domingo, 20 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4985: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (15): Convívios e o Hino Nacional



1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), enviou-nos a sua 15ª história do seu livro "Golpes de Mao's - Memórias de Guerra", com data de 10 de Setembro de 2009, que mais uma vez muito agradecemos.

Camaradas e Amigos,



Esta é a minha história nº. 15 - CONVÍVIOS E O HINO, que pretende ser uma sátira aos jogadores da nossa Selecção Nacional de Futebol, que nem cantar o Hino Nacional sabem.

CONVÍVIOS E O HINO

1 - CONVÍVIOS

Se não é caso único... deve andar por lá perto!

Desde Maio de 1967 até aos dias de hoje os ex-combatentes da C.Caç. 675 reuniram-se todos os anos, o que quer dizer que já estão atingidas e ultrapassadas mais de 40 reuniões.

Repetimos... Se não é caso único... andará por lá perto!

Guardamos ainda a convocatória para a 1ª. Reunião de 7 de Maio de 1967. Uma comissão de 3 elementos – que então viviam e trabalhavam em Lisboa (António Duarte Santos, José Eduardo Reis Oliveira e Belmiro Tavares) convocava (por escrito) os camaradas de armas da Guiné para uma reunião que «constará de uma missa por alma dos companheiros falecidos, seguida de um almoço de confraternização».

A concentração era marcada para as 10h00 do dia 7 de Maio junto ao monumento da Praça dos Restauradores.

Na primeira reunião –por falta de moradas – só estiveram presentes 17 componentes da «gloriosa 675» .

Depois foi-se passando a palavra e de ano para ano mais gente foi aparecendo.

Nos primeiros tempos só com as mulheres, depois com os filhos... até se chegar à época dos netos!

A primeira “comissão” desfez-se – o Santos foi para Portimão e o Oliveira foi para Alcobaça – e ficou em Lisboa o Tavares.

O ex-Alferes Tavares conseguiu uma autêntica base de dados sobre todos os elementos da “675”.

E ao longo dos anos Belmiro Tavares foi tratando de toda a logística necessária à organização dos convívios. Que aconteceram em Lisboa, em Évora, no Porto Alto, em Pombal, em Alcobaça, em Almeirim, etc., etc.

Guarda correspondência, convocatórias, ementas, recortes de jornais e... muitas, muitas fotografias.

Ultimamente registou-se alguma «descentralização». Alcobaça e Almeirim foram os exemplos recentes. E bons exemplos.

Por motivos óbvios não podemos deixar de referir Alcobaça, que foi um “marco” importante na história dos convívios da gloriosa “675”.
...
2 - O Hino...

Vem a propósito dizer que recordámos esta história por causa do futebol. Passamos a explicar melhor.

Nos recentes jogos da selecção de Portugal com a Dinamarca e com a Hungria a contar para a fase de apuramento do Campeonato do Mundo de 2010,a realizar na África do Sul, lá vimos, mais uma vez a dificuldade com que alguns “naturalizados” –e não só – cantam o Hino Nacional. Uns nem abrem a boca. Outros arranham timidamente algumas estrofes do Hino.

Sinceramente este “hino” do Carlos Queiroz faz-nos ter algumas saudades do “hino” do espertalhão do Luiz Scolari ,que de “burro” não tinha mesmo nada.

Chega agora o tempo de recordar o “convívio” de Alcobaça a que atrás já aludimos .

Recordamos um episódio marcante .Aconteceu no dia 13 de Maio de 2007… mas continua muito actual.

O hino a que nos vamos referir é aquele que há pouco tempo o Mister Scolari transformou em imagem de marca da nossa Selecção Nacional de Futebol. Aquele que começa por... «Heróis do Mar, Nobre Povo, Nação Valente e Imortal...».

Esse mesmo.

Era cerca de uma hora da tarde e chegava ao fim uma missa celebrada pelo Rev.º Padre Artur na bonita e acolhedora Igreja da Maiorga, nos arredores de Alcobaça.

Na assistência estavam ex-combatentes da C.Caç. 675 que tinham cumprido serviço militar na Guiné em 1964-1966.

Estavam ex-combatentes e suas famílias. Eram cerca de 100 pessoas que se tinham deslocado à região de Alcobaça para uma festa de convívio. Comemoravam o 41º.aniversário do seu regresso à Metrópole em Maio de 1966.

As palavras cordiais do Padre Artur, com 23 anos de África no seu curriculum, tinham encerrado da melhor maneira uma cerimónia religiosa tocante em que tinham sido evocados os mortos da Companhia.

Cada nome referido ao microfone pelo ex-Alferes Tavares – nesta fase da vida já são mais de 30 – era saudado em coro pelos antigos combatentes.

Trinta e tal vezes foi gritado «Presente». E... por breves momentos muitos de nós viram... em imagens esfumadas... na memória do tempo... o Soldado Gonçalves, o Furriel Mesquita, o Sargento Marques, o cabo-enfermeiro Martins, o «Campo de Ourique», etc., etc.

Presente! Presente!

Presentes...

Ide em paz e o Senhor vos acompanhe.

Quando nos levantávamos para sair da Igreja... inesperadamente o organista começa a tocar algumas notas que nos fizeram estacar. Os sons eram-nos familiares...

Mas... era o Hino Nacional.

«Heróis do Mar, Nobre Povo, Nação Valente e Imortal... ».

Com as vozes embargadas e os olhos marejados de lágrimas "os velhotes" da 675 cantaram o hino e viveram emocionados um dos momentos mais bonitos de... 41 anos de «regressos».

Espontaneamente uma salva de palmas encheu a capela .

O sorriso discreto do organista selou o momento mágico.

Os homens da 675 não mais vão esquecer o organista da Maiorga.

Depois... o resto da tarde com o almoço, os sorrisos, as piadas, a música do «Soão», os discursos do nosso Capitão de Binta, as histórias da guerra... as memórias.

Especialmente... as memórias.

Daqui para à frente vai haver mais um momento especial para recordar.

O Hino Nacional na Igreja da Maiorga, a 3 Kms. de Alcobaça.

Não o do seleccionador sr. Luiz Felipe Scolari – nem o do Prof. Carlos Queiroz -mas o do organista Sr.António Rosa.

Maior de 60 anos, nascido e residente na Maiorga, perto de Alcobaça, que se orgulha de ser português, e, graciosamente, acompanha os serviços religiosos na Igreja da sua terra. E honrou de forma sublime e espontânea ex-combatentes.

«Heróis do Mar, Nobre Povo, Nação Valente e Imortal... ».

Com as vozes embargadas e os olhos marejados de lágrimas "os velhotes" da 675 cantarem emocionadamente o Hino Nacional porque sabem a letra e..a sentem .

Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675

C/c para a Federação Portuguesa de Futebol, à esp. atenção do Dr. Madail.

Fotos: José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

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