segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10728: O nosso livro de visitas (153): Mário Oliveira, bravo marinheiro da Armada, cabo CM reformado, que esteve na Guiné, em 1961/63, ainda antes do início oficial da guerra, a bordo do NRP Sal, navio patrulha da classe Príncipe


NRP Santa Luzia, navio patrulha da classe Maio,construído no Arsenal do Alfeite. Foto de Eduardo Carlos Messias Camilo, alojada no sítio Núcleo Marinheiros da Armada do Concelho da Lousã. Reproduzido aqui com a devida vénia... (E Parabéns aos camaradas da Lousã pela sua página na Net!).


1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Mário Oliveira,com data de ontem:

Data: 25 de Novembro de 2012 14:35

Assunto: o mundo é pequeno,  a nossa tabanca é grande

Olá Luis Graça

Ontem ao pesquisar no Google para saber mais sobre o "infeliz" cap  G3 , deparei-me com o nosso blogue, nosso, da malta que em épocas diferentes bateu com os "cornos" na nossa querida Guiné.

E digo querida, porque tive a felicidade de conhecer a Guiné na época imediatamente anterior ao inicio oficial da guerra, a minha comissão foi de 61 a 63.

Vou dizer algo sobre mim, e mais adiante falarei sobre o maravilhoso povo guineense. Sou marujo, cabo CM reformado, assentei praça na Armada em novembro  de 56, tenho 76 anos de idade, mas ainda consigo arrastar as patas e,  quando calha ainda como uns petiscos e bebo umas "cravanadas".

O meu primeiro contacto com a Guiné aconteceu em 1960, iamos a caminho de Angola no NRP Sal, um navio patrulha da classe "Patrulhas Americanos" [ou Classe Príncipe]. Havia outros,  os "Franceses" [, ou Classe Maio]. 

Chegá mos ao porto de  Bissau já noite cerrada, foi o meu primeiro contacto com a Africa Misteriosa, recordo-me como se fosse hoje, o meu posto de faina era na casa da máquina, o que quer dizer que nunca assistia visualmente á entrada nos portos, mas sempre dava para subir uns degraus da escada de ré e dar uma olhada. Com os olhos ofuscados com a iluminação da casa da máquinas,  subo clandestinamente dois ou três degraus. Meto as "trombas" fora da escotilha e que vejo eu? Três ou quatro fatos de marujo, calção e corpete a flutuar no ar. Explicação para o fenómeno: a noite estava tão escura, os marujos auxiliares da ponte cais eram tão pretos, que eu com os olhos saiídos de repente da luz da casa da máquina, a primeira sensação que tive foi a dos fatos brancos a flutuarem no ar.

Não foi este o meu primeiro contacto com a África, porque já tínhamos estado uns dias no porto de S. Vicente em Cabo Verde e no porto de Dakar no Senegal.

Fiz três comissões, uma em Angola, outra em Moçambique mas aquela que mais me marcou e que terei muito gosto em contar algumas incriíveis histórias, como aquela em que matei um crocodilo no Rio Cacheu, com um escopro e um martelo,  foi realmente a comissão na Guiné.

Irei cumprir as "formalidades",  fotos etc.,  para aderir formalmente á Tabanca Grande .

Um abraço

Mário Oliveira

2. Comentário de L.G.:

Mário:  É verdade,  o Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca... é Grande! Graças à Net e a gente determinada como tu... E dizes bem, a "nossa" tabanca,  mesmo que um marinheiro goste mais de água do que de terra, de tempos a tempos tem que pôr o navio no estaleiro (ou acostar)...e vir a terra para sentir o chão firme!

Pois, para os teus 76 anos, estás muito mais "puto" do que muitos dos "periquitos" que foram fechar a "guerra" em setembro de 74!... Gosto desse espírito jovial, que tem muito a ver com a gente que lida com (e respira) o mar...

 Li, com evidente orgulho e satisfação, a tua apresentação. É de "tugas" como este que a gente precisa - pensei logo.  Quero eu dizer com isto, que é uma subida honra ter um bravo marinheiro como tu no meio desta maralha toda que representa uma orgulhosa e valente geração que deu o melhor de si, nas bolanhas, lalas, rios, braços de ar, savanas, florestas-galeria, tabancas e céus da Guiné...

Estamos a caminhos dos 600 amigos e camaradas da Guiné, "atabancados". Manda-me as duas fotos da praxe que é para eu (ou o Carlos Vinhal) te apresentar aos demais "grã-tabanqueiros".

Um Alfa Bravo. Luís Graça

PS - Já agora... donde és ? onde vives ? E descodifica lá o que é que dizer, na Armada, cabo CM (classe condutor de máquinas ?)... E já agora que história é essa do "infeliz cap G3"...
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de novembro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10659: O nosso livro de visitas (152): João Meneses, 2º ten FZE RA, DFE 21, gravemente ferido na península do Cubisseco, em 27/9/1972

3 comentários:

Luís Graça disse...

Seguindo se pode ler na Wikipédia,
"a Classe Príncipe foi a versão portuguesa de uma classe de navios-patrulha construídos nos Estados Unidos da América entre 1942 e 1944, em plena Segunda Guerra Mundial.

"Em 1949, ao abrigo do programa MDAP (Mutual Defense and Assistance Program), a Marinha Portuguesa comprou à Marinha dos Estados Unidos seis navios desta classe, de deslocamento máximo de 357 toneladas para fiscalização dos mares dos Açores, tarefa exercida com as limitações que o mar alteroso do Atlântico Norte impõe.

"Mais tarde, encontraram nos mares de Angola, mais especificamente até à latitude de Moçâmedes, o mar adequado para as suas dimensões e características. Com a construção do estaleiro de Sorefame em Angola, todas as unidades foram enviadas para aquele território. Até aí, a inexistência de um estaleiro capaz obrigava ao seu retorno a Portugal para manutenção.

"Seriam abatidas entre 1967 e 1970 com mais de 25 anos de serviço.
Além dos navios fabricados nos EUA a Marinha Portuguesa recebeu três navios do mesmo tipo fabricados em França aos quais chamou Classe Maio. Foram ainda recebidos mais cinco navios dos mesmo tipo, construídos em Portugal nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e do Mondego e no Arsenal do Alfeite, os quais também foram integrados na Classe Maio.

"Todos os navios das classes Príncipe e Maio receberam os nomes de ilhas portuguesas dos arquipélagos da Madeira, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe." (...)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Classe_Pr%C3%ADncipe

Anónimo disse...

Mas que jovialidade.
Gostei da prosa.

Luís Graça disse...

1. O Carlos Silva, que não é marinheiro, mandou ao para o seu vizinho Manuel Lema Santos, que foi garboso imediato do NRP Orion, a foto (oficial) do NRP Sal...

O MLS teve a gentileza de a reencaminhar para o nosso blogue, com o seguinte nota (para o Carlos e para mim):

Bons dias ,Carlos,

Está lá [, nl blogue,] é o navio-patrulha Santa Luzia, aliás devidamente referenciado.

Para que nada falte mesmo ao camarada (Cabo de Manobra) que escreveu o artigo que li, aqui envio o navio-patrulha "Sal", P 584.

Aliás, bela imagem que sugiro ser enviada ao autor do artigo. É uma imagem oficial, cedência da Revista da Armada.(...)
Abraço,
MLS

2. Já reencaminhei a foto para o Mário Oliveira e agradeci ao MLS nestes termos:

Meu caro tenente RN MLS:

O Mário Oliveira, CM reformado, o nosso jovial marinheiro que já foi apresentado à Tabanca Grande, vai ficar encantado com a foto (oficial) daquele que foi seguramente o navio da sua vida, o NRP Sal...

Obrigado, pela tua generosidade. Obrigado também ao Carlos. Um Alfa Bravo. Luis