Nota prévia do blogmaster, Luís Graça:
O nosso blogue não pode, sob pena de se desvirtuar completamente, transformar-se numa arena de combate, alimentar mais polémicas motivadas por razões pessoais, idiossincrasias, questões bizantinas, conflitos de personalidade, diferenças de sensibilidade, dissonâncias cognitivas, défices de informação e conhecimento, estatutos sócio-culturais, subtilezas semânticas e conceptuais, divergência de opiniões político-ideológicas, etc....
Só há duas coisas que podem ser letais para a este projecto que é já único na Net, o nosso blogue e a nossa Tabanca Grande:
(i) a intolerância (religiosa, ideológica, política, étnica...);
(ii) os excessos de linguagem (sob a forma de picardias, insultos, etc.).
As nossas eventuais divergências, a existirem e, sobretudo, a transformarem-se em conflitos de opinião (manifestos, abertos...), passarão a ser apenas veiculadas internamente, através da nossa rede interna, ou seja, não sairão do perímetro da nossa Tabanca Grande (mesmo sabendo nós que as nossas moranças não têm portas nem janelas, que não há nenhum perímetro de "rede de arame farpado", postos de sentinela, abrigos, valas, campos minados, etc.)... Nem a G3 nem a Kalashnikov são autorizadas a entrar na nossa Tabanca... Nem mesmo de plástico...
Claro que se mantém a liberdade de comentar os postes, desde que os comentários respeitem o essencial das nossas dez regras editoriais....
Este deverá um dos últimos postes que publicamos, no blogue, cabendo no conceito de polémica (envolvendo, neste caso, três camaradas nossos, o Constantino Costa, o José Brás e o António Matos)...
A nossa vocação primordial não é alimentar polémicas, é contar histórias, é produzir e divulgar informação e conhecimento sobre a guerra colonial de que fomos protagonistas, entre 1963 e 1974. É também partilhar afectos e reforçar laços de camaradagem... É ainda, subsidiariamente, reforçar laços de solidariedade com o povo da Guiné...
Der Krieg ist vorbei, war is over, la guerra c'est finie, la guerra è finita, la guerra ha acabado, a guerra acabou... Peço a melhor compreensão de todos os amigos e camaradas da Guiné, onde quer que estejam. A razão é simples: eu, o Carlos, o Eduardo e o Virgínio, nenhum de nós tem já idade, tempo e... pilhas Duracell para fazer outra guerra ou mais guerras... L.G.
1. Mensagem, com data de 7 do corrente, do José Brás (foto acima, em conversa com o Vasco da Gama, na Quinta do Paul, em 20 de Junho último, no nosso IV Encontro Nacional),
Caro Luís
Desculpa os incómodos que te criei e ao blogue com o meu último post (*). Talvez que por escrito em cima do coração, deixou alguns equívocos e, naturalmente, de quentes reacções por aí.
Tenho que esclarecer algumas questões que ficaram abertas após o desiderato, em dúvida se o devo fazer pessoalmente para endereço dos que reagiram, ou mesmo e de novo para o próprio blog.
Certo é que, se a Henrique Silva não quero responder seja o que for, a António Matos, sim, pelo seu estatuto de tertuliano, pela sua franqueza aberta, pela sua crítica mais sugerida que explicita.
E quero desde logo confirmar o que disse, ainda que possa aceitar que havia outras formas e estilos para o fazer.
Afinal seria absurdo recusar os reparos do António Matos e aceitar os outros que já me enviou noutras ocasiões, empolgantemente positivos.
A vida é mesmo assim, e ter algum dia concordado sobre opiniões, factos e estórias, não obriga ninguém a concordar sempre no futuro. Necessário é que desacordos episódicos não prejudiquem abordagens e convívios futuros.
Fala o António do insulto explícito e soez que parece institucionalizar-se no blog, generalizando mas ficando claro que o que lhe motivou a palavra foi o meu post.
Fala também de 'protagonismos exacerbados', porque ofensivos de todos aqueles que não têm capacidade para intervir.
Também que escouceia perante primarismos políticos (melhor será dizer pseudo-políticos), verborreia facciosa, convicções de autoridade por demonstrar.
Não cito mais nada porque o que quero dizer é que o António ou está enganado ou leu mal o que eu disse ou eu disse o que não queria dizer.
Primeiro!
Não há aqui qualquer questão pessoal na minha reacção ao último escrito do Constantino que não pode separar-se de outros anteriores quer lhe li já. Excepto se se pode chamar de guerra pessoal à expressão de duas visões opostas sobre um mesmo assunto, consequência inevitável de velhos convívios, de crescimentos em ambientes culturais distintos, de abordagens por vias diferentes, às vezes apenas por ocasionais acidentes de percurso que acabam por marcar a perspectiva de cada um.
Recuso é a afirmação sobre primarismos pseudo-políticos, de verborreia, autoridades por demonstrar, linguagem que, se tomada a sério, teria também, por um lado, de ser tida como ofensa, e por outro lado, denúncia também de alinhamentos, neste caso, do outro lado daquele que António Matos me atribui.
Caros camaradas, não é em Constantino pessoa que eu invoco sinais de fascismo e de Salazar.
Precisemos. O fascismo não foi uma realidade virtual que nos últimos tempos em diversas sedes se tem tentado lavar. Existiu, perseguiu, recusou o andamento da história, atrasou este Pais em termos civilizacionais.
É no entanto errado atribuir apenas aos cinquenta anos de Salazar tal prática, porque durante séculos, a persistente mentalidade feudal nos marcou a todos, pessoas, pensamento, acção, de forma mais clara ou mais dissimulada, na maioria dos casos sem que se possam apontar culpas individuais e, se ao sistema, se poderão atribuir a todos, eu e tu incluídos...e naturalmente o Constantino.
As diferenças entre nós situam-se na abordagem ao problema da guerra colonial, ainda que possa acontecer que nem colonialistas tenhamos sido no significado verdadeiro e pleno do conceito político, social e económico da palavra.
Eu prefiro e essencializo a abordagem ao movimento global da descolonização, o direito à independência das regiões e das pessoas ocupadas pela força desde séculos e pela penalização de milhares de jovens que nunca tiraram nada desses povos e eram lançados, queiramos ou não, na repressão das ânsias dos povos ocupados, sofrendo, morrendo, voltando de aparente saúde mas com marcas indisfarçáveis.
Outros, incluindo ao que parece o Constantino, preferem abordar a questão pela honra da companhia, pela lendária valentia deste povo, pela ideia da obrigação de cumprir deveres patrióticos (e aqui nos irmanamos porque também eu adopto a ideia, mesmo que me seja ainda confusa a ideia do patriótico), pelo conceito de vitória ou derrota militar.
Não se estranhe que afirme que de Constantinos (sinais) está o mundo cheio, porque eu próprio sou isto e não outra coisa, em resultado do meu convívio nas vinhas de Alenquer com gente espoliada de tudo, incluindo a dignidade, com gente que saía das Beiras por nove meses de trabalho duro no Sul com pagamento escasso e tratamento de animais de carga, com gente que dava o salto logo que podia e fez de Paris a segunda cidade portuguesa.
E é isto ideologia barata ou apenas a postura consequente a um humanismo formado assim...à sombra do tal fascismo?
Na Guiné não tinha eu obrigações de participar nas saídas, nas emboscadas que fazíamos, nas patrulhas e colunas. Fi-lo muitas vezes apenas por incapacidade de ver outros em risco e, outras vezes, confesso, também por esse apelo estranho (e talvez condenável) do próprio risco.
Não sei se matei ou não, sei que disparei e muito. Sei que vi morrer. Nada que se compare às 16.000 minas que desmontaste.
Quanto à retórica que evoca o António, signifique na dele, "arte de bem falar", "discurso pomposo mas vazio" ou "palavreado inútil", não me apetece comentar já que tenho a certeza fundada naquilo que o António escreveu e eu li, havemos de amigavelmente e sem receio de diferenças, abordar com um bom vinho português na mão.
Aqui, acabou a polémica para mim e, se tu, Luís achares que nem deve ser editado (por via de protagonismos exagerados) nem o publiques, envia-o só ao António Matos com o meu abraço (não encontro o seu endereço na lista).
Nota: Como saiu e sem qualquer revisão, trabalho sem rede, portanto.
2. Mensagem de 8 do corrente, do António Matos (foto à esquerda), o homem das 16 mil minas, que tive o prazer de conhecer ao vivo, na missa do 7º dia da morte de Maria da Glória:
Como poderia eu deixar para amanhã uma reacção a este email do José Brás ?
Seja-me permitida uma pequena vaidade ao dizer-vos que sou transmontano e isto para emoldurar uma "fotografia" que pretendo não fique desfocada, bem pelo contrário, dê a possibilidade de se lhe verem os pormenores e os contornos mais íntimos e intimistas.
Por formação, por educação e muito também pelo que a vida me ensinou, reconheço-me como visceralmente honesto ainda que isso nada tenha a ver com o ser o senhor da verdade.
Regra geral também escrevo ao sabor do dedo, sem correcções e não tenho como norma a escolha das palavras certas para a ocasião certa.
Pretendo que a frontalidade não seja maquilhada de modo a torná-la mais suave mas isso tem custos por vezes difíceis de pagar.
Finalmente permitam-me que, numa auto-apreciação, eu diga que o sarcasmo é algo que aprecio e cultivo mas, como não tenho obra publicada, ninguém sabe se estou a zurzir ou se, dessa vez, falo sem subterfúgios.
Muito bem, postos estes pontos prévios e não indo ser tão exaustivo quanto o José Brás, limito-me a apreciar as consequências das interpretações do que se não-disse-mas-que-ficou-a-ideia-de-ter-dito-sem-dizer.
E tudo isso a par do que se-disse-e-se-queria-mesmo-dizer !
Comecemos pelo 2º ponto :
- Não apreciei a forma do discurso do José Brás relativamente ao Constantino porque (como disse no meu comentário) aquilo era mais próprio de uma troca de opiniões no recato dos dois e não duma discussão aberta. Deu ideia do tal pedido de aplausos.
- Não apreciei o argumento do recurso ao fascismo por manifestamente gasto e já pouco credível neste género de conversas. Como não apreciaria o recurso a qualquer tipologia esquerdista, quiçá comunista, para idênticos fins argumentativos.
- Apreciei a explanação do Constantino e, como disse também, a verosimilhança do descrito.
- Notei alguma similitude com o meu esquema mental que já tinha elaborado após as leituras várias sobre o caso Guileje e que me levou a equacionar uma estória mal contada, essa da retirada by Coutinho e Lima.
Vamos ao ponto 1:
Limito-me a sossegar o espírito do José Brás no que toca às minhas referências ao useiro insulto explícito e soez, à verborreia facciosa, aos protagonismos exacerbados, aos primarismos políticos, etc., et., etc.. pois tudo isso se refere a outro interveniente e não foi o teu post que me motivou a palavra.
É por demais evidente que não vou apelar à honra da palavra pois essa guardo-a para coisas importantes.
O fim de semana passei-o sem acesso à internet o que provocou que, no domingo à noite, ao abrir a máquina e entrando no blog, tivesse visto umas dezenas várias de posts e comentários, muitos àcerca de Guileje ( sempre Guileje! Já enjoa!), redigidos num português que fazia pouco sentido à minha capacidade interpretativa e onde pontificavam aqueles conceitos de forma avulsa e, esses sim, motivaram a minha palavra.
José, querendo crer que aceitas o que acabo de escrever, permite-me que, por outro lado, ao retirar quatro parágrafos do teu post te diga que me caíram muito mal e considerei-os extremamente ofensivos e aos quais reagi.
(...) Constantino... se chama o motivo (**). Não apenas Constantino... porque sei de saber experiente que de Constantinos está o mundo cheio e que, como fala do povo, "não me (nos) ofende quem quer, só ofende quem pode". (...)
(...) A minha angústia começa mesmo é quando me pergunto se terei de conviver, de habitar sob o mesmo teto (leia-se, tabanca), de chamar amigo e camarada, a um tipo com a mentalidade que exibe o senhor, discutir com ele questões que me arrepiam porque debatê-las assim é já, de alguma forma, aceitar-lhes um pó de razoabilidade nas diatribes sobre a vida de seres humanos, seus conterrâneos (e ainda que não fossem), arrebanhados contra vontade para uma empresa sobre a qual tinham mais que muitas dúvidas (sic). (...)
(...) Tudo em nome de uma alegada 'honra da companhia', do dever de imolação no altar da Pátria, de um heroísmo velho e anacrónico face ao movimento da história e à existência dos restos do Império sonhado (com outra desculpa histórica) pelos nossos antanhos.
Para este peditório já dei. (...)
Sem mais explicações porque as não há, recebam um abraço e fico à espera da melhor ocasião para apreciarmos esse vinho e a cereja no topo do bolo seria ...... a presença do Constantino !
António Matos
___________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 7 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4649: Blogoterapia (114): A Honra da Companhia, os fantasmas de Guileje, os limites da tolerância (José Brás / António Matos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
6 comentários:
Estou a ficar farto de tipos que por tudo e por nada atacam e insultam diplomaticamente, julgando que os outros são burros e não atingem. Porque não fazem isso trocando mensagens pessoais sem poluirem o Blogue?
Estamos na idade perigosa, mas lembro os meus amigos que há especialistas em Andrologia que com tratamento hormonal talvez atenuem o azedume que exibem com tanta vaidade.
Mais não digo.
CARLOS VINHAL
Fur Mil Art/MA
CART 2732
Mansabá
1970/72
OBS:-Estive 22 meses consecutivos no mato, mas não estou apanhado nem finjo.
Entre o meu primeiro comentário e este,meteu-se um passeio pela marginal de Leça da Palmeira. Enquanto sentia a forte brisa motivada pela nortada que fazia, lembrei-me de que o comentário feito anteriormente poderia ser interpretado como dirigido ao José Brás ou ao António Matos. Quero que fique bem claro que não, de modo algum.
Refiro-me de um modo geral a todos nós e especialmente àqueles que criam e alimentam polémicas que servem apenas como meio de diversão, e nos desviam dos objectivos principais do nosso Blogue.Um abraço
Vinhal
Carlos Vinhal,
Acabei, e COM MUITO GOSTO, de deitar fora um texto que estava pronto para publicação em forma de comentário em reacção ao teu 1º comentário.
Devo dizer que nada ficaria como d'antes e regozijo-me com o teu esclarecimento posterior.
Abençoado passeio pela marginal ventosa de Leça que pelo seu efeito terapêutico alocou correctamente os cuidados andrológicos a quem de facto deles estará necessitado !
António Matos
Camaradas
Se a intervenção do Constantino foi algo intempestiva, ele tem todo o direito de se manifestar. Não devia ser juíz? Pois essa é a nossa tendência, ajuizarmos por qualquer coisa, até em causa própria. Mas não devia ter sido.
Também foi um pouco contraditório e com recurso a hipóteses? Acho que sim. Mas levanta novos ângulos de apreciação? Parece que sim.
Todavia, o que me chateou foi abrir o computador e ver uma enormidade de textos, do exterior da Tabanca, tirando aproveitamento da intervenção do Constantino.
Relativamente a isso sou de opinião que nenhum atabancado deve fornecer para o exterior indicações relativas aos nossos contactos pessoais. Pode transformmar-se em chatice, como pude comprovar em relação a um de nós.
Mas por favor, tenhamos cuidado com a expressão no sentido de evitarmos qualquer forma de censura. Não é inibir-mo-nos de falar, é antes a maneira como o fazemos.
Abraços fraternos
José Dinis
PS - No caso de partilharem um vinho, se acharem bem, avisem-me, para vos conhecer.
Esperemos que os "Constantinos" tenham aprendido como se "chuta para canto", se navega no "disse mas não era bem o que queria dizer" e no "nem sonhes que o pontapé era para ti".
E com esta me vou porque estou a mais.
Henrique Silva
No meu fraco entender, o Constantino Costa deu a conhecer a sua visão sobre o que se passou no Guileje.
Tem o direito de o fazer, como outros fizeram, e tem também o direito de não ver o seu texto conotado com politicas sejam elas quais forem.
Se formos por esse caminho, seria muito dificil não ver numa grande parte dos textos essa vertente reflectida.
Tem o Constantino Costa para além dos direitos, os deveres, que são apresentar os seus argumentos de uma forma que respeite os que não pensam ou não vêem as mesmas coisas como ele.
E os outros respeitá-lo também nos seus argumentos porque ainda não vi nada que desmentisse categoricamente uns e outros.
Talvez ainda seja cedo para se "fazer" a verdadeira história do Guileje em todas as suas vertentes.
Uma coisa deve estar acima de tudo, cá para mim, e essa é a camarigagem entre todos.
Passámos todos demais, para agora não nos unirmos à volta dum passado comum, que é presente nas nossas vidas.
Abraço camarigo para todos
Enviar um comentário