1. Mensagem de José Manuel M. Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, com data de 22 de Setembro de 2009:
Caríssimo Carlos,
Anexo um extracto da "História da Unidade", respeitante ao mês de Setembro de 1970, portanto, sem qualquer cunho pessoal ou interpretativo, ao contrário dos escritos anteriores. Parece-me que, para valorização desta narrativa, vou passar a intercalar os meus textos com a transcrição da história oficializada da 2679. Isto, independentemente de outros camaradas virem a terreiro contar as suas experiências nos diferentes particulares da permanência no CTIG. Mas não só histórias, também outros conhecimentos, que podem referir-se à instrumentação agrícola, ou ao conjunto de orientações do Alcorão contidos na tábua sagrada, usos, costumes e mézinhas, principalmente fulas, étnia predominante nas regiões por onde andámos. A ver se eles aparecem, porque alguns vêm o blogue.
Um grande abraço para ti e para a Tabanca.
Da História da Unidade da CCAÇ 2679
Situação geral durante o mês de Setembro - 70
Durante o mês de Setembro processaram-se modificações sensíveis no quadro dos efectivos das forças estacionadas em Bajocunda.
- A 1.ª Companhia de Comandos Africanos que reforçava a zona regressa no dia 13 deste mês a FÁ MANDINGA.
- A CART 2438 que a Companhia rendeu no Sub-sector segue no dia 21 para Bissau a fim de embarcar para a Metrópole, por ter chegado o termo da sua comissão.
- Chegou a Bajocunda vindo de Piche, 02 GrCombate da CCAV 2747 que ficam na situação de reforço temporário à Companhia.
- O dispositivo no dia 30 era o seguinte:
- Comando e 02 GrComb. ... Bajocunda
- 01 GrComb ... Copá
- 01 GrComb .... Tabassi
- 9.º Pel Art ... Bajocunda
- Pel Caç Nat 65 ... Copá
- Pel Mil 269 ... Amedalai
- 02 GrComb da CCAV 2747 ... Bajocunda
Prossegue a intensa actividade operacional no Sub-sector.
A Companhia pica diariamente o itinerário Bajocunda/Pirada.
O Pel Caç Nat 65 reforça temporariamente Tabassi até 16SET70, inclusive, véspera da sua ida para Copá, a fim de render o GrComb da CArt 2438.
Tal como no mês anterior a actividade do IN foi muito reduzida, resumindo-se a uma flagelação sobre o Destacamento de Copá, sem quaisquer danos às NT ou à população.
Devido às intensas chuvas caídas o trânsito auto faz-se com muita dificuldade em todos os itinerários, fazendo com que a Companhia fique isolada durante alguns meses em consequência das cheias dos rios BIDIGOR e MAEL JAUBÉ, tendo às vezes de se fazer o reabastecimento de Pirada para Bajocunda por meio de barcos pneumáticos.
O péssimo estado dos itinerários (e só como tal são considerados os que a carta assinala como estradas) provoca elevados danos nas viaturas auto.
Ao péssimo estado que atingiram as estradas percorridas pelas viaturas, consequência das chuvas acrescido da contínua falta de sobessalentes auto, resultou numa situação muito delicada, quanto a viaturas auto operacionais.
A população entrega-se, no período, a actividade intensa no sector agricola.
As NT prosseguiram a sua actividade normal de patrulhamentos da área sob a sua responsabilidade e de contacto com a população.
De salientar ainda o reforço da Companhia na melhoria das suas instalações a fim de proporcionar um mínimo de conforto e bem-estar ao pessoal. Isto é de salientar por ser feito nos intervalos da actividade operacional, com o pessoal bastante cansado.
Seguem-se resumos de actividade diária em que a Companhia esteve envolvida, destacando-se 21 patrulhamentos nas regiões de Bajocunda e Copá.
Meu comentário:
Quanto à referência às más condições em que se encontrava o parque auto, deve ter-se em conta que a Companhia aceitou-as no mau estado em que se encontravam, presas por pontas, como soi dizer-se, em negociata de bastidores, num porreirismo cúmplice com a Companhia rendida. Desta atitude resultaram, de facto, muitas dificuldades para a actividade operacional. Seria bonito, no entanto, confrontar os consumos constantes dos mapas de gestão, com o número de viaturas disponíveis e os quilómetros percorridos. Mas, obviamente, esta análise não é passível de se fazer agora. O que se verificou em todo o resto da comissão, foi um sufoco no número e qualidade de viaturas disponíveis, sendo frequente o recurso a viaturas emprestadas. De certeza, porém, como já referi anteriormente, foram os operacionais que correram riscos inusitados, amontoando-se, frequentemente, um grupo de combate em uma ou duas viaturas, por vezes com taipais, que para além de incómodas, representavam um passaporte para a outra vida, em deslocações diárias pelas picadas, com os riscos decorrentes de minas ou emboscadas.
Nunca o comando da Companhia manifestou qualquer sensibilidade para o problema, e nunca foi apurado o quantitativo do nagócio associado. Sabia-se, porém, que por diversas vezes o Furriel MAR era confrontado com exigências e ameaças punitivas, absolutamente insensatas, provenientes daquelas cabecinhas pensadoras, destituídas dos mínimos conceitos éticos e de responsabilidade.
Deste quadro deriva, na minha interpretação, um primeiro grande alheamento do General ComChefe, que não soube, ou não quis saber, criar e implementar eficazes equipas de inspecção ao material circulante, aos depósitos de géneros e material de guerra, às instalações de cozinhas e refeitórios, dotando-as de auditores que garantissem uma rigorosa distribuição da despesa, bem como mínimos de qualidade de vida aceitáveis. Porque em muitos casos o pessoal ficava à mercê dos abutres das dotações financeiras. E isso aconteceu até ao fim da comissão na 2679.
Quanto à movimentação de pessoal, reza assim:
Durante o mês de Setembro - 70
Abates ao efectivo:
- 1.º Cabo NM 07137969 - ANTÓNIO LUDGERO RODRIGUES CRÓ (Foxtrot)
Abatido ao efectivo desde 03SET70 data em que foi evacuado para o HNDIC, por motivo de doença, ficando na situação de Além do Quadro, (QOIEM) até decisão da Junta Hospitalar.
- Soldado At NM 04019569 - ANTÓNIO EVANGELINO RODRIGUES AGUIAR
Abatido ao efectivo desde 30SET70, data em que faleceu por motivo de doença.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 16 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4966: História da CCAÇ 2679 (26): Passeio fronteiriço e, A GMC e o coelho na coluna ao Gabú (José Manuel M. Dinis)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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3 comentários:
Caro José Dinis
Neste momento, a tua narrativa, que eu acompanho, já alcança Setembro de 70. Como fui para essa zona em Dezembro fico a aguardar pelo que possas contar sobre esses tempos.
Um abraço
Hélder S.
CARO ZÉ,
O PORREIRISMO ACONTECIA COM AS VIATURAS E ...TUDO O RESTO.
DEPOIS HAVIA SEMPRE UM SARGENTO SALVADOR QUE SABIA "APROVEITAR" UM ATAQUE REAL OU APENAS DO PAPEL,QUE IRIA REPOR AS SITUAÇÕES...
OS VAGUEMESTRES CONSEGUIAM TAMBÉM RECUPERAR "PERDAS" COM OS MESMOS "ATAQUES"...
CONHECI UM CASO EM ANGOLA, COM UM CONHECIDO MEU, QUE ENVOLVIA A VENDA E MONTAGEM DE MOTORES, OU PARTE DELES,DE MARCA MERCEDES EM VIATURAS CIVIS,EXECUTADA EM QUARTEIS...
FOI UM "VER SE TE AVIAS"...COM O ERÁRIO A PERMITIR FORTUNAS A MUITA GENTE...
ERAM GÉNEROS ALIMENTÍCIOS QUE SE DESVIAVAM PARA ABASTECER RESTAURANTES DAS CIDAES,ERAM COMBUSTÍVEIS VENDIDOS OU TROCADOS A CIVS E ATÉ INIMIGOS (COMO SE SOUBE AGORA...), ENFIM AQUILO A QUE SE PODE CHAMAR UM AUTÊNTICO "FORROBODÓ"...
QUANTO AO FURMAR(FURRIEL MECÁNICO AUTO RODAS,CREIO) ERA USADO PELOS SABIDÕES PROFISSIONAIS...
UM ABRAÇO
MANUEL MAIA
Manel,
Continuas a manifestar-te um ser vivo e com revolta pela indecência.
O Furmil, levou uma vida de perseguição por ter negado colaboração no negócio da compra de gasolina. Era um homem às direitas, de sólida formação moral. Mais a diante revelarei outros dados que dão conta do que foi a vida desgraçada da companhia, pela acção dos dois sorjas e do Trapinhos.
Abraço
JD
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