terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3704: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (8): Notas e correcções de Abreu dos Santos, comentários meus (V. Briote)

1. Mensagem do nosso leitor Abreu dos Santos:

Boa noite, Camaradas da Guiné:

Anexo cópia do v/post supra mencionado, no qual integrei breves notas que aqui ficam à v/consideração.

Abreu dos Santos


2.
O Abreu dos Santos, a propósito do artigo Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote) por mim publicado, procede a algumas correcções, levanta interrogações e faz algumas notas.

Da minha parte, para a elaboração do artigo referido, recolhi informação publicada em diversos artigos, no nosso próprio blogue e em Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, tantas vezes citada que é considerada, ainda hoje, uma obra de estudo ou de referência.

Independentemente da justeza e do rigor das notas e correcções emitidas pelo Abreu dos Santos, a quem, aliás, agradeço a colaboração que nos dá, foi minha intenção pôr em destaque os principais acontecimentos que rodearam o "caso Guileje":

(i)O assassinato de Amílcar Cabral;

(ii)Os "Strella”;

(iii)A ofensiva do PAIGC, sem precedentes até àquela data, centrada em "poderosas e prolongadas acções de fogo ajustado sobre as guarnições fronteiriças de Guidaje, Guileje e Gadamael, as quais conjugou com acções terrestres de isolamento, que efectivamente conseguiu, durante alguns dias em Guidaje. (...) Esta actividade do PAIGC alcançou valores que são os mais altos de sempre desde o início da guerra - 220 acções durante o mês -, o mesmo sucedendo em relação às baixas causadas às tropas portuguesas - 63 mortos e 269 feridos" (pg 508 de Guerra Colonial, de A. Afonso e C. Matos Gomes).

Em relação aos efectivos empregues, em Guidaje (em relação a Guileje parece não haver dúvidas ou discordâncias), noto, ainda segundo a publicação referida:

"No início de Maio de 1973, a guarnição militar de Guidaje era constituída por uma CCaç, a CCaç 19, e pelo PelArt 124, equipado com obus de 10,5 cms. (...).

“O PAIGC dispunha, concentradas, as seguintes forças na região de Cumbamori:

- Corpo de Exército 199/B/70, com 4 bigrupos de Infª e uma bateria de Artª
- Corpo de Exército 199/C/70, com 5 bigrupos de Infª e uma bateria de Artª;
- Grupo de Foguetes da Frente Norrte, com 4 rampas;
- Três bigrupos de Infª, um grupo de Reconhecimento e uma bateria de Artª do CE (Corpo de Exército) 199/A/70, deslocadas de Sare Lali;
- Foram ainda referenciados em Cumbamori um pelotão de morteiros 120 mm, um grupo especial de sapadores e diversos elementos recém-chegados do estrangeiro.

“Do lado do PAIGC estimavam-se em cerca de 650 a 700 os efectivos que empenhou nesta operação (...)".


Em termos de efectivos, a guarnição portuguesa de Guidaje teria cerca de 200 homens, aos quais há que acrescentar outros enviados para quebrar o cerco. Destaco, como exemplo apenas para contabilizar o número de militares empregues no auxílio a Guidaje e sem pôr em causa os méritos de outras unidades que, eventualmente, tenham estado também envolvidas (unidades navais e aéreas, p. exº):

- uma coluna saída de Farim, a 8 de Maio, formada por forças do BCaç 4512 (desconheço os efectivos reais, mas não imagino menos de três os Gr Comb envolvidos), que sofreu, em duas emboscadas (8 e 9 de Maio), 4 mortos e 30 feridos, entre graves e ligeiros. A mesma força acabou por sofrer ainda mais um morto e dois feridos, entre Binta e Guidaje;

- uma coluna de reabastecimentos constituída pelos DFE 3 e 4;

- uma Companhia de Páras;

- uma Companhia de Cmds;

- o BComds Africanos (cerca de 450 homens).

Assim, no conjunto das nossas forças envolvidas na zona de Guidaje, não parece excessivo o número de efectivos que calculei. Se não foram 1000 não devem ter andado longe.

Mas para o artigo em causa, mais que a exactidão dos números e das datas (importantes as correcções, insisto) foi comparar o que o ComChefe jogou em Guidaje e Guileje.

Quanto a mim, até demonstração contrária, sou de opinião que fez o que podia e devia em Guidaje. Em Guileje não.

V. Briote
__________

1. Artigo em questão publicado em

2 de Janeiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3689: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (7): Antecedentes relacionados e breve comentário (V. Briote);

2. Em pós-edição do referido artigo estão inseridas as correcções e notas enviadas pelo Abreu dos Santos.

7 comentários:

Anónimo disse...

Os comentários e análises que estão aparecendo no Blogue, parecem vir confirmar o que expremi em comentário ao P3686 do Ten Cor José Robalo Borrego.
Confirmam-se as conversas e análises entre mim e o falecido Cor Carlos da Costa Campos.
Não há dúvidas hoje, que uma vitória a Norte, traria um impacto extraordinário exteriormente e psicológicamente mais gravaso para as nossas FA. Guiledge já tinha uma longa história e caíria sem ser necessário sair da Guiné Conakry. Não há duvidas que as vitórias desejadas pelo PAIGC, não foram concretizadas.
Guidage resistiu e Guiledge foi uma frostração, com uma jogada anti-guerrilha extraordinária _para quem entenda coisas da guerrilha_ chegar a um objectivo a meia dúzia de quilómetros, e não ver ninguém, pois tinha sido evacuado havia três dias. Parece ser objecto!?
O problema para o General era o (Político), ia ele por a corda no seu próprio pescoço? Não! É dos livros!
Azar para o Coutinho e Lima!
Atrevo-me a fazer um palpite:
Se o "Caco" não fosse apertado, quem sabe não teria Coutinho e Lima sido antes louvado em vez de preso?
Não sabemos, infelizmente muitos intervinientes já se foram e outros que poderiam dizer algo, estão com as pantufas calçadas e não querem mais matas nem bolanhas.
Não conheci o General Spínola como militar. Como politico julgo ter sido um desastre. É minha opinião outos terão a deles.

O abraço do tamanho do Cumbijã

Mário Fitas

Anónimo disse...

Virgínio Amigo: Sintetizas numa frase - Quanto a mim, até demonstração contrária, sou de opinião que fez o que podia e devia em Guidage. Em Guilije não.(refereste ao ComChefe General António de Spíniola). Ora aí está a minha grande dúvida ou uma das minhas dúvidas. Não quero ir mais além. Tenho ainda muito a ler e pesquisar sobre este e outros temas. Faço-o por gosto. Não espero tornar publico nada do que escreverei. Ainda é cedo e tenho poucos elementos. Em Leiria fui apresentar os meus cumprimentos ao Snr. Coronel Coutinho e Lima e, sobre ele e o Snr. General Spínola mantenho Respeito e Consideração. Quando tiver mais tempo, elementos e outros...te direi meu Caro VB. Até lá um abraço do Torcato
PS ao nosso Amigo e Camarada M. Fitas, sempre elegante nos escritos, o Senhor General não tinha no nome, que eu saiba, a palavra caco. Fica para outros ...Mário...para outros...

Anónimo disse...

Era para me quedar quieto, mas não resisto.

Duas notas:

1ª - No Guidage as forças em presença seriam então 650 a 700 homens do PAIGC, concentrados na região do Cumbamori, portanto no ataque a Guidage e as tropas portuguesas cerca de 1000?
Desculpa Virginio mas não compreendo esta comparação.
Umas são tropas concentradas num ataque durante o tempo do ataque, vários longos dias, as outras em grande parte são tropas especiais envolvidas numa operação especifica de chegar, atacar e partir.
Afinal quantos homens tinha o Guidage para se defender dos tais 650 a 700 homens do PAIGC?

2º - Quem ler e outros textos sobre este assunto e outros da guerra da Guiné julgará que só as tropas portuguesas tiveram baixas, porque é dado esse enfase para defender um ponto de vista.
E o PAIGC não teve baixas?




Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

Carvalho disse...

Amigo Briote:
Com o devido respeito que me merecem opiniões sustentadas em raciocínios muito bem elaborados, proferidas por quem da guerra tem melhor formação académica e prática, eu, muito pragmaticamente esclareço a questão. Que se saiba, só havia na Guiné 1 B. Comandos Afric., 1 B. de Paras e a 38ª de Cmds.Ora sucede que estando eles em Guidage no dia 17 de Maio, nunca, por mais velozes que fossem, estariam a defender Guilege em 18 de Maio. Em boa verdade, entre Março e Junho de 1973, não havia bombeiros para tanto incêndio.

Anónimo disse...

Caro Torcato,
As minhas desculpas quanto à utilização da (linguagem de caserna) em referência ao General Spínola, mas ela foi utilizada com o sentido de dar força ao conhecimento sobre o assunto, pois sabes que os indíviduos (na maioria do quadro), era pela alcunha que se referiam ao General.
Retiro da minha gafe, todo e qualquer sentido prejurativo.

Um abraço para ti Torcato, maior que o Cumbijã.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Caro Joaquim,

por sorte ou azar, fiz parte da geração que participou com armas nas mãos na guerra da Guiné. Não é motivo que me tolha tê-lo feito, antes pelo contrário. Faço parte como tantos outros de uma geração que cumpriu o que a Pátria lhe ordenou. Respondi à chamada e, hoje, passados mais de quarenta anos, não me arrependo de o ter feito. Tenho comigo que tive a sorte de não pertencer à "comissão liquidatária" do Império, essa sim, altamente irresponsável pela forma como o fez: uma debandada feita à pressa, sem acautelar os interesses legítimos dos que lutaram ao nosso lado.
Feita esta pequena nota prévia, passo à questão que levantas:

1. Não era minha intenção centrar-me, com muito pormenor, em datas e acontecimentos. Era sim, conjugar os factos próximos ao caso "Guileje": o assassinato de Amílcar Cabral, o aparecimento na guerra dos Strellas e a chamada op "Amílcar Cabral" (Guidaje, Guileje e, pela proximidade, Gadamael).
O caso de Guidaje, pelas notas que até agora temos, foi tratado exemplarmente pelo Estado Maior do ComChefe. Procedeu-se, com recurso a tropas disponíveis, ao rompimento do cerco, chegando, inclusivé, a passar as fronteiras e indo à base de onde partiam as forças do PAIGC, causando-lhes baixas assinaláveis e reduzindo-lhes, assim, a moral. Conseguiu-se com esta acção aliviar a pressão sobre Guidaje e povoações vizinhas. Nesta acção de Guidaje, ocorrida entre Maio a Junho de 1973, estiveram envolvidos apreciáveis efectivos: entre 650 a 700 do PAIGC e à volta de 1000 homens das nossas FA.
Guileje, como foi? Que notas existem hoje sobre o assunto? Para além da nota de culpa enviada ao então Cmdt do COP 5, existe a versão deste e das testemunhas presenciais. Delas retiro que a guarnição de Guileje ficou entregue à sua sorte. Evacuações zero. Reabastecimentos idem. Efectivos de apoio nenhuns. Do lado do PAIGC sabemos, tanto quanto possível nos permitem os docs disponíveis, que uma op do género da de Guidaje estava em marcha. Quero com isto dizer que o Cmdt do COP 5 procedeu bem? Não sou capaz de ajuizar com toda a segurança que a retirada tenha sido a acção ajustada às circunstâncias. Estou, isso sim, hoje mais habilitado a compreender a atitude que foi tomada. E interrogo-me, para além do não rotundo, por duas vezes, do ComChefe ao pedido de reforços, o que é que o Estado Maior fez pela população e pela guarnição de Guileje?

2. Sobre as baixas: é mais fácil contabilizar as nossas. Sabemos os nomes e o nº total. Em relação ao PAIGC temos o que os relatórios de Guidaje dizem. Que, sejam quais forem os totais, devem ter sido bem elevados.

Julgo, caro Joaquim, ter deixado clara a minha intenção: interrogar-me e a quem nos lê, se o único culpado pela retirada de uma base das NT sob o prtexto da pressão IN foi o Cmdt do COP 5.

Um abraço do
vbriote

Anónimo disse...

Meu caro Virginio

Eu julgo que entendi a tua intenção.

Uma decisão desse tipo tem sempre com certeza muita coisa à volta e será sempre muito dificil de ajuizar da sua justeza ou não.
Repara que até podia ser entendida como um "golpe" estratégico como parece ser o que o nosso Mário Fitas nos diz, e então não estariamos a trocar estas impressões.

O que eu quis chamar a atenção e talvez não tenha deixado bem clara essa intenção, é que somos lidos por muita gente e muita dela com certeza nunca esteve na Guiné nem na guerra e até se poderão querer servir destes textos para algum "estudo" ou para sustentar alguma "teoria".

Assim sendo pareceu-me que não se deveriam comparar as forças em presença daquele modo no Guidage, pois se as do PAIGC lá estavam ao que é conhecido na sua totalidade dos 600 ou 750, os tais cerca de 1000 das nossas Forças, contavam com unidades que tinham ido fazer uma operação especifica de três dias, salvo o erro, e portanto não guarneciam o quartel do Guidage.

Assim também chamei a atenção para o facto de contabilizarmos as nossas baixas, mas não fazermos referência às baixas do PAIGC, com certeza mais dificeis de conhecer, mas que pelo menos deveriam ter alguma referência para não corrermos o risco de más interpretações por quem não conhece o assunto.

Agradeço o teu esclarecimento e abraço-te com amizade
Joaquim Mexia Alves