 6 e depois do BART 3844.
Em 8 de Dezembro de 1972, foi substituída, transitoriamente, por forças da CART 3358 no subsector de Saliquinhedim e foi colocada em Bigene para onde se deslocou, por escalões, em 26 de Novembro de 1972 e 8 de Dezembro de 1972 e onde assumiu a responsabilidade do respectivo subsector em substituição da CCAÇ 4540/72, ficando então novamente integrada no dispositivo de contrapenetração no corredor de Sambuiá.
Em 31 de Agosto de 1974, as praças africanas tiveram passagem à disponibilidade e, após desactivação e entrega do aquartelamento de Bigene ao PAIGC, o restante pessoal recolheu a Bissau, tendo a subunidade sido extinta.
Convívio na Nazaré, em 12 de Maio de 2007
A maior parte dos que estiveram na Nazaré estiveram em Binta e Guidaje, não tendo passado por Barro. Aqui estiveram comigo o ex-alferes Oliveira, os furriéis Neto (o organizador do encontro, comando mandado de castigo para Barro), Fernandes, Pereira e Idálio, entre os que vieram à Nazaré.
Não foi possível trazer outros, entre eles o capitão Carlos Marques Abreu, que eu bem conheci em Barro, e alguns guineenses, soldados da CCAÇ 3. Foi pena. O capitão não pôde vir por questões de saúde, quanto aos guineenses (4) ficou visto que não basta dizer-lhes para vir... é preciso ir buscá-los. Há que pensar que, vivendo eles, sabe-se lá em que condições, naqueles bairros dos arredores de Lisboa, não terão muitas condições para se deslocarem para o interior do país... Tentei incutir esta ideia, tanto mais que se decidiu que o próximo encontro seria em Trás-os-Montes.
Foi bom. Mando algumas fotografias que o nosso amigo Xico Allen tirou.
A 2 de Junho próximo é o convívio da CART 1690 (Geba, onde estive em 1967) (3)...
Abraços
A. Marques Lopes
__________
Notas de L.G.:
(1) Sobre o Xico Allen, vd. posts:
16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVI: O Xico de Empada, grande amigo dos guinéus (Albano Costa)
1 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P828: Cancioneiro de Empada (Xico Allen)
28 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1555: Xico Allen: Viagens terrestres até às terras do Cacheu, Geba, Corubal, Buba e Cacine (A. Marques Lopes / Zé Teixeira)
(...) "O Chico Allen está a organizar uma viagem por terra à Guiné - a sua paixão. Pede para passares no Blogue a informação se por assim o entendres. Informo que estou a organizar viagens por via terrestre à Guinè, com passagem por Marrocos, Mauritânia e Senegal.
Já efectuei várias viagens com diversos camaradas e cada vez me seduz mais este percurso, pela aventura, pela partilha e experiência que se adquire e pelas belezas que se desfrutam. Contactem-me pelo telemóvel 938459828. Francisco Allen - Os Metralhas / Empada. [CCAÇ 3566, Empada e Catió, 1972/74) (...)
Foram publicados 26 posts sobre a viagem Porto-Bissau, , que decorreu em Abril de 2006: Vd. o primeiro e o último post desta série:
4 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXI: Do Porto a Bissau (1): o jipe está de saída (Albano Costa)
7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P854: Do Porto a Bissau (26): leitão à moda de Jugudul (A. Marques Lopes)
(2) Vd. post de 2 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1640: A africanização da guerra (A. Marques Lopes)
(3) Vd. post de 12 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1751: Convívios (4): CART 1690 (Geba 1967/69): Sever do Vouga, Couto de Esteves, 2 de Junho de 2007 (A. Marques Lopes)
(4) Sobre a CCAÇ 3 e Barro, vd posts:
15 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LIV: Cacuto Seidi, chefe da tabanca de Barro (Afonso M.F. Sousa)
2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCIII: Barro, trinta anos depois (1968-1998) (A. Marques Lopes)
10 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DXVIII: A sanha revolucionária e os meus Jagudis (A. Marques Lopes)
23 Maio 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIII: Do Porto a Bissau (21): revisitando Barro (A. Marques Lopes)
25 Maio 2006 > Guiné 63/74 - DCCXCV: O colaboracionismo sempre teve uma paga (1) (A. Marques Lopes)