1. O nosso Camarada Luís Dias*, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74, enviou-nos em 22 de Janeiro de 2010, a segunda mensagem desta série, com a primeira parte desta matéria. No Poste P5682, encontra-se a segunda parte.
Chegastes meninos! Partis Homens!
General António Spínola
O Alf Mil Luís Dias
Dedicado a todos aqueles que como combatentes palmilharam as matas, trilhos, bolanhas, picadas, estradas e rios das terras quentes da Guiné, durante a Guerra Colonial.
E ao II Grupo de Combate da C.CAÇ 3491, os meus dilectos camaradas de armas, de “Alma Forte” - os lenços azuis do Dulombi.
ARMAMENTO E EQUIPAMENTO DAS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS E DOS GUERRILHEIROS DO PAIGC NA GUERRA COLONIAL
GUINÉ 1971 - 1974
Iª PARTE
1. ARMAMENTO LIGEIRO
1.1 AS PISTOLAS
1.1.1 FORÇAS PORTUGUESAS:
No século XX, o Exército Português, seguindo os padrões ocidentais, trocou o revólver pela pistola, adoptando, primeiramente, em 1908, a pistola Luger, de origem alemã, no calibre 7,65 mm Parabellum e a Marinha, a Luger, no calibre 9 mm Parabellum (ou seja, ao mesmo tempo que foi distribuída ao exército alemão).
O nosso país volta a adquirir, em 1935, mais pistolas Luger para a GNR, ainda no calibre 7,65 mm Parabellum e, mais tarde, em 1943, volta a comprar, isto em plena II Guerra Mundial, pagando com a exportação de volfrâmio 4 500 pistolas, no calibre 9 mm Parabellum, passando a ser conhecida como: Pistola 9 mm m/943 Luger Parabellum (usualmente chamada apenas de Parabellum), que foi a principal pistola do exército português até aos anos 60.
Durante a I Guerra Mundial, dado estarmos em guerra com a Alemanha e precisarmos de uma pistola para completar o armamento do exército, foi adquirida, em 1915, a pistola m/908, Savage, dos EUA, no calibre 7,65 mm Browning, com o nome de Pistola 7,65 mm m/915 Savage. Esta pistola foi usada em paralelo com a Luger, tendo sido distribuída também à GNR e depois à PSP. Foram retiradas do serviço com a aquisição, em 1961, da pistola Walther P-38 (nalguns teatros de guerra, como Angola, em unidades de cavalaria, continuou a usar-se, em paralelo, a Luger).
As forças portuguesas tinham como pistola regulamentar a PISTOLA WALTHER P-38 (P1).
Walther P-38
A pistola Walther P-38 é uma arma semi-automática, com origem na Alemanha (fábrica Carl Walther), datada originalmente de 1938 e foi a substituta da Luger, como a principal pistola alemã da IIª Guerra Mundial, com provas dadas em diversos teatros de guerra. Em meados dos anos 50, foi seleccionada para equipar o novo Exército da RFA e, com ligeiras alterações, passou a denominar-se P1 e é este modelo que veio para Portugal, passando a ser a pistola das guerras de África.
Características desta arma
- TIPO: Pistola semiauto
- PAÍS DE ORIGEM: Alemanha
- CALIBRE: 9 mm Parabellum
- DATA DE FABRICO INICIAL: 1938
- NÚMERO DE ESTRIAS: 6
- ALCANCE MÁXIMO: 1 600 m
- ALCANCE ÚTIL: 50 m
- ALCANCE PRÁTICO: 5 a 10 m
- PESO: 0, 867 Kg com carregador com 8 munições
- MUNIÇÂO: 9x19 mm a 8 g
- ALIMENTAÇÃO: 8 munições num carregador unifilar metálico, colocado no punho da arma.
- MECANISMO DE SEGURANÇA: Fecho de segurança lateral com imobilização do percutor e imobilização do desarmador.
- FUNCIONAMENTO: Arma de tiro semi-automático com curto recuo do cano e de acção dupla.
1.1.2 FORÇAS DO PAIGC
A pistola usada pelas forças de guerrilha do PAIGC era, principalmente, a TOKAREV TT-33.
Tokarev TT-33
A pistola Tula Tokarev TT-33 surgiu na URSS, baseada no desenho da Colt-Browning e foi a pistola das forças da União Soviética durante a IIª Guerra Mundial, vindo posteriormente a ser fabricada pelos países do Pacto de Varsóvia e pela China até ser substituída pela Makarov, no calibre 9 mm Mk.
Características desta arma
- TIPO: Pistola semiauto
- PAÌS DE ORIGEM: URSS, países do Pacto de Varsóvia e China
- CALIBRE: 7,62 mm Type P
- DATA DE FABRICO INICIAL: 1933
- ALCANCE ÚTIL: 50 m
- ALCANCE PRÁTICO: 5 a 10 m
- PESO: 0,840 kg com carregador com 8 munições
- MUNIÇÂO: 7,62x25 mm Tokarev
- ALIMENTAÇÃO: 8 munições num carregador unifilar colocado no punho.
- SEGURANÇA: A única segurança é feita pelo cão travado (half-cock) a meio de ser armado.
- FUNCIONAMENTO: Pistola semi-automática, funcionando por recuo do cano e de acção simples. As forças do PAIGC possuíram ainda pistolas CZ, de origem Checoslovaca, nos calibres 6,35 mm e 7,65 mm.
1.1.3 OBSERVAÇÕES
A pistola Walther P-38, é uma arma de grande qualidade, muito robusta, tendo-se mantido ao serviço das forças armadas portuguesas ao longo de todos estes anos, embora se preveja vir a ser substituída em breve. É uma arma excelente para tiro prático, sendo nitidamente superior, quer no tipo de munição utilizada (9 mm Parabellum), quer no seu funcionamento, à Tokarev que, segundo alguns autores, encravava com alguma facilidade devido a problemas com o carregador. A Walther tem ainda a vantagem de funcionar por acção dupla (rapidez de disparo) ao contrário da Tokarev que funciona unicamente por acção simples.
1.2 AS PISTOLAS-METRALHADORAS
1.2.1 FORÇAS PORTUGUESAS
Portugal terá adquirido em 1928 para o Exército e como primeira pistola-metralhadora a Thompson m/928, de origem EUA, no calibre 11,43 mm, em pequenas quantidades e rapidamente retirada de serviço. A segunda PM foi a Bergmann m/929, de origem alemã, no calibre 7,65 mm, que foi entregue ao Exército e também à GNR, mas o seu tempo de utilidade não foi muito. A terceira pistola-metralhadora foi a Steyr, de origem austríaca, nos modelos m/935, no calibre 11,43 mm e m/942, no calibre 9 mm Parabellum. No após IIª GM, com o início do fabrico da nossa FBP, a Steyr foi retirada do serviço. Outra PM utilizada e que veio para Portugal durante o período da IIª Guerra Mundial (1942) foi a Sten Mk II, de origem britânica, no calibre 9 mm Parabellum, englobada na aquisição dos carros de combate Valentine e nas auto-metralhadoras Humber. Foi usada pela cavalaria para guarnecer as tripulações dos carros de combate e de veículos de reconhecimento blindado e terá ainda sido usada em África, no princípio dos anos 60 e na Índia nos anos 50.
Aquando do início da sublevação em Angola, Portugal adquiriu três modelos de pistolas-metralhadoras, a Vigneron m/961, de origem belga, no calibre 9mm Parabellum, a Sterling m/961, de origem britânica, também no calibre 9 mm Parabellum e ainda a UZI, de origem israelita, no calibre 9 mm Parabellum, esta muito utilizada pelos graduados em África, todas elas em pequenas quantidades e que foram usadas ao mesmo tempo que a FBP.
A Fábrica de Braço de Prata desenvolvera no pós-guerra uma PM do Major de Artilharia, Gonçalves Cardoso, a que dá o nome de FBP m/1948, arma baseada na Schmeisser MP 40 alemã e na M3 americana, no calibre 9 mm Parabellum e apenas a funcionar em tiro automático. A partir do modelo de 1961, a mesma já tem selector de tiro, podendo efectuar tiro semi-automático ou de rajada.
A PISTOLA-METRALHADORA FBP M/961 iria ser a PM mais utilizada na guerra de África.
FBP m/961
Características desta arma
- TIPO: Pistola-metralhadora
- PAÍS DE ORIGEM: Portugal
- CALIBRE: 9 mm Parabellum
- DATA DE FABRICO INICIAL: 1961
- ALCANCE EFICAZ: 100 m
- ALCANCE ÚTIL: 25 a 50 mPESO: 4,020 kg com carregador municiado
- COMPRIMENTO: 805 mm
- MUNIÇÂO: 9x19 mm Parabellum a 8 g
- VELOCIDADE DE SAÍDA DO PROJÉCTIL: 360 m/s
- ALIMENTAÇÃO: Carregador metálico unifilar com 32 munições
- SEGURANÇA: Imobilização da culatra
- FUNCIONAMENTO: Arma de tiro selectivo automático e semi-automático, funcionando por inércia da culatra, na posição aberta
- CADÊNCIA DE TIRO: 500 tpmA FBP no modelo m/976 já possuía uma manga de refrigeração no cano, tornando-a mais precisa e fácil de controlar no disparo automático.Interessante é dizer-se que a PM FBP possuía uma baioneta, que seria caso único neste tipo de arma.
1.2.2 FORÇAS DO PAIGC
O PAIGC teve vários modelos de pistolas-metralhadoras, de variadas origens, entre elas as PM m/23 e m/25, de origem checa, a Schmeisser MP-38 e MP40, de origem alemã, a Beretta italiana, a Thompson americana, mas aquelas que eram mais utilizados no tempo em apreço eram: a PPSH-41 e a PPS-43.
PPSH-41
“Shpagin”A pistola-metralhadora PPSH-41, concebida por Georgii Shpagin, conhecida pelas nossas forças como a “Costureirinha”, e pelo PAIGC como a “Pachanga”, foi uma das PM mais fabricadas no mundo (mais 6 milhões de exemplares), e largamente utilizada pelo exército soviético na IIª Guerra Mundial. No pós-guerra foi usada nos países satélites, na China, Vietname e nos movimentos de libertação africanos.
Características da arma
- TIPO: Pistola-metralhadora
- PAÍS DE ORIGEM: URSS
- CALIBRE: 7,62 mm Type P
- DATA DE FABRICO INICIAL: 1941
- ALCANCE EFICAZ: 200 m
- ALCANCE PRÁTICO: 25 a 50 m
- PESO: 5,45 Kg com tambor de 71 munições; 4,30 Kg com carregador de 35 munições
- COMPRIMENTO: 843 mmMUNIÇÂO: 7,62x25mm Tokarev
- VELOCIDADE DE SAÍDA DO PROJÉCTIL: 488 m/s
- ALIMENTAÇÃO: Tambor de 71 munições ou carregador curvo de 35 munições
- SEGURANÇA: Através de travamento da culatra na posição recuada ou quando fechada.
- FUNCIONAMENTO: Arma de disparo selectivo de tiro (auto ou semi-auto), funcionando por inércia da culatra, através da posição aberta
- CADÊNCIA DE TIRO: 900 tpm
Sudaev PPS-43
A pistola-metralhadora Sudaev foi fabricada na II Guerra Mundial pela URSS, com o desenho de Sudaev, entre 1943 e 1946 (perto de 2 milhões de PM), e era uma arma mais compacta que a sua antecedente, sendo distribuída às unidades blindadas e pára-quedistas. Alguns autores afirmam tratar-se da melhor PM da IIª GM. Após a guerra foi exportada para muitos países e foi muito copiada. Era conhecida pelos guerrilheiros como a “decétrin”.
Características da arma
- TIPO: Pistola-metralhadora
- PAÍS DE ORIGEM: URSS
- CALIBRE: 7,62 mm Type P
- DATA DE FABRICO INICIAL: 1943
- ALCANCE EFICAZ: 200 m
- ALCANCE PRÁTICO: 25 a 50 mPESO: 3,67 Kg com o carregador completo
- COMPRIMENTO: 831 mm
- MUNIÇÃO: 7,62X25 mm Tokarev
- VELOCIDADE DE SAÍDA DO PROJÉCTIL: 500 m/s
- ALIMENTAÇÃO: Carregador curvo com 35 projécteis
- SEGURANÇA: Colocada à frente do guarda mato, travando a culatra
- FUNCIONAMENTO: Arma de disparo unicamente automático, funcionando por inércia da culatra, partindo da posição recuada/aberta
- CADÊNCIA DE TIRO: 500 a 600 tpm
1.2.3 OBSERVAÇÕES
A pistola-metralhadora FBP não era uma arma fiável, porque tinha a mola de soltura do carregador numa posição que poderia fazer com que alguém, mais nervoso, empunhando mal a arma, carregasse na mola inadvertidamente, soltando o carregador e se desse ao gatilho não sairia nenhum projéctil. Por outro lado, o sistema de segurança não era famoso, porque em caso de queda da arma, poderia dar-se o disparo da mesma (aconteceu-me no Dulombi, em que a arma caiu no quarto e efectuou um disparo inadvertido que, felizmente, não teve consequências). Por estas razões, esta arma, no período em apreço, não era muito utilizada em termos operacionais.
A célebre “costureirinha” dava fama ao nome devido ao “seu cantar” muito próprio (elevada cadência de disparos). Era uma arma pesada, com uma munição não muito potente e com problemas de falhas no funcionamento, quando utilizava o tambor, tornando-se incómoda no transporte, face à sua configuração e devido à sua elevada cadência, consumia muitas munições, não sendo também muito precisa.
A Sudaev aparecia em poucas quantidades e era tecnicamente superior à Shpagin, embora só produzisse disparo automático, compensando, contudo, por ter uma cadência bem mais baixa.
Munição 7,62x25 mm Type P/Tokarev, utilizada na pistola TT33 e nas Pistolas-metralhadoras PPSH-41 e PPS-43
Munição 9x19 mm Parabellum ou Luger, utilizada na pistola Walther P-38 e nas pistolas-metralhadoras ao serviço das forças armadas portuguesas.
1.3 AS ESPINGARDAS
1.3.1 FORÇAS PORTUGUESAS
Uma das primeiras espingardas de retro carga que Portugal teve, embora em pequena quantidade foi a Martini, de origem inglesa, no calibre 11,43 mm, que chegou ao nosso país em 1879. Em 1883, o Alferes do Exército, Luís Castro Guedes, terá apresentado à comissão nacional uma espingarda de sua concepção, num sistema semelhante à Martini, mas de mecanismo diferente – A espingarda Castro Guedes, no calibre 8 mm. Em 1886, o processo de fabrico desta arma é suspenso, quando já existiam alguns milhares de espingardas na fábrica Steyr na Áustria. Por troca, o nosso país recebeu a espingarda Kropatschek, no calibre de 8 mm e mais tarde a carabina da mesma marca. Esta arma de repetição iria ser importante nas campanhas de Pacificação em África, na década de 1890. No final do século XIX, princípio do século XX, Portugal adquire a espingarda Mannlicher, de origem austríaca, no calibre 6,5 mm, por ser mais rápida no carregamento que a anterior (recurso a lâmina de recarregamento), que virá a transformar em 1946, na Fábrica de Braço de Prata, para o calibre 5,6 mm e serão usadas para instrução de tiro. Em 1904 o capitão Alberto Vergueiro concebe uma culatra de ferrolho, diferente do da Mauser e que foi adaptada a esta arma (Mauser G-1898), com o nome de Mauser-Vergueiro m/904, no calibre 6,5 mm, mais tarde no calibre 7,9 mm e que foi a arma padrão do Exército, na I Guerra Mundial nos teatros africanos (Angola e Moçambique) e no continente e ilhas, sendo que o Corpo Expedicionário Português em França, usou a espingarda inglesa Lee-Enfield m/MK III, no calibre 7,7 mm. Em 1937, Portugal adopta a Mauser 98K, com o cartucho de 7,9 mm, de origem alemã, com a denominação Mauser m/937, de 7,9 mm, que é considerada a melhor espingarda de repetição jamais fabricada. É uma das principais armas que segue para Angola, no início do conflito, mas é rapidamente substituída pela chegada das espingardas automáticas. Foi, no entanto, distribuída até 1974, às unidades de recrutamento nativo e na Guiné ela estava presente nos reordenamentos constituídos em auto-defesa e existiam algumas nas tropas de quadrícula.
Mauser 98k
Características desta arma
- TIPO: Espingarda de repetição
- PAÍS DE ORIGEM: Alemanha
- CALIBRE: 7,9 mm
- DATA DE FABRICO INICIAL: 1935
- NÚMERO DE ESTRIAS: 4
- ALCANCE MÁXIMO: 4 500 m
- ALCANCE EFICAZ: 1 500 m
- PESO: 4 Kg com munições
- COMPRIMENTO: 1, 10 m
- MUNIÇÃO: 7,92x35,3 mm Mauser
- VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 755 m/s
- ALIMENTAÇÃO: Depósito fixo para 5 munições
- SEGURANÇA: Imobilização do percutor/cão
- FUNCIONAMENTO: Arma de retrocarga de tiro de repetição
1.3.2 FORÇAS DO PAIGC
As forças do PAIGC, mantinham ainda em algumas unidades a espingarda de repetição Mosin-Nagant que, nos seus variados modelos (M1891-1910, M1891-1930, M1891-1938 e M1891-1944), já tinha servido em muitas guerras, desde a Guerra Russo/Japonesa, a I Guerra Mundial, passando pela Revolução Soviética, a Guerra Finlo/Russa, IIª Guerra Mundial, Guerra da Coreia e Guerra do Vietname, sendo conhecido por “Vintovka Mosina” (espingarda Mosin), entrando ao serviço do Czar Russo em 1891 e mantendo-se em serviço por mais de 60 anos. Foi inventada pelo Capitão Sergei Mosin e pelo desenhador belga Léon Nagant. O modelo M1891-1930 era muito usado pelos “snipers” russos, em especial os famosos Vasily Grigoryevich Zaitsev e Lyundmila Pavlichenko. Uma das particularidades era a arma possuir uma baioneta retráctil incorporada. Foi fabricada em muitos outros países, como a Finlândia, a ex-Checoslováquia, Polónia, Hungria e China.
~
Espingarda Mosin-Nagant
Características da arma
- TIPO: Espingarda/Carabina de repetição
- ORIGEM: RússiaDATAS: M1891, M1891-1910, M1891-1930, M1891-1938 e M944
- CALIBRE: 7,62x54 mm R
- PESO: 3, 9 Kg
- COMPRIMENTO: 1020 mm
- MUNIÇÂO: 7,62x54 mm
- VELOCIDADE INICIAL DO PROJÈCTIL: 800 m/s
- ALIMENTAÇÂO: Depósito fixo de 5 munições
- FUNCIONAMENTO: Arma de retrocarga de tiro de repetição
Simonov SKS
A URSS, com a experiência que estava a ter na II Guerra Mundial, tinha chegado à conclusão da necessidade da criação de uma arma mais curta que as espingardas que existiam, que pudesse operar mais rapidamente, com mais capacidade de fogo, mas mantendo a mesma eficácia. Iniciaram com a criação da Simonov AVS-36, depois a Tokarev SVT-38 e SVT-40 e perto do fim da guerra surgiu a Simonov SKS, que ainda foi utilizada contra os alemães, embora só em 1949 tenha sido adoptada oficialmente. A arma foi posteriormente substituída pela Kalashnikov, mas continuou a ser fabricada pelos países do Pacto de Varsóvia, China, Vietname e Coreia do Norte (largamente utilizada na Guerra da Coreia) e mais tarde entregue aos movimentos de libertação que operavam em diversos pontos do globo.
Características desta arma
- TIPO: Espingarda semiautomática
- PAÍS DE ORIGEM: URSS
- CALIBRE: 7,62 mm M43
- DATA DE FABRICO INICIAL: 1945
- ALCANCE ÚTIL: 400 m
- PESO: 3,850 Kg
- COMPRIMENTO: 1, 021 mm
- MUNIÇÃO: 7,62x39 mm
- VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 735 m/s
- ALIMENTAÇÃO: Carregador interno de 10 munições
- SEGURANÇA: Através de patilha situada no guarda-matoFUNCIONAMENTO: Espingarda semi-automática operando através de tomada de gases.
1.3.3 OBSERVAÇÕES
A espingarda Mauser, embora sendo uma excelente arma, estava deslocada no tipo de guerra que enfrentávamos em África, podendo, eventualmente, ser utilizada como arma de “sniper”, ou em defesa de aquartelamentos.
A Simonov era uma excelente arma, um pouco mais curta que a Mauser e com a vantagem de ser uma a arma que efectuava tiro a tiro automaticamente e possuía um projéctil mais moderno – o mesmo da AK-47. Alguns autores dizem que sofria interrupções de tiro por problemas com o percutor, mas que os modelos mais modernos, em especial a SKS da antiga Jugoslávia, tinham ultrapassado esse problema. Foi muito utilizada nos movimentos guerrilheiros que combatiam as forças portuguesas, em substituição da espingarda Mosin-Nagant (já eram pouco usadas), mas na Guiné, nos anos a que me refiro, a mesma já não se via tanto nas forças do PAIGC, em virtude do aumento da utilização de vários modelos de Kalashnikov.
Os elementos do PAIGC usavam ainda, entre outras, a espingarda semiautomáticaVz52, ou M52, de origem checa, no calibre 7,62x45 mm ou 7,62x39 mm, que ficou famosa por ser a arma preferida do “Che” Guevara.
1.4 AS ESPINGARDAS AUTOMÁTICAS
1.4.1 FORÇAS PORTUGUESAS
A necessidade de obtenção de uma espingarda automática, mais conhecida internacionalmente pela designação de fuzil (ou espingarda) de assalto, só se sentiu em Portugal com o início da luta armada em África, em 1961. Havia o forte imperativo de substituir a velha Mauser por uma arma que efectuasse fogo automático e selectivo, que eram já um importante progresso em relação às espingardas da II Guerra Mundial, na sua maioria em ferrolho.
Perto do final da guerra os alemães conceberam e desenvolveram a mãe de todos os fuzis de assalto modernos – a Stg 44 “Sturmgewehr”, ou MP44 (espingarda de assalto), no calibre 7,9mm Kurtz, capaz de efectuar, tanto fogo semi-automático (tiro a tiro) como fogo automático (em rajada), actuando por meio de acção de gases, mas só terão conseguido fabricar 420 000 armas. Anteriormente, em 1942, já tinham apresentado uma arma – a FG-42, que seria uma das precursoras dos fuzis de assalto (embora já tivesse havido tentativas de outros países de conceberem uma arma deste tipo – a Cei-Rigotti, de origem italiana, a Federov Avtomat, a Simonov AVS e a Tokarev AVT, todas da URSS, a Browning BAR M1918, dos EUA, a FN M30 da Bélgica, etc.), contudo, embora efectuasse quer tiro semi-automático, quer tiro automático, nesta última situação tinha de partir da posição de culatra aberta, à semelhança das pistolas-metralhadoras de então e das metralhadoras ligeiras Depois da guerra, quer os russos, com a sua AK-47, quer os Belgas, com FN-FAL, a Espanha com a CETME e a República Federal Alemã, com a HK G3 e os americanos com a Colt M16, tornaram o novo conceito de arma individual uma realidade, evoluindo da velha Stg 44.
Das observações e avaliações efectuadas às armas propostas – a FN–FAL, de origem belga e a HK G3, cuja origem era a República Federal Alemã, a opção foi pela G3 (dadas as vantagens económicas que a HK ofereceu para o fabrico em Portugal), mas a urgência deste tipo de armas levou a que se adquirissem um lote de Armalite AR-10, de origem EUA, no calibre, 7,62 mm NATO, na Holanda, cerca de 4 800 FN-FAL, no calibre 7,62 mm NATO à Bélgica e outras 15 000 “emprestadas” pela Alemanha, enquanto não arrancasse a produção das G3, e mais 12 500, também “emprestadas” pela África do Sul. Contudo, assim que se começou a receber a HK G3 em quantidades suficientes, as FN foram devolvidas à Alemanha e à África do Sul. As FN-FAL que ficaram foram, essencialmente, entregues a grupos especiais africanos dependentes da PIDE ou a Milícias dependentes do Exército.
Em 1973, quando comandei a instrução de uma Companhia de Milícias no CIMIL de Bambadinca, e já perto do fim da instrução, fomos surpreendidos com a entrega de espingardas FN-FAL às milícias, quando a instrução estava a ser ministrada com as HK G3, obrigando-nos a dar uma instrução de manuseamento desta arma à pressa, pois ela funcionava com algumas diferenças da G3. Embora as armas apresentassem um “ar” de novas, vimos que as mesmas eram recuperadas de outras “guerras”, nomeadamente de Angola. Recordo-me de ter falado com o Major responsável em Bissau pelo armamento e lhe dizer que algumas das armas tinham interrupções de tiro com frequência, afirmando ele que eram “novas” e eu ter retorquido que eram velhas, tinham é sido pintadas de novo, até porque muitas delas tinham ainda marcas nas coronhas, que eram de madeira, feitas à mão, com os dizeres Angola ano tal e tal….
Espingarda de Assalto FN –FAL M/961
A FN FAL (Fusile Automatique Legére) resultou dos estudos da fábrica FN, iniciados em 1946, para um fuzil de assalto que utilizasse a munição 7,92mm Kurtz alemã, mas mais tarde, redimensionaram a arma para o 7,62X51 mm, a munição da NATO, surgindo assim em 1953 a FN-FAL, adoptada em 1955 pelo Canadá como a C1, em 1956 pela Bélgica, em 1957 pelo Reino Unido, como L1A1 e em 1958 pela Aústria, como Stg 58, surgindo também no Brasil, Turquia, África do Sul e Israel. A própria RFA propôs um acordo à FN, para produzirem no seu país a FN como a G1, mas como a FN não aceitou, a RFA adquiriu os direitos da CETME espanhola e apresentou a HK G3, a maior rival da FN-FAL.
Características desta arma
- TIPO: Espingarda automática
- PAÍS DE ORIGEM: Bélgica
- CALIBRE: 7,62 mm NATO
- NÚMERO DE ESTRIAS: 4
- DATA DE FABRICO: 1953
- ALCANCE MÁXIMO: 2000 m
- ALCANCE ÚTIL: 300 m
- ALCANCE PRÁCTICO: 100 a 200 m
- PESO: 4,700 Kg com o carregador de munições cheio
- COMPRIMENTO: 1,10 m
- MUNIÇÃO: 7,62x51 mm
- VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 840 m/s
- ALIMENTAÇÃO: Carregador metálico de 20 munições
- SEGURANÇA: Através da patilha de segurança, por imobilização do gatilho
- FUNCIONAMENTO: Espingarda automática, de tiro selectivo, com tomada de gases num ponto do cano
- CADÊNCIA DE TIRO: 600/700 t/m
A espingarda automática HK G3 foi a arma de assalto escolhida por Portugal para servir as Forças Armadas Portuguesas, na Guerra Colonial, a partir de 1961. A arma foi adoptada em 1959, pelo exército da RFA, e teve origem num grupo de engenheiros alemães que, no pós-guerra, foram para Espanha e desenharam a espingarda CETME, que foi adoptada pelo Exército Espanhol. A firma Heckler & Koch foi encarregue pelo governo da RFA (que recentemente tinha sido aceite na NATO), de adquirir os direitos da arma e com algumas alterações apresenta a Espingarda 3 (Gewehr 3/G3), no calibre 7,62x51 mm (NATO). A arma foi um sucesso, rivalizando com a FN-FAL, e sendo adquirida por muitos países ocidentais que não tinham optado pela FN. Ao fim de alguns anos estava a ser usada por 60 países e fabricada sob licença em 13, salientando-se a Turquia, Grécia, Noruega, Arábia Saudita, Paquistão, Irão e Portugal.As primeiras armas adquiridas como HK G3 m/961 eram as G3, em coronha e fuste em madeira e as G3A1 com coronha dobrável. Mais tarde, surgiu o modelo m/963, fabricado sob licença pela Fábrica de Braço de Prata, denominadas G3A3, com novo supressor de chama, mira diópter, coronha e fuste em plástico e a G3A4, com coronha rebatível (pára-quedistas).
Esta arma manteve em serviço no Exército Alemão até 1997 e continua ao serviço do Exército Português, esperando-se para breve a sua substituição. Em 1974, as Forças Armadas Portuguesas detinham 298 000 espingardas G3. O facto de estar ao nosso serviço há mais de 40 anos diz tudo deste belíssima arma.
Em cima a Espingarda de Assalto HK G3A3 e em baixo o modelo HK G3A4
Características desta arma
- TIPO: Espingarda automática
- PAÍS DE ORIGEM: RFA
- CALIBRE: 7,62 mm NATO
- NÚMERO DE ESTRIAS: 4
- DATA DE FABRICO: 1958
- ALCANCE MÁXIMO: 2 000 m
- ALCANCE ÚTIL: 400 m
- ALCANCE PRÁTICO: Entre 100 e 200 m
- PESO: 4, 6 Kg com o carregador de munições cheio
- COMPRIMENTO: 1, 023 m
- MUNIÇÃO: 7,62X51 mm
- VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 800 m/s
- ALIMENTAÇÃO: Carregador metálico de 20 munições
- SEGURANÇA: Imobilização do mecanismo de disparar
- FUNCIONAMENTO: Arma automática, de tiro selectivo, por acção de gases na base da culatra
- CADÊNCIA DE TIRO: 600/650 t/m
1.4.2 FORÇAS DO PAIGC
As forças do PAIGC tinham como espingarda de assalto a Kalashnikov AK-47, nos vários modelos dos países que integravam o bloco soviético, ainda da China e da Coreia do Norte.
A espingarda automática Kalashnikov foi inventada pelo General Mikhail Kalashnikov (na altura sargento), e aprovada para o projéctil 7,62 mm M43, surgindo com o nome de AK-47, adoptada pela URSS como arma oficial das suas forças armadas, em 1949. Foi modificada posteriormente em 1952, ficando como o modelo AK-47/52. Trata-se, sem sombra de dúvida, da arma mais difundida mundialmente, participando em todos os conflitos importantes do pós- IIª Guerra Mundial, em especial emprestando aos movimentos guerrilheiros uma arma que ficará como símbolo de independência. A Avtomat Kalashnikov foi tendo alterações nomeadamente no início dos anos 60, com a AKM (Avtomat Kalashnikov Modernizirovannyj), em 1974 com a AK-74, com alteração para o calibre 5,45 mm e com um supressor totalmente diferente e em finais dos anos 70 surge a AKS-74U, conhecida por surgir em diversas fotos do Bin Laden.
Essencialmente, o modelo mais visto na Guiné era a AK-47 ou AK-47/52, com origem em diversos países do Leste Europeu e da China.
Espingarda de Assalto Kalashnikov AK-47
Características desta arma
- TIPO: Espingarda automática
- PAÍS DE ORIGEM: URSS e países do bloco soviético, China e Coreia do Norte
- CALIBRE: 7,62 mm M43
- DATA DE FABRICO: 1947
- ALCANCE MÁXIMO: 1 500 m
- ALCANCE ÚTIL: 400 m
- ALCANCE PRÁTICO: 100 m
- PESO: 4, 8 Kg com o carregador cheio de munições
- COMPRIMENTO: 870 mm
- MUNIÇÃO: 7,62X39 mm
- VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 700 m/s
- ALIMENTAÇÃO: Carregadores metálicos com 30 munições
- SEGURANÇA: Imobilização do mecanismo de disparar
- FUNCIONAMENTO: Arma automática, de tiro selectivo, funcionando por acção de gases num ponto do cano
- CADÊNCIA DE TIRO: 600 t/m
1.4.3 OBSERVAÇÕES
No meu ponto de vista e em comparação com a FN-FAL, a HK G3 tinha melhor qualidade, não tendo tantas interrupções de tiro quanto a FN, trabalhando melhor nas condições e tratamento que as nossas tropas lhe davam. Algumas pessoas diziam que a FN era melhor, devido ao sistema do aparelho de pontaria, no tiro de precisão, mas eu, posso dizê-lo, efectuei disparos a distâncias muito consideráveis, tendo sempre atingido o alvo com a G3.
Uma das vantagens da FN era; quando terminavam as munições no carregador inserido na arma, a culatra ficava atrás, como na maioria das pistolas, simplificando a operação de introdução de novo carregador e a posterior ida do bloco à frente, introduzindo um novo projéctil na câmara, o que não se passava com a G3. A AK-47 (Aka ou Cala, como seria conhecida entre os guerrilheiros) é uma arma robusta, simples, barata, trabalhando bem em condições de pouca limpeza (o segredo estará nas folgas do seu mecanismo), mais curta que a G3, com o mesmo peso sensivelmente, com mais capacidade de munições no carregador, não tão fiável no tiro de precisão. Tinha um estampido poderoso e peculiar. Possuía uma ergonomia fantástica, que lhe conferia um aspecto aguerrido, muito do agrado de muitas forças militares.
A nossa G3 era uma arma muito grande para o nosso tipo de guerra, era uma arma cara, devido ao sistema dos roletes, mas funcionava muito bem, mesmo em condições difíceis e de pouca limpeza. Tinha um estampido muito forte, conseguindo sobrepor-se ao da Kalashnkov, o que tranquilizava as nossas tropas quando na nossa resposta a um ataque do IN, passávamos a ouvir o “cantar” da G3. A munição da Kalash, não tendo as capacidades da 7,62 mm NATO, em termos de velocidade inicial e poder de perfuração (perfurava em 80%, numa distância a 550 m, uma chapa de aço de 3,5 mm), o seu projéctil produzia, contudo, ferimentos terríveis, devido ao filamento em aço inserido no núcleo da bala, que a desequilibrava quando atingia o corpo humano. Em termos de fogo automático a G3 era mais equilibrada, conseguindo compactar bastantes projécteis na zona seleccionada, enquanto a Kalashnikov, em fogo automático, dispersava mais os impactos, um problema, segundo alguns autores, derivado do supressor que usava e que foi substancialmente melhorado com a AKM e em especial com a AK-74, que dizem ter um dos melhores supressores existentes, proporcionando um melhor equilíbrio na sua utilização.
Um pormenor importante, que revertia a favor da G3, era a forma silenciosa com que movíamos a patilha de segurança, para a posição de fogo (tiro a tiro ou automático), ao contrário da Kalash que fazia um ligeiro ruído, o que no mato podia fazer toda a diferença.
1.5 AS METRALHADORAS LIGEIRAS
1.5.1 FORÇAS PORTUGUESAS
Em 1917, o Corpo Expedicionário Português que vai combater em França, recebe da Inglaterra, a metralhadora ligeira (ML) Lewis, de origem inglesa (embora inventada por um coronel americano), no calibre 7,7 mm e que será a primeira ML do Exército Português. No regresso o CEP trouxe as Lewis que ainda nos finais dos anos 50 eram as metralhadoras usadas em diversas colónias portuguesas. Em 1930, foram adquiridas metralhadoras Madsen, de origem dinamarquesa, no calibre 7,7 mm, que iriam ser as ML de cavalaria, alteradas em 1939 para o calibre 7,9 mm. Ainda em 1931 são adquiridas a ML Vickers-Berthier, denominadas Vickers-Berthier m/931 e m/936, de origem inglesa, no calibre 7,7 mm, destinadas à infantaria e à GNR. A arma nunca foi muito bem vista e nos anos 50 já não estava ao serviço, ao contrário da Lewis. Também em 1938, Portugal adquire à Alemanha, a Dreyse MG13, com a denominação de ML m/938, no calibre 7,9 mm, que se manterá até 1962, especialmente nas colónias portuguesas. Em plena IIª Guerra Mundial, em virtude do Acordo dos Açores, a Inglaterra fornece a Portugal metralhadoras ligeiras Bren m/943, no calibre 7,7 mm, que nos anos 50 serão entregues a unidades de engenharia, artilharia e administração e serão retiradas da primeira linha nos anos 60, com a chegada do cartucho NATO. Ainda em 1943, no âmbito de contrapartidas da venda de volfrâmio à Alemanha, este país fornece-nos a Borsig MG 34, no calibre 7,9 mm, que será denominada por MG 34 Borsig m/944, que será entregue a unidades da metrópole.
A partir dos anos 60, Portugal pretende adquirir uma metralhadora que use o cartucho NATO isto após a adopção da HK G3 como espingarda do exército, já no calibre 7,62 mm NATO. A escolha recaiu na MG42/59, criada pela Alemanha, no calibre 7,62 mm NATO, que terá a denominação de MG42 m/962.
A MG 42, no calibre, 7,9 mm foi fabricada pela Mauser e é considerada a melhor metralhadora ligeira da IIª Guerra Mundial, sendo conhecida entre os aliados pelo seu som inconfundível, como a “ceifadora de Hitler”. Após a guerra e quando se formou o Exército da RFA, em 1958, a MG42, foi recuperada e convertida para o calibre 7,62mm NATO, tornando-se o modelo MG42/59, conhecido como a MG1 e MG2, consoante são armas novas ou feitas de adaptações, fabricado pela Rheinmetall.
A HK teve bastante sucesso com o lançamento da espingarda automática HK G3 e a partir dos mesmos componentes e do desenho de 1961, lançou diversas metralhadoras ligeiras a HK 11, em 1961, a HK 13, em 1963 e a HK 21, em 1965. O Exército Português, com o rebentar da Guerra Colonial, interessou-se por uma ML, que fosse mais leve que a MG42, para ser atribuída às secções de atiradores e a HK 21, foi a escolhida, por ser uma arma que usava 40% dos elementos que compunham a HK G3, com a qual os militares já se identificavam e ainda pela possibilidade, dada pelos alemães, de a pudermos fabricar em Braço de Prata (INDEP), sob licença, a partir de 1967. Assim, em 1968, a tropa portuguesa começou a receber esta metralhadora que, diga-se de passagem, nunca foi uma arma muito bem acolhida.
Metralhadora ligeira MG 42/59
Características da arma
- TIPO: Metralhadora ligeira
- PAÍS DE ORIGEM: Alemanha
- CALIBRE: 7,62 mm NATO
- DATA DE FABRICO: Originalmente em 1942, alterações e modelo novo em 1959
- ALCANCE MÁXIMO: 4 000 m
- ALCANCE EFICAZ: 3 500 m
- ALCANCE PRÁTICO: 1 200 m
- PESO: 11, 5 Kg, sem fitas
- COMPRIMENTO: 1, 225 m
- MUNIÇÃO: 7,62 X51 mm
- VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 820 m/s
- ALIMENTAÇÃO: Por fita carregadora
- SEGURANÇA: Imobilização do armador e manobrador
- FUNCIONAMENTO: Arma automática, de tiro selectivo, funcionamento por acção de gases, com curto recuo do cano
- CADÊNCIA DE TIRO: 1 200 t/m
Metralhadora Ligeira HK 21
Características da arma
- TIPO: Metralhadora ligeira
- PAÍS DE ORIGEM: Alemanha
- CALIBRE: 7,62 mm NATO
- DATA DE FABRICO: 1965
- ALCANCE MÁXIMO: 1 200 m
- PESO: 7, 92 Kg, sem munições
- COMPRIMENTO: 1, 021 m
- MUNIÇÃO: 7,62 X 51 mm
- VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 800 m/s
- ALIMENTAÇÃO: Por fita carregadora ou por carregador metálico para 20 munições
- SEGURANÇA: Através da imobilização do armador
- FUNCIONAMENTO: Arma automática, de tiro selectivo, actuando por acção dos gases.
- CADÊNCIA DE TIRO: 800 t/m
1.5.2 FORÇAS DO PAIGC
As forças do PAIGC tinham como metralhadoras ligeiras a Degtyarev RPD e a Degtyarev DPM (já menos vista, conhecida no PAIGC como”disco bipé soviético”), produzidas originalmente pela antiga URSS.
Metralhadora ligeira Degtyarev DPM
A metralhadora ligeira Degtyarev DPM teve origem no modelo DP (Degtyarev Pechotny/Degtyarev de Infantaria), desenhada na URSS depois de 1917 e que veio a ser adoptada como ML do Exército Vermelho, em 1927. Em 1943-44 veio a ser modernizada, passando a ser o modelo DPM (modernizirovannyj). Após o fim da IIª Guerra Mundial irá ser substituída, primeiro pela PK-46 e depois pela RPD.
Características desta arma
- TIPO: Metralhadora ligeira
- PAÍS DE ORIGEM: URSS
- CALIBRE: 7,62 mm R
- DATA DE FABRICO: 1944
- ALCANCE MÁXIMO:
- PESO: 11, 3 Kg com o carregador cheio
- COMPRIMENTO: 1 266 mm
- MUNIÇÃO: 7,62X54 mm
- VELOCIDADE INICIALDO PROJÉCTIL:
- ALIMENTAÇÃO – Carregador circular colocado no topo, com 47 projécteis
- SEGURANÇA:
- FUNCIONAMENTO: Arma automática, actuando por gases, com selector de tiro.
- CADÊNCIA DE TIRO: 600 t/m
Metralhadora Ligeira Degtyarev RPD
A metralhadora ligeira Degtyarev RPD (Ruchnoy Pulemet Degtyarev) foi desenhada a partir de meados dos anos 40, e foi adoptada em 1953 pelo Exército Vermelho, até ser substituída pela Kalashnikov RPK, o que parece ter sido uma má opção, segundo diversos autores. A arma trabalhava unicamente na posição de fogo automático.
Características da arma
- TIPO: Metralhadora ligeira
- PAÍS DE ORIGEM: URSS e fabricada também na China
- CALIBRE: 7,62 mm M43
- DATA DE FABRICO: 1953
- PESO: 7, 4 Kg sem munições
- COMPRIMENTO: 1 037 mm
- MUNIÇÃO: 7,62X39 mm
- VELOCIDADE INICIAL DO PROJÉCTIL: 735 m/s
- ALIMENTAÇÃO: Tambor com fita no seu interior com 100 projécteis.
- FUNCIONAMENTO: Arma automática, actuando por meio de recuperação de gases, fazendo unicamente tiro automático.
- CADÊNCIA DE TIRO: 650 t/m
1.5.3 OBSERVAÇÕES
A ML MG42/59-m/962, era, seguramente, a melhor metralhadora ligeira no teatro operacional da Guiné sendo, contudo, a mais pesada e só as unidades pára-quedistas as usavam em pleno. Estavam instaladas em muitos aquartelamentos, para defesa imediata, em reparos especiais. O seu senão, para além do peso, era a sua elevada cadência de tiro, que obrigava ao uso de muitas fitas alimentadoras, que elevavam o seu peso.
A HK-21 era a arma de apoio da maioria das unidades combatentes e cumpria bem o seu papel, se tivesse a ser alimentada por fitas de elos desintegráveis, pois com as normais fitas de ligação de arame, tinham problemas na alimentação (segundo informação prestada pelo camarada José Câmara da CCAÇ 3327, na sua companhia tinham construído tambores para transporte das fitas, à semelhança da RDP, e, muito possivelmente, no sistema utilizado nas HK-11 e HK-13). Era a única ML que funcionava em automático, na posição de culatra fechada. Tinha a vantagem de operar como a G3, sendo fácil a qualquer elemento manobrar com a arma, caso fosse necessário.
Ambas metralhadoras podiam mudar o cano rapidamente, em caso de sobreaquecimento.
A Degtyarev DPM já se encontrava obsoleta, bem como a sua munição. A RPD (conhecida no PAIGC como “bipé checo, bipé pachanca”), era uma ML bastante leve, embora já não utilizada nos países avançados do bloco soviético, cumpria bem a sua missão. O problema de só fazer fogo automático não nos parece importante, dado que as ML foram criadas para esse fim. Dada a leveza da munição em relação à das nossas metralhadoras, existia uma maior dispersão de impactos, do que nas nossas armas. A colocação da fita alimentadora, que apresentava um tratamento envernizado para melhor correr e evitar o enferrujamento, enrolada num tambor, que se fixava à arma, era importante para impedir a entrada de sujidade no sistema operativo da mesma.
Utilizavam ainda a ML Vz52 ou M52, de origem checa (“bipé caudo ou maquessen”), no calibre 7,62mm.
A munição 7,62x39mm M43, utilizada nas espingardas automáticas Kalashnikov M47 e AKM, semiautomática Simonov e Metralhadora Ligeira Degtyarev RPD.
A munição 7,62x51mm NATO, utilizada nas espingardas automáticas HK G3 e FN FAL e metralhadoras ligeiras MG42/59 m/62 e HK 21.
Nota do autor: Na recolha para este trabalho foram coligidos elementos, material e fotos, com a devida vénia, da Wikipédia/Internet; How stuff Works.com; Infantry Weapons of the World, da Brassens, Editor J.L.H. Owen; Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, Edição Diário de Notícias; Moderrn Firearms & Ammunition Encyclopedie; Armamento do Exército Português, Vol. I – Armamento Ligeiro, de António José Telo e Mário Álvares, da Prefácio; Armas de Fogo, seus Componentes, Capacidades e o seu Uso pelas Forças Policiais, de Luís Dias (PJ - Maio de 2004) e apontamentos e fotos diversas do próprio autor. Foto do LGF SNEB obtida do blogue do BCP 12 (com as devidas vénias).
Um abraço,
Luís Dias
Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872
____________
Nota de M.R.:
Vd. o primeiro poste desta série, que contém a segunda parte desta matéria em:
21 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5682: Armamento (1): Morteiros, Lança-Granadas, Granadas e Dilagrama (Luís Dias)
22 comentários:
Caro Camarada Luís Dias
Em 1965/66 ainda existiam no nosso Exército a Kropatchek e a Manneliker.
A Krropatchek para ordem unida e a Manneliker para fogo noturno.
Também existia a Drayse com que também fiz fogo de instrução
Armandino Alves
Caro Armandino Alves
Efectivamente, como aliás eu refiro, adquirimos Kropatchek e Mannlichers que, apesar de descontinuadas, foram ficando em diversas unidades para determinados exercícios, como também tu referes. Com a Dreyse MG13 aconteceu o mesmo e com a Madsen e ainda com a Metralhadora pesada Breda (que será objecto de um futuro volume dedicado àS MP).
Um abraço
Luís Dias
Caro Camarada Luís Dias.
As minhas felicitações pelo excelente trabalho de pesquisa sobre armamento utilizado na Guerra Colonial, e com dedicatória a condizer.
No treino a que fui submetido, conheci algumas dessas armas, e acabei por ter por “companheira “, a HK-21 com fita de elos de (salvo erro) 50 munições que se encaixavam.
Com o decorrer do tempo e com alguns embates com o IN. o que treináramos deixava de ter sentido, o segredo estava na forma de levar a fita o mais solta possível, para um rápido e eficaz manuseamento, e os municiadores apenas carregavam mais algumas fitas de munições, em vez de segurarem a fita quando se tinha que abrir fogo, não havia tempo para essas teorias.
Um grande abraço
Manuel Marinho
...mais a Ceska VZ50 ou VZ52
que 'aparecia' mais que a Tokarev e que se pode ver em
http://www.alpharubicon.com/leo/cz52serger.htm
SNogueira
ATENÇÃO
A arma usada pelas tropas páraquedistas na Guiné era a G3A2 ou A3, com o fuste em madeira perfurada e com um apoio de ombro retráctil diferente do que é mostrado na imagem
e que se pode ver em
http://fotos.paraquedistas.com.pt/main.php?g2_view=core.DownloadItem&g2_itemId=12819&g2_serialNumber=2
e em
http://boinasverdes.jalbum.net/Antigas/slides/guine.jpg
SNogueira
REPITO
(C'as minhas desculpas pelo URL truncado, anterior)
http://fotos.paraquedistas.com.pt/
main.php?g_view=core.DownloadItem
&g2_itemId=12819&g2_serialNumber=2
e
http://boinasverdes.jalbum.net/
Antigas/slides/guine.jpg
("tudo pegado")
Não podemos esquecer a M25, uma pistola metralhadora checa (SA25) de 9mm, de acção directa de gases, com selecção de tiro auto e semi-auto no gatilho e que está na origem da UZI.
Uma arma simples e fiável apesar do aspecto um tanto 'artesanal'
Pode ser vista em
http://world.guns.ru/smg/smg46-e.htm
(aparecia também, julgo que mais raramente, uma M23; era uma arma semelhante, porém com coronha em madeira e de calibre 7.62x25, como a PPSH)
SNogueira
Caro Manuel Marinho
É conforme tu dizes a HK-21 com elos desintegráveis era uma máquina, mas com elos de arames...
Um dos meus 1º cabos, na nosso 1º contaco com o IN, foi o primeiro elemento a fazer fogo contra um guerrilheiro que avançava para nós, com a sua HK-21, dando um rajada longa e mais não deu porque a maldita encravou (elos de arames). Foi tal a sua raiva que tentou partir a arma de encontro a uma árvore...Mas depois de conseguirmos os elos desintegráveis dos páras e dos comandos, a música foi outra.
Obrigado pelo elogio.
Um abraço
Luís Dias
Caro Nogueira
Eu refiro no texto que o PAIGC, nos anos em apreço (71-74), via-se mais a tokarev, mas também digo que usavam as CZ checas, embora eu nunca tenha visto nenhuma na guerra.
Um abraço
Luís Dias
Caro Luís Dias
Em Béli também existia uma Breda
e uma Uzi que eu usava na rendição
dos postos de sentinela de noite.
Tirando os tiros que dei na recruta e especialidade, nunca dei um tiro na
Guiné. As minhas armas era de 3mm, 5mm,10mm, eram de fabrico nacional e tinham o pomposo nome de Seringas.
Armandino Alves
Caro Nogueira
Em relação à HKG3A4, devo dizer-te o seguinte: a foto que ali está é de um modelo G3A4, embora o fuste seja em plástico (baquelite) diferente das nossas. Andei com tropas páraquedistas em Galomaro, Dulombi e Nova Lamego e, palavra de honra, que não me recordo se o fuste da G3 era ou não em madeira. Consultei o livro do Armamento do Exército Português Vol.I - Armamento Ligeiro, pág 192, de António José Telo e Mário Alvares, edição da Prefácio, onde estão as fotos das G3, no modelo m/61, coronha e fuste de madeira, mas já com mira diópter, e onde está também a G3A4, com fuste igual à da G3A3 (em baquelite).Não usei estas fotos porque não tinha autorização para as mesmas, embora tenha retirado muitos dados para este trabalho do livro deles.
Portanto e possivelmente tu terás sido um pára-quedista, melhor poderás informas se as vossas G3 eram no modelo G3A4 ou G3A2, com retráctil em madeira ou em baquelite.
Efectivamente também o PAIGC usou as PM M23 e M25 da Checoslováquia, embora em menor quantidade que as PPSH e Sudaev. As M23, M24, M25 e M26, são semelhantes à UZI e foram fabricadas nos calibres 9x19 mm e 7,62x25mm Tk. Também parece ter sido baseado no desenho das mesmas que surgiu a PM Beretta M12.
Quer a uzi, quer a M24, chegaram a possuir coronhas de madeira.
Um abraço
Luís Dias
Caro Armandino Alves
As uzi no meu tempo já eram pouco vistas e as Breda (met. pesada) serão motivo para um próximo post.
Esse tipo de armas era ainda mais necessário que as armas verdadeiras, sem vocês é que a malta não andava no mato!!!
Sabemos bem da coragem que a malta da enfermagem tinha de ter para, muitas vezes debaixo de fogo, ir acudir a um camarada ferido e, infelizmente, muitas das vezes eram aqueles que tentavam animar os moribundos e lhes ouviam as últimas palavras.
Um abraço
Luís Dias
Caro camarada Luís Dias,
A PM Steyer aínda existia na EPI em 63. Lembro-me que foi a arma que me tocou quando fiz fogo de instrucao.
A pistola Luger 9mm também aparecia.
A Kropatchek e Lee Enfield, eram usadas em Lamego na "aplicacao militar" tipo saltos de viaturas, cross, etc.
Em Mafra a ML era a MG13 Dreyse. Também fiz fogo de instrucao, com esta arma.
A minha G3 era de coronha e fuste de madeira, mas tinha mira diopter.
Caro Camarada Carlos Brito
Como refiro no meu post essas armas foram adquiridas, mas depois só em instrução, mas muito poucas delas terão visto a guerra colonial. Eu próprio cheguei a fazer fogo, isto já em 1971, com a ML Dreyse, com a ML Madsen, que até era mais de cavalaria, e que tinha um sistema extremamente interessante de extracção das cápsulas detonadas, ou seja caiam por inércia.
Efectivamente, ao que creio as primeiras G3, terão sido já no modelo G3A1, portanto ainda com coronha e fuste em madeira, mas já com mira diopter.
Um grande abraço
Luís Dias
A ver s'a gente s'entende ...
a espingarda automática G3 usada em Porugal resultou de um acordo de fornecimento de armamento com a RFA.
Após algum estudo no terreno, com o equipamento de Companhias de Caçadores Especiais e de Fuzileiros Navais, a arma passou a ser fabricada sob licença em Braço de Prata do que resulta a versão portuguesa que se baseou então na
G3A2 e/ou A3, tendo, por consequência, alças em tambor com ranhura para tiro a 100m e diopter para alcances superiores.
A arma usada pelas tropas páraquedistas, conforme esclareci acima e como se pode ver nas imagens ('link' indicado) serão de desenho 'nosso' e daí o tal apoio de ombro sui-generis (e pouco ergonómico) e o fuste em madeira .
SNogueira
A ver s'a gente s'entende ...
a espingarda automática G3 usada em Porugal resultou de um acordo de fornecimento de armamento com a RFA.
Após algum estudo no terreno, com o equipamento de Companhias de Caçadores Especiais e de Fuzileiros Navais, a arma passou a ser fabricada sob licença em Braço de Prata do que resulta a versão portuguesa que se baseou então na
G3A2 e/ou A3, tendo, por consequência, alças em tambor com ranhura para tiro a 100m e diopter para alcances superiores.
A arma usada pelas tropas páraquedistas, conforme esclareci acima e como se pode ver nas imagens ('link' indicado) serão de desenho 'nosso' e daí o tal apoio de ombro sui-generis (e pouco ergonómico) e o fuste em madeira .
SNogueira
Acrescente-se que a arma tinha a designação portuguesa 'Espingarda de assalto G3 M61 -as importadas-
e M63 -as fabricadas cá-
e não HK G3An como é conhecida internacionalmente.
Junto cópia da ficha que se pode ver em
http://www.guerracolonial.org/specific/guerra_colonial/uploaded/graficos/armas/infantaria/infantaria.swf
(cont)
ESPINGARDA DE ASSALTO G3
Espingarda 7,62 m/961 G3 Espingarda 7,62 m/963 G3
• A espingarda automática G3, embora possa realizar tiro automático, destina-se a efectuar tiro semi-automático. Sendo uma arma que funciona por inércia, os gases actuam directamente sobre a superfície interna do invólucro e a culatra retarda a sua abertura pela acção conjunta dos roletes de travamento (alojados na cabeça da culatra), da massa da culatra e da mola recuperadora. O percutor encontra-se no interior do bloco da culatra. A percussão é dada pela pancada do cão (existente ao nível do gatilho) sobre a cauda do percutor. A mola do depósito garante a alimentação. Um extractor de garra com mola efectua a extracção do invólucro no movimento de abertura da culatra, e a ejecção quando a base do mesmo encontra, ao nível do punho, um ejector de alavanca. Consumidas as munições do depósito, a culatra não fica detida à retaguarda.
ESPINGARDA DE ASSALTO G3 - Historial
A origem da G3 está nas armas desenvolvidas pela Alemanha nos anos finais da Segunda Guerra Mundial, que levam ao aparecimento das espingardas de assalto do pós-guerra como um novo tipo de arma para o infante. Uma delas era a Mauser, pensada para substituir a 98K, mas a guerra termina quando a espingarda ainda era um mero protótipo. Alguns dos engenheiros envolvidos no projecto conseguem escapar para Espanha com os planos e continuam o seu trabalho nas fábricas da CETME, num ritmo lento pois não há encomendas em perspectiva. Em 1956, a CETME considera que a espingarda está madura e, ao mesmo tempo que o Exército espanhol a adopta, vende os direitos à NWM da Holanda, a pensar numa comercialização mais fácil na Europa da NATO, pois a Espanha não fazia parte da organização. Nesta altura, a RFA tinha acabado de ser aceite na NATO e procurava uma espingarda para o seu renascido exército. A proposta da NWM-CETME é atractiva. Bona encarrega a Heckler & Koch de fazer algumas transformações na arma desenvolvida pela CETME. Deste processo sai a G3, com o calibre 7,62 x 51 da NATO, adop¬tada pelo Bundeswehr.
(cont)
A Heckler & Koch ocupa no final dos anos 1950 as antigas instalações da Mauser, pelo que se pode dizer que, por vias tortuosas, a arma tinha voltado às origens depois de uma década de desen¬volvimento. A G3 foi um imenso sucesso, oferecendo vantagens em relação à FAL, então a arma deste tipo mais divulgada no Ocidente. A G3 é escolhida por muitos dos países ocidentais que não adoptaram a FN. Ao fim de alguns anos, era usada por 60 países e fabricada sob licença em 13, entre os quais a Turquia, a Grécia, a Noruega, a Arábia, o Paquistão e o Irão.
Quando Portugal procurou a urgente modernização do armamento ligeiro em 1961,a G3 surge como uma opção lógica, pois era uma arma moderna, já testada em África e no Médio Oriente, e as rela¬ções com a RFA eram óptimas, pelo que havia a certeza de que não seriam levantados problemas políticos. Um primeiro lote inicial de G3 (2400 normais e 425 com bipé) é avaliado operacionalmente em Angola em conjunto com a FAL nas companhias de caçadores especiais formadas em 1961. As G3 com bipé destinavam-se a superar a falta de uma metralhadora do mesmo calibre, dando um maior poder de fogo automático às secções de atiradores, com a possibilidade de substituir os canos.
A escolha da G3 para futura arma do Exército tem mais a ver com razões políticas e comerciais do que técnicas, pois a RFA deu grandes facilidades para o fabrico da arma sob licença e mostrou-se disposta a fornecer um numeroso lote inicial dos seus stocks para fazer frente à emergência, chegando mesmo a entregar FN FAL a título de empréstimo.
Foram usadas múltiplas variantes da G3, desde um modelo de coronha retráctil a outros adaptados para atiradores especiais com mira telescópica ou com aparelho de tiro nocturno (AN-PVS4). Um acessório normal é o lança-granadas HK 79 acoplado, o que substitui com vantagem a munição lança-granadas, outra das possibilidades da arma.
O fabrico da G3 arranca em Braço de Prata em força a partir de 1962 (m/963), com uma crescente integração nacional, que acaba por chegar perto dos 100%. As primeiras armas «nacionais» são entregues em 1962 (embora oficialmente só sejam recebidas em 1963), num pro¬jecto que prevê inicialmente o fabrico de 105 000 G3, número muito razoável para Portugal. O número real exce¬deu em muito as expectativas iniciais: em 1965, tinham já sido produzidas 140 000 espingardas e, em 1974, atingiu-se o incrível total de 250 000, fornecidas ao Exército, Marinha (fuzi¬leiros), Força Aérea, GNR e a unidades independentes de recrutamento afri¬cano.
A G3 é, juntamente com o mosquete «Brown Bess» de 1808, a arma recebida em maior quantidade pelo Exército por¬tuguês, bem como uma das que é usada há mais tempo (fez 43 anos de serviço como espingarda-padrão em 2004, numa vida útil ainda não terminada).
G 3
País de origem - Alemanha. Fabricada em Portugal a partir de 1963, na fábrica de Braço de Prata
Calibre - 7,62 mm
Número de estrias - 4
Sentido das estrias - Dextrorsum
Comprimento da arma - 1,020 m
Comprimento do cano - 0,450 m
Velocidade inicial à boca - 700 a 800 m/s
Aparelho de pontaria - Linha de mira axial. Alça de diopter com tambor para os 200 e 300 m (modelo 1961), ou tambor com diopter para 1, 2, 3 e 4 hectómetros (modelo 1963). Ponto de mira de secção rectangular
Alcance máximo - 2000 m
Alcance eficaz - 1700 m
Alcance útil - 400m
Alcance prático - 200 m (ou inferior)
Peso da arma - 3,95 kg sem depósito
Depósito - Carregador independente e central com capacidade para 20 munições
Baioneta - Punhal-baioneta com 0,201 m de lâmina e 0,350kg de peso
Munição - 7 ,62x51 mm NATO (invólucro metálico com base em garganta e percussão central).
Peso do projéctil - 9,45 g.
Peso da munição - Aproximadamente 24 g
Mecanismo de segurança - Imobilização do mecanismo de disparar
Funcionamento - Arma automática, de tiro automático e semi-automático, com funcionamento por inércia
SNogueira
Aproveito para apresentar a arma que equipava as tropas páraquedistas
-na Guiné, até fins de 1966;
-em Angola;
-em Moçambique, até princípios dos anos 70.
(lamento não poder precisar as datas; a mudança foi progressiva)
Trata-se da Espingarda automática Armalite AR-10 cal. 7.62 NATO
que pode ser vista em
http://greenberet.no.sapo.pt/HISTORIAL%20EQUIPAMENTO/ar10.jpg
e da qual existem inúmeras descrições online, podendo todavia e para continuidade de critérios ser consultado o site
http://www.guerracolonial.org/specific/guerra_colonial/uploaded/graficos/armas/infantaria/infantaria.swf
SNogueira
REPITO
http://www.guerracolonial.org/
specific/guerra_colonial/
uploaded/graficos/armas/
infantaria/infantaria.swf
(tudo pegado)
Caro Nogueira
A excelente descricção do aparecimento da G3 que tu referes e que se encontra no site que também mencionaste, é uma cópia integral do livro que eu mencionei, ou seja "Armamento do Exército Português, Vol.I-Armamento Ligeiro", de António José Telo e Mário Alvares, editado pela Prefácio-Defesa e Relações Internacionais.
A Armalite AR-10,com origem nos EUA e fabricada na Holanda era uma arma bastante inovadora para a época. O recurso ao uso de ligas de alumínios tornavam-na mais leve do que as concorrentes. O seu sistema assemelha-se ao da Kalash e FN (tomada de gases num ponto do cano.
Foi uma arma utilizada principalmente pelas forças de caçadores páraquedistas e, como se sabe, o seu aspecto será retomado na Colt M16 dos EUA (após a compra da Armalite pela Colt e do modelo AR-15), vindo a ser famosa como a M16A1 (a arma principal das forças dos EUA no Vietname), depois M16A2, M16A4 e depois da evolução da CCR (Colt Commando Riffle), a actual M4, todas já no calibe 5,56mm NATO.
Um abraço
Luís Dias
Enviar um comentário