1. Em mensagem do dia 22 de Novembro de 2012, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422, Farim, Mansabá, K3,
1965/67), enviou-nos mais um episódio da sua campanha no K3, dias que
fazem parte dos melhores 40 meses da sua vida.
OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA
15.º episódio - Hora de voltar ao palco da guerra
E quando já me estava a adaptar àquela indolência pacífica civil, tive que partir e fi-lo cheio de "caguincha", pois que um homem "adormecer" numa luta, vá que não vá, é sadia a forma de o fazer, se honrosa, mas "ficar-se" sem mais nem ontem, só porque a jigajoga, resolve cair... é chato.
Parti pois num Caravelle que apesar de tudo era bem mais confortável que o Skymaster, cujas poltronas eram uma lona estendida ao comprido.
Essa coisa do terror que me invadia quando andava nestas invenções que andam lá pelos ares, permanece e sem ser nos helicópteros lá da tropa, nunca mais me apeteceu voar. Aliás mesmo em qualquer veículo, seja ele o já citado passarão, seja até num veículo de tracção às duas rodas e puxado quer seja por um mular, asinino ou cavalar, seja enfim em qualquer outro, salvo se for eu a pilotar, não me sinto descansado.
Recordo até que quando ia com o meu sogro, taberneiro lá nos Fóros do Mocho-Montargil, quando íamos repito, buscar uns barris de 50 litros, na carroça e a Cabeção, terra onde continua a haver o melhor tinto do Mundo, tinha que ser eu a conduzir senão não ía. O trajecto era porreiro, por ali pelos meios do mato sem estradas, caminhos esburacados, mas a questão é que não havia outra forma. Curiosamente no regresso não se dava por nada e sempre pensei se não seria a mula que bebera o que não devia.
Mais tarde e com o primeiro bólide que comprei em 1970, um Mini-Morris, a coisa melhorou qu'até alcatrão já se via aqui e ali e trazíamos dois barris em cada viagem. Uma vez, conseguimos meter um lá atrás, mas para o tirar foi uma carga dos trabalhos e só foi possível desaparafusando o banco da frente pois que o teimoso, entrar entrou, sair não queria.
Para encher um, demoravam-se cinco horas. O néctar saía por uma palhinha colocada no fundo da talha de barro, escorripichava lentamente após ser purificado ao passar pela "mãe" depositada no fundo e era tão lindo... tão puro... tão divinal... que mais apetecia a gente afogar-se mesmo ali.
O processo era realmente moroso, só que como já o sabíamos, levávamos umas farinheiras para assar, umas cacholeiras idem aspas, uns pastelitos de bacalhau, uns coelhitos, um ou dois ouriços e azeitonas... enfim todas as velhacas habilidades para uma consentânea noite bem passada, observada que era a obrigação de ir provando aquela maravilha tinta, feita, por quem sabe, com carinho. E dava cá uma pedalada !!! Os bons apreciadores sabem do que estou a falar.
Ora bem... pus-me pr'áqui a divagar e até me olvidei ao que vinha.
Recapitulo: Portanto, horas de voltar... voltei. O avião cheio de gentes ansiosas quanto eu. Umas para visitar os familiares militares, outros como eu, regressávamos ao paraíso, após as merecidas férias, decerto.
Chegado a Bissau, tive a sorte de ter uma vaga para daí a duas horas, destino Farim. Tratava-se duma avioneta que fazia carreira e que levava seis a oito pessoas, mais as cabras e galinhas que houvesse, bem como qualquer e toda a carga que se quisesse.
Pelo aspecto não via motivo para recear viajar naquilo, pois bem se via que era bem tratado e oleado. Uma das asas tinha sido recentemente consertada que bem se notava estar atada com arames, por baixo do motor pingava o Castrol e o interior estava impecávelmente sujo e com restos dos galináceos e de caprinos e dejectos de porcos, ao que me pareceu.
Também... por trezentos e cinquentas querias o quê ?
Ala que se faz tarde, alevantou...
(continua)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 22 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10705: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (13): 14.º episódio: A estranha ausência da guerra e dos camaradas do K3
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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3 comentários:
Caro Veríssimo;
Então a melhor pinga do mundo é no Cabeção? Não fazes por menos?
Por acaso gostei muito das vezes que fui ao Palmeira, das migas comespargos, da sopa de beldroegas com queijo, e como sou repetitivo do que gosto, se calhar nem dei pelo néctar.
Por isso, e para o próximo encontro da Magnífica Tabanca da Linha, ficas encarregado de fornecer um barrizito, daqueles que cabem num mini. Se o dito mini já foi desta para melhor, farás o favor de informar quais as condições para o trazeres, mas livra-te da ideia de pores os magníficos a puxarem pela carroça.
Um abraço
JD
onde se lê "barrizito",deve ler-se barrilzito, não vá o Veríssimo dar-se por achado, e apresentar a desculpa do desentendimento para nos privar da coisa melhor do mundo. Será mesmo? não haverá outras, não digo melhores, mas igualmente boas?
JD
Caro JD, obrigado e quem sabe o que poderá acontecer. Pois nesse Restaurante, vale a pena também comer lebre com feijão e couve ou com arroz, que são uma especialidade. Quanto ao vinho, afianço que não há melhor. Ali perto do Palmeira, ficava uma tasca que toda a gente conhece que era dum Sr Zé Calado, mas o vinho dessa altura era todo feito por particulares, por sinal muitos deles meus familiares. Hoje há por lá há novas adegas e com esse tinto espantoso, mas caro e antes tal vinhito tinto tinha só um defeito: só durava dois anos. O branco é tão bom ou tão mau, que fechado em garrafas 4 ou 5 anos, fica melhor que o vinho do Porto. Abraços e quem sabe senão nos encontraremos também lá por Cabeção. Agora no mês que vem, começa a ementa de caça, conhecidíssima lá na zona.Veríssimo Ferreira,
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