domingo, 14 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4518: Controvérsias (23): Sob a evacuação das NT de Madina do Boé (Armandino Alves)


1. O Armandino Alves foi 1º Cabo Enfº da CCAÇ. 1589 (1966/68), em Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, enviou-nos mais uma mensagem, em 12 de Junho:


Camaradas,

Estive a ler o testemunho do falecido Coronel Hélio Felgas, sobre os motivos que levaram à evacuação de Madina do Boé.

Uma das coisas que diz é que a sua companhia não estava lá a defender população, pois não havia nenhuma.

Basta ir ao Poste 1292 e logo na primeira foto que se lá vê (uma vista aérea de Madina do Boé), é bem patente a existência de várias tabancas. Ou será que aquelas “coisinhas” em forma de cogumelos, que se vêem terão sido lá “plantadas” pelo fotógrafo?

Não é verdade! Madina do Boé tinha a sua população, embora não fosse uma Nova Lamego ou uma Bafatá. Porque não perguntou ele ao nosso Comandante da Companhia o que foi feito dessa população?

Talvez os Altos Comandos não estivessem interessados em saber a verdade. Não sei se foi por sugestão do Cmdt dessa Cia. que as populações abandonaram Madina do Boé, se foi por verem que nem eles próprios se sabiam defender.

O IN só tinha um sítio de onde podia atacar com eficácia, que era o aquartelamento situado no cimo de uma colina, local este que a minha Companhia tinha sob mira do nosso canhão e dos morteiros 81.

Por esse motivo, se eles atacassem, só tinham tempo de disparar uma vez. Claro está, esta hipótese apenas teria lugar no caso de não serem detectados de imediato.

Essa Companhia, no 1º ataque que teve esbanjou todas as munições que lá lhe deixámos, mais as que tinham transportado e armazenado quando para lá foram, tendo que ser, posteriormente, reabastecidos pela FAP.

Isto soube-se em Bissau, ainda eu lá estava, pois só vim para a Metrópole em Setembro.

Mesmo assim apelidaram-nos, a eles, de Bravos de Madina. E as outras Companhias que lá estiveram o que foram? Turistas a passar férias?

Dá a ideia que nós tínhamos umas sardinhadas com o IN às segundas, quartas e sextas, e às terças, quintas e sábados, éramos convidados deles. Aos Domingos descansávamos todos juntos.

Mesmo os mortos que tiveram no CheChe, por todas as leituras que fiz da “coisa”, foram provocadas por uma ordem errada.

O que acho graça no meio disto tudo, é que numa situação idêntica, que todos bem conhecemos, um Homem foi punido por salvar a sua Companhia e a população civil sob a sua protecção evitando um massacre e, neste caso com mortos à mistura, não se procurou um qualquer responsável.

Até no filme, sob este assunto, conseguiram branquear as culpas dos seus intervenientes.

É este o infeliz país que temos e, creio eu, nada o mudará!

Armandino Alves
Ex 1º Cabo Enfº CCAÇ. 1589
_________

Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite Armandino,
Podes ter razão no cotejo que fazes. Todavia, não devemos ser juízes de causas desconhecidas, e eu desconheço totalmente o acidente no Corubal.
Mas admito que tenhas razão, já que a tropa foi dos sítios mais corporativistas que conheci. A diferença, é que um afrontou o poder, enquanto o outro apenas subscreveu a participação do acidente.
Um abraço
J.Dinis

Anónimo disse...

CARO ARMANDINO,

HÁ MUITO QUE A HISTÓRIA DE MADINA DO BOÉ ME DEIXA DÚVIDAS.
FOI BOM TERES TRAZIDO À POLÉMICA ESTA QUESTÃO.
SE PUDERES SER AINDA MAIS PRECISO,JULGO QUE TODA A TABANCA TE AGRADECERÁ. OBRIGADO
MANUEL MAIA