Caro Editores
Já faz tempo que não colaboro com nenhum escrito para o Blogue.
Coisas da vida! Mas hoje resolvi enviar-vos este texto para ser enquadrado no tema da "Cidade ou Vila que mais amei ou odiei antes da mobilização".
Trata-se de Santarém e da sua EPC e Destacamento.
Ainda não tinha visto por aqui ninguém recordar essa passagem e entendi por bem fazê-lo. O problema é que não tenho fotos da época e por isso o texto pode ser pouco apelativo. Afinal tratam-se das minhas recordações e isso pouco pode interessar a terceiros, no entanto acho que por lá passou também muito boa gente e pode ser que se sintam encorajados a trazer a público as suas lembranças.
Abraços
Hélder Sousa
A CIDADE OU VILA QUE MAIS AMEI OU ODIEI, NO MEU TEMPO DE TROPA ANTES DE SER MOBILIZADO
SANTARÉM
Vista aérea da cidade de Santarém. Foto: InLut, com a devida vénia
Responder a esta questão não é fácil, porque as circunstâncias eram diferentes conforme se estava na recruta ou com uma ocupação mais ‘folgada’, aliás conforme já foi possível verificar por recordações de outros camaradas. Mas é uma boa questão, para se perceber melhor como é que nos relacionamos com essas recordações e se elas ainda ‘mexem’ connosco. Por isso, vou também entrar no jogo.
O meu percurso militar, antes de ser mobilizado, portanto, na “Metrópole”, foi Santarém, Lisboa (Batalhão de Telegrafistas), Tancos, novamente Lisboa, Porto e Lisboa (Adidos). Porque de todos esses locais guardo recordações, vou cingir-me hoje a Santarém.
E faço-o com muito gosto porque ainda não vi por aqui recordações da Escola Prática de Cavalaria [EPC], o que lamento, sabendo da importância que tal Escola teve nas nossas vidas, esperando sinceramente que possam surgir mais depoimentos.
Como o objectivo é saber, no fundo, como é que nos relacionámos ou interagimos com as terras e suas gentes, isto podia ser muito simples: antes de ir para Santarém, gostava muito, enquanto lá estive fui ganhando saturação ao ponto de pensar que “Santarém, nunca mais!” e hoje volto a ir lá por necessidade, por gosto e por desgosto de ver desaparecer algumas das minhas referências. É preciso dizer que sou ribatejano, que fui Furriel e até aqui estou coincidente com o Armando Pires, mas depois não fui enfermeiro nem fadista o que, valha a verdade, ainda bem, pois não tenho jeito.
Bissau - Bar de Sargentos. Santa Luzia. O Hélder Sousa com o Boavida, do seu tempo de recruta na EPC.
Ir a Santarém, antes da tropa, era normal. Ia lá muitas vezes, principalmente quando estava a passar alguns dias na minha aldeia. Fui lá às “sortes”. E apresentei-me no dia 15 de Julho de 1969 para integrar a 3.ª incorporação no 1.º Ciclo do CSM. Foi no Destacamento da EPC.
Durante esse tempo da recruta foram muito poucas as folgas, os dias em que se podia sair, dar uma volta pela cidade ou arredores, para que assim se pudesse conhecer melhor e dar agora a opinião. Como noutros locais em que se tinha que produzir rapidamente militares ‘prontos’, a formação era acelerada. E tenho a ideia que havia uma espécie de competição para ver quem fazia mais e melhores ‘sargentos milicianos’, nomeadamente entre a Cavalaria (Santarém), a Artilharia (Vendas Novas) e a Infantaria (Tavira), já que as Caldas da Rainha, não sei se só com fama se também com proveito, não contava para isso.
Essa competição fazia com que as recrutas fossem duras, por si mesmas, ou até por algum exagero para maior diferenciação. Devido às constantes actividades saía-se pouco à noite. O pessoal era fortemente castigado do ponto de vista físico, portanto tinha que descansar e as actividades nocturnas não eram raras. Daí que, para a generalidade dos ‘soldados-recrutas’, acredito que o conhecimento da cidade não pudesse vir a ser muito profundo. Já aqueles que depois, terminado esse 1.º ciclo, ficaram na própria EPC em qualquer das especialidades da Cavalaria, tiveram mais tempo e talvez mais oportunidades.
Não sei como era no curto tempo do fim-de-semana pois consegui vir sempre a casa, já que a distância não era muita (45 km) e havia ligações por camioneta e comboio. Quando se saía, os mais afortunados iam até Almeirim, às febras e à ‘sopa da pedra’. Fui lá 2 ou 3 vezes por força das amizades que sempre se vão fazendo com camaradas do Pelotão e que eram de lá, caso do Aranha Figueiredo e do Boavida, cujos conhecimentos ajudavam a ‘abrir portas’.
Refiro estes dois camaradas porque o Aranha, que foi para Moçambique, encontrei-o naquela “clara e límpida madrugada”, no Terreiro do Paço, onde pensávamos que íamos apanhar o barco das 07:00 para a Margem Sul onde trabalhávamos e o Boavida porque mais tarde me veio a encontrar em Bissau conforme foto anexa tirada no Bar de Sargentos em Santa Luzia.
A maior parte das vezes, quando havia dispensa de recolher, ficava-se ali perto, no “Verde Gaio”. Também ia até ao “Quinzena”. Visitar a “Adibis”, pastelaria fina, da elite ‘scalabitana’, das meninas estudantes, era quase proibitivo já que também estava ‘infestada’ de Oficiais. Enquanto civil, fui lá várias vezes, Enquanto militar, acho que só entrei uma vez e… chegou!
Santarém tem a particularidade de se espraiar por um planalto o que faz com que fosse para onde se fosse, para a carreira de tiro com acesso pela EN 3 a caminho do Cartaxo, para a outra carreira de tiro em Vale de Estacas, para a estrada da Estação da CP e ponte de Almeirim, fosse pelo “Colégio Andaluz” para a Quinta das Ómnias, à ida era sempre a descer e depois de completamente estoirados, o regresso seria naturalmente a subir, mas parecia sempre muito mais íngreme do que na descida. E quantas vezes, para ‘abreviar tempo’, se tinha que o fazer em ‘passo de corrida’? Daí que quando saí de Santarém tivesse pensado de forma determinada que nunca mais voltaria lá. Claro, puro engano!
Voltei lá, sim senhor, para tratar assuntos pessoais, para jantares de convívio, para rever locais, para visitar a minha mãe no Hospital e assisti-la no falecimento.
Tudo o que atrás disse tem a ver com a relação com a cidade, com os locais e as pessoas. Mas foi tudo condicionado pela actividade militar. Não será esse o tema mas não posso deixar de referir alguns apontamentos que me parecem relevantes ou interessantes. Muitas vezes tenho lido que o pessoal foi, na generalidade, mal preparado para a guerra, para o tipo de guerra que acabou por encontrar, principalmente na Guiné. A experiência que tive em Santarém diz-me o contrário. Lá, pelo menos naquele 3.º Turno do CSM, a preparação foi dura, exigente (talvez nada que se parecesse com os “especiais”, mas teve alguns pontos comuns), e fortemente voltada para o tipo de situações semelhantes à Guiné.
Claro que na altura não podíamos saber, mas eles, os instrutores, esforçavam-se por nos incutir a ideia que esse seria o nosso destino. Diziam isso amiudadamente e as nossas constantes idas às Ómnias podem hoje testemunhar como isso era verdade. Nas Ómnias, na orla do Tejo, com terrenos alagados, em charcos, em terrenos enlameados, em lagoas (numa das quais, mais funda do que se pensava, um dos instruendos do meu Pelotão ia lá ficando) encontrava-se e praticava-se em locais que quem teve o ‘privilégio de usufruir’ das bolanhas não deve ter achado estranho.
Particularmente duras foram as “24 horas de Santarém”, já no final da formação, em Setembro.
Nesse ‘evento’ todos os Pelotões saíram para um local comum, no Paúl, onde lhe foi dada a possibilidade de participar e assistir a progressões, emboscadas, golpes de mão, confrontos. Após isso, em que enquanto participantes estávamos lá em baixo no terreno cada vez mais enlameado por força da chuva e revolvido pelos passos dos ‘actores’ e enquanto espectadores estávamos num plano mais acima donde se podia assistir ao desenrolar dos acontecimentos, fomos agrupados em diferentes secções para desempenharmos as missões que nos foram dadas e das quais só podíamos regressar ao Destacamento às 08:00 do dia seguinte.
Como começou a chover uma chuvinha miudinha, mas persistente, praticamente desde que saímos do Quartel e que foi progressivamente engrossando e que durou todo o ‘santo dia’, aliviando já só sobre a madrugada alta, foram realmente umas “24 horas” de grandes dificuldades, em que se pode dizer que fomos ‘ensopados até aos ossos’. Recordo que cerca das 23:00 entrámos, o meu grupo (7?, 9?, não recordo) em Alcanede e habitantes apiedados da nossa situação e estado lastimoso, convidaram-nos a entrar para uma espécie de adega onde tinham um lareira e várias coisas para comer que nos facultaram. O pão soube divinamente, os chouriços, morcelas, queijos, etc., também, mas o que recordo ainda é o fumegar das nossas roupas, a evaporação da água incorporada, pois tirámos o que pudemos e ficou tudo junto à tal lareira.
Ficámos por lá até quase à madrugada e, conhecedores da região, foi então mais fácil dar conta da missão e chegar a horas ao Destacamento. Um dos elementos desse grupo era o Aranha, que levava a bazuca. Na formação no Destacamento estavam 3 Esquadrões. O 3.º do Tenente Cadavez, o 4.º do Tenente Guilherme, que me disseram nunca ter chegado a ir a África pois foi para a NATO, e o 5.º do Tenente Tavares de Almeida.
Eu pertenci ao 1.º Pelotão do 4.º Esquadrão que tinha como instrutores o Aspirante Teixeira (diziam que tinha pertencido ao Conjunto Maria Albertina) e um Cabo que, não sendo maus tipos, tinham assumido o ‘espírito da coisa’ e foram bastante duros connosco. Duros, mas leais, diga-se em abono da verdade.
Além dos já citados Aranha e Boavida faziam parte do meu Pelotão outros elementos (obviamente) de que me lembro agora dum tal Vozone, que era um nome conhecido da vela de competição, e o nosso camarada da Guiné, Luís Encarnação, da Companhia que esteve em Canquelifá do BCAV 2922, que ainda não pertence à “Tabanca” mas já esteve em almoços na “Linha”. Falando com ele recordei-me de várias peripécias, como os patrulhamentos ao longo do caminho de ferro, a escalada da escarpa das “Portas do Sol” (dizia o Aspirante Teixeira que era para imitar os soldados de D. Afonso Henriques) em que a cada dois metros de progressão escorregávamos um, das ‘cenas’ com um camarada que dormia de olhos abertos, de outro que foi enganado e utilizou “Baygon” pensando que era desodorizante, etc..
Foi tempo de conhecer um tal Salgueiro Maia, que nos deu instrução de granadas, de um tal Mário Tomé, ao tempo Oficial de Segurança da EPC e que foi o protagonista de uma cena-aviso do tipo “casamento na Parada”.
Esta passou-se na Parada da EPC, com todos os militares tanto da própria EPC como do seu Destacamento, ao qual pertencíamos, formados e a ouvir um raspanete a propósito, ou a pretexto, de uma mãe que se teria queixado de abusos à sua filha ocasionados por militar. Fiquei sempre com a sensação que se tratou de uma encenação, destinada à “acção psicológica”, mas a verdade é que o então Capitão Tomé disse mais ou menos isto: “…. têm a mania que são machões? Acham que a instrução não é suficientemente dura? Pois vão ver como será daqui para a frente! Vão ser ‘apertados’ de tal maneira que não terão força nem para levantar o ‘piçalho’….”
Foi tempo de um grande empenhamento em aprender as ‘artes militares’. Dediquei-me à formação com toda a energia. Aprendi a teoria. Não me baldei à prática. Achava que era importante aprender e obter conhecimentos que certamente iriam ser necessários para os tempos que, convictamente, ‘sabia’ que iriam ocorrer, inevitavelmente, embora ainda tivessem que decorrer quase 5 anos.
Tive boas pontuações de tal modo que fui convidado a ‘seguir outro caminho’, o que não aconteceu. Além disso também podia usufruir do conhecimento antecipado do resultado correcto dos testes de escolha múltipla que fazíamos sentados no chão. Como sabia? Não me recordo…. apenas me lembro que fazia sempre primeiro por meu conhecimento e depois ia ‘conferir’, sendo que, por ‘precaução’, falhava sempre uma ou duas.
Lembro-me, também, como se ia ‘moldando’ as vontades do pessoal. Primeiro procurava-se valorizar a ‘dispensa de fim-de-semana’ de tal modo que isso era uma espécie de prémio, para o qual todos deviam concorrer e para tal suportar tudo. E tudo servia de pretexto para ‘cortar’ essa ‘regalia’. Por exemplo, na revista aos Pelotões do meu Esquadrão chegou a participar um Alferes, com um ar propositadamente abandalhado, mal ataviado, com a barba por fazer e a exigir o máximo de aprumo e perfeição dos instruendos perfilados, para lhes provocar alguma reacção às injustiças sentidas quando os castigavam por os botões não estarem alegadamente bem brilhantes, por a camisa não estar devidamente fraldada, por a barba ‘não estar bem feita’ (mesmo que a cara já estivesse com vários cortes).
Suprema ironia era quando, propositadamente, pisava uma bota impecavelmente reluzente (diria quase envernizada com “Búfalo”) que assim ficava com algum pedaço esfolado e depois dizia para o Cabo apontar o corte da dispensa por ter as botas mal engraxadas. Tudo isto provocava revolta. Mas o pessoal continha-se. E, de contenção em contenção, as chefias pensavam que ‘domavam as vontades’, o que era possível que sim, pelo menos no momento, e que tinham o pessoal ‘enquadrado’, sendo que aqui se enganavam redondamente, pois as animosidades foram sempre em crescendo.
Portanto, em resumo, as recordações de Santarém são boas. O que se passou foi importante. Sempre valorizei essa passagem, compreendendo todos os seus passos. Isto em termos militares que, afinal, não podemos dissociar do resto.
Da cidade em si, da sua História, da sua importância, da sua monumentalidade, a capital do Gótico Português, diz-se, isso foram conhecimentos que já tinha antes da passagem pela tropa, pelo que não me acrescentaram nada.
Quanto a ódio-amor acho que já disse. Primeiro, amor. Depois, ódio, Agora, novamente, amor e tristeza.
Um abraço para toda a Tabanca!
Hélder Sousa
Fur. Mil. Transmissões TSF
____________
Nota do editor
Último poste da série de 8 de Março de 2014 > Guiné 63/74 - P12810: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (22): Caldas da Rainha - Os primeiros dias da recruta (Mário Migueis da Silva)
17 comentários:
Olá Helder.
Das tuas passagens por terras da então Metrópole, antes da ida para aquela maldita guerra, destacas a cidade de Santarém e algumas passagens lá vividas, onde lembras alguns sentimentos, naquele quartel, onde havia alguns militares que mais tarde foram famosos, outros que até foram companheiros amigos, um tal capitão que pensava que dominava a juventude, e alguns recantos da cidade e arredores, onde não havia "ódio", mas talvez carinho, que gostas-te, e te fizeram voltar mais tarde.
Gostei deste sincero relato.
Um abraço, Tony Borie.
Depois da "capital da cavalaria", Santarém, falta Vendas Novas, a "capital da artilharia"... E, já agora, Lamego e o CIOE...
É difícl "bater" ou "superar" a prosa brlhante e as recordações, frescas que nem um pero, do nosso Helder Sousa, para mais ribatejano...
Venham fotos, venham testemunhos, venham novos instruendos que tenham passado pela EPC...
Obrigado, Hélder, pelo teu valioso contributo para esta série que já vai em 23 postes...
1. A vida não é a "preto e branco"... Mas as recordações que temos podem sê-lo, porque tendemos a tomar a parte pelo todo, ou melhor, a ficar com (ou a reter) a primeira impressão, imagem, ideia ou sentimento acerca de uma pessoa ou de uma coisa...
Nas ciências sociais e humanas (sociologia, psicologia, antropologia), designamos esse fenómeno por "efeito de halo"...
Mais concretamente, refere-se ao risco de um determinado aspeto, caraterística ou dimensão de uma coisa, acontecimento, situação ou pessoa, poder inferferir, de maneira determinante, no julgamento, perceção ou avaliação que fazemos do todo, em detrimento de outros fatores, "contaminando" ou "enviesando" desse modo o resultado global.
Nas entrevistas de seleção de pessoal (na universidade, nas empresas, etc.), isso é frequente, falo por experiência próprioa: o efeito halo pode ser causado pela simpatia ou antipatia que o entrevistador de imediato desenvolve pela pessoa está a ser entrevistada e que é objeto de seleção...
Se essa pessoa tem uma "cunha", ou se tem um "brinquinho na orelha", ou se uma mulher muito bonita, ou um sujeito bbem falante, ou se é alguém com "currículo" acima da média, se é figura pública, etc., o juizo do avaliador (a "nota final") pode não ser isento... Diz-se, neste caso, que houve um erro de enviesamento por efeito de halo...
O efeito de halo é provavelmente um dos mais sérios e frequentes erros da avaliação humana.
2. Foi o psicólogo americano Thorndike quem descreveu em 1920 este fenómeno: a tendência para ficarmos com a primeira impressão global, posituva ou negativa, sobre uma pessoa, situação, acontecimento ou coisa...
A partir daí temos tendência para selecionar ou captar apenas as características que vão confirmar a primeira impressão ou ideia feita.
A primeira impressão ou ideia feita vai afectar as nossas avaliações futuras... Se a pessoa tem "boa pinta", vamos associar-lhe características positivas: por ex, é honesto, é simpático, é amável...
As histórias (repetidas até à exaustão...) das "salinas" em Tavira podem desencadear um "efeito de halo", neste caso pela negativa, nos depoimentos futuros sobre o CISMI e os nossos antigos instrutores e monitores...
Hélder
Quando acabei a especialidade no Porto houve opção de preferência em relacção ao quartel que preferíamos.
1º escolheram os casados, a seguir a pontuações de curso mais altas.
Não é para me gabar mas eu tive a 3ª nota mais alta e assim, comecei a fazer contas aos sítios para onde preferia ir.
Mas como disse primeiro escolhiam os casados e eram tantos, que quando chegou à minha vez, acordei para a dura realidade que de nada me tinha valido a pontuação, pois os lugares que mais gostaria estava todos preenchidos.
Tinham sobrado os destinos de Abrantes e Santarém.
A Cavalaria de Santarém era precedida da fama de ser muito rígida, de uma disciplina terrível e ninguém se mostrava nada entusiasmado com esse destino, ora eu honrando as tradições familiares de pouco afecto com as instituições castrenses, desviei-me de lá porque o eu queria mesmo eram poucas chatices e por essa razão acabei por escolher Abrantes. No mapa era tão pertinho de Alcobaça, o que eu nunca esperei é que fosse tão difícil ir e regressar aos fim de semana.
Santarém acabou por ser o local onde fui apanhar o comboio para Sta Margarida via Entroncamento.
Mais tarde já depois do regresso acabei por ir lá fazer o exame de condução porque estive 28 meses a conduzir e não tirei a carta civil na Guiné. ( parvoíce é que se lhe pode chamar)
Mas as conversas são como as cerejas, uma trás outra e tudo isto por causa da tua passagem por Santarém, onde o bravo regimento de cavalaria ajudou a a acabar com o estado de coisas, ou ao estado que isto tinha chegado, faz este ano 40 anos.
Um abraço
Olá Helder, li o que escrevestes a uma lengalenga que eu teclei. Gostei e lá vai disto.
Não fico deprimido em trazer á memória certos acontecimentos. Há, no entanto vivencias desse passado de que não falo,melhor, não escrevo.
O Blogue é o blogue e eu fiz, por necessidade uma pausa. Vou lendo diáriamente, confesso que há postes que passo os olhos. Gosto ou gosto menos de uns do que outros.Hoje gostei daquele, da poesia do Luís e zás saiu aquilo.
Qualquer dia escrevo sobre as terras onde passei enquanto militar.
Abraço do T.
Viva Helder!
Fizeste uma uma rezenha bastante avantajada sobre a recruta na EPC, e, a dado passo, referes que a preparação para àfrica foi boa.
Eu não estive lá, mas admito que a sabedoria para controlar o esforço físico, acentuar a determinação, e desenvolver a vcapacidade para o comando, resultasse melhor em função da instrução rigorosa. Porém, a instrução de guerra, no que respeita ao autodomínio, à psicologia da disciplina (refiro-me à formação do espírito de grupo e ao sentido da responsabilidade), à adaptação, à capacidade reactiva em situações que integram a arte da guerra, acho que eram incipientes em todo o lado, talvez, especialmente, na Academia Militar, e daí as sucessivas manifestações sobre a má preparação da tropa que se destinava a entrar em combates.
Um grande abraço
JD
Meus camaradas
O que eu gostava mesmo era que mais alguém aparecesse a 'falar' de Santarém.
Diz o Luís que tenho 'recordações frescas'.... bondade dele pois, por exemplo, à mais afamada pastelaria de Santarém chamei "Adibis" quando devia ser "Habidis". Nada de grave, é certo, a não ser para os puristas do rigor, mas mesmo assim revela menos 'fresquidão'.
Diz também, noutro comentário repleto de indicações profissionais, que a questão do 'efeito de halo' pode ser determinante nesta nossa relação da memória com as terras por onde passámos. Claro que concordo mas por feitio procuro (quase) sempre encontrar aspectos positivos em detrimento dos negativos, procuro as 'pontes' que possam facilitar entendimentos, daí que no meu relacionamento com Santarém tivesse alguns momentos de "fartum" mas depois vem ao cimo as 'coisas boas'.
No que diz respeito às "salinas de Tavira" é bem verdade que esse 'efeito de halo' funcionou pois nunca lá estive mas também isso entrou na minha memória lateral e passou a ser uma 'verdade', tão minha como de quem lá esteve.
Para o Tony, o meu agradecimento pelas simpáticas palavras e a confirmação de que o que escrevi foi mesmo o que senti.
Para o Juvenal digo que fizeste mal em olhar para um mapa num escala muito grande.... Seriam muito mais fáceis as ligações de Santarém para Alcobaça, já que haviam ligações rodoviárias para a Nazaré, umas via Alfeizarão e julgo que também por Alcobaça.
Quanto a essa outra 'parvoíce' de não teres tirado a carta, acabaste de me fazer lembrar como foi que tirei a minha, o que vai dar para mais uma recordação que em breve escreverei.
Amigo Torcato, estás sempre em elevada consideração. O que te escrevi foi para tentar 'aliviar' o que 'senti' que estavas a sentir em relação ao poema do Luís e das inevitáveis ligações que todos os que lemos fizemos. Mas isso foi noutro 'post'.
Abraços
Hélder S.
Hélder
A primeira vez que fui ao Algarve foi em Julho de 1968, tinha 20 anos.Alguém me passou para a mão uma guia de marcha para Tavira.
Uma noite passei o Tejo até ao Barreiro e apanhei o comboio para Tavira onde cheguei pela manhã. Ainda me lembro das primeiras palavras que ouvi quando pus o pé na gare da estação "nosso instruendo, quarto? ou lavadeira?". A partir dali foi a aplicação militar, salinas, pórticos, crosses etc. Gostei tanto que fiquei mais três meses com doses reforçadas na especialidade. Quando saí de Tavira nos primeiros dias de Janeiro de 1969, foi com tristeza que rumei até Caldas já com as divisas de Cabo Miliciano.
Tinha ficado para trás a parte mais forte da minha vida até então, ainda que só tenham sido seis meses.
De tal maneira que um dia,depois de ter voltado da Guiné, estando em Vila Real de Santo António quíz atravessar o rio até Aiamonte e foi-me exigido um documento militar (autorização para sair do País), fiquei agradavelmente surpreendido pois tinha que ir ao Quartel de Tavira buscar o dito documento, e assim fiz.
Foi uma sensação estranha voltar ao interior daqueles muros, mas uma sensação agradável, do tipo "o bom filho a casa torna".
Da cidade nem se fala, fiquei um fã incondicional, não consigo passar perto sem visitar Tavira e a sua ilha, que me parece ter sido a única que escapou à reportagem do nosso amigo Luis.
Héder, quer eu queira ou não , Tavira é para mim uma referência militar sem ódio nenhum, apesar de tudo.
Um abraço Companheiros
César Dias
Caro Hélder
Entrei na EPC, em 10/07/1967, para o CSM, no Quartel de Baixo (está lá agora a PSP) e, depois dos testes, foi distribuído o fardamento que incluía umas 'mariquices': grandes e largas fitas vermelho e amarelo e uns elásticos grossos. Estivemos sem sair mais vinte dias, desde a nossa entrada. Tinha-mos que ser uns autênticos soldados de chumbo.
Grandes espadas brilhantes na boina, fitas na boina quase a chegar aos ombros, botas super engraxadas, com os ilhós dos atacadores tão brilhantes como as espadas da boina, as calças presas com o elástico, entre as fivelas laterais (botas antigas com solas de cabedal)para formar um fole, estilo Mouzinho.
Conheci pouco a cidade de Santarém, pois todos os momentos disponíveis e se dava tempo, eu e outros de Lisboa vinha-mos logo à capital.
Comparativamente, depois com a EPA, de Vendas Novas, gostei mais
da 'lógica' de tropa da EPC.
Um abraço
Valdemar Queiroz
Camarada Hélder.
Cheguei tarde, mas horas.
Como imaginas, deliciei-me a ouvir-te falar de uma cidade que, por força da força, acabaste por não conhecer, como tu próprio confessaste.
Só alguém nado e criado em Santarém, como foi o meu caso, compreende as baias (cabem aqui porque estiveste em cavalaria...) que te impediram de melhor conhecer a velha Scálabis e as suas gentes. Sim, porque para nós, citadinos, o rigor e as exigências colocadas aos recrutas da EPC eram uma evidência, salatavam à vista de todos. Foi pena só lá teres estado quando eu já estava na Guiné. Sabe-se lá se não nos conheceríamos mais cedo. Era o mais natural, por razões que não vindas ao caso, foram a razão porque tendo um sido sorteado para fazer a recruta na EPC, prontamente os senhores oficais daquela unidade (alguns deles) se apressaram a recambiarem-me para as Caldas da Rainha. É que a minha presença na EPC, por força da disciplina e do rigor que ali conheceste, impedia-os de dispor do fadista nos seus convívios, ou de participarem "nos convivios" que o fadista e seus amigos organizavam noite fora.
Acho que ainda vou a tempo de "te levar" pela cidade, redimindo-me da minha ausência "protectora" enquanto por lá estiveste. Já agora, deixa-me que te pergunta: conheceste um alferes com um certo ar "andrajoso e desdentado", a quem chamavam "Manel Pó-Pó"? Um tal que levando o seu pelotão em passo de corrida cadenciada, mandava fazer continência à esquerda, ou á direita, conforme, gritando, "apalpa-lhe a bilha..." ao que os instruendos deviam responder, com forte batimento no chão, "Olé!" ?
Um abraço e o mais tarde até dia 20, no almoço da tabanca da Linha.
armando pires
Amigo Hélder primeiro para dizer que gostei de ler o teu texto sobre as cidades ou vilas que mais amei a tua personalidade humana ultrapassa-te em todos os teus actos.
Ir bem preparado para a guerra: tu deves ter pertencido aos privilegiados (opinião pessoal) quanto aos testes sentado no chão também também me lembro dessa norma militar.
As especialidades com excepção dos telegrafista mecânicos e técnicos eram dadas num período de 60 dias com os fins de semana e feriados que por vezes também havia nesses períodos ficavam pelos quarenta e poucos dias, e essa especialidade refiro no meu caso pessoal era dada por cabos milicianos que alguns nem o rendimento da antena do rádio conseguiam pôr na prática.
Eu fui mal preparado fui lançado para a guerra (operação tridente) nem queiras saber a dificuldade em receber as mensagens, mas não era só eu os meus colegas sofriam do mesmo mal, sabes quem foram os meus instrutores os camaradas que no outro lado tinham a paciência de aguentar e repetir a mensagem porque o operador era (Mik).
Um alfa bravo
Colaço.
Ora cá está um "jovem" talento para a escrita...que venham mais pois até gostei.
1969 entra este mancebo na EPC !!! vejam bem!!! Pertantus, teria 16 aninhos quando eu lá deixei a Guiné pacificada, para ele e para todos os outros fadistas ou não, poderem usufruir as belas férias naquele paraíso tropical.
Febras...sopa da pedra? mas qu'a raio de tropa esta? A mim não me tocava nada disso e também fui militar. Lá diz o ditado "quem pobre nasce, tarde ou nunca s'endireita".
Amigo Helder, li com atenção, vejo que sabes "transmitir" e que não foi em vão teres passado pelas durezas da vida militar. Um abraço, continua, trespasso-te o meu lugar, mas vai-nos dando conta da saudade que sentes.
Veríssimo Ferreira
Caro Camarigo Hélder,
Com que então cavaleiro, também passou pelo Destacamento cerca de 3 anos mais tarde do que o "je" como diria o nosso amigo Veríssimo.
Como tu também não possuo fotografias nenhumas em relação aos tempos de Santarém nem uma do meu 3º. pelotão do 4º. Esquadrão de 13 de Setembro de 1966, que nunca mais a vi.
Também nunca percebi porque ´que sendo só dois esquadrões eram o 2º. e o 4º. e não o 1º. e 2º..
Quanto ao resto que tu contas mais coisa menos coisa no meu tempo era igual. Não falaste no malfadado capacete de ferro e da Mauser que nunca nos largavam.
A disciplina o rigor a higiene e o atavio aram postos num altar que nós tínhamos de idolatrar e às vezes nem assim chegava. Só tinha uma coisa boa e que até alguns camaradas a quem tenho contado não acreditam que nós não fazíamos faxinas a coisa nenhuma e até soldados prontos tínhamos a tomar conta das nossas casernas.
Quanto a contacto com a população era fortuíto, pois nós fechavamo-nos no nosso círculo militar e eles fechavam-se no deles.
Jogava-se lá muito xadrês nas confeitarias e cafés de Santarém e n´s por contágio às vezes também jogávamos.
Além destas achegas não me lembro de acrescentar mais nada e no resto que tu descreveste estou completamente de acordo contigo.
Um grande abraço para ti e para os outros intervenientes, quer comentadores, quer leitores.
Adriano Moreira
Caros camaradas
Porque são merecedores de esclarecimentos e/ou explicações, aqui as vou deixar.
Começo pelo Zé Dinis cujo comentário entrou quando escrevia as observações anteriores.
Sim, de facto acho que tens razão, melhor dizendo, acho que ambos temos razão. Por mim, falei da preparação geral, da 'ambientação', em termos duma recruta 'generalista'. Para mim, pelo menos no caso da experiência que tive, fomos contemplados com uma 'amostra' bastante completa dos vários cenários e hoje em dia posso dizer que assentaram quase como uma luva nos ambientes da Guiné. Não falo do treino, por exemplo, de saltar ou cair de viaturas em movimento, que se apropriava aquando de ataques, rebentamentos ou outras situações semelhantes, que isso podia ser comum a qualquer dos T.O. mas sim, especificamente, no treino de habituação às 'bolanhas', simuladas nos terrenos da Quinta das Ómnias, como disse. Já quanto ao tipo de treino que referes, claro que concordo, também na generalidade, mas acho que isso funcionaria muito mais apropriadamente em situação de Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO) pois, aí sim, já se estaria a interagir com o pessoal com que se iria operar.
Para o Valdemar, que se 'estreou" naquela casa dois anos antes de mim (a 'velhice' era e é um 'posto') digo que
Para o César Dias digo que sim, que o "ódio" ou o "amor" sendo certo que neste caso do tema possam ser figuras estilizadas, passado o impacto e esboroadas no tempo as situações desagradáveis, acabam talvez por ganhar maior importância na nossa memória e esses tempos, porque fazem parte da nossa juventude, são agora 'vistos' com maior benevolência.
Para o Valdemar que se "estreou" naquela casa dois anos antes de mim ( a 'velhice' era e é um 'posto') digo que o que chamas o "Quartel de Baixo" é o que eu chamo de "Destacamento" da EPC, pois era assim designado no meu tempo. Relativamente à boina e às fitas vermelha e amarela que a decoravam, sendo típicas da Cavalaria, sempre te digo que as utilizei (à boina e às fitas) por todo o tempo de tropa. Afeiçoei-me, vá lá saber-se porquê!
O curioso é que nunca mais em lado nenhum repararam que não tinha as fitas vermelha e verde como os demais a não ser uma vez que entrei no QG em Santa Luzia e o sentinela resolveu 'apreciar-me' de alto a baixo e essa das fitas foi uma de de seis ou sete 'irregularidades' de mau atavio que ele me referiu, sendo no entanto 'convencido' a ver tudo 'conforme'.
Para o Armando 'fadista' pois digo que ainda haveremos de dar uma volta turística a Santarém. Logo se verá quando. Ao referires o tal "Manel Pó-Pó", acabei por me lembrar de 'ouvir falar' dele mas não o tive comigo. O 'meu' Alferes 'abandalhado' era outro. Quanto a essa de te terem 'recambiado' para as Caldas para poderes 'cantar o fado' ainda terei o gosto de conhecer mais tarde, verdade?
Como o comentário acabou por ficar grande vou 'parti-lo' aqui.
Segue dentro de momentos....
continuação.....
Caro Colaço, os testes de que falei eram testes do tempo da recruta, do CSM. Claro que depois, na especialidade, os testes eram (foram) de outro tipo, voltados para prática (e teórica) das transmissões, no meu caso particular com maior ênfase da TSF. Mas, atenção, embora o Zé Dinis tivesse referido, com razão, que me alonguei no recordar dos aspectos da recruta, a verdade é que o tema pedido é o do nosso relacionamento com as localidades e suas gentes. No entanto é impossível dissociar as coisas.
Agora, para o meu amigo Veríssimo, o dos "melhores 40 meses de vida", o das "memórias higiénicas", um especialista dos petiscos que tão bem vai ilustrando noutras publicações quase diárias, deixa-me que te diga que isso 'das febras e sopa da pedra' foram casos pontuais, desenfianços, aproveitamento dos conhecimentos de camaradas do Pelotão, com transporte e 'facilidades' por serem conterrâneos de Almeirim, nada de invejas!
No dia-a-dia também comi ração de combate (para habituar) e principalmente a comida (?) quase intragável do rancho, com aquele vinho baptizado com cânfora (diziam) para 'baixar a testosterona', sendo que por duas vezes chegou a haver uns arremedos de 'levantamento de rancho' tão mau 'aquilo' estava....
Para o Adriano posso adiantar mais alguma coisa. Não tenho a certeza mas parece-me que os 1º e 2º Pelotões eram os que funcionavam na EPC (sede) e que eram para os que, ultrapassado o 1ª Ciclo do CSM, ficavam nas especialidades de Cavalaria.
Quanto a essa das faxinas esqueci-me e fizeste bem em lembrar. É curioso referires essa faceta de se jogar xadrez nos cafés. Isso revela uma preocupação no desenvolvimento mental e para isso não seria alheia a influência do meio estudantil e intelectual que Santarém também já nessa altura polarizava. Bem lembrado e registado.
Abraços
Hélder S.
Um toque mais, ou um pequeno retoque, se preferirem, no que aqui se tem escrito sobre a Escola Prática de Cavalaria. A parte a que chamam "Destacamento", e que, com efeito, assim era chamado, era o Quartel do antigo Regimento de Artilharia 6.
E nos "primórdios" da nacionalidade (quase... quase...)
ali esteve instalado o Batalhão de Ciclistas. Sabiam que as nossas forças armadas tiveram um batalhão de ciclistas? De tal sorte que uma rua, muito ingreme, que corria (e ainda corre...)lateralmente à fachada norte do "destacamento" ainda hoje é conhecida pelos locais como "Rampa dos Ciclistas". Em boa verdade, o seu toponímico é Rua Capitão António Montez.
Sempre às ordens.
armando pires
Também eu tirei a minha recruta no Destacamento da EPC (2º turno, abril-julho de 1969). Era dura a recruta em Santarém. Aquele campo de aplicação militar na EPC, e o aspirante Carneiro (comandante do 2º pelotão do 4º esquadrão) não eram para brincadeiras. Para mais, ainda apanhámos muita chuva e muita lama.
Mas gostei de estar em Santarém, de onde saí muito bem preparado fisicamente. Aquelas incursões diurnas e noturnas nas Ómnias, o que eu gostava daquilo! Também gostei muito das gentes ribatejanas, sempre prontas a ajudar-nos.
Ainda hoje sinto um carinho muito especial por Santarém. Muitas saudades! Pena que a Escola e o Destacamento já não sirvam para o que tinham sido criados. Na minha opinião, o fim do serviço militar obrigatório foi um erro. Não haver guerra não é desculpa, bastava reduzirem o tempo de serviço. A tropa ensinaria aos jovens de hoje a disciplina que lhes falta e que os leva a cometer muita parvoeira que cometem, e a tardarem a fazerem-se homens.
A seguir fui para Tavira (CISMI), e que diferença! O campo de aplicação militar era uma brincadeira de meninos - quem tinha ido de Santarém fazia as provas de 1ª com uma perna às costas. Odiei Tavira (em 12 semanas só fui uma vez a casa; os locais não nos davam um copo de água (no pino do verão) se não o pagássemos; apanhávamos um figo, que se estragavam nas árvores, havia queixa no quartel; ao sábado, depois de um crosse de 10Km, não havia água para o banho; estive oito dias internado com uma intoxicação alimentar, provocada por comida estragada que nos deram no refeitório e que atirou dezenas de soldados para o Hospital Militar).
Enviar um comentário