Guiné > Zona Leste > Galomaro > CCS/ BCAÇ 3872 (1972/74) > O Juvenal Amado, 1º Cabo Condutor, segurando ao colo o irmãozinho da sua lavadeira.
Foto: © Juvenal Amado (2009). Direitos reservados.
1. Dois textos enviados recentemente por dois camaradas nossos sobre o (e)terno tema do amor e sexo em tempo de guerra... O pré-texto é o último poste do Vitor Junqueira (*)... O primeiro texto que publicamos é da autoria do Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74, autor da série Estórias do Juvenal Amado. O outro é de um camarada que conheceu o TO da Guiné mas também de Angola e Moçambique... Não faz parte da nossa Tabanca Grande, é um leitor assíduo do nosso blogue. Vamos apenas identificá-lo pelas iniciais S.N.
(i) O que fica para além do amor
por Juvenal Amado
A desproporção das imagens que temos em relação ao que descrevemos, deixa-nos órfãos de um sabor a pouco.
Ao contrário do acto, o amor não é negociável. Na Guiné vários foram os amores, que duraram para além da relação ocasional.
Pelo o que li sobre a Fanta (*), ela transformou o que seria uma relação fugaz e sem futuro, numa belíssima estória de amor.
Sim, ela deu o primeiro passo, escolheu o seu homem e resolveu como seria a sua vida enquanto amante daquele soldado jovem, que a iria deixar mais tarde ou mais cedo, só com a recordação.
Como quem nada tem a perder deu o que tinha, as marcas deixadas no soldado, emoção com que escreve, extravasa quando lemos o seu relato daquele amor.
O amor transborda em cada parágrafo, facilmente visualizamos as imagens, vale o amor em que tudo é dado nada se troca, nem o tempo.
Outras também escolheram a felicidade fugaz, limitada no tempo que duravam as comissões.
Foram poucos os Valenças.
A Jarulema, a Mariama, a Fátima são a recordações que mantenho desses amores não ocasionais, que militares da minha companhia lá deixaram.
Um caso houve que uma menina nasceu fruto de um desses amores. O pai, sendo militar da minha companhia, logo fez planos para perfilhar o bebé, tendo informado a família na Metrópole do facto. Quis o azar que o bebé não sobrevivesse ao parto, pois a mãe, não sendo de Galomaro, só recorreu aos serviços de saúde do quartel muito tarde.
Quem lá não esteve dirá como foi possível abandonar-se depois essas mulheres. Como esquecer o doce, morno e terno abraço. Na verdade a solução passou por cada um regressar ao seu Mundo, já que o soldado não escolhia o dela muito menos ela, podia escolher o dele.
Admiram-se os nossos familiares e amigos, que não conheceram aquela terra pobre sofrida da nossa permanente recordação. Não sabem como ela se agarrou a nós, num misto do amor e ódio, de onde só ficou o amor e a saudade.
E o amor nunca é negociável.
Juvenal Amado
(ii) Uma namorada chamada Halima
por S.N.
Amigo Luís, e quiseres publicar um excerto truncado + imagem do meu 'Caderno de Jornalista' (podes omitir a autoria), em abono da tentativa de reconciliação que o Junqueiro faz e a favor de uma ideia que se pode insinuar de que nem todas as putas eram vistas como puta-objecto-barato ou que nem todas as relações com as miúdas 'de lá' eram sumárias relações de poder brutal e intempestivo... aqui tens.
em áfrica, tive uma namorada chamada halima. que linda!
morava numa casa de adobe, com capim por cima; não é como cá!
era perto da praia e a meio da noite, íamos nadar, trilho abaixo, de pano enrolado à cintura, para o mar; e o leopardo por ali, a rondar...
depois vínhamos para cima enlaçados, devagar, para a cama de paus ondulados, dormir e lá dentro chovia, na terra preta do chão, de áfrica.
não é como cá. é mais empolgante, lá!
__________
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes de:
18 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4975: (Ex)citações (46): Se eu fosse mulher sentir-me-ia duplamente envergonhada... (Vitor Junqueira)
31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: Histórias de Vitor Junqueira (7): A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Luís,
Como sabes estou a rescrever "Putos Gandulos e Guerra" a história da "Miriam" está quase prota, só falta passar pela revisão de texto. Vou tentar a 2ª Edição revista e um pouco modificada. No entanto assim que tiver pronta a "Miriam" mandarei para se quizerem publicarem no blogue.
Mário Fitas
CARO S.N.
QUERIA CUMPRIMENTAR-TE PELO BELO ENCADEAR DE PALAVRAS SOBRE A TUA HALINA.
A VIDA DE
ÁFRICA PROPORCIONAVA ESTE TURBILHÃO DE SENTIMENTOS, QUE TODOS, DE FORMA MAIS OU MENOS INTENSA,SENTÍAMOS.
UM GRANDE ABRAÇO.
MANUEL MAIA
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