domingo, 30 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2390: Albano e Ferragudo, gente de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339, 1968/69)



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Do álbum fotográfico do Torcato Mendonça, Fotos Falantes II, nº 1 (o Albano, em reportagem para a TV Mansambo, óculos escuros e bloco e caneta na mão) e nº 25 (o Albano com o seu macaco bêbado âs costas).

Fotos: © Torcato Mendonça (2006). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso amigo e camarada Torcato Mendonça , que vive no Fundão, e que fez parte da CART 2338 (Fá e Mansambo, 1968/69):

Assunto - Resposta ao post P2384, de 26 de Dezembro (1)


O Albano, ex-cripto da CART 2339, era um homem bem disposto e brincalhão. Daqueles que recordamos com saudade. Se entrar para a Tertúlia é, para mim, excelente aquisição (2).

Quanto ao baptismo da Árvore, se foi ele que o fez dou-lhe os meus parabéns. Nunca baptizei nada nem ninguém. Erro meu, má fortuna, falha minha…

O Ferragudo, algarvio, pescador no porto de Portimão, era natural da vilória, fronteira ao porto. Era pois conhecido por Ferragudo. Salvo erro numa estória já, por mim contada – Eleições à Vista – era o tal comedor de chispe holandês (3). Compreende-se. O rapaz estava farto de peixe. Havia outro cozinheiro ou ajudante, algarvio e natural da zona de Portimão.

Se bem me lembro o Albano era de Chaves. Creio tê-lo visto no almoço de convívio da CART 239, em Évora, 2005. Só fui a dois, ao 1º e, treze ou catorze anos depois, a este em Évora.

Voltando ao Albano ele aparece nas Fotos Falantes II, nº 1, em reportagem para a TV Mansambo, óculos escuros e bloco e caneta na mão; na nº 25, tem o seu macaco bêbado (morreu precocemente de cirrose) às costas.

Quanto ao que, aqui, escrevo: procuro relatar a verdade o mais fielmente possível em relato subjectivo. É uma visão pessoal dos factos e dos actos. Tenho dúvidas. Tantas dúvidas. Porque não chamar-lhes angústias; teria ou não sido assim? Corro o risco e relato o que penso ser a verdade – a minha verdade. Procurei esquecer. Vivi demasiados anos fora daquilo. Um dia, a partir desse almoço de Évora, de uma mensagem do Carlos M. dos Santos, da recordação do Malan Mané (4) e deste Blogue voltei.

Agradeço que me critiquem, que me apontem erro ou má escrita. Não digam traição, isso não. Fizeram-no uma vez devido a duas fotos. Esclareci o facto e o acto. Desculpem o não esquecer, não perdoar… feitios… mas, desejo sempre o dobro do que a mim desejam. É ser amigo do amigo e mais não digo.

Tiro dúvidas, com agendas, historial da CART e, principalmente, com o Carlos M. dos Santos. Enviei-lhe a maioria dos escritos. Tento até enviar, agora, em pasta zipada, a troca de alguns escritos, para tirarmos dúvidas sobre a Árvore. Gostava de falar, como o fiz em Évora, com outros Camaradas. Alguns, como o Silva sabem tanto, ou o Leite com uma pasta cheia de recordações.

Quanto a mim, a árvore dos 17 passarinhos estava na zona da cozinha; abrigo do 1º Grupo; gerador. Ficou de pé. Derrubar a dita, podia afectar alguma instalação.

Foi abaixo, caindo majestosamente, uma outra, junto do abrigo do 4º Grupo. Algures está um escrito disto. Talvez As árvores morrem de pé (5).

A que aparece, na foto aérea de 70? Estava junto a um abrigo e tinha, pelo menos no início, uma Santa. Outra, frondosa também, estava mais perto da entrada e levou uma placa turística. Há militares que tirariam as dúvidas.

Voltando ao Albano, ele que conte porque me ia acordar, mostrar as mensagens e, se fosse caso disso, lá ia eu acordar o Capitão… Acordar difícil… Conta essa e tantas outras estórias…

Bem vindo, Albano, os criptos não podem ser apanhados à mão… mas lá ficamos, no princípio, no mesmo abrigo, próximo doa árvore da Santinha, meio enterrados vivos… Ou vou ter que decifrar?! Enfim, Vidas... E o Braimadicô ?

Óptimo 2008, com Saúde e a concretização de todos os Sonhos.

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 26 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2384: Mansambo: a árvore dos 17 passarinhos, baptizada por mim (Albano Gomes, ex-1º Cabo Cripto, CART 2339, 1968/69)

(2) Vd. post de 28 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2387: Tabanca Grande (46): Albano Gomes, residente em Chaves, ex-1º Cabo Cripto da CART 2339 (Fá e Mansambo, 1968/69)

(3) Vd. post de 17 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2055: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça) (7): Eleições à vista...

(...) Ferragudo, o ladrão de chispes de porco holandês


Mas o pior estava para vir. Tínhamos três homens meios grogues. Dois, depois de ligeiro tratamento, recuperaram. Havia, no entanto, um que estava meio desmaiado. Era o Ferragudo, cozinheiro na tropa, pescador no porto de Portimão. Felizmente tínhamos um homem, o Barros, habituado a desmaios daquele género. Rápido, depois de abanar o Ferragudo, pediu:
- Tragam o azeite e uma colher.

Aparece o azeite e o Barros despeja, três ou quatro colheres do dito, goela abaixo do Ferragudo. Este estrebucha, joga as mãos á garganta, revira os olhos e urra. Pede ajuda o Barros. Levantam o doente. É prontamente agarrado, apertado e sacudido pela cintura. De repente dá-se o milagre. Vomita desalmadamente o cozinheiro glutão. Talvez dois ou mais chispes de porco holandês. Pancada nas costas, água goela abaixo e dá-se a recuperação. Eu assistia. meio incrédulo, a toda aquela cena.

O Ferragudo, ainda meio atordoado olhava-me. Apesar da vontade de rir, olhei para ele e disse:
- És um ladrão, roubas com a tua gula os teus camaradas, vai haver porrada, desaparece, só voltas próximo do jantar. Não há feijão com chispe. É indigesto ou não é, algarvio da porra?

Foi-se o cozinheiro pescador, ou vice-versa. Porrada não houve. Nenhum militar teve qualquer castigo, posto na caderneta, devido a castigo por mim dado.

Rimos e gozámos durante uns dias. Distracções singelas. Viver naquelas condições era difícil. Á noite nos abrigos, por debaixo, do que nos servia de leito, se não tínhamos cuidado as rãs cantavam o seu Sole Mio, a água caía ora nos pés, ora noutro lado. Dormia-se…o tempo passava lentamente… e o Império esfarelava-se! (...).

(4) Vd. posts de:




(5) Torcato: de momento, não localizo esse teu escrito... Manda-me uma 2ª via, se tiveres o texto em arquivo.

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