1.1. Ainda são relativamente raras as fotos, publicadas no nosso blogue, de antigos guerrilheiros do PAIGC, homens (e algumas mulheres) que estavam do outro lado apontando uma arma contra nós...
Algumas (como a do homem que comandou o bigrupo que provocou o massacre do Quirafo, em Abril de 1972) são ainda bem duras de se verem e reverem... (Imagino os sentimentos, contraditórios, de camaradas nossos como o António Baptista, o nosso morto-vivo do Quirafo)...
Há dias descobri a foto do "fuzileiro", nalu, que andou na guerrilha desde o início de 1963, travou combates desde o Como (1964) a Gandembel (1968), até perder uma perna (possivelmente em 1969), numa das nossas minas... lá para os lados do Quebo, Contabane ou Saltinho...
Não sei se se alguma vez nos "cruzámos", perto do Corubal, na região do Xime / Xitole, ele, os seus "sete homens" e a minha CCAÇ 12, no 2º semestre de 1969... É possível... A foto foi tirada pelo João Graça, em Farim do Cantanhez, em 9 de Dezembro de 2009... Gostava de o conhecer pessoalmente. Tem um ar afável e seguramente uma memória prodigiosa. É o pai da Cadi e o avô da Alicinha do Cantanhez...
Luis Graça
Foto: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
1.2. Abdú Indjai: Missões em Medjo, antes de Gandembel, deve ter sido em 67 ou 68. Comandava o grupo "sete homens". Lembro de um ataque a Medjo às 3 da tarde, após bombardeamento aéreo de Salancaur, em que ficámos a ver os aviões a picar, desapareciam nas copas da mata, voltámos a vê-los a subir, ouviamos os estrondos, víamos as colunas de fumo. Às 3 horas (a hora do lobo), nutrido fogo apanhou-nos de surpresa e enfiou uma série de granadas de bazuca (?) que destruiram metade dos edifícios.
José Brás
1.3. Pois é. Não me lembro de ter visto o Abdu Injai, mas devo ter-me cruzado com ele em 1968/69 lá para os lados de Balana e Quebo. Eu com a minha bolsa de enfermeiro e ele com a Kalash a espreitar-me na mata cerrada do Cantanhez. Guera é guera, mas já foi há manga di tempo, agora quero ser teu ermon, como me disse o Braima Cassamá, o sapador colega do Abdu que encontrei em Guiledje em 2008. Este analisou comigo alguns encontros em estivemos frente a frente, sem nos vermos, uma das quais em que chegou a entrar dentro do arame farpado em Mampatá em Novembro de 68, mas... teve de fugir porque o Tuga ficou zangado (!), manga dele. Ou... as 87 minas que montou em Tchangue Laia junto ao Balana, que nos levou 7 vidas.
Guerra é guerra. É preciso curar as feridas.Esta é a melhor forma. Que a Alicinha seja a nossa da paz que a Guiné-Bissau merece.
Zé Teixeira
1.4. Que seja benvindo, e que conte as suas histórias, pois é interessante saber se nos cruzámos.
Abdú Indjai, conta lá rapaz.
Recebe um grande abraço do tamanho do Cumbijã,
Mário Fitas
Guiné- Bissau > Instalações da AD - Acção para o Desenvolvimento > Julho de 2007 > O Paulo Malu, antigo comandante do PAIGC, hoje coronel, e quadro superior da Direcção-Geral de Alfândegas. Foi ele que comandou, em 17 de Abril de 1972, o bigrupo que montou e executou a terrível emboscada contra os militares da CART 3490 (Saltinho, 1972/74) que escoltavam um grupo de civis afectos à construção de uma estrada (Quirafo-Foz do Cantoro).
Foto: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 22 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7022: Ser solidário (88): A Alicinha do Cantanhez e a sua mãe, Cadi, estão bem de saúde e recomendam-se (Pepito / Luís Graça)
6 comentários:
Caros camaradas
Em todas as épocas, em todos os conflitos, com todos os povos e nações, houve o 'antes e o durante' mas também houve o 'depois'.
Para não ir muito longe é relembrar aqui os encontros (há fotos disso) de veteranos ingleses, americanos e franceses com alemães.
Combateram-se, defenderam as suas 'bandeiras', obedeceram aos seus ideais ou às ordens das chefias mas depois, sem se envergonharem disso, puderam estar, mais do que frente a frente, puderam estar ao lado, relembrando, talvez até explicando, e confraternizando, já que as acções de cada um não eram contra o fulano A ou B mas sim contra o adversário do momento.
E até é bom que se consigam situações capazes de exorcizar fantasmas e preconceitos.
Um abraço
Hélder S.
Luís,
Será que através de "Pami na Dondo" o Abdu Indjai chegue a algo?
Fico curioso, e gostava que ele tivesse conhecimento do livro.
Um abraço,
Mário Fitas
Na minha modesta opinião este Post é um bom exemplo (embora muito modesto) de contribuição para a "terapia" de resentimentos e/ou contribuição para a compreensão de que do outo lado estavam (numa percentagem considerável) homens com convições ou com ideais defenidos nas sua mentes e sociedades. Não é em vão que se combate em formação de guerrilha.
Será na minha opinião salutar e objectivamente uma contribuição para o verdadeiro conhecimento ou compreensão das guerras coloniais sob o ponto de vista do "inimigo".
Isto considerando que na esmagadora maioria da juventude portuguesa era pura e simplesmente "arrebanhada" em navios para irem combater em territórios ultramarinos em defesa do chamado império ultramararino sem lhes ser dito que eram os povos respectivos que lutavam pela suas liberdades e posteriormente pelas sua independencias.
Com um abraço para todos
Carlos Filipe
ex CCS BCAÇ3872 Galomaro
p.s Hoje aniversário da independência da Guiné Bissau
Filipe:
Este blogue não é uma "tribuna de combate", não é uma "luta de galos", não é um programa mediático de tipo "prós e contras", não é um "tribunal de guerra", nem um "tribunal da opinião pública", nem sequer um verdadeiro "fórum de discussão"... É de preferência uma Tabanca, Grande, plural, onde cabem amigos e inimigos de ontem, e onde convivemos, civilizadamente, à sombra do seu alto poilão.
... Somos todos actores e testemunhas uma guerra, a maior parte combatentes, outros não... Por economia de análise, algumas chamam-lhe "guerra colonial", outros preferem-lhe simplesmente não a adjectivar... Estamos a falar da "guerra da Guiné, 1963/74" (que opôs guineenses contra portugueses, e guineenses contra guineenses, embora não propriamente povos contra povos)... A nossa geração foi mobilizada para essa e outras guerras em África. Mas é da Guiné que falamos, é dessa experiência que falamos,com a distância, a serenidadade, a sabedoria e a tolerância que nos dão os nossos cabelos e barbas brancas ou já embranquiçadas...
Eu e tu também fomos para essa guerra. Tal como o Abdu Indjai ou Malan Mané ou o Paulo Malu ou o 'Nino' Vieira... Ou os meus soldados fulas, o Suleimane Baldé e o Umaro Baldé, de quem eu era amigo (também).
Não gosto do termo "arrebanhado" (mesmo com aspas, memso que a gente possa usá-lo noutros contextos, em escritos poéticos, literários, de propaganda, de combate político ou outros). Muitos dos nossos camaradas (portugueses e guineenses, de um lado e do outro) poderão sentir-se-ão justamente insultados.
No nosso tempo, de um lado e do outro,as coisas eram vistas a "preto e branco"... Este blogue reclama-se de todas as cores do arco-íris.
Temos que medir as palavras, mesmo neste espaço de comentários que é uma exemplo, raro, na Net, de tolerância... o que não quer dizer seguidismo, conformismo, unanimismo, e outros comportamentos típicos dos "rebanhos".
Filipe: desejo-te a continuação das tuas melhoras.
Caros amigos e leitores do Blog.
Peço desculpa pela minha expressão utilizada "arrebanhados", (mesmo entre aspas).
De facto foi infeliz, embora o que eu desejasse transmitir era 'agrupados em grande número' ou talvez 'arregimentados'.
Não houve qualquer intenção de ofensa directa ou indirecta.
Portanto peço que aceitem meu pedido de desculpas.
Obrigado.
Carlos Filipe
ex CCS BCAÇ3872 Galomaro
Caros camaradas
Aproveito a "embalagem" que o Luís Graça deu, acerca das palavras que usamos, quer com aspas, quer sem aspa.
Há pouco tempo, ainda não passou uma hora, fui abordado por um guineense que me reconheceu, dizendo o meu nome, a minha profissão, etc.
Estas informações foi encontra-las no blogue. Não tem idade para ter sido combatente. Talvez o pai o tenha sido.
Mas procura no blogue informações da sua terra, porque quer saber de onde veio. Eu conheço-o: é um trabalhador não qualificado, mas que, como nós, ama a Guiné
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