Guiné > Zona leste > Algures, s/d > "Restaurante Michelin: o furriel Cunha, o alferes Fagundes e outros camaradas"... [e os djubis à espera dos restos do tacho...]
Guiné > Zona leste > CART 11 (1969/70) > Pirada > Padaria... [Podia faltar tudo, menos o pão fresco, o "casqueiro"]
Guiné > Zona leste > Algures, s/d > Soldados da CART 11 assando peixe no mato [... Nunca vi homens tão frugais como os fulas que, sendo desarranchados, levavam para o mato, para operações, uma mão chão cheia de arroz cozido, embrulhado num lenço...]
Guiné > Zona leste > Algures, s/d > Uma aldeia atacada e destruída pelo IN (1) [...Decididamente o PAIGC elegeu o chão fula, o leste, como terra de ninguém... Afinal os fulas eram os aliados 'naturais' dos tugas...]
Guiné > Zona leste > Algures, s/d > Uma aldeia atacada e destruída pelo IN (2) [... A mesma desolução que conheci na outra ponta do leste, no regulado do Corubal...]
Guiné > Zona leste > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Fotos do álbum do Abílio Duarte.
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Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. (*) [Edição e legendagem complementar: L.G.]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (*).
Ao ver a foto da aldeia fula destruída (em baixo) bem como da foto de cima (com os putos fulas esperando pacientemente os restos da comida dos tugas), possivelmente nas regiões fronteiriças de Pirada ou de Paunca (ou, talvez, Piche, desguarnecida com a retirada de Madina do Boé, Beli e Cheche, no princípio de de 1969), lembrei-me de outras tabancas, que conheci na mesma altura do Abílio, nos regulados de Joladu, Badora, Corubal... e veio-me à memória um poema que, a propósito, escrevi e que publiquei há um ano atrás, dedicado aos bravos fulas da minha CCAÇ 12 (, na realidade, uma irmã gémea da CCAÇ 11).
(...) Não reconheces os sinais de guerra,
O feroz combate em noite de luar,
O cavalo de frisa,
Os pássaros de morte,
Os jagudis no alto da árvore descarnada,
A terra desventrada, ensaguentada,
O arame farpado, aqui e acolá cortado,
O colmo das moranças, carbonizado,
O medo que se sente mas não se vê,
As cápsulas de 12.7 da Degtyarev,
Um par de chinelos,
Os caracteres chineses dos invólucros, amarelos,
Das granadas de RPG… (...) (**)
__________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 15 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11097: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte III): A nossa messe, no Quartel de Baixo, em Nova Lamego, decorada pelo famoso Pechincha, fur mil op esp e desenhador de profissão
(**) Vd. poste de 28 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9413: Blogpoesia (175): Elegia para uma triste tabanca fula (Luís Graça)
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 15 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11097: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte III): A nossa messe, no Quartel de Baixo, em Nova Lamego, decorada pelo famoso Pechincha, fur mil op esp e desenhador de profissão
(**) Vd. poste de 28 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9413: Blogpoesia (175): Elegia para uma triste tabanca fula (Luís Graça)
por Luís Graça
Poema dedicada
aos valorosos soldados fulas
da CCAÇ 12 (1969/71),
de Badora, do Cossé, do Corubal
E de repente
Tudo te é estranho,
O muro que corta, rente,
A brisa da manhã,
A fonte onde ainda ontem
Os jubis tomavam banho,
O poilão aonde ias rezar,
À tua maneira,
Ao teu irã,
A ponta onde colhias a manga e o abacaxi,
O macaco-cão que ora chora ora ri…
De repente
Não sabes donde vens,
Não sabes quem és,
Aqui de camuflado e de G-3,
Nem a verdadeira razão para matar e morrer,
Não sabes o que fazes neste lugar,
Triste tuga entre tristes fulas,
Abaixo do Trópico de Câncer,
A 11 graus e tal de latitude norte.
Não reconheces os sinais de guerra,
O feroz combate em noite de luar,
O cavalo de frisa,
Os pássaros de morte,
Os jagudis no alto da árvore descarnada,
A terra desventrada, ensaguentada,
O arame farpado, aqui e acolá cortado,
O colmo das moranças, carbonizado,
O medo que se sente mas não se vê,
As cápsulas de 12.7 da Degtyarev,
Um par de chinelos,
Os caracteres chineses dos invólucros, amarelos,
Das granadas de RPG…
Um triste cão vadio ladra
Ao cacimbo fumegante
E o seu latido lancinante
Ecoa pela bolanha fora.
A seu lado, a única velha,
Que não se foi embora,
Com a sua máscara impassível
De séculos de dor.
Mais tarde saberás
- Mas nunca o saberão, de cor,
Os jovens pioneiros com os seus lenços multicolores -,
Que por aqui passou
Mamadu Indjai,
Hoje valoroso, amanhã insidioso,
Combatente da liberdade da pátria,
Hoje herói, amanhã traidor.
Diz-me, mãe e pitonisa,
Onde estão as mulheres com os balaios à cabeça
E os seus filhos às costas ?
Onde estão as gentis bajudas,
Cujo sorriso nos climatizava os pesadelos ?
Onde estão o régulo e os suas valentes milícias ?
Para que lado corre o Rio Corubal
E donde vêm aqueles sons de bombolom?
Diz-me, homem grande,
Onde fica o Futa Djalon ?
E de que ponto cardeal
Sopram os ventos da história, afinal ?
Dizes-me para que lado fica Meca, meu irmão ?
E, no seu conciliábulo,
O que sobre nós decidirão,
Os nossos deuses, o teu e o meu ?
Diz-me onde está o velho cego, mandinga,
A quem demos boleia,
Em Bambadinca,
Que tocava kora
E nos contava histórias
De velhos e altivos senhores,
Agora prisioneiros no seu chão ?
Passei, na madrugada de um dia qualquer,
Pela tua tabanca, abandonada,
Do triste regulado do Corubal,
De que já não guardo o nome,
Na memória.
Tabanca onde passámos sede e fome,
Sinchã qualquer coisa,
Agora posta a ferro e fogo,
Que importa, minha irmã,
O topónimo para a história ?!...
Venho apenas em teu socorro,
Irmãozinho,
Quando as cinzas ainda estão quentes
No forno da tua morança,
Da morança que também fora minha…
Raiva, sim, meu camarada,
Como eu te compreendo…
Mas vingança, para quê ?
De guerra em guerra se chega à vertigem do nada!
A um espelho partido me estou vendo,
E a mim mesmo me pergunto-me quem sou eu
Triste tuga entre tristes fulas, ai!,
Para te dar lições de história ?!
Quem somos, ao fim e ao cabo, nós, os dois ?
Saberei apenas, muito anos depois,
Que fuzilaram o Mamadu Indjai!…
Tudo te é estranho,
O muro que corta, rente,
A brisa da manhã,
A fonte onde ainda ontem
Os jubis tomavam banho,
O poilão aonde ias rezar,
À tua maneira,
Ao teu irã,
A ponta onde colhias a manga e o abacaxi,
O macaco-cão que ora chora ora ri…
De repente
Não sabes donde vens,
Não sabes quem és,
Aqui de camuflado e de G-3,
Nem a verdadeira razão para matar e morrer,
Não sabes o que fazes neste lugar,
Triste tuga entre tristes fulas,
Abaixo do Trópico de Câncer,
A 11 graus e tal de latitude norte.
Não reconheces os sinais de guerra,
O feroz combate em noite de luar,
O cavalo de frisa,
Os pássaros de morte,
Os jagudis no alto da árvore descarnada,
A terra desventrada, ensaguentada,
O arame farpado, aqui e acolá cortado,
O colmo das moranças, carbonizado,
O medo que se sente mas não se vê,
As cápsulas de 12.7 da Degtyarev,
Um par de chinelos,
Os caracteres chineses dos invólucros, amarelos,
Das granadas de RPG…
Um triste cão vadio ladra
Ao cacimbo fumegante
E o seu latido lancinante
Ecoa pela bolanha fora.
A seu lado, a única velha,
Que não se foi embora,
Com a sua máscara impassível
De séculos de dor.
Mais tarde saberás
- Mas nunca o saberão, de cor,
Os jovens pioneiros com os seus lenços multicolores -,
Que por aqui passou
Mamadu Indjai,
Hoje valoroso, amanhã insidioso,
Combatente da liberdade da pátria,
Hoje herói, amanhã traidor.
Diz-me, mãe e pitonisa,
Onde estão as mulheres com os balaios à cabeça
E os seus filhos às costas ?
Onde estão as gentis bajudas,
Cujo sorriso nos climatizava os pesadelos ?
Onde estão o régulo e os suas valentes milícias ?
Para que lado corre o Rio Corubal
E donde vêm aqueles sons de bombolom?
Diz-me, homem grande,
Onde fica o Futa Djalon ?
E de que ponto cardeal
Sopram os ventos da história, afinal ?
Dizes-me para que lado fica Meca, meu irmão ?
E, no seu conciliábulo,
O que sobre nós decidirão,
Os nossos deuses, o teu e o meu ?
Diz-me onde está o velho cego, mandinga,
A quem demos boleia,
Em Bambadinca,
Que tocava kora
E nos contava histórias
De velhos e altivos senhores,
Agora prisioneiros no seu chão ?
Passei, na madrugada de um dia qualquer,
Pela tua tabanca, abandonada,
Do triste regulado do Corubal,
De que já não guardo o nome,
Na memória.
Tabanca onde passámos sede e fome,
Sinchã qualquer coisa,
Agora posta a ferro e fogo,
Que importa, minha irmã,
O topónimo para a história ?!...
Venho apenas em teu socorro,
Irmãozinho,
Quando as cinzas ainda estão quentes
No forno da tua morança,
Da morança que também fora minha…
Raiva, sim, meu camarada,
Como eu te compreendo…
Mas vingança, para quê ?
De guerra em guerra se chega à vertigem do nada!
A um espelho partido me estou vendo,
E a mim mesmo me pergunto-me quem sou eu
Triste tuga entre tristes fulas, ai!,
Para te dar lições de história ?!
Quem somos, ao fim e ao cabo, nós, os dois ?
Saberei apenas, muito anos depois,
Que fuzilaram o Mamadu Indjai!…
2 comentários:
Mas vingança, para quê ?
Perguntas bem Luís Graça!
Mas parece que está difícil de esquecer para muitos.
[... Nunca vi homens tão frugais como os fulas que, sendo desarranchados, levavam para o mato, para operações, uma mão chão cheia de arroz cozido, embrulhado num lenço...]
Também estive numa companhia de africanos e fulas - CCaç 5.
Também levavam o arroz numa cabaça, mas pela simples razão de que, sendo desarranchados, tinham de comprar a "ração de combate" cujo preço, a abater no pré, era superior ao montante atribuído, por dia, ao desarranchado.
Também tinha importância a dieta seguida nas rações de combate, nada ao "gosto" dos africanos.
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