1. Texto do Tino Neves , ex-1º Cabo Escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego (Gabú)1969/71. Enviado em 14 de Março de 2007.
Camarada Luís: Aí vai uma pequena estória (1) do Capitão Comando João Bacar Jaló. Tino Neves.
Um dia passou por Nova Lamego uma coluna de géneros, e parou/estacionou junto do edifício do Comando do Batalhão. O nosso Major de Operações, ao passar na varanda, repara nas viaturas que estavam em baixo cheias de géneros e de militares dos Comandos Africanos, mas o que lhe despertou mais atenção foi, num Sargento, as divisas bem reluzentes e o chapéu à Gringo (chapéu preto, redondo com borlinhas penduradas a todo o perímetro das abas). De imediato chamou pelo Sargento e ordenou-lhe que tirasse aquele chapéu da cabeça, e pusesse a boina ou o quico pertencente ao camuflado.
O Sargento, respondendo ao chamado, levantou-se de imediato, e ficando de pé em cima de um saco de géneros, bateu a pala, aliás bateu a aba (do chapéu), e respondeu que não o tirava. O Major, teimando na ordem para que tirasse aquele chapéu, o Sargento justificou-se porque não o tirava.
- Meu Major, não tiro este chapéu porque sou conhecido através dele, e este chapéu já me salvou a vida por várias vezes!
- Não me interessa! Quem é o seu Comandante e onde está? - inquiriu, autoritário, o major.
- O meu Comandante é o Sr. Capitão João Bacar Jaló, e está precisamente aí em cima a falar com o seu Comandante!
Não me recordo se o Capitão João Bacar Jaló ouviu o que se estava a passar, ou se o Major foi fazer queixas do Sargento ao Capitão, o certo é que o Capitão Jaló deu um raspanete ao Major, dizendo que quem mandava nos seus homens era ele, mais ninguém, e se isso voltasse a acontecer, que iria fazer queixa do Major ao Gen Spínola. E nisto e deitou as mão à camisa, abrindo-a, mostrando o seu corpo nu, cheio de cicatrizes de balas e estilhaços, para que o Major visse o peito dum verdadeiro combatente.
E assim, não só o nosso Major de Operações, como todos nós ficámos a conhecer o celebre Capitão Comando Africano JOÃO BACAR JALÓ.
Um Abraço
Tino Neves
Almada
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Nota de L. G.:
(1) Vd. post de 21 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1683: Estórias do Gabu (3): Um capitão, amigo do seu escriturário (Tino Neves)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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