1. Em mensagem do dia 13 de Fevereiro de 2013, o nosso camarada Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72) enviou-nos mais este episódio para a sua série.
Viagem à volta das minhas memórias (59)
“ESTÁ NA MALA”
Azimute: “PELUDA”
CUMERÉ, derradeiro estacionamento da FORÇA que aguardava regresso à Metrópole, depois de honroso e meritório desempenho que se deveu à generalidade dos seus Homens, a quem pertenci de parte inteira e com orgulho, muito orgulho.
Acabados os “trabalhos” que me prenderam por Bula e tendo a sonhada pré-peluda “ido pelo cano”, creio que na antevéspera de embarcarmos nos TAM rumo à PELUDA acabei por me reunir à minha CCAÇ 2791, que havia já tempo aguardava embarque no Cumeré.
Destas instalações não me recordo absolutamente nada, talvez pelas poucas horas que por lá estive, divididas ainda por uma ida a Bissau para umas poucas compritas de última hora.
Mal pareceria regressar a casa de mãos a abanar, já que nem a roupa civil ou militar traria. À excepção da camisa e calça número dois, respectiva boina e cinturão personalizado que traria vestido na viagem de regresso à metrópole e do famigerado pólo “Lacoste” azul-marinho (ex-pertença do Fur. Trms. Lourenço e que por birra mútua lhe andei a pagar durante a comissão inteira, até ao último dia) todos os meus pertences tinha já ficado por Bula, ofertados. Só o meu lenço vermelho, as minhas botas “mineiras” e o meu camuflado de mato - espécie de amuletos da sorte e da vida - ficaram já no Cumeré com o Sá, Fur. ”Pira” por quem senti amizade logo aos primeiros contactos e que achei merecedor do “legado”. (Posteriormente foi incorporado, creio não errar, na CCAÇ 13 onde teria passado por momentos complicados e viveu a transição. Ao fim de trinta anos de o procurar, reencontramo-nos e a partir daí, volta e meia, a par de mais uma dúzia de Companheiros juntamo-nos numas petiscadas, em convívio saboroso.)
Assim e no final da ida às compras, como o patacão se foi esgotando noutros bens “mais prementes e essenciais” … os “recuerdos“ ficaram pelas intenções e acabei por só comprar uma “Gillette” para a barba, já que teria de a desfazer à maneira no dia seguinte, para embarque que se efectuou pela tarde num Boeing dos TAM.
Da viagem ficou-me na lembrança o servirem vinho num canecão em alumínio e a chegada a Figo Maduro onde um personagem entrou de aspersor nas mãos, borrifando a cabine com uma bomba tipo “Sheltox”, como que a desinfestar-nos (bem sei, Vinhal, bem sei que não era a nós) enquanto na “montra elevada exterior” familiares e amigos expectantes e ávidos de reconhecimento aguardavam que colocássemos os pés em terra.
Depois foi o embarque nas viaturas rumo ao RAL 1,onde de entre outros procedimentos se acertaram contas (recordo que ainda recebi algum dinheiro) e se deu por findo o nosso contributo militar à Pátria, ficando desde esse momento e por mais uns bons anos obrigatoriamente disponíveis para novo “chamamento” em caso de necessidade. Íamos pois passar à chamada disponibilidade.
Consoante a Rapaziada entrava na “peluda”, a maioria desaparecia rápido da vista, não dando tempo a despedidas ou quaisquer trocas de informações. Salvo excepções, queríamos era ir ter com quem nos aguardava lá ou e em casa. Aquele passado recente era para começar a esquecer (?!). “Estava na mala”! Vida nova começava a despontar!
Pelo que me toca e lembro, aguardavam-me alguns familiares, para além da já minha noiva e futuro sogro (italiano) que, talvez por ter sido veterano da guerra da Abissínia, me deitou a mão à camisa nº 2 que vestia, estraçalhando-ma, fazendo com que a única peça de roupa que trazia na maleta, o “bendito” pólo azul “Lacoste”, viesse a recompletar a roupagem na ida à “Churrasqueira do Campo Grande” para uma jantarada de boas vindas.
(Foto LF) Quadro-recordação
Tinham-se passado vinte e quatro longos meses vividos em terras sob desígnio da Bandeira Nacional a que prestáramos um juramento que cumprimos da melhor maneira que soubemos e conseguimos, usando as nossas capacidades humanas físicas e psicológicas para ultrapassar o dia-a-dia nas suas incertezas, nos seus receios e medos, no cansaço, nas saudades…, apoiando-nos na Fé e na Esperança, na amizade e na camaradagem, na confiança e na disciplina.
Foram meses de vivências que rápida e extemporaneamente levou rapazes a transformarem-se em homens de juventude interrompida e futuro incerto, que se apoiavam entre si como verdadeiros Camaradas de armas no cumprimento do dever e na persecução do objectivo sobrevivência.
Também meses de ganhos em Amizades desinteressadas, melhor dizendo desinteresseiras, que prevalecem até aos dias de hoje e que parecem renovar-se a cada reencontro mais ou menos intervalado no tempo (que alguns imbecis apodam depreciativamente “… de saudosistas decrépitos…!?”), onde também se recordam e por vezes parece reviverem-se momentos de situações boas e más, que por um ou outro motivo ficaram retidos nas nossas memórias e que se complementam, eventualmente formando perspectivas mais abrangentes do que foi vivido em conjunto.
A força da vida levou-nos por caminhos diversos mas deixou-nos ligados por elos que de novo se unem, remoçando-se nestes reencontros que só pecaram a meu ver, por norma tardios, já que poderiam ter contribuído mais cedo para eventuais expurgos de “fantasmas” psicológicos inibidores de uma vida mais sã.
Luís Faria
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Nota do editor:
Vd. último poste da série de 13 DE NOVEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10662: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (58): Bula - Pré-peluda
12 comentários:
Caro Camarada Luís Faria
Antes de mais quero te dizer que para além tua experiência ,temos um camarada comum.Falaste de um amigo que esteve na CCAÇ13 e só pode têr estado em Bissorã em 1972/74.Estamos a falar do Sá ex.Fur.mil.Só espero que seja o meu amigo Sá que me ajudou a reparar a casa(tabanca)onde foi viver a minha mulher e filho juntamente comigo em Bissorã.Por favor se for possível falares com o Sá e lhe perguntares se é ou não quem eu penso,que esteve em Bissorã com o Fur.mil.Henrique.Já não me lembro qual era o grupo de combate dele,mas eramos da mesmo companhia.Lamentávelmente nunca mais nos falámos,mas foi um camarada e amigo que muito me ajudou nas ditas obras da casa.A ser este o meu amigo SÁ gostaria muito de entar em contacto com ele.
Um abraço camarada Faria e fico com a esperânça que digas algo sobre o Sá.
Henrique Cerqueira
Ex.Fur.Mil Bat.4610/72
e na CCAÇ13 era 3º grupo de combate
Penso que o Sá era do grupo do Aferes Santos que vivia comigo em bissorã mais a mulher dele.
Esta é uma nota a dar ao Sá.
Abraços
Olá,Luís,
Tal como referes,há uns quantos imbecis(do género do atrasado mental deputado do PSD que "gozou" com os nossos cabelos brancos...) a apodarem de SAUDOSISTAS E DECRÉPITOS os encontros de EX- COMBATENTES que servem para reviver as amizades cimentadas nos momentos dificeis que passamos...
Mandê-mo-los tomar no sítio sugerido pelo Viegas...
Abraço
mm
Caro camarada Luís Faria
Texto que se justifica por si próprio, não faltando nada nem tendo nada em excesso.
Gostei muito de o ler.
Abraço
Hélder S.
Meu caríssimo Luís Faria,
Infelizmente o teu azimute não te levou à zona de Teixeira Pinto para uma despedida a certos amigos.
Pior muito pior do que o teu azimute implica, a peluda, é o facto de eu ainda não ter chegado a Bassarel.
Certamente que ainda tenho um longo percurso a percorrer antes de nos sentarmos para o tal “verdasco”.
Abraço transatlântico.
José Câmara
Chegamos?Falta reencontrar o Chaves.Nunca mais o vi. desde a monumental bebedeira que ambos prtagonizamos, numa maqrisqueira, perto do Parque Mayer!....
A próxima paragem é aqui na Rágua. Até lá, aquele abraço.
Jorge Fontinha
Henrique Cerqueira
É esse mesmo,o Sá de que falei.Boa "praça".
Liguei-lhe a proposito de te dar o telelé dele.lembra-se bem.Gostou e disse que sim.
Abraço.
Manuel Maia
Para esses imbecís,o dito do Viegas se calhar não fazia mossa... por espécie!
Abraço
Helder Valério
Sempre generoso nos comentários.
Obrigado
Abraço
José da Camara
Temos que encontrar um trilho que se intercepte,para apaladarmos e cruzarmos o verdasco e esse tal "Jack Daniels"de espanto.
Abraço
Fontinha
Tanto quanto me parece saber,o "Obelix"de quando em vez dá uma fugida dos Açores até cá.Aperta com ele,talvez ele possa conciliar uma vinda.Dava-te uma prenda!
Abraço
Luis Faria
Olá Luis Faria.
O resumo da tua chegada à "peluda", trouxe-me algumas recordações, na maneira como te expressas, e mencionas aquelas pequenas frases que dizem muito a quem por lá passou.
O "quadro de recordações", demonstra respeito, e algum orgulho pelo teu passado.
Parabéns.
Um abraço, Tony Borie.
Muitos parabéns e muito obrigado por este "post", meu caro camarada Luís Faria.
Um abraço
Manuel Joaquim
Mais uma vez gostei de te ler nessa tua "fuga" do inferno até ao "poisar" na célebre Churrasqueira em Lisboa.
Abraço
JPicado
Caro Luís Faria,
Fizeste bem o nosso filme do " Adeus às Armas" e o consequente regresso ao lar.
A amizade e solidariedade que nos une mesmo sem nos conhecermos pessoalmente e estando lá em tempos diferentes é fantastica.
Pisou aquele solo. Atravessou aquelas bolanhas.Esteve no norte ou no sul, não interessa é um Camarada, um amigo é um Camarigo.
O meu agradecimento por tudo o que tens escrito e continua a escrever.
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
Tony
Espero que essas recordações tenham sido pelos melhores motivos.
Abraço.
Manuel Joaquim
Bem,eu é que agradeço a gentileza do comentário.
Abraço
Jorge Picado
Fico sinceramente contente por te "ver"de novo.
à altrura creio que a "Churrasqueira" pertencia ao "Ouro Negro"?Assisti lá,nessa noite a uma ou duas cenas "caricatas"(?)á conta de uns balões!!
Abraço
Adriano Moreira
Verdade para mim tambem,Algo nos liga entre todos os que por aquelas bandas passamos.Sentimentos que nos unem mesmo sem nos conhecermos "ao vivo" e que por demais vezes extravasam em presença.
Abraço
Um obrigado a todos os que de volta em vez me "aturam"e até me presenteiam com comentários saborosos
Um meu outro abraço para todos
Luis Faria
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