1. Mensagem de José Teixeira (*), ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, com data de 3 de Setembro de 2009 (*):
Caros editores
Para tentar responder ao repto do Luís sobre os Serviços de Saúde, envio dois textos.
Abraço fraterno
José Teixeira
OS SERVIÇOS DE SAÚDE MILITARES
O Luís Graça lançou mais um desafio - escrever sobre os Serviços de Saúde Militar que tivemos na Guerra da Guiné (**).
Tem razão ao levantar este problema, pois que, sem um aprofundamento dessa realidade, a história da guerra colonial não ficaria completa.
É caso para se perguntar como com tão pouca formação/informação foi possível fazer tanto pela vida dos camaradas e da população que nós, os enfermeiros, servimos.
Para se compreender melhor o Sistema à época da guerra colonial, talvez tenha interesse ir mesmo à base, ou seja, desde a forma de selecção e recrutamento do pessoal, para Furriel, Cabo Enfermeiro e Cabo Auxiliar de Enfermeiro.
Ainda hoje não entendo a razão da divisão em classes diferentes Cabo Enfermeiro e Cabo Auxiliar de Enfermeiro. A instrução era dada em conjunto, sendo que o Cabo Enfermeiro tinha um pequeno aumento no tempo de estágio. Não entendo também o porquê do Cabo Enfermeiro, passar a Cabo logo após o fim do estágio e ser colocado nos Hospitais, enquanto o Auxiliar de Enfermeiro ficava como soldado, quase até ao fim da tropa se ficasse na Metróple e em caso de mobilização ser colocado na frente de guerra.
Fiquei estupefacto quando vi o meu nome na pauta seleccionado para os Serviços de Saúde, quando na vida civil era escriturário. Entretanto o escriturário da minha Companhia era... carpinteiro.
Logo eu que abominava hospitais e uma simples gota de sangue era o suficiente para me provocar mal estar! E porquê Auxiliar de Enfermeiro, quando nas minhas habilitações constava que tinha parte do antigo 5.ºano liceal, actual nono, na área de ciências, onde se estudava o corpo humano em pormenor, se havia camaradas seleccionados para serem enfermeiros que tinham apenas a 4.ª Classe, actual 4.º ano !
Mais admirado fiquei quando sou encaixado num Pelotão de cerca de 50 homens, metade dos quais tinha chumbado por estratégia das autoridades militares na especialidade do CSM – Curso de Sargentos Milicianos, devido ao excesso de Cabos Milicianos, pela enchente provocada no ano anterior, quando classificaram para o CSM toda a gente com o antigo 2.º ano para suprir falhas nesta área.
Era gente com habilitações iguais e superiores ao antigo 5.º ano e havia até um professor primário, logo alcunhado de Professor. Cerca de um terço do pessoal tinha habilitações iguais ou superior ao antigo 2.º ano e os restantes à 4.ª classe.
Note-se que dois camaradas que tinham apenas a 4.ª classe foram para Enfermeiros, tendo o restante pessoal não passado de Auxiliar de Enfermeiro.
O Comandante de Pelotão era um Alferes Médico que em cerca de quatro meses se o vi no quartel meia dúzia de vezes foi muito. Só quando tinha de fazer de Oficial de Dia.
Como instrutores tivemos à partida dois cabos RD. O Tó Mané e o António. O primeiro, Enfermeiro militar, dava-nos instrução técnica, o segundo a instrução militar. Posteriormente fomos brindados com a presença de um Sargento, regressado creio que de um hospital em Moçambique. Homem tão versado na matéria que definia um síndrome como um conjunto de sintomas e um sintoma como um conjunto de síndromes. De qualquer modo, deu-nos alguma formação na área de doenças tropicais e doenças internas e traumáticas
Na instrução técnica tivemos sobretudo de estudar a anatomia humana e de algum modo traumatologia, mas de forma muito rudimentar. Creio bem que o Tó Mané nunca tinha estado em África.
Éramos, naturalmente e compreensivelmente, um grupo rebelde. Os instrutores viam-se gregos para nos controlar. Na instrução técnica, muitos de nós tínhamos conhecimentos superiores aos dos formadores e sobretudo uma capacidade de apreensão da matéria, só que estudar não era connosco. Era um bailinho de perguntas e argumentos que punha os formadores em desespero.
O exame final de toda a Companhia, feito no refeitório da Unidade, com dois vigilantes os nossos RD. Foi copiar~, minha gente, até fartar. Aqueles que apenas escreveram o que tinham aprendido, viram-se ultrapassados pelos que descaradamente copiaram directamente das sebentas.
Seguiram-se três meses de estágio no HMR2 no Porto, numa enfermaria de medicina interna, onde me limitava a distribuir a medicação aos doentes em disputa com mais três ou quatro estagiários. Dei algumas injecções e... fui classificado como Pronto.
Por opção pessoal e antevendo o que me esperava, vagueei voluntariamente por outros Serviços, quando o Sargento Chefe da Enfermaria estava ausente, nomeadamente pela Cirurgia e Ortopedia, onde aprendi coisas bem mais interessantes.
Assim, bem preparado, fui colocado no RAL2 em Coimbra e quando já não esperava ser mobilizado, dado que a Escola seguinte ao meu curso estava a oito dias do fim, caiu a bomba – Guiné.
Aqui esbarrei com Furriéis Enfermeiros tão bem preparados como nós. Um nunca tinha dado injecções, segundo ele, e, assim continuou.
Os nossos verdadeiros mestres foram os velhinhos que encontrámos pelo caminho e as vicissitudes da vida, no terreno movediço onde nos encontrávamos.
Com muito orgulho devo afirmar que nos animava, cabos, furriéis e médicos, uma enorme força de vontade em dar o melhor de nós mesmos. O que sabíamos e o que não sabíamos, para minimizar o sofrimento e salvar vidas, quer dos camaradas militares, quer da população que servíamos. Vivi e testemunhei cenas de profunda heroicidade e dedicação, a que nunca foi dado o devido relevo pelos superiores.
Os médicos, com quem tive o grato prazer de partilhar no TO, foram todos eles de uma dedicação e vontade de vencer as situações com que se deparavam.
Mas isso é assunto para outro artigo, para não ser mais maçador.
Zé Teixeira
__________
Notas de CV:
(*) Vd. último poste de José Teixeira com data de 21 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4850: Os bu... rakos em que vivemos (14): O meu abrigo em Mampatá (Zé Teixeira)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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13 comentários:
Obrigado, Zé, pelos teus úteis e oportunos esclarecimentos sobre a hierarquia e a formação da enfermagem hospitalar...
Eu próprio desconhecia essa subtil distinção entre Cabo Enfermeiro e Cabo Auxiliar de Enfermeiro...
Que raio de país era o nosso! Na hora da verdade, na linha da frente, quando se tratava de salvar vidas, ninguém puxava pelas divisas e galões... Também não havia médico nem furriel enfermeiro. Sobrava tudo para os cabos, que foram os grandes heróis da guerra colonial na Guiné! Como tu, meu amigo e camarada!
Já na vida civil, havia essa estratificação sócio-profissional. Os D.L. nºs 38884 e nº 38885, de 28 de Agosto de 1952, vieram disciplinar e organizar o ensino da enfermagem nas escolas oficiais.
A partir de então, passa a haver três cursos distintos:
(i) Curso geral (Habitações mínimas: 1º ciclo liceal; duração: 3 anos);
(ii) Curso de auxiliares (Habilitações mínimas: instrução primária; duração: 1 ano, mais seis meses de estágio);
(iii) Curso complementar (Habitações mínimas: 2º ciclo liceal, além do Curso de Enfermagem Geral e prática profissional; duração: 1 ano).
Os auxiliares de enfermagem só foram extintos depois do 25 de Abril... Mas isso é outra história... LG
Caro Zé Teixeira,
Era isso mesmo. Li o teu texto e fui recordando aquele Verão de 1967, no RSS, em Coimbra. O nosso Pelotão era mesmo um grupo de "Elite".
Eu apostaria que não terá havido no glorioso Exército Português, um Pelotão de Soldados, com tantos "anos de Liceu".
E havia três jogadores de Andebol do Benfica, um Carrilho, (irmão do Manuel Maria, um Alcaide, (sobrinho-neto do Tomás Alcaide).
E na prisão do RSS estava um Tony Morgan, boxeur e lutador, que nos enchia os ouvidos com leituras sobre o julgamento dos ideólogos do nazismo.
Pois, tudo isto era para preparar técnicos de saúde para a guerra.
Eu, ainda fiz mais um ano no HMP, na Estrela, em Lisboa, mas não aprendi muito mais.
Mas, cumpri...
Um Abraço
Manuel Amaro
Amaro.
Como te lembras bem da nossa realidade vivida em Coimbra. O jogador do Benfica estava sempre desenfiado. Um dia calhou-me na escala de serviço, por castigo, apanhar ervas na parada, para ficar mais limpa. Tive como companheiro de infortúnio o Alcaide, homem muito culto delicado. Um grande amigo, que gostava de reencontrar.
Que bela tarde passamos a discutir/ filosofar as diferenças entre temperamento e caracter. Quanto ao trabalho, nem vê-lo. Passamos a tarde a fazer que trabalhavamos. Quem ficou furioso foi o Barão o cabo da secretaria, lembras-te ?
Abraço.
Zé teixeira
Zé Teixeira e Manuel Amaro:
É sempre arriscado (e muitas vezes abusivo) fazer generalizações... Não se pode dizer que os furriéis enfermeiros não saíam para o mato, a não ser operações a nível de companhia e/ou de batalhão. Eu só falo pela minha experiência (local, limitada ao Sector L1): por exemplo, o meu querido amigo João Carreiro Martins, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) nunca saiu em operações, nunca teve baptismo de fogo... Mas o memso terá acontecido com outros camaradas que tinham funções de apoio (vagomestre, mecâncio auto, transmissões...). O Martins mandava os cabos enfermeiros ou auxiliares de enfermeiro, de certo com a aquiescência do nosso Capitão e do médico da CCS do Batalhão (a que estávamos adstrictos, como companhia de intervenção, se é que o oficial médico tinha alguma intervenção na organização da escala do pessoal do serviço de saúde militar)... Na prática, era o capitão que fazia a gestão do seu pessoal (disponível)...
Mas o caso do Martins pode ter sido uma excepção... Julgo que ele foi muito mais útil no posto sanitário de Bambadinca, prestando cuidados de enfermagem à população local do que no mato...
Muitos outros furriéis enfermeiros tiveram uma grande experiência de combate... Por exemplo, o ex-Fur Mil Enf Jesus (que vive hoje em Mértola), que pertencia à CCav 2538/BCav 2876, estava a dois metros do seu Comandante, o Cap Cav Luís Rei Vilar (irmão do meu amigo e colega do curso de sociologia, Daniel Vilar), quando aquele oficial foi mortalmente atingido, ao que parece numa operação já em território senegalês, em circunstâncias, de resto, que nunca foram totalmente esclarecidas...
Os nossos camaradas ex-Fur Mil Enf, que pertencem ao nosso blogue, poderão, melhor do que eu, dizer da sua justiça, isto é, contar a sua história... LG
Reparo agora que o pessoal de saúde da minha companhia (CCAÇ 2590/ CCAÇ 12), de origem metropolitana (no toatl não eramos mais do que meia centena) se resumia a 4 militares:
Fur Mil Enfermeiro João Carreiro Martins;
1º Cabo Aux Enf José Maria S. Faleiro;
1º Cabo Aux Enf Fernando Andrade de Sousa;
1º Cabo Aux Enf Carlos A. R. dos Santos...
Dos canos nenhum era Enfermeiro... E o Faleiro, se a memória me não falha (posso estar a cometer uma injustiça), foi evacuado para a Metrópole com uma oportuníssima doença infecto-contagiosa... E se sim, não tenho ideia de ter sido substituído!
Fico espantado de saber que fizemos toda a guerra (de Julho de 1969 a Março de 1971!) apenas com dois cabos auxiliares de enfermeiro... Terá sido possível ?
Meu caro Fernando Sousa, se me estás ler, esclarece lá este imbróglio... Será que tiveste em todas (as operações da CCAÇ 12 e do batalhão) ? Será que nem férias tiveste ? E nunca estiveste doente ? Nem nunca fizeste ronha ? Tens ao menos um louvor do teu capitão ?
Um Alfa Bravo do Henriques
Caro amigo J.Teixeira
O trabalho dos nossos Enfermeiros no teatro de Guerra, ninguem tem dúvidas do seu valor e altruismo ao serviço da população e do exército.
Só não concordo contigo em relação aos Fur. Enf.na Cart.2519, e só nela posso falar,o nosso Fur. Agostinho Duarte Seixas de Magalhães, foi um Deus para todos a sua obra em Mampatá, ficou bem expressa nos anais da Companhia.
Desde Parteiro, Veternário e Op. de Peq. Cirugia o Homem fez tudo. Incluindo as idas pro mato com nosco, porque o mesmo fazia escala com os seus enfermeiros.
Um dia escrevi: como é que tão poucos e sem recursos tanto fizeram e hoje tantos e com recursos nada fazem.
Um abraço de Mampatá
Mário Pinto
No momento não me lembro de quantos elementos era composto a secção sanitária da minha CCAÇ 5.
Havia o sargento enfermeiro, no meu tempo o 2º Sargento Cipriano (que alinhava no mato em operações), cabos auxiliares de enfermagem e maqueiros, normalmente africanos, que faziam o serviço normal atribuido aos enfermeiros.
Fica uma singela homenagem a um enfeimeiro cáido em combate:
Carlos Alberto Leitão Dinis
1º Cabo Auxiliar de Enfermeiro, número mecanográfico 09227569, natural da freguesia e concelho de Oliveira do Hospital, mobilizado no Batalhão de Caçadores n.º 10 em Chaves, faleceu vítima ferimentos em combate originados pelo rebentamento de mina na estrada Nova Lamego - Canjadude em 3 de Agosto de 1970, tendo sido inumado no Cemitério Paroquial de Oliveira do Hospital.
José Martins
No P4891,
Para além dos médicos que passaram por Cufar e do Furriel Miliciano Enfermeiro Juvenal Rodrigues.
Só para dar uma achega a este tema, informo que o Juvenal ou antes a C.CAÇ. tinha uma equipa de enfermagem maravilhosa, felizmente nenhum foi ferido, mas até a nível de secção, sempre um elemento da equipa de enfermagem nos acompanhava.
Se me é permitido aqui fica o meu reconhecimento aos cabos aux. enfº. dos "Lassas": Alberto Torres, Policarpo Sousa Santos e Manuel Pacheco.
Mário Fitas
Caro Luís Graça
Concordo contigo na não generalização.Eu julgo que a maior parte dos Furriéis enfermeiros tiveram o seu baptismo de fogo ou pelo menos foram em operaçõs pelo menos uma vez.Quando a Companhia saía toda para uma operação eram quatro Pelotões e se cada Pelotão tinha um enfº o Furriel tinha que alinhar pois só havia 3 Cabos e quando havia.Mas a Nivel de Pelotão
ele nunca saía. Sabe-mos que além do Serviço de enfermagem ele tinha a seu cargo a gestão do stock de medicamentos da Enfermaria a requisição dos mesmos para o LM, a recepção e control de entrada desses na unidade, além de outras
burocracias que seriam da competência do médico se o houvesse.
Armandino Alves
Luis.
Em parte alguma do texto menosprezo a acção dos furrieis enfermeiros.
O da minha Companhia,que eu tenha conhecimento, saiu duas vezes. Na primeira estávamos estacionados em plena selva, na mata em Samba Sábali, tabanca abandonada perto de Nhala. Um Cabo enf. estava de férias, o outro em Bissau a aguardar transporte. Este teu amigo alinhava todos os dias para a estrada, até que esgotou e informou o Furriel que no dia seguinta não se apresentaria às 6 h da matina, por estar esgotado fisica e psiquicamente. Como de facto não me apresentei e os alferes sabiam do problema foram buscá-lo à cama. Foi-me prometido uma "porrada" quando voltassemos a Buba, por desobediência. Foi o alferes comandante em exercício que me safou, suponho. Da segunda vez, de novo em Buba com dois grupos de Comb. e saídas todos os dias. ESgotado fui informá-lo que me sentia doente e não estava em condições de sair. claro que a ameaça de uma "porrada" veio de novo á baila. Acontece que pelo sim, pelo não, pedi ao cabo de dia que me fosse acordar ao abrigo junto da enfermaria. Este esqueceu-se e o Furriel foi chamado de novo.
O papel de 25 linhas foi escrito, mas o sargento, mesmo à frente dele, rasgou-o e disse-lhe: oh homem tenha juízo.
Andava de tal modo esgotado que o médico me deu baixa. Por esta razão, houve saídas da minha companhia em que o enf. era "pescado" na 2382, criando naturalmente atritos pessoais entre amigos de longa data. O Fausto da 2382 foi o mártir.
Consta que para sacar um louvor (era funcionário Publico) se ofereceu voluntário para uma operação, mas . . . não saiu do cimo da pista de Empada.
Isto não me impede de de afirmar que conheci furrieis enfermeiros de grande valor, dedicação e vontade de servir.
Zé Teixeira
Não era condição essencial que um furriel enfermeiro para ser bom tivesse que alinhar nos patrulhamentos, emboscadas, e operações.
Não me lembro do Fur. Mil Rui Esteves, também tertuliano, da CCaç 3327 alinhar no mato, pelo menos no dia a dia. Contudo era um enfermeiro de execelente qualidade, dedicado ao seu serviço, e que desenvolveu uma acção extraordinária junto das populações dos destacamentos de Teixeira Pinto.
O furriel Esteves quando confrontado com a grande quantidade de doentes que acorriam aos postos de socorro, viu-se na necessidade de preparar alguns auxiliares que prestavam os primeiros socorros nas localidades onde viviam. Entre os que foram preparados, o Revoredo terá sido aquele que mais se destacou, pois acabou por se dedicar de alma e coração às suas novas responsabilidades.
Nos casos mais graves, os doentes teriam, quando possível, que se deslocar aos postos sanitário de Bassarel, e mais tarde a Chulame para onde o furriel havia sido deslocado. Aqueles que não podendo deslocar-se pelos seus próprios meios, eram transportados pelos nossos unimogs para os referidos postos de socorro, ou mesmo evacuados para Teixeira Pinto, sempre que o furriel assim ditasse.
A acção máxima da nossa companhia, e em particular do nosso furriel enfermeiro, era que todos os militares e a população tivessem a assistência médica possível nas circunstâncias de então.
Mais tarde, já em Bissassema, e por ordem do comandante da companhia, o furriel Esteves ainda acarretou com a responsabilidade de ensinar e preparar os soldados sem formação escolar para os exames escolares, obrigatórios na altura.
A memória diz-me que o furriel Esteves não foi oficialmente louvado (admito estar errado).
No entanto, há um louvor que ninguém lhe pode tirar: O respeito e a apreciação dos seus camaradas.
O furriel Esteves e a sua equipa de trabalho desenvolveram a sua acção humanitária com muita eficácia, respeito e carinho pelos seus doentes, fossem eles militares ou população em geral.
José Câmara
Que me lembre, e não me lembro de nada a sério, só uma vez precisei de serviços de enfermagem. Fora do HMP de Bissau, bem entendido. Melhor dizendo, não para mim, mas para um dos meus rapazes, açoreano de boa cepa, mas que naquela noite a pinga não lhe caiu bem. Chamaram-me os outros rapazes para acudir ao moço que já estava na enfermaria, todo "morto". Como disse já não me lembro de nada. Mas naquela hora lembrei-me de pedir auxílio ao furriel enfermeiro, o "velho" Amilcar, que estava deitadinho na sua bela cama e não estava nada interessado em ser encomodado. Depois de uma "ligeira" escaramuça, o Amilcar lá foi auturizar ou dar - como digo já não me lembro de nada - uma pica ao rapaz. Remédio santo. O resto são estórias da história. Só quero dizer na minha, que um cabo enfermeiro ou lá como lhe chamavam, na minha "guerra" não mandava nada. Mas o furriel enfermeiro era o dono e senhor de tudo. Até da chave dos medicamentos. Luís, havia sim furrieis enfermeiros. Eu pelo menos conheci um. Não me lembro se conheci mais algum. Mas também não me lembro de nada a sério...
Um abraço para a Tabanca e em especial para o nosso Zé da Bajudas.
Camaradas
Desculpem se no comentário anterior aparecerem uns errositos, sejam ortográficos, de semântica, gramaticais, ou tudo junto. Não liguem a coisas de pormenor. Como agora se usa dizer, as coisas estão complicadas. O môsto ainda não saiu da minha cabeça.
Mais um abraço para a Tabanca
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