quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Guiné 63/74 – P8837: Memórias de Gabú (José Saúde) (6): A notícia infeliz do desaparecimento da menina de Gabú



1.   O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

“FILHOS DO VENTO”

A NOTÍCIA INFELIZ DO DESAPARECIMENTO DA MENINA DE GABÚ

ECOS DE UMA MORTE AOS 12 ANOS

Confirmava-me, recentemente, o camarada Amílcar Ramos, ex Furriel Miliciano BAA, residente em Castelo Branco, e meu companheiro da Messe de Sargentos em Gabú, que no ano de 1999 visitou a Guiné e, como é óbvio, o Leste do País, sendo que dessa viagem ressalta uma visita a Bafatá e Gabú, locais onde prestou serviço, tendo então reencontrado velhos amigos e amigas que lhe comunicaram a morte da tal “MENINA DE GABÚ”.

Dizia-me o antigo camarada que ao ler os meus apontamentos “FILHOS DO VENTO” e “NATAL DE 1973: NO RESCALDO DE UMA NOITE QUENTE E DE… LUAR”, decidiu contactar e elucidar-me sobre o infeliz desaparecimento daquela pequena flor que ousei trazer à estampa.



A menina loira, linda e afável [, foto acima], , morreu quando tinha 12 [aninhos]. A notícia foi-lhe dada pela própria mãe (foto abaixo), uma vez que o Amílcar procurou em Gabú pela menina, indo depois ao encontro da sua progenitora. A ditosa faleceu com uma doença, assegurando-se que a causa do seu falecimento se prendeu, apenas, com problemas de saúde.

O Amílcar assegurava, também, que aquela pequena princesa muito o cativou. A mãe residia perto da pista velha (aviação) de Gabú e com ela travou conhecimento, surgindo uma natural aproximação àquele rebento originário de um antigo camarada de armas e de uma guineense.

Curioso é que o antigo Furriel Miliciano tinha levado consigo uma foto dele com a menina, oferecendo-a depois à sua mãe. Os familiares juntaram-se, e em pranto, prestaram uma homenagem à “MENINA DE GABÚ”.

Há fins de todo impensáveis e sobretudo dolorosos. DESCANSA EM PAZ,  PRINCESA!

A mãe da ditosa “MENINA DE GABÚ”

Um abraço,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Fotos: © José Saúde (2011). Direitos reservados.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

28 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 – P8831: Memórias de Gabú (José Saúde) (5): Natal de 1973: No rescaldo de uma noite quente e de… luar! 

5 comentários:

Luís Graça disse...

É doloroso, mas temos que saber e divulgar... Quantas "meninas do Gabu" chegam aos 5 anos, aos 15, à idade de casar ?... LG

Notícia da RTP, de 25 de Março de 2008

(Reproduzido com a devida vénia. LG]

http://ww1.rtp.pt/noticias/?article=146502&visual=3&layout=10

Guiné-Bissau: Taxa de mortalidade infantil é uma das mais altas do mundo e falha Objectivos do Milénio - UNICEF


A Guiné-Bissau está entre os 15 países com maior taxa de mortalidade infantil, devendo diminuir em 2009 devido a campanhas de vacinação e prevenção, refere um comunicado do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Taxa de mortalidade infantil é uma das mais altas do mundo e falha Objectivos do Milénio - UNICEF

A Guiné-Bissau consta na lista dos 15 primeiros países de um total de 62 cujos progressos foram insuficientes para alcançar os Objectivos do Milénio no âmbito da redução da taxa de mortalidade infantil", sublinha o documento.

Segundo os dados da UNICEF, em cada mil crianças nascidas na Guiné-Bissau, 233 morrem antes de completar os cinco anos de idade, das quais mais de metade (138) não chegam a fazer o primeiro aniversário.

O comunicado da UNICEF na Guiné-Bissau é feito com base no relatório da agência da ONU sobre a situação da infância em 2008.

Para contrariar os números, a UNICEF tem trabalhado com o Ministério da Saúde guineense para reduzir as taxas de mortalidade, assegurando a "entrega equitativa e a nível nacional de (...) aleitamento materno, vacinação, suplemento de vitamina A e mosquiteiros impregnados para a prevenção do paludismo".

No entanto, segundo o relatório devem ser feitas "melhores acções para aumentar o acesso a tratamentos e meios de prevenção, para evitar o impacto devastador da pneumonia, diarreia, paludismo, má nutrição e o vírus da SIDA".

O documento sublinha, contudo, que a "percentagem de crianças menores de cinco anos que dormem com mosquiteiros passou de 79 por cento para 94 por cento".

"O número médio de mosquiteiros impregnados por família passou de 3,1 para 4,1, depois da campanha de distribuição em 2006 e 2007. Isso significa que há uma média de um mosquiteiro adicional por família", revela o documento.

O comunicado anuncia igualmente que a "campanha de vacinação contra o sarampo em crianças entre os seis meses e os 14 anos, realizada em 2006, teve resultados de 92 por cento e controlou a epidemia no país".

"A campanha de vacinação anti-tétano de mulheres em idade fértil, realizada em 2007 e 2008, para prevenir a mortalidade de mães e crianças recém-nascidas também alcançou excelentes resultados", refere o documento.

Segundo o relatório, o impacto das campanhas pode provocar a diminuição da mortalidade infantil na Guiné-Bissau entre 15 a 20 por cento.

Luís Graça disse...

Obrigado, José, pela tua grandeza de alma!... Também chorámos, cá em casa, e na casa do Coronel Nuno Rubim, quando morrreu o Nuninho, aos 4 meses, o primeiro filho da Cadi, de Farim do Cantanhez... LG
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Blogpoesia > Luís Graça

Setembro 24, 2008
Blogantologia(s) (II) - (72) Nasceu e morreu um pretinho da Guiné


http://blogueforanadaevaodois.blogspot.com/2008/09/blogantologia-ii-72-morreu-um-pretinho.html

Anónimo disse...

Caro Luís Graça

Como sabes leio e faço comentários, normalmente em tom irónico, neste blogue.
Quando se fala em temas muito sérios não posso, por dever de consciência, deixar de comentar.
Conhecendo a realidade da Guiné, desculpa, mas os dados estatísticos que aqui referes,não são de maneira nenhuma correctos ou é impossível estarem correctos..passo a explicar.
Como sabes, é quase inexistente a rede eléctrica e a que existe é através de geradores.
Sabendo-se que as vacinas necessitam ser acondicionadas em frio, e transportadas em malas térmicas e posteriormente guardadas em frigoríficos e ainda tem que existir pessoal técnico habilitado para as inocular..logisticamente são impossíveis tais dados estatísticos.

Até em Portugal os dados estatísticos são aproximados,falo especificamente na área da saúde..imagina na Guiné.
Quando num País em que um ministro se dá ao luxo de ROUBAR o gerador do Hospital de Bissau..está tudo dito.
Desgraçado povo guineense..que tais ministros teve e tem..
Quando no pseudo-hospital de Gabú deparei com crianças com meningite ao lado de outras com outras patologias.!!!
Existia um gerador do tempo colonial, que obviamente não funcionava, e para saber se funcionava comprei gasóleo(na candonga,claro)..não consegui saber se funcionava,porque um sr.dr. especializado em saúde pública na Roménia (disse ele)responsável pela saúde no distrito de Gabú..ROUBOU-MO para o por no seu jeep tt..
Poderia continuar mas fico-me por aqui.

Um alfa bravo

C.Martins

Juvenal Amado disse...

Quando lá estive paguei a uma profissional.
Não fui objecto de nenhuma paixão e por isso posso praticamente garantir que por lá não deixei semente.
No entanto houve quem por lá deixasse e agora choram as mortes dos filhos abandonados?
Hipocrisia só lhe posso chamar isso.
Filho meu viria contra tudo e contra todos, ou então ficava lá eu.
É um assunto deveras doloroso e como acho que os governos Ocidentais se deviam envergonhar pela miséria dos países africanos, de que são em grande parte responsáveis, por aqui me fico.

Sotnaspa disse...

Eu quando cheguei a Nlamego entre muitas coisas novas para mim e acho que para todos, pois quando aterrávamos na Guiné tudo era novo, coisas boas, coisas más que nos contavam a toda a hora e que todos nós confirmava ao longo do tempo a qual dos lados pertenciam. Comecei a ouvir dos velhinhos que rendi, que ali perto havia uma menina, filha duma natural e de um militar.
Curioso comecei a "bater zona" para os lados que me tinham indicado e de facto muito próximo do quartel novo praticamente em frente à porta de armas encontrei a menina de pele muito clara e loura a brincar à porta de uma morança muito pequena, em tudo diferente das que entretanto conhecera e mal tive tempo de olhar para ela a, (pequena), que imediatamente apareceu uma mulher que pegou nela ao colo e se escondeu dentro de casa, foi este o meu contacto com a que agora chamam a menina do Gabú, e que infelizmente já não esta junto de nós como dizem. A saúde foi e é muito maltratada na nossa Guiné.

Um alfa bravo
ASantos
SPM 2558