sexta-feira, 27 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10200: Notas de leitura (385): "Guiné - 24 anos de independência - 1974-1998", de Zamora Induta (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 1 de Junho de 2012:

Queridos amigos,
José Zamora Induta foi uma figura proeminente na área da Defesa da Guiné-Bissau e teve cargos elevados como porta-voz da junta militar e mais tarde como porta-voz do Estado Maior General das Forças Armadas durante o conflito político-militar de Novembro de 2000. O que o autor nos oferece é um apanhado de documentos, alguns deles preciosos, para entender as contestações às governações de Luís Cabral e Nino Vieira. A comissão de inquérito sobre o tráfico das armas é uma pela eloquente sobre a corrupção envolvendo figuras gradas da instituição militar, apercebemo-nos do enriquecimento ilícito desses mesmos militares e descobre-se como Nino Vieira partilhava com eles a pilhagem no Estado.

Um abraço do
Mário


A Guiné-Bissau vista por Zamora Induta

Beja Santos

“Guiné, 24 Anos de Independência, 1974-1998” é o título da obra de José Zamora Induta, ao tempo capitão-de-fragata da Marinha da Guiné e porta-voz do Comando Supremo da Junta Militar durante o conflito político-militar de 1998-1999 (Hugin Editores, 2001).

Lê-se o livro de fio a pavio e fica-se sem conhecer a opinião de Zamora Induta sobre estes 24 anos de independência, móbil do livro que se afoitou a escrever. Afinal, trata-se de uma recolha de documentos fundamentais com olhares alheios, lemos um livro que tem a opinião de outros. Não obstante, trata-se de uma recolha de inegável interesse tanto para o curioso do processo histórico da Guiné-Bissau como para o investigador que encontra aqui providencialmente textos de inegável interesse. A obra começa com uma apreciação de Luís Cabral sobre os seis anos da sua governação, justifica certo tipo de empreendimentos como o Complexo Agroindustrial do Cumeré, os projetos das pequenas indústrias de Bolama, a rede de eletrificação, a rede hospitalar, a prospeção de petróleo, a exploração da bauxite, elenca os apoios recebidos e deplora o desprezo a que Nino Vieira votou todas essas iniciativas. E diz sem qualquer rebuço: “Não acredito que a nossa Guiné seja um país pobre, inviável. A situação de quase calamidade a que chegou o país é da inteira responsabilidade do regime deposto. O nosso país era altamente respeitado no mundo, fazendo parte de um número restrito de países africanos considerados sem risco nos meios financeiros internacionais. Depois da Guiné se ter libertado do regime ditatorial e incompetente que a dirigiu durante quase 20 anos, deixando o país com dívidas inimagináveis, e ultrapassado um período de transição que nos dignifica e que deu, de novo, credibilidade ao Estado guineense, começamos agora a viver uma nova página da nossa História, com a realização de eleições gerais verdadeiramente livres”.

A seguir a uma menção sobre o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, o autor reproduz um artigo publicado no jornal “Nô Pintcha” acerca das execuções perpetradas pelo regime de Luís Cabral nas matas de Cumeré, Porto Gole e Mansabá, factos que ocorreram predominantemente em 1978. Nova lista, desta feita relativa aos acontecimentos do chamado golpe encabeçado por Paulo Correia, em Outubro de 1985 (caso 17 de Outubro) e que levou ao desaparecimento de combatentes e de intelectuais torturados até à morte nas prisões e outros que foram executados.

Chega-se finalmente ao fulcro do livro, as questões que antecederam o levantamento militar e o seu historial. A lista de implicados no tráfico de armas pasma pela natureza da corrupção ao nível da instituição militar. Antigos combatentes da luta de libertação fez publicar uma longa carta no Diário de Bissau em 28 de Fevereiro de 1998. Eles protestam: “Nós estamos fartos de uma Defesa sem leis, de uma Defesa com comandantes políticos que nada tem feito por este país e só defendem a pessoa do camarada Nino, por terem sido nomeados por este como contrapartida dos serviços sujos por eles prestados. Nós libertámos o país com as mãos limpas e não para aterrorizar com ameaças, com armas que pertencem ao próprio povo". E escrevem sobre oficiais que colaboram nesse trabalho sujo, traficando influências, enchendo os bolsos, vendendo armas aos rebeldes do Casamansa. É um relato tenebroso, as bandalheiras desta clique à volta de Nino demonstram a podridão a que chegara a presidência da república e a instituição militar.

Segue-se a transcrição integral do relatório da Comissão Parlamentar de inquérito sobre o tráfico ilegal de armas, publicado em 8 de Junho de 1998, seguramente o detonador do conflito armado. Preto no branco, os deputados passam em revista os diferentes casos escandalosos, analisam as denúncias, procedem a audições e a acareações, estudam o caso dos turistas franceses mortos em Casamansa, investigam o desaparecimento de inúmero material de guerra, deixam claro que o Presidente da República tinha conhecimento deste tráfico e que muitos dos envolvidos moviam-se no seu círculo privado de relações. O brigadeiro Ansumane Mané aparecia ilibado neste relatório, isto quando Nino Vieira premeditava a sua execução que tinha sido precedida da sua exoneração.

Todas as etapas do conflito, a partir de Junho de 1998, aparecem especificadas, os nomes e as atividades da Junta Militar, a ofensiva diplomática, os recontros que levaram ao desbaratamento das forças invasoras e ao progressivo isolamento de Nino Vieira dentro da península de Bissau. Vem inclusivamente descrito o governo de Unidade Nacional, presidido por Francisco Fadul, o aparecimento de uma força internacional de interposição até à rendição de Nino, são apresentados os documentos em que Nino Vieira pede asilo a Portugal.

No prefácio, Jaime Nogueira Pinto destaca o forte sentido da unidade nacional demonstrado pelo povo guineense, a moderação verificada e os baixos custos humanos e o baixo número de atos de vingança e retaliações. Como é sabido, a convulsão político-militar não abrandou com a eleição do presidente Kumba Ialá, deu-se o assassinato do brigadeiro Ansumane Mané e o país continuou adiado. O prefaciador julgava que apesar da fragmentação ética e da diversidade religiosa do seu povo que a Guiné iria resistir aos monstros do conflito tribalista. Está à vista de todos que um dos cenários possíveis para a tragédia que se vive na Guiné é de uma luta tribal entre balantas e outras etnias que poderão aparecer como catalisadores do elevado descontentamento da deriva, da fome e do desaparecimento da esperança na pseudo evolução na continuidade e tentativa de acalmia que parece ser a preocupação do atual governo, emanado dos golpistas e praticamente sem nenhum apoio da força maioritária, o PAIGC. Vamos estar atentos.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10194: Notas de leitura (384): "A Viagem do Tangomau, Memórias da Guerra Colonial que não se apagam" (José Brás)

12 comentários:

armando pires disse...

Em 1998 estive na Guiné como enviado especial da Antena 1. Eu e os restantes jornalistas portugueses que tinha ficado "foram" de Bissau, contactavamos diariamente com o major Zamora Induta, enquanto porta-voz da junta militar. Vim com uma certeza. Havia tráfico de armas para o rebeldes de Casamansa. Mas fico com uma dúvida. Sendo Nino Vieira o mentor desse tráfico de armas, porque foi que o exército Senegalês ocorreu em seu socorro?
Quanto ao livro de Zamora, tenho de o ir ler. Pode ser que nas entrelinhas eles nos conte como foi assassinado Ansumane Mané.

Antº Rosinha disse...

A dúvida de Armando Pires tem muita lógica.

Mas em Bissau a lógica só os guineenses é que sabem qual é.

Principalmente entre os militares do PAIGC é tudo tão tribal e de tantas intrigas que não dá para "branco" entender.

Nem Amilcar nem Luís Cabral entenderam.

O povo nunca acreditou no PAIGC, excepto os jovens com o natural entusiasmo da juventude.

E mesmo assim. só alguns que beneficiassem do sistema e arranjinhos.

Armando Pires, na Guiné o termo que já não deve existir mais, "partim pés" era para levar a sério.

Se as armas para os rebeldes da Casamance desse dinheiro, algum tinha que ser partido com Nino.

Só que o Senegal a ajudar o Nino, foi uma das muitas marradas do Senegal e França até acabar com aquela fronteira entre Bissau e Casamance.

E, o pior é que é fácil fazer implodir a Guiné, devido a uma grande parte de guineenses (ou dupla nacionalidade) "colaboracionistas".

Claro que eu sou suspeito a falar isto, porque sou contra aquelas independências africanas naquela data/hora.

Mas enfim, Angola já não corre perigo de desaparecer.

Anónimo disse...

Trocas e "baldrocas".
Ele é branco ou preto consoante as conveniências,ora amigo ou inimigo tanto faz..quem dá mais,é que é amigo de "peniche" ou de ocasião...
Ansumane Mané tinha a cabeça a prémio (mas estava inocente).
O Nino ficaria refém do Senegal se a sua facção vencesse,mas isso pouco importava.
O Ansumane Mané,cometeu um erro fatal..despromoveu e humilhou publicamente as resmas de "generais e coroneis" graduados às "paletes"..ficou com o destino traçado pelos próprios "amigos" de ocasião..
Na guiné a razão tem razões que a razão desconhece..
O próximo é o "pançudo" analfabeto.
No meio o " zé povinho guineense" vai sobrevivendo como pode..como sempre.
Não perceberam nada..eu também não.

C.Martins

Anónimo disse...

Cada um tem seu tempo escolhido para deixar andar a história, não Amigo Rosinha?
Há até os que defendem "ainda é cedo" sendo sempre cedo para eles porque julgam a vida como coisa estática.
Nem sei dizer muito bem o que é isso de do povo nunca ter aceitado o PAIGC, porque vi crescer o PAIGC por entre uma montanha de dificuldades e sacrifícios.
A bem dizer nem sei se a Padeira de Aljubarrota alguma vez acreditou em Portugal.
De resto, também acho que nem Amilcar Cabral se safaria mais tarde...se não tivesse sido morto mais cedo.
Por quem?

Abraços
José Brás

Anónimo disse...

Camaradas
Recordo que a Guiné é um estado independente e que o seu governo, qualquer que seja deve ser avaliado pelo respectivo povo. O modo como a situação política e social da Guiné evoluem é da responsabilidade daquelas duas entidades. Nós, como estrangeiros, só podemos acompanhar o sucedido na perspectiva do "historiador". Não podemos exercer qualquer tipo de crítica, por mais moderada e bem intencionada que seja.
Um Ab.e boas férias, se for o caso
António J. P. Costa

JD disse...

Falarmos da descolinização na actualidade, é como chover no molhado. Mas pode-se fazê-lo, e eu costumo.
Como diz o Rosinha, aqueles povos, de facto não estavam preparados para a governação, principalmente, considerando toda a estratégia de racismo para a debandada dos brancos. Também se pode especular, se a permanência destes não seria a perpetuação da forma tradicional de colonialismo, que, por vezes, caracterizava-se pela exploração desenfreada, e no caso português, pela demorada estratificação de direitos, e deficit de desenvolvimento (excepto no fim).
A verdade, é que a debandada dos portugueses, e de alguns nativos e descendentes, provocou um vazio financeiro, técnico, e administrativo, que teve graves repercussões nas três principais colónias (ou provincias, pouco adianta). Do ponto de vista formal e legislativo, na minha opinião, eram colónias, pois preservavam diferentes direitos perante a lei, conforme a origem dos cidadãos (até 1974).
Todavia, há um aspecto que não tem sido abordado, que respeita à escolha feita pelo arrependido colonizador (personalizado pelos partidos e pelo inconsistente MFA), de decidir a entrega de cada território a entidades minoritárias - os movimentos, sem que a maioria das populações tivesse tido ocasião para escolher os seus rumos - aqueles que participavam no desenvolvimento de cada território.
E sob este aspecto, concordo com o Zé Bráz, pois a história não é estática, e sofre influências de múltiplas origens e diferentes importâncias.
Se Norton de Matos (que se manifestou por duas vezes como defensor dos direitos dos indigenas), se Henrique Galvão, se Salazar, se as orientações da Carta das Nações Unidas... talvez que as independências tivessem sido mais ponderadas, originando novos brasis. Mas isso são os ses.
Abraços fraternos.
JD

armando pires disse...

Eu não quero sustentar polémicas. Mas volto aqui para dizer que sempre achei interessante o discurso segundo o qual "eles não estavam preparados", "nós saímos e eles ficaram sem saber o que fazer", "eles", "eles", "eles"... Já se deram conta de que este discurso permite uma pergunta, qual seja: O QUE ANDÁMOS NÓS ALI A FAZER DURANTE QUINHENTOS ANOS?
armando pires

Anónimo disse...

Olá Camaradas
Estes posts mostram o que é inegável, mas há muita gente que não quer entender. O Freud talvez saiba explicar porquê. Eu só constato. Parece-me, contudo, que há um certo complexo de superioridade (com fundamento?) em relação às populações locais. No fundo, tratou-se de uma série de equívocos que começou na "dilatação da fé e do império". Depois, seguiram-se os "500 anos à sobra da bandeira verde-rubra". Tudo ideias feitas e fabricadas para gastos na "Metrópole". Para trás ficou a Conferência de Berlim, as Campanhas de "Pacificação" e um pseudodesenvolvimento que todos verificámos. Estou a resumir, claro. Já conhecemos o que sucedeu no nosso caso e sabemos o que sucedeu por toda a África. Por isso, ocorre perguntar: Estávamos à espera de outra saída?
No nosso caso saímos depressa. Nem outra coisa era de esperar. Não adianta, nem é justo culpar o MFA nem os partidos políticos do tempo.
Todos queríamos vir embora. "Távamos fartos deles". Como é que reagiriam os militares portugueses se fossem obrigados a completar as suas comissões, trabalhando em proveito dos novos países?
E o PAIGC, com o "rei na barriga" aceitaria esta solução, aprendendo com os salazaristas, imperialistas, fascistas, como se monta um sistema administrativo num país novo? Reparem que nem a título de voluntariado a aceitou.
Nós tínhamos cá "os nossos problemas" de toda a espécie.
E os "retornados" na sua maior parte foram-se habituando a uma situação de paz podre, fumando tranquilamente sentados num barril de pólvora. Retirada a escora-mestra - NÓS - num edifício velho e mal construído, ele colapsou.
Enfim uma série de equívocos, onde quem se lixa é o mexilhão.
Não me sinto nada culpado pelo que se passa na Guiné. Tenho pena, como tenho de todos os outros povos de África em idênticas situações ou até pelo mundo...
Há quem diga que um ex-combatente é o pacifista (ou belicoso) mais convicto...
Um Ab.
António J.P. Costa

JD disse...

Camaradas,
Tanto o Armando Pires, como o António Pereira da Costa, trazem dois comentários muito oportunos para a compreensão dicotómica sobre a colonização e a subsequente descolonização.

Questiona o Pires o que andámos lá a fazer. Pouco, muito pouco. Os sertões angolano e moçambicano eram praticamente desconhecidos, e só a meados do sec.XIX aconteceram as grandes viagens de exploração. Foi no limiar do sec.XX que se desenvolveu a actividade económica, em parte, a partir da iniciativa estrangeira. Reeditou-se o período do ouro do Brasil, mas agora com diamantes, sisal, açucar, até às mais recentes explorações de ferro e petróleo. Foi no final dos anos 50,principalmente em Angola, que se registou o crescimento industrial, e o desenvolvimento do comércio e serviços, em boa parte por iniciativa de empesas estrangeiras. Ainda éramos feitores dos verdadeiros colonos, com sedes em Londres, Berlim, ou N. York. Mas aumentava substancialmente o investimento dos grupos económicos portugueses.
Durante esses anos todos, não houve da parte portuguesa alguma especial atenção em relação aos indígenas, e negociavam-se com os sobas a cedência de mão-de-obra muito barata que, por vezes, era deslocada, e não regressa às suas famílias (nativos do sul que iam trabalhar para o nordeste - CDA). A penetração no território ficou quase exclusivamente entregue a cantineiros e caçadores. No inicio do sec.XX aconteceu a última "pacificação" da Guiné, quase contemporânea com a prisão de Gungunhana em Moçambique.
Porém, talvez estranhamente, nunca aconteceram casos ostensivos de ressentimento contra os civis portugueses. Que não eram propriamente bons. Leiam sobre o N.Matos e o H. Galvão. Houve sempre proteccionismo aos pseudo-empresários, nacionais e estrangeiros, que exploravam o indígena. Mas, aos poucos, que estas coisas não acontecem à velocidade do interruptor, foi-se desenvolvendo uma classe de mulatos e prêtos, que estudavam a par dos brancos, e empregavam-se na administração pública e algumas empresas, que se integrava na classe média. (continua)
JD

JD disse...

(continuação)
Com a guerra deu-se o boom desenvolvimentista. Construiram-se escolas, hospitais, postos de assistência, vias de comunicação, barragens, etc, num conjunto de infra-estruturas que patrocinavam o desenvolvimento, e garantiam novos postos de trabalho. Era um período de transição de um modelo social tradicional, para um modelo moderno e pluriracial, onde todos eram necessários para o equilíbrio e satisfação das necessidades colectivas e, em abono dos portugueses deste nível, quase sem descriminações . Na Guiné, a situação era peculiar, e havia constrangimentos ao desenvolvimento de todos conhecidos.
Em todo o caso, a acção de Portugal era pobretana, apesar das imensas riquezas de recursos locais, e, como cá, começava-se a construir a estrutura social. Obviamente, a guerra estava muito circunscrita em Angola, enquanto em Moçambique ainda era ameaçadora, talvez em resultado dos diferentes modelos adoptados: enquanto em Angola foram neutralizadas as vias de penetração e mantinham-se sob controle os focos de guerrilha (para além do pouco empenho das potências), em Moçambique adoptara-se o modelo das grandes operações.
Convém lembrar, que o poder lisboeta nas mãos de Salazar, sempre recusou conferenciar com os movimentos de libertação, do que resultou o natural incremento das lutas, o comprometimento das soluções de paz, e a integração dos guerrilheiros na vida social, do que resultaria a valorização das comunidades.
Foram muitos e constantes os erros da nossa política, mas pelo que antecede, espero ter contribuído para uma ideia sobre a antevisão dos novos brasis, que o MFA frustrou, pois, nos trabalhos preparatórios, não só não teve em conta o mais que provável desenvolvimento do que aconteceu, como não manifestou especial preocupação sobre o assunto, como me afirmou particularmente um sr general, que não teve oportunidade de me responder no decurso de uma conferência realizada o ano passado na L.C., em Oeiras, o mesmo que é tão citado na obra do general Silva Cardoso.
Refere o António P.Costa a falta de vontade para combatermos no ultramar, que eu subscrevo integralmente, em primeiro lugar, porque fomos maioritariamente educados para a vida em paz, e noutro plano, porque a mobilização nos frustrava os sonhos e as realizações pessoais, além de que estes acontecimentos foram sucedâneos do Maio de 68, e da proliferação de ideias obstinadas (cegas, surdas e mudas, praticamente dogmáticas) sobre os princípios da libertação, hoje mais comprometidos e dependentes dos interesses do capital. Também o poder ditatorial não teve capacidade para avaliar sobre o cansaço da guerra, nem os generais, maioritariamente, ousaram chamar-lhe a atenção para as circunstâncias.
Por último, se não somos capazes de preservar as melhores relações com os governos das novas nacionalidades, no contexto da diplomacia e cooperação internacional, isso também pode resultar das hipócrisias da descolonização exemplar, e dos oportunismos dos poderes de cá e de lá.
Abraços fraternos
JD

Antº Rosinha disse...

José M. Diniz, como falas frequentemente em Norton de Matos, talvez conheças os livros que ele escreveu.

Se tiveres ocasião e acesso a eles, eu procuro um livro dele que me foi mostrado a seguir ao 25 de Abril, por uma pessoa já falecida.

Como era proibido pela censura, o dono do livro só o tirou de fundo de um baú com o 25 de Abril.

Na altura eu nunca tinha ligado a qualquer política, era mais outras coisas, e ainda bem, mas agora tenho pena de nem me lembrar do título desse livro.

É que hoje gostava de ver o livro, pois que o dono do livro mostrou o livro aos colegas do meu trabalho, em que se verificava que tinha sido, capítulo por capítulo, servido de modelo para o best seller de Spínola "PORTUGAL e o FUTURO".

É que era de tal maneira na mesma ideia e pela mesma ordem, que admiro-me nunca ter lido nada sobre esse "copianço" de ideias com quase 30 anos.

Penso que não sonhei apesar de terem passado tantos anos.

Se conseguires, o que será difícil, pois era proibido de circular, agradeço que comuniques.

Cumprimentos

Jazzebel disse...

Caro Rosinha,
Não estou em casa, e não possuo muita coisa dele. Mas o que tenho posso emprestar-te.
Podes enviar-me a tua morada para o mail josemanuel.matosdinis@gmail.com que farei chegar-te, apesar de sobre a obra dele, de que só tenho 2 volumes, ter necessidade de mandar encaderná-los. O que será rápido. Entretanto, posso enviar-te uma biografia.
Entretanto, vou contactar dois ou três alfarrabistas , a ver se surge alguma coisa.
Um abraço
JD