1. O nosso Camarada José Marques Ferreira, ex-Sold Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462,Ingoré (1963/65), enviou-nos hoje a seguinte mensagem:
Camaradas,
Lembrei-me da “escrita” que versa na minha velha caderneta militar e passar a escrito este apontamento.
Aproveito para vos dizer que ainda ando por cá, na vertical, e pedir desculpa pela minha última ausência na colaboração na Tabanca.
Este local ficava frente ao Hospital Militar 241-Bissau
O dia mais ansiado na Guiné
Um regresso atribulado
Eu bem tinha colocado no calendário do Outlook, deste dia do mês de Agosto, um lembrete, para ver se não me esquecia! E que chatice, ia-me mesmo passando... eu vou contar o que é:
Esqueci-me por já foi há muitos anos... desculpa esfarrapada...
Porque estas coisas nunca esquecem.
A minha juventude, como a de tantos outros, foi «atirada» para África, concretamente para a Guiné. Os documentos daquele tempo que nos ofereciam na tropa não mentem, porque escriturados minuciosamente, onde nada faltava.
Então li e reli e a coisa foi assim, segundo o documento:
«1963. Embarcou em Lisboa, em 14 de Julho, com destino ao CTI da Guiné, fazendo parte da CCaç 462. Desembarcou em Bissau em 21 de Julho, desde quando conta 100% de aumento no tempo de serviço.
1965. Embarcou em Bissau de regresso à Metrópole em 7 de Agosto, desde quando deixa de contar 100% de aumento no tempo de serviço. Desembarcou em Lisboa em 14 do mesmo mês».
Aqui fica a efeméride, triste efeméride (enquanto obrigado a ir e a permanecer na Guiné), alegre efeméride, porque iria, finalmente, ser livre (em parte). E lá tive de ir de comboio, um dia inteiro, em 1965, de Lisboa a Campanhã, depois daqui à Régua e para finalizar naquele comboio «horrível», da linha do Tua, mas agora saudoso, da Régua até Chaves.
Ali chegámos ao fim da tarde. Tivemos de desfilar, como era da praxe, pelas ruas da cidade. Mas até tinham refeição preparada para a malta comer e local para dormir. Mas qual quê, ninguém ou poucos comeram (eu um deles) e quase ninguém, ou mesmo ninguém lá ficou. O que eu e outros queríamos era chegar a casa. E metemo-nos numa aventura.
Fomos direitos a um táxi, discutidos preços, lá vem um homem trazer-nos ao Porto. Lembro-me de ter chegado, com mais outros, salvo erro, 5 camaradas, às cinco da manhã a S. Bento.
Aí mesmo, logo que as horas se tornassem convenientes, toca a requisitar bilhete e vajar até Aveiro.
Interessante recordar agora, tinha dito à minha mãe e ao meu pai, que chegaria cerca das 17 horas ao apeadeiro de Aguieira, o mais próximo da minha residência, no comboio (o saudoso Vouguinha) que ali passava mais ou menos àquela hora. Isto seria já no dia 16 de Agosto, porque entretanto ficámos uma noite em Lisboa no Regimento de Engenharia, de 14 para 15 de Agosto. Já nem sei, tal era a ansiedade, porque pouco tempo lá estive. Penso que apareci, como outros, no quartel, de manhã cedo, para o pequeno-almoço e para o transporte até Santa Apolónia.
O que é certo é que ainda durante a manhã do dia 16 já estava em Aveiro. O dia 15 foi passado na viagem de comboio até Chaves...
Mas como tinha informado que a minha chegada era àquela hora (17h), fui passear e rever esta bela cidade capital do meu distrito, tão diferente em dois anos de ausência, almocei já não sei onde, e, chegada a hora, lá apanhei o comboio de regresso a casa.
Ia, finalmente, acabar de vez com as preocupações principalmente da minha mãe (e de tantas outras, ao tempo), pois meu pai tinha ido a Lisboa ao Cais de Alcântara, se não estou em erro.
E assim foi aquele dia 14 de Agosto de 1965, que terminou no dia 16 por volta das 17 horas.
Que deixou dois anos de marcas psicológicas profundas, mas, pelo que constato diariamente pela minha leitura e análise de vários depoimentos, menos incisivas que as de muitos outros camaradas...
Um abraço para todos os que por aqui vão passando, enquanto o tempo e as condições o permitirem.
J. M. Ferreira
Sold Apt Armas Pesadas da CCAÇ 462
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Nota MR:
Vd. último poste da série de 4 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8503: Os nossos regressos (25): Tempo de partida, há tanto tempo... tanto (Torcato Mendonça)
5 comentários:
Caro camarigo José Ferreira
Não tenho a certeza mas julgo haver uma série dedicada 'aos nossos regressos'. Pelo menos tenho ideia de já ter lido 3 ou 4 histórias que relatavam esses tempos.
Há sempre pontos comuns mas também há diferenças, principalmente entre aqueles que vieram de barco e os que regressaram de avião. Neste último caso o tempo de 'preparação mental' foi muito mais curto, obviamente, e deu origem a 'desencontros sociais' já por aqui referidos.
O teu regresso permitiu-te fazer mais viagens internas (turismo nacional), conhecer ou reconhecer lugares e no fim, finalmente (passe a redundância), lá chegaste ao conforto dos familiares.
Acabou bem e isso é que interessa!
Abraço
Hélder S.
Nota dos editores:
Há uma série "Os nossos Regressos" e este poste é justamente o nº 26... Todos os nossos regressos foram iguais e foram diferentes... Não apenas ao longo da longo guerra de África (1961/74), mas durante os séculos em que demandámos outras paragens "além-mar"... São as vivências de cada um que nos interessam neste blogue. O tema é, pois, uma fonte inexaurível para os ex-combatentes que estiveram no TO da Guiné, e a quem se destina este blogue...
Há um narcador, "Os nossos regressos"...
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Os%20nossos%20regressos
Caro camarada José Ferreira
Nesta viagem por terras de Portugal, apenas queria rectificar a viagem da Régua a Chaves era a linha do Corgo e não a do Tua.
Um Grande abraço
José Barros
Aos meus caros camaradas que aqui vieram e deixaram a «sua marca»:
1º - Obrigado a todos.
2º - Ao Helder Valério quero dizer que a realidade sociológica foi aquela que vivemos. E que não se vai repetir. Pelo menos em cada um de nós. Que acabou bem, sou ainda a prova.
3º - Ao Luís, um agradecimento especial, porque sempre atento na qualidade de progenitor deste espaço, maior que o mundo, que fez nascer e cujos resultados são incomensuravelmente de grandes dimensões, agradeço o ter-me esclarecido quanto à existência, aqui, de uma série de «Os nossos regressos». Confesso a minha ignorância, apesar de, quase todos os dias, vir até aqui fazer uma visita.
4º - Ao José Barros, também agrdeço especialmente a correcção. E eu farto de saber. Mas como «teclo» directamente, o que me veio primeiro à «caixa» foi o que escrevi... Daí a razão.
Diga-se na verdade que também, enquanto em Chaves, utilizei pouco ou nada aquela linha. Ao tempo, demorava mais da Régua até Chaves, do que de casa até à Régua.
Um obrigado a todos com um forte abraço,
JM Ferreira
Coincidência no poste P3099 os nossos regressos o titulo que lhe dei foi:
O meu regresso atribulado.
Um alfa bravo.
Colaço.
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