1. Em mensagem do dia 17 de Janeiro de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos mais este pensamento voador...
O Cifra tem dias que anda de um lado para o outro, “não
pára em ramo verde”, como diz o povo, alguns amigos dizem que é
stress de guerra, mas não é, desta vez anda mesmo ansioso com o
que vê, e os leitores, perdão, primeiro as digníssimas leitoras,
que têm a gentileza e a amabilidade de visitar o blogue de “Luis
Graça e Camaradas da Guiné”, vão mais uma vez desculpar este
texto, é escrito com linguagem mais ou menos educada, não tem
qualquer comparação com a linguagem do Curvas, alto e refilão,
portanto mais uma vez, perdoem, mas agora dirigindo-se aos
amigos antigos combatentes, o Cifra já sabe que vão dizer, se
viverem no mundo que fala inglês:
- War again?.
No mundo que fala francês, dizem:
- Nouveau en guerre?.
No mundo que fala germânico, friamente, dizem:
- Wieder
Krieg?.
No mundo que fala espanhol, entre dois ou três “zzz”, dizem:
- Guerra de nuevo?.
Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a
comer, e depois dizem:
Perceberam?. Não. Deixem lá, pois o Cifra, também não
percebeu!
E nós portugueses dizemos, com uma cara de enjoo:
- Outra
vez, guerra?.
Sim guerra, mas desta
vez com mágoa, pois
reparem nestas
fotografias que ilustram
o texto, onde esta pobre
rapariga, com uma cara
de desespero e
denunciando alguma
angústia, pois
pertencia a muito boas
famílias, andava a
estudar na universidade,
portanto ia receber uma
educação superior, foi
tirada, talvez à força
da sua aldeia,
verificaram que tinha um
corpo desenvolvido,
portanto podia receber um treino mais forçado, tiram-lhe toda a
roupa que usava na universidade, vestiram-na com uns farrapos,
que diziam eram camuflados de
guerra, deram-lhe o tal treino
forçado, e depois de a usarem no
campo de treino, debaixo de
obstáculos, em terrenos
pantanosos, na floresta, talvez
dentro do paiol das munições,
pois tinha que ter conhecimento
dos diversos tipos de explosivos,
a enviaram para a frente de
combate, onde está na fotografia,
em frente a uma G-3, das
modernas, onde ela apesar do
treino forçado a que foi submetida, não sabia por onde lhe
pegar, sabia só que podia meter o olho através da lente, mas
está aflita, pois não sabe onde vai apoiar a sua coronha, pois o
seu peito desenvolvido, talvez devido ao treino forçado, não lhe
deixa muito espaço livre.
Mais à frente, nesta fotografia, no campo de batalha, onde
perdeu parte dos farrapos que compunham o seu uniforme
camuflado, desesperada, depois de ter usado todas as munições,
suas e de alguns companheiros, vendo-se sem a sua querida G-3,
que também perdeu em combate, pois se a tivesse, talvez pegando
no cano, que não era lá muito grosso, podia usar a coronha como
se fosse um pau, como aqueles
que os seus avós usavam em
certas regiões de Portugal, a
que chamavam uma “moca”, pois a
área de combate estava
destroçada. De repente, na
sua ideia de lutadora, lembro-se
das duas granadas que eram
as preferidas do Curvas, alto e
refilão, e que sempre trazia
escondidas no bolso, roubou-lhas e o resultado foi o que se
previa, pois o Curvas, alto refilão, às vezes, não era lá muito
responsável quando o provocavam e vai daí, atira-se a ela, numa
luta de corpo a corpo, e o Curvas, alto e refilão, pensando que
era um valentão, lá por ter a medalha “cruz de guerra”, nunca
contou com o intenso e forçado treino que ela recebeu, e vai
daí, ela dá-lhe um “golpe de rins”, coloca-o debaixo de si, e
ele não conseguindo aguentar a pressão do corpo dela, acabou por
se render, e ela vitoriosa, sai de cima do Curvas, alto e
refilão, acaricia as granadas, em sinal de vitória, com as suas
mãos ainda quentes da luta, com um ar de vencedora, abaixa-se de
novo, passa-lhe a mão pelo peito e rouba-lhe a medalha “cruz de
guerra”, ali na frente de todos!
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 31 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11032: Humor de caserna (29): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (2): Ela queria um canhão
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Caro Tony,
É só para dizer que uma "RAMBA" destas na Guiné apanhava uma Companhia inteira à mão, sem dar um tiro ou puxar a cavilha e depois ainda fazia uma "ramboiada do caraças".
Um grande abraço.
Adriano Moreira
Caro Adriano,
Ficaste com saudades do que nunca tiveste? Imagino que outros também ficaram.
Uma ocasião inventei uma estória de duas meninas reporteres de guerra italianas a quem "garanti" segurança. Durante uma emboscada as meninas "agarraram-se" a mim, e não queriam mais largar-me. Claro que dei barraca. Aqui no bem-bom a estória teve um acolhimento enciumado, e o herói ia indo ao ar, sem baixas de encher os comunicados das F.A., vítima apenas dos demolidores e raivosos afectos namorativos.
Afinal de contas, os gajos iam para lá combater, ou também se armavam em artistas, qual Hollywood, com italianas e tudo!!??
Abraços fraternos
JD
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