sexta-feira, 22 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10060: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte X: Depois de Ingoré e Bigene, o regresso a casa



Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > Humor de caserna: guia de marcha para Ziguinchor, Senegal...






Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > Bajudas e bajudinhas...


Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > Terras de Portugal, no regresso a casa: região de Sintra ? Praia Grande à direita ? Ou península de Setúbal, serra da Arrábida ? Dão-se alvíssaras para quem acertar na legenda...


Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > A imagem, sempre reconfortante, de Lisboa e dos ícones, o Tejo e a sua ponte...


Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > O Tejo e a baixa pombalina...


Guiné > Últimas fotos do álbum do João Martins > A chegada, a Lisboa, de avião, no regresso definitivo a casa... Sobre a última ele escreveu na sua página no Facebook: "Vista da Alameda D. Afonso Henriques e do Instituto Superior Técnico de que, finalmente, guardo boas recordações"... 

Fotos (e legendas): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Fotos editadas e parcialmente legendadas por L.G.].

ÍNDICE



1. Curso de Oficiais Milicianos
1.1. Mafra – Escola Prática de Infantaria
1.2. Vendas Novas – Escola Prática de Artilharia – Especialidade: PCT (Posto de Controlo de Tiro)
2. Figueira da Foz – RAP 3 - Instrução a recrutas do CICA 2
3. Viagem para a Guiné (10 de Dezembro de 1967)
4. Chegada à Bateria de Artilharia de Campanha nº 1 (BAC 1) e partida para Bissum
5. Bissum-Naga
6. Regresso a Bissau para gozar férias na Metrópole (Julho de 1968)
7. Piche
8. Bissau, BAC 1
9. Bedanda
10. Gadamael-Porto (Parte I e Parte II)
11. Guileje
12. Bigene e Ingoré e regresso a casa





A. Memórias da minha comissão na Província Ultramarina da Guiné - Parte X (*)

por João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)




2 – Bigene e Ingoré e regresso a casa



Depois de ter gozado umas férias, mais que merecidas, em Agosto de 1969, regressei à Guiné, onde me esperava nova missão. Desta vez, calhou-me o Norte, Bigene e Ingoré, o que me permitiu um conhecimento geral de toda a Guiné.

A missão consistia em tiro orientado por avioneta Dornier e exigia elevada precisão, suponho que o objectivo consistia em neutralizar um depósito de armas e munições fazendo-o explodir com granadas de obus. Para o efeito, levei comigo um goniómetro, aparelho semelhante aos teodolitos, com elevada precisão em tirar azimutes e fazer pontaria.
Recordo que em Bigene o tiro de obus se limitou a dar apoio às nossas tropas “limpando “ o caminho à sua frente e facilitando a progressão, operação que durou poucos dias e depois transitámos para Ingoré, a escassos quilómetros do Senegal.

Em Ingoré havia um campo de futebol que me pareceu um lugar adequado para instalar os obuses, e, no outro extremo do campo, havia uma pequena capela com uma cruz no topo que era bem visível apesar da distância a que se encontrava ser apreciável. Foi essa cruz que me servíu para regular a direcção do tiro, pois em cada disparo os obuses dão um salto e saiem da direcção pretendida. Recordo que o tiro supervisionado da avioneta foi certeiro logo à primeira tentativa e que o paiol que era o objectivo explodiu com grande fragor.
Lembro-me que não éramos muito atacados: nada que se parecesse com Guilege, Bissum, ou Bedanda, mas uma vez estando eu, como era meu hábito, passeando pela tabanca e convivendo com a população que achei particularmente simpática, o IN começou uma flagelação.

Era um ataque cerrado, e enquanto a população corria para os abrigos, eu corri para as bocas de fogo com as granadas a caírem relativamente perto de mim. A situação foi de tal ordem que o coronel falando comigo me disse:
- Então você veio a correr para os obuses debaixo de fogo sujeito a ser atingido? - Ao que eu respondi:
- Meu coronel, se não morri até agora é porque não tenho que morrer!

Foi aqui, em Ingoré, que apanhei um tal ataque de paludismo que não via nada à minha frente. Presumo que devo ter chegado aos 40º de febre, o que me atirou para a cama de onde não sairia qualquer que fosse a intensidade do ataque e recordo que não me encontrava em nenhum abrigo.

Recordo também as bajudas, que eram particularmente simpáticas, e, pelo que me apercebi, bem merecíam um futuro mais risonho. Da Guiné, trago comigo a felicidade de ter conhecido gente de bom coração, talvez porque muito menos agarrada do que nós, ao “vil dinheiro” que tudo corrompe e sem o qual não sabemos viver.

Por último e a fechar este meu relatório de atividades no cenário de guerra da Guiné, reproduzo uma última ocorrência.

A certa altura sou chamado ao gabinete do comando da unidade, e, com ares muito circunspectos, vários alferes me informaram que tinham uma notícia muito preocupante para me dar, e entregaram-me uma guia de marcha de que anexo cópia

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 16 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10038: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte IX: Os maus ares de Guileje, aos 18 meses de comissão

2 comentários:

Antº Rosinha disse...

O humor da guia de marcha para Ziguinchor, Senegal, até parece que se adivinhava naquele tempo, o que se está a passar hoje na Guiné-Bissau.

À parte o "humor negro", será que o exército do Senegal que hoje se estabeleceu na Guiné-Bissau, não terá mesmo intenções de transferir a capital que se chama Bissau, para Ziguinchor?

É que já há muitos guineenses apoiando a invasão dos vizinhos.

Pois é João Martins, talvez essa guia de marcha que te meteram nas mãos, fosse de mau presságio, ou até tinhas colegas que viam longe de mais para a época.

armando pires disse...

Meu Caro João Martins.
Camarada.
Eu ia jurar que a primeira foto é mesmo da sua passagem sobre a pen insula de Setúbal. Em primeiro plano a Serra da Arrábida e no lado superior direito a Lagoa de Albufeira. A aridez do terreno comprende-se se tivermos em conta a época a que a fotografia se reporta e, como tal, não tendo ainda começado o ataque selvagem do betão.
Se eu estiver engano, diga.
Se eu tiver direito ao prémio... avise.
Um abraço.
armando pires