1. O Armandino Alves que foi 1º Cabo Enf da CCAÇ 1589 (1966/68), em Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, enviou-nos mais uma interessante estória, em 30JUN2009:
Camaradas,
Tenho-me dedicado a ler os vários postes publicados e admiro-me como existem camaradas, que conseguem contar ao pormenor factos passados há tantos anos.
Quando foi necessário escrever a História da Companhia de Caçadores 1589, desde a sua formação, embarque, desembarque, operações efectuadas e quejandos, o Capitão da Companhia incumbiu o Alferes Leitão de o fazer.
Só que o referido Alferes não sabia escrever à máquina e teve de arranjar uma “vítima”.
Tocou-me a mim essa tarefa, que só era feita depois do jantar na secretaria da unidade e com tudo fechado, pois era considerado “sigilo militar”.
Os textos eram dactilografados em quintuplicado, e era necessário estar sempre a mudar os químicos, senão a 4ª e 5ª cópias ficavam ilegíveis.
Foram dias e dias nesta azáfama e que custavam ao alferes, 1 “bazuca” e duas sandes de atum por dia.
Mas lá me desenrasquei e conseguimos dar o serviço pronto, a tempo e horas, para ser entregue no QG.
Agora os meus amigos acreditam que eu não me lembro de nada do que escrevi então?
Bem sei que naquele tempo uma ordem para esquecer, era mesmo para esquecer.
O que hoje eu escrevo é sobre o que me lembro e basicamente por aquilo que passei, pois a Companhia realizou várias operações, de que eu não sei sequer os nomes de código e as datas, quanto mais o que nelas aconteceu, pois naquela altura quanto menos pormenores soubéssemos melhor.
Uma vez em Bissau, num domingo, fui dar uma volta, beber umas “bazucas”. Quando achei que eram horas de regressar ao 600, lá vinha eu no meu vagar a pé por ali fora, devidamente uniformizado a pensar na minha vida e, ao passar na Praça do Império, não reparei que estavam a arriar a bandeira nacional no Palácio do Governador.
Surgiu então ali, em grande velocidade, um jipe da PM, do qual saltou um Cabo e me interpelou sobre o motivo, porque é que eu não tinha parado e feito a continência à nossa bandeira.
Expliquei-lhe que não tinha ouvido o toque, porque vinha a pensar noutras coisas, e nem sequer tinha reparado que estavam a arriar a bandeira. O Cabo não esteve com meias medidas e deu-me voz de prisão.
A minha sorte, foi que, em vez de me levarem para o QG, levaram-me para o 600 onde estava como oficial de dia o meu Capitão.
Foi estes último que me safou de uns dias de detenção.
Armandino Alves
1º Cabo Enf CCAÇ 1589
_____________
Notas de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
29 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4601: Estórias avulsas (36): O insólito aconteceu (Rui A. Ferreira)
3 comentários:
Amigo Alexandrino
Como ves,tu tambem te lembras.
Lembras-te das situações que te afectaram mais directamente,pela positiva ou pela negativa.Muitos pormenores tambem surgem em função da intensidade do facto vivido.
Ora pensa lá e diz-me se não te lembras da bajuda mais linda de Bissau,de chocolate pintada, com peitos de escultura e silhueta elegante,a arrastar a sapata ?
Ves como lembras?È essa mesmo!
Quanto ao teres tido voz de prisão,
bom...tinham que justificar a guerra deles,e a fama de serem "beras",não? De qualquer dos modos julgo que era considerado crime(?).
Agora nada disso deve
acontecer,pois pouco se liga já à Bandeira ou ao Hino (pelo menos na vida civil),infelizmente,com o nosso consentimento por omissão e por laxismo!
"Mudam-se os tempos..."
Um abraço
Luis Faria
Armandino
Peço-te imensa desculpa pelo lapso da troca de nome.
Um abraço
Luis Faria
CARO ARMANDINO,
TAL COMO O LUIS OBSERVOU,OS PMS TINHAM DE "FAZER A GUERRA DELES"...
POR OUTRO LADO, PODIA ESTAR ALGUM FULANO DE DRAGONAS LARGAS A VER A SUA INTERVENÇÃO E DEPOIS "COMIAM" ELES SE NÃO AGISSEM.
O SIMPLES FACTO DE NÃO TE LEVAREM PARA O QG,JÁ DIZ MUITO, CREIO BEM...
TIVE UM CASO IDÊNTICO AQUI NO pORTO ERA ENTÃO CABO MILª EM vISEU E IA PARA PERTO DO QG ONDE AGUARDARIA EM CASA DO ROMÃO A CHEGADA DO GALEÃO E DO BARBOSA QUE NOS LEVARIA PAR O 14.
SAÍ NA ESTAÇÃO DA TRINDADE,IDO DE P.RUBRAS, NA COMPANHIS DE DOIS RAPAZES A QUEM DAVA INSTRUÇÃO EM VISEU.
lEVAVA AS CALÇAS FORA DAS BOTAS E
DOIS DESSES INDIVIDUOS AMEAÇARAM-ME.
NO FIM AGRADECI A BOLEIA PARA O QG POIS ERA PRECISAMENTE PARA ALI QUE ME DIRIGIA...
ERA A "GUERRA DELES",DO TIPO ALECRIM E MANJERONA...
NÃO SE GOSTAVA DE PMs, PUs,o próprio termo polícia já era por si mesmo suficientemente desinteressante para alguém o suportar,mas..."noblesse oblige" -como diria aquela coisa hibrida do programa televisivo...
VÊ A COISA PELO LADO POSITIVO. SENÃO TIVESSE HAVIDO A INTERVENÇÃO NÃO TERIAS FEITO ESTE POSTE...
UMA ABRAÇO DO MANUEL MAIA
Enviar um comentário