domingo, 14 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4525: Um filme de George Freire (CCaç 153 e 4ª CCaç, 1962/63): Gabu, Bedanda, Cumbijã, Bissau, Lisboa... (V. Briote)

Parte 1/3 > Vídeo (9 ' 58'')



Parte 2/3 > Vídeo (9' 54'')



Parte 3/3 > Vídeo (9' 58'')

Filmagens feitas pelo então tenente e depois capitão Jorge Freire, da CCAÇ 153 e da 4ª CCaç, entre os anos de 62 e 63, com imagens do Gabu, Bissau, Cacine, Bedanda, Cumbijã, Bissau, Lisboa... Um conjunto de três vídeos (O nosso camarada George vive há mais de 40 anos nos EUA; na conta do Virgínio Briote, no You Tube, já estão disponíveis estes três vídeos).


Vídeos: Alojados no You Tube> bra6567>© George Freire (2009). Direitos reservados.


Recordando o que foi escrito em artigo anterior (*), Jorge Freire, entre Setembro de 1962 e finais de Maio de 1963, fez um filme da sua passagem pela Guiné, [em super 8 mm]. Embora algo deteriorado pelo tempo, podemos ver como era a Guiné naqueles anos.

O Gabu, Nova Lamego, a avenida principal, um domingo à tarde com as famílias, os esquilos amestrados, a mulher do Jorge com a filha do 1º sargento da companhia, mulheres à pesca de camarão, a operação de lavagem das roupas, ou como bater bem com as peças de roupa nas pedras, as bajudas e os meninos a brincar na água, a piscina, a fonte de água, o grande régulo Fula do Gabu, a mulher mais nova e a mais velha, aparentemente amigáveis uma com a outra, os netos, os trajes de cerimónia, o alfaiate da terra, o campo de aviação do Gabu e imagens do ar, na viagem para Bissau no Dornier.

Em Bissau, o render da guarda ao Palácio com a população a assistir e o regresso ao Gabu. A visita do Jorge aos pelotões destacados, no marco da fronteira com a Guiné-Conacri, na zona leste, em Buruntuma, a passagem em Mule (ponte) Blassi e o regresso a Bissau num barco comercial, com imagens do piloto da embarcação.

E depois, Bedanda, o aquartelamento [ainda em construção], as pirogas no Rio Cumbijã, a construção de instalações, os alferes da companhia (4ª CCaç, um dos quais viria a morrer em combate, dias depois), imagens filmadas antes da saída de uma patrulha, um prisioneiro amarrado que terá, durante uma emboscada, morto um dos soldados da companhia.

Patrulhas no Cumbijã, os tarrafos ao lado, os tarrafos dos nossos descontentamentos, soldados com Mausers, uma secção destacada em Chugué, a transferência da população Fula de Imberém, no Cantanhez, para Bedanda, as festas que se seguiram, bajudas com as belezas à mostra… O início da guerra...

Comissão terminada, o regresso a Bissau e depois “eu vou chamar-te Pátria minha”, na voz do Carlos do Carmo, enquanto os olhos se espraiam lá do alto pelos rios e ribeiros, as margens, as florestas, as lalas.

Imagens que era costume, alguns de nós, registarem, quem sabe com o receio de nunca mais nos lembrarmos… Em Bissalanca, um MG branco ou creme rodeado de especialistas da FAP, a torre de controlo, a visita à Guiné de dois adidos norte-americanos, o adido comercial e o adido militar, o coronel Jeffries, e as últimas vistas de Bissau no último fim de semana, antes do regresso à pátria, no Ana Mafalda.

A fortaleza da Amura, o porto de Bissau, o desembarque no cais e o desfile de um pelotão (Caçadores?) de nativos, o capitão Simões, tão falado pelo Amadu Bailo Djaló nos seus escritos e, no dia do embarque, no Ana Mafalda, em 26 de Maio de 1963, o movimento em dias de movimento de navios, o cais de embarque nº 2, o navio em manobras, a afastar-se, com a Amura e Bissau a recortarem-se, cada vez mais pequenos.

Depois, o Atlântico, as Canárias no horizonte, até, finalmente, começarem a ver a costa, com Lisboa cada vez maior, no Tejo de tantas entradas e saídas, a volta ao Bugio, o jovem capitão Jorge Matias Freire, à civil, de fato à anos 60 e Lisboa ali tão perto que já se via gente à espera deles, de lenços no ar, a Torre de Belém, o Monumento aos Descobrimentos, e, como um agradecimento, as últimas imagens são do capitão, do imediato e do médico do Ana Mafalda.

A guerra na Guiné ainda estava muito, mesmo muito, no princípio. Mas para os quatro soldados, um sargento e um alferes da companhia do capitão Jorge Freire, em Bedanda, a guerra tinha acabado. É, com a lembrança deles, que o Jorge Freire termina este pequeno filme.

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Notas de vb:

1.Artigos do Jorge Freire em 11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3724: História de Vida (13): 2ª Parte do Diário do Cmdt da 4ª CCaç (Fulacunda, N. Lamego, Bedanda): Abril de 1963 (George Freire)

10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3717: História de Vida (12): Completamento de dados (George Freire)

29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)

2. A Companhia de Caçadores 153 foi mobilizada pelo RI 13 de Vila Real e comandada pelo Capitão de Infantaria José dos Santos Carreto Curto. Embarcou para Bissau em 27Mai61 (via aérea) e regressou em 24Jul63.

A 26Jul61 foi colocada em Fulacunda destacando forças para Empada, Cufar, Catió e Bolama, por periodos variáveis. A 7Fev62 foi rendida pela CCAÇ 274 e foi colocada em Bissau. A 11Fev62 rendeu a CCAÇ 74 em Bissau. A 21Jul63 foi substituida pela CCAÇ 510, ficando a aguardar embarque.

Informação de José Martins.

7 comentários:

Anónimo disse...

O Amadu Pete Jaló, no dia 10de Junho, contou-me histórias que pelas datas devem estar relacionadas com este assunto.

Mário Fitas

Anónimo disse...

E volto!

A 4ª. C.C. comandada por Aurélio Trindade _ em férias do Costa Campos foi com os Lassas a Cabolol.
Grande comandante!

A 4ª. C.C. quem a conheceu?
Julgo não errar, mas era uma miscelânia de todas as étnias da Guiné!

Ninguém os segurava! Recordo a primeira vez que fomos a Caboxamque.
Diziamos nós C.C. 763 para os chefes dos grupos de combate (metropolitanos): _vocês não pôem ordem nisto?
Resposta:_ Se vamos lá até nós leva-mos!
É tudo isto, que ainda hoje faz a complicação de entendimento daquela guerra.
Meus amigos só transformando-nos em Amadus, Mamadus, Tambas, Gibis, Alfas, etc. etc.!... e entrando no irã cego ou não, conseguiamos compreender.
Pobre e adorável povo de étnias mil, que ninguém os deixou viver a sua cultura!
São necessários séculos para OS POVOS SE TRANSFORMAREM.
Recordem só no século vinte nós colocámos serviços Administrativos naquela terra e mesmo assim se analisar-mos, com alguns problemas que é melhor abster-me para não levantar problemas. Só que eles existiram.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Esta mensagem é para ti, Caro Mário "Lassa" Fitas. Extraí, sem a licença dele, mas que lhe darei conhecimento amanhã, uma parte que transcrevo:
(...) depois, salvo erro, estava de plantão na guarita sul, pelas 15h00, quando chegou junto de mim, um soldado que me disse que me vinha substituir. A hora a que eu terminava o serviço era às 18, e a razão de me vir substituir era que ia haver a concentração de todos os adidos na parada da guarda, frente ao gabinete do 2º comandante da BAC.
Aí, o tenente Trindade comunicou-nos as novas colocações. Eu, como os outros nove condutores, fui colocado na 4ª CCaç, em Bedanda, no sul. Uma surpresa que não foi muito grande para mim.
Terminada a leitura do comunicado, feitas as colocações nas respectivas companhias e dada ordem para dispersar, dirigi-me ao QG para saber das razões de ter sido colocado em Bedanda, quando havia um pedido para eu ser colocado no Gabu.
- Amadu, onde vais, interrompeu-me, o 1º sargento Cruz.
Que me queria despedir dos colegas, foi a minha resposta.
- Não vais, interferiu o tenente Trindade.
- Porquê, perguntei?
- Porque não vais! E para aqui, imediatamente, salientando bem com um gesto.
Obedeci e calei-me. Entretanto, o tenente Trindade foi-se aproximando de mim. Fiquei tão atarantado que até me esqueci de me pôr em sentido. Deu-me um soco, com força, na barriga, que me obrigou a dobrar-me. Um alferes, de nome Garcia, que estava ali e que viu tudo, quando eu estava a dirigir-me para a caserna, chamou-me e aconselhou-me a ir para Bedanda e, dois ou três meses depois, que requeresse a transferência para onde quisesse. E que não ligasse ao que aconteceu. Mas eu estava incomodado, fui-me sentar na parada, junto às árvores, num canto. Ao longe vi o tenente Trindade dirigir-se a mim. Quando se aproximou levantei-me, pus-me em sentido. Então ele perguntou-me:
- Então já sabes para onde vais?
- Sim, meu tenente!
- Para onde?
- Para Bedanda, meu tenente!
- Pois, é tropa!"
vbriote

Anónimo disse...

Caro Briote,
É assim com o cruzamento dos acontecimentos, que se faz a verdadeira história da Guerra na Guiné, contada na primeira pessoa.
Um Abraço,

Mário Fitas

Luís Graça disse...

Meu caro Virgínio: Obrigado por teres posto em linha este filme, notável, do George Freire, por teres feito tudo o que sabias e podias para facilitar o nosso acesso....

Meu caro George: Obrigado por queres partilhar connosco, teus camaradas da Guiné, este pedaço da tua comissão militar no CTIG, Set 62 / Mai 63, que coincide justamente com o início da guerra de guerrilha... Ao mesmo tempo partilhamos também a tua intimidade, e ficamos com a ideia, errada, do 'dolce far niente' que aparentemente caractrizava a vida de um oficial do QP, comandante de companhia... Mas a borrasca estava para vir e já havia, de resto, sinais da brutalidade da guerra...

Tens, de certo, a noção da grande importância documental deste teu filme, que é absolutamente uma raridade... Poucos militares tinha, na época, meios técnicos para reproduzir, em som e/ou imagem, aspectos do seu quotidiano, da vida nos aquartelamentos, das paisagens e até da actividade operacional... Uma câmara de filmnar super 8 era um luxo...

Obrigado por este filme, ou melhor por estas três partes de um filme, de quase meia hora no total, que graças a ti e à tua sensibiliddae cultural, escapou à morte certa, isto é, ao caixote do lixo...

Um grande abraço para os dois.

Luís GRaça

Santos Oliveira disse...

Obrigado George Freire, Obrigado Briote

Não pude conter uma lágrima teimosa.

Revi lugares com cor e movimento. Revi as velhas Auster que precederam as Dornier, revi a cor e só faltou o perfume quente e húmido, revi, revivi...

A História, ao contrário do que se vem pretendendo fazer passar, é feita de presenças, de narrações e participações, de vidas mais ou menos partilhadas, de imagens.

Aqueles que por opções indiscutíveis se colocaram fora dela, jamais poderão ter lugar dentro dela.
Para os tais, a História é outra: egoismo, temor, poder ser e estar e, infelizmente para uma maioria, a escolha entre o sacrifício com risco ou sem ele.

Bem hajas, tu e quantos nos antecederam e precederam com honra.

Obrigado por esta partilha.

Abraços
Santos Oliveira

Anónimo disse...

Caros George Freire e Briote, parabés pela partilha dos vídeos.
Abraços fraternos do
JOSÉ BORREGO