segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8823: Filhos do vento (4): Eu, provável mulato, de quarta geração... (Jorge Cabral)

1. Comentário, ao poste P8818 (*),  do pai do Alfero Cabral, que eu tive o privilégio de conhecer na Guiné em carne e osso, tanto o pai como o filho (que posso garantir não ser de "vento":  vd. foto à esquerda, em pose de régulo, com três bajudas mandingas de Fá):

 
Fornicadores compulsivos? Tenazes emprenhadores? Pais de multidões mestiças? Ena,  pá, o que para aí vai!

Arrisco afirmar que a maior parte dos militares portugueses nem sequer experimentou… sim, a principal actividade sexual desempenhada foi manual…

A oferta a nível de prostituição era escassa. Bafatá possuía menos profissionais do que qualquer Rua do Bairro Alto de então… As bajudas,  muito controladas e vigiadas, pois a virgindade constituía um valor a preservar. Algumas mulheres casadas, faziam o jeito… Mas quase nunca de forma exclusiva.

Nasceram alguns mestiços. E daí?

As mulheres adúlteras podiam ser repudiadas ou então os filhos eram considerados do marido, como aliás ainda sucede no nosso direito, em obediência ao velho princípio romano – "Pater est quem justae nuptiae demonstrant …" [ Pai é quem o casamento indica]. 

Mestiços existiram sempre na Guiné… Mestiços aliás, somos nós todos e os Fulas são um bom exemplo. Até o "Homo Sapiens" se cruzou na Península Ibérica, com o "Neandertal", como provou a descoberta do "Menino do Lapedo".

Quando um Homem vai para Tropa vai inteiro, não deixa o aparelho genital em casa… Antigamente os bordéis acompanhavam os exércitos … e em Portugal localidades onde existiam quartéis dispunham de abundante oferta sexual. Quem passou por Vendas Novas deve ter reparado numa rua, designada "Rua das Moças", na qual durante décadas viviam as ditas… uma espécie de Bairro Vermelho Alentejano.

Em miúdo, descobri uma velha fotografia da bisavó Francisca.  Tendo-lhe notado a cor morena e o cabelo crespo, perguntei: 
- A Avó era preta? 

Bem, ia levando uma galheta, como o Avô chamava às bofetadas, valendo a intervenção da Avó Maria… que explicou que a Mãe fora concebida numa noite muito escura… Só anos mais tarde descobri a existência do criado Simião, gigantesco negro que com os patrões viera do Brasil. Do que lhe sucedeu não sei… Segundo o Avô que substituíra a linguagem comum pela terminologia militar e chamava pré aos dez tostões que me dava, [o Simião] recebeu guia de marcha… 

Pois é, se calhar sou um mulato de quarta geração… Que trauma!

Jorge Cabral

_______________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 25 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8818: Filhos do vento (3 ): Vi muito poucos mestiços... (J. Pardete Ferreira)

14 comentários:

António Duarte disse...

Ora até que enfim que aparece alguém que trata o tema como deve ser tratado. Com sentido prático da vida, sem fazer dramas e sobretudo com humor. Parabéns. Quanto aos camaradas "sérios", ponham-se de bem com a vida e se a experiência sexual africana se limitou a "trabalhos manuais", paciência...ficaram a perder.
PS - As saudades que a Sali Mato manifestava em 1972 pelo Alfero Cabral, tiveram de ser mitigadas por alternantes.. 1 abraço do António Duarte

Anónimo disse...

Caros Camaradas

Quem com este desembaraço, tão livre relata espontâneos factos, não sofre de melancolia provocada por tabus, nem tem calos, nem papas na língua…

Parabéns

Um abraço

José Corceiro

Anónimo disse...

Uma lufada de ar fresco tão necessária nos dias que correm.
Venham mais.

Um abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Concordo e subscrevo.
Não arranjem mais uma forma de autoflagelação.
Eu já enviei o meu comentário mais desenvolvido e com foto.
É a excepção que confirma a regra.
Um Alfa Bravo do
António Costa

Anónimo disse...

Muito bem, este poste valeu por muitos outros.
Gostei.
Parabéns
Filomena

manuelmaia disse...

Caro Jorge,

Só mesmo tu para levar boa disposição a toda a gente de astral em baixo...
abraço
manuelmaia

Hélder Valério disse...

Caros camarigos

E principalmente, ao incontornável e insubstituível, "alfero Cabral".

Após a revelação dessas angustiantes suspeitas, a das 'origens africanas', devo dizer-te que tal já me tinha ocorrido, a partir de algumas fotos do "alfero", mas confesso que não tive coragem de aflorar o assunto. Vejo agora que não necessitava de ter esses receios.

Afinal, também aqui no Blogue, alguém já nos lembrou que aquando do 'desastre de Alcácer Quibir' em que ficou por lá a maioria da 'fina flor' da nossa juventude e das classes possidentes, as jovens 'viúvas' e outras, não tiveram muitas escolhas e que não consta que os imensos escravos que por cá andavam na época se tivessem ido embora...

Por outro lado, o que é que é feito do Gungunhana e do seu séquito que, dizem, foi 'reordenado', não nos Nhabijões, mas em território português à 'beira-mar plantado'?

Se calhar não é necessário recuar muitas gerações para encontrar 'certos traços' em muitas árvores genealógicas. E não pensemos só em 'africanos', basta lembrar que ainda hoje, entre as camadas populares de Sesimbra, por exemplo, se recordam frases como "mata que é suico" (quereriam dizer sueco, mas sabe-se como o povo por vezes erra), como retaliação pelas incursões piratas que os nórdicos (daí a generalização de suico) faziam nas regiões costeiras, roubando, matando, pilhando e também deixando os genes...

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

EUREKA..EUREKA

Os "filhos do vento" são todos filhos deste Sr. mulato de quarta geração.
Como sabem um mulato é filho de um mulato mesmo de quarta, nem que fosse de sexta ou sábado era igual.
Reparem na fotografia deste Senhor com as bajudas...uma foto vale mais que mil palavras..depois não tem ar de quem alguma vez fez o trabalho "manualmente"..e porquê.. ora..não tem borbulhas.. e apresenta um grande bigode...logo meus caros "Wotsons" ..é elementar

Sherlok Holmes
perdão
C.Martins

Manuel Joaquim disse...

Que "flash" ... brilhante! (passe o pleonasmo)

Um abraço ao "disparador"

Joaquim Mexia Alves disse...

Nem mais, caro Jorge, nem mais!

Grande abraço

Luís Graça disse...

Está na altura de perguntar ao pai do Alfero Cabral quando é que é a festa do lançamento do tal livrinho com as "estórias cabralianas"... U(Tem que ser no Cupilom de Lisboa...)

Agora que vou ficar no "estaleiro" perto de um mês, prometo escrever o prefácio, com tempo e vagar... A gente precisa de reencontrar o alfero e as suas criaturas... Nada melhor do que este último trimestre deste "annus horribilis"... O humor cabraliano é também o delicioso estrume com que a gente aduba o poilão da nossa querida Tabanca Grande...

Joaquim Mexia Alves disse...

Oh Luís, opera-te lá homem, e regressa são e escorreito!

Essa de chamar ao humor do alfero, "estrume", ainda que delicioso, não lembra ao Camões ... eheheh

Hoje ao almoço, na Preciosa a preparar o Cozido de amanhã, vou beber um copo por ti, e pelo Francisco Silva, para que a operação corra a contento dos expectantes camarigos.

Um abraço

Anónimo disse...

"Alfero Cabral" muito obrigado, fiquei esclarecido e muito aliviado, também eu, como o Hélder, já tinha suspeitado, ou seria desconfiado, bem, agora perdi-me, fico a aguardar nova e brilhasnte comunicação aos atabancados deste espaço.

Escrita sempre criativa a deste Cabral.

Um abraço, mas grande,
BSardinha

Anónimo disse...

Peço desculpa, quero retirar a vírgula a seguir ao Hélder.
BSardinha