sábado, 23 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11141: Do Ninho D'Águia até África (53): Comando de Agrupamento 16 (Tony Borié)

1. Quinquagésimo terceiro episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177:


DO NINHO D'ÁGUIA ATÉ ÁFRICA - 53


O Cifra já falou do comando a que pertencia em diversos textos, mas agora que se aproxima da fase final da primeira parte das suas memórias, vai apresentar uma foto desse comando, não em muito boas condições, pois toda a documentação da sua estadia no conflito, resumia-se a alguns apontamentos num diário, onde um pouco mais tarde de lá estar, e vendo o volume que o conflito tomava, com todas aqueles companheiros que regressavam feridos, alguns nem regressavam, iam mortos, embrulhados no camuflado sujo com o seu próprio sangue, para a capital da província, então aí, começou a apontar algumas datas de casos que o Cifra pensava que tinham alguma importância. Escrevia, escrevia, depois riscava, fazendo sobressair algumas partes, mas numa linguagem rude, própria do local e dos amigos que compunham o seu grupo inseparável, eram quase sempre relatos escritos em cima do joelho, a quente e à pressa, tendo sempre receio que ao outro dia se esquecesse, tudo isto junto com a sua memória, que passado quase cinquenta anos, com um pouco de paz, vai lembrando. Umas memórias trazem outras, e como alguém já disse, normalmente um COMBATENTE, tem “memória de elefante”, porque passou por momentos diferentes da normal vida de um ser humano.



Naquela idade ninguém esquece uma explosão, um amigo ferido por estilhaços, um amigo que morreu com balas no corpo, a terra vermelha do chão da Guiné, a água turva de lama dos canais, bolanhas e rios, o calor húmido e abafado, meses e meses seguidos comendo peixe e arroz da bolanha, a amizade de companheiros que sofriam juntos, as agruras de uma guerra horrorosa, dois anos vestidos com a mesma roupa e da mesma cor, enfim, todas aquelas pequenas, e às vezes grandes coisas, que por lá passavam no dia a dia.

O Cifra quando deixou o serviço militar emigrou e algumas fotos ficaram no seu querido e nunca esquecido Portugal, quando muitos anos depois foi por elas, que até eram muitas, já não existiam, algumas, os seus familiares da segunda geração tinham-nas em suas casas, em muito fraco estado, mas o Cifra recuperou o melhor que pôde, e são essas que vai mostrando aos seus amigos companheiros combatentes, e hoje vai tentar mostrar o Agrupamento 16, do qual, com bastante mágoa, ainda nenhum companheiro apareceu até hoje, a dizer alô.


O Agrupamento 16, o Cifra acredita que derivado ao desenvolvimento do conflito, foi o primeiro comando a sair da capital da província e a instalar-se no interior, numa zona onde esse mesmo conflito aumentava, pois a zona do Oio, e quase toda a zona norte, era onde os guerrilheiros começaram por instalar-se, construindo as suas “casas mato”, criando os seus corredores de abastecimento, fazendo o recrutamento do seu pessoal, e como tal aparece no interior, portanto fora da capital, em pleno cenário de guerra, um comando que não tinha armas, composto quase por militares graduados, mas que infelizmente dava ordens para matar.

Construiu-se um aquartelamento, criaram-se diferentes gabinetes, as forças de acção foram chegando e o comando do Agrupamento distribuía essas forças pelos diferentes cenários de guerra, de acordo com a acção dos guerrilheiros, sendo que a maior parte das ordens vinha do centro de operações da capital, mas o Agrupamento 16, além de fazer o esquema, com todos os detalhes e organização de todas as operações na sua zona de acção, é que determinava quem ia combater na zona tal ou era destacado para a zona onde ainda havia alguma paz.

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 19 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11120: Do Ninho D'Águia até África (52): A máquina fotográfica (Tony Borié)

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